sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Convidado Kayke Campeche







Xingu, a natureza chora


Malévolo. Monstro que aqui me tem nas mãos em prol de um consumismo maleducado protegido pela barragem que se tem em casa. Falta de ideais criam alienados trocando trocados para satisfação pessoal. Se só pensam em sí, não hão de pensar além das estimativas de idade última. Ignóbeis. Fraudulentos. Mentirosos. Não lhes cabem o direito de estar sobre um monte belo, mas testemunhar um futuro massacrante àqueles que os diz representar. Reciprocidade das ações. Cachoeira de mentiras omitindo verdades escondidas sob o véu da estupidez. Molestam a verdadeira dependência de mim. Choro.
Cuspo indignações. Luto não só pelos paredões verdes e as águas correntes, mas também por cada vida exaurida caso esse projeto que me destinam seja cumprido. Mortandade de diversas espécies. Demonstração de um domínio através de falsas promessas, politicagem agravante. Desalojamento das boas intenções. Terceira maior baboseira do mundo. Malocas inundadas pela soberba aguçada pelo ego oculto em parafrases utópicas. O rio da prosperidade e do conhecimento não pode secar. Ainda há tempo, somos a solução! Solucem contra a expansão da destruição.
Àqueles que ao meu lado lutam, não desistam, não se calem. De melhor valia são as polifônias revoltosas. Não se pode permitir a ignorância de terceiros banalizando a existência das vidas que aqui ribeiram. Não se pode deixar iludir pela construção de um galalau de impacto tão terrível. Não se pode deixar de evitar esta proliferação cancerígena. Não se pode: Belo Monte!

---
Kayke Campeche Lira nasceu em 10 de fevereiro de 1993 (19 anos) em Teixeira de Freitas- Bahia. Estudante de Engenharia Civil e amante da literatura, tem a escrita como um meio de identidade pessoal e uma porta para liberdade de expressão.

Multipolar


Sai. 
Não aguento mais 
olhar a depressão
presente. 

Quer me ajudar de verdade? 

Mais um comprimido
que o efeito
contínuo 
é o que alivia.

... e se não quer me dopar 
(de novo)
devolve a bebida:
conhaque, uísque ou pinga 

Tanto faz.

Se nem isso é permitido,
me deixa sozinho.
Eu não quero olhar para mim,
menos ainda para você.

Sai!

***

Vem.
Estou com saudade
dos namoros, as viagens... Das nossas andanças.
Foram tantas!
Vamos sair para comemorar?
Tocar violão na praia,
fechar os bares,
dormir ao relento.
Viver dias o dia inteiro... 

***

Sai, amor.
Não há vida nesta vida.
Não há retorno.
Nem há sonho.
Me deixa em paz.

***

(de comprimidos 
ele preencheu o espírito
e na montanha subiu
para jogar-se no infinito.
Nem começo ou fim.
Ele está preso
- em coma suspenso -
sem entrar ou sair
de mundo nenhum)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

No teu recanto Outonal!!

Neste recanto outonal, deslumbro a mãe natura, que sem pedir nada a ninguém, nos contempla de estímulos ocres e verdejantes, para não mais esquecer.

Guardo a a tua força divina, que me faz correr o sangue pelas veias.

E... eu caio... rastejo a teus pés.





Quito Arantes/ Castro Laboreiro/Portugal

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

É de sofrer

é de sofrer
que suporta
o jab no rosto
do chefe sempre indisposto

é de sofrer
que se esquiva
do direto no baço
que é o cansaço
do nada ter

é de sofrer
que a amiga cachaça
é o gancho que incha
o fígado desfigurado

é de sofrer
que o abraço da amada
é o clinche que o aguarda
na cama fria

é de sofrer
que espera um tanto
o intento em desfecho
de um cruzado no queixo
da má sorte
que o livra da morte
com o nocaute na agonia
por mais um dia
de vida

(Poema feito para participar da Coletânea "Mais um Título para Eder Jofre")

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Experiência


Ao pararem em um semáforo, ao lado de uma carroça puxada por um burro, o garoto ficou observando o animal, questionou-se por alguns momentos e decidiu perguntar:

- Vovô, qual o nome desse negócio que tapa a visão dos burros?

Sem nem ter visto o burro, o avô respondeu, com precisão:

- Preconceito, meu querido. Preconceito.







texto do livro Colcha de Retalhos

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Lótus


Acordo no silêncio das horas

Com uma estaca cravada no peito.

Sufoca-me a garganta, o grito.

Imperfeição dos sentidos.

Borboleta aprisionada no casulo

Metamorfoseando-se em lagarta.

Afogando-se no sangue

Da carne putrefata.

Afasta-se da cartilagem

Do que fora cor e asas.

Corrompendo o próprio sonho

A rastejar sobre brasas.

Esperando que o coração apodreça

E refaça-se com calma,

Para que novo vôo floresça.

Iluminado e sem pressa.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

convidada Rayane Medeiros

Explícito


Eu não lhe quero versos,
Nem palavras de amor eterno.
Quero teus puxões em meu cabelo;
Teu amargor em minha boca;
Teu fluído instigando o meu...

Quero teus pêlos me arranhando a cara;
Tuas mãos marcando a pele;
Teus lábios pressionando os meus.

Eu não lhe quero versos,
Nem promessas dissimuladas.
Quero tua carne me rompendo –
                           Corrompendo-me;
Teu pudor se dissipando ao meu.

---

Rayane Medeiros

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Retrato de um Blues a dois




  
     Má conduta essa minha quando me mantinha a te olhar com o seu curvex e enquanto isso você nem ao menos figurava a minha presença, traços da minha imagem contorcida pela luz rasa da nossa indecência, sem somar eu ainda apaixonado, entorpecido tentando seguir a música junto aos teus passos dentre os meus enviesados. A cada intervalo de uma respiração a percussão do instrumento sincronizava junto ao vosso coração, talvez eu soubesse a Fórmula, todavia eu me perfilaria de enredo quando tão perto de sentir toda a sua forma.
    Não sei quando ela mente, aliás, nem ao menos omito, me entrego com as minhas sinceras conquistas facilmente, tendo por sua vez apenas olhos fechados e cílios destacados, imaginando com um sorriso entre aberto coisas que... Sabe lá, pensamentos onde eu queria está olhando do interior de uma casa sem teto. O ritmo retarda, emerge-se um ar de intimidade sob o “Ain't Got Nothin' But the Blues” sem palavras, quando uma nota do saxofone entoa onde se propaga vagarosa, vejo-me ali sentindo um apego maior de sua mão frenética apertando forte meu ombro que logo embasa.
    Voltamos a embalar suavemente suspeitando o retoque da bebida, eu segurava uma taça de tequila e ela acabara de marcar o cigarro com o seu batom vermelho em um trago pulcro, fui persuadido a levar um gole, senti-o descendo pela minha gorja, eu estava culto. Longe de tudo eu tirava o seu pó brozant com o meu próprio rosto, fluía algo da minha boca para perto do seu ouvido.

- O que quero de te, faz um diferencial um tanto duvidoso.

Após um sussurro, sua respiração ofegante, sua matéria delineada se enquadram explicitamente ao meu desejo atraente como um diamante. Aqui há um compasso continuo escondido no subconsciente da qual finjo saber, apenas não interessa! O tempo aquece e não tenho mais consciência de nada. Vais a um padrão amoroso inadequado, seu jeito sensual e solene me recorda que ela é minha e o Blues que a pouco começou, cabe a ambos, ao toque de sua boca contradizendo o sentido de que já não sei, mas quem eu sou.

sábado, 17 de novembro de 2012

Um dia de Chuva


hoje amanhecemos
tão maculados
diante da Imaculada Grande Mãe Natureza,

que ela solta
sua Mística Neblina Gelada de Sopros Divinos

enquanto cerra
placidamente seus olhos.

André Espínola

Habitualidades




Se você
em nossa sala,
entre uma fala e outra,
      perguntar sobre nosso amor,
      saberei dizer palavras soltas 
que não traduzem
absolutamente
nada.
Porque, querido, nós somos feitos
        De uma matéria que, para os outros,
É esquecida:
                 Picotados
                          de papel e sonhos,
                                   flashes de insônias,
Somos, meu pequeno, 
                                              Vida.
(Jessiely Soares)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Janelas da vida

Quando as janelas se abriram,
Um sopro de vento minuano invadiu o quarto, derrubando porta retratos e espalhando a poeira por todo o ambiente. Mas energias que entraram, pude sentir que algumas eram boas, e outras nem tanto. Fiquei por alguns minutos pensando o quanto aquele vento poderia trazer mudanças para minha vida de uma maneira incomum.
Quando as janelas se abriram,
Um espirro fez parte da tarde daquele menina sorridente que brincava com suas bonecas sentada ao lado da janela, naquele tempo, ela nem pensava em como seria sua vida no futuro, construía sonhos em cima de brincadeiras de criança, mas nem sabia direito se algum deles iria realizar um dia.
Quando as janelas se abriram,
O sol bateu nas maças do rosto da menina, que já não tem mais corpo de menina e nem idade. Agora é uma moça, que procura realizar alguns dos sonhos da infância, está na fase da adolescência e acredita que algumas coisas nunca vão acontecer para ela, como o amor. Acredita que é muito diferente de suas amigas, e que a vida é muito cruel com ela.
Quando as janelas se abriram,
Um arco-íris brilhou no fundo do céu, e essa menina mulher, passou a acreditar que alguns sonhos jamais se tornarão realidade. Percebeu que algumas brincadeiras de crianças são apenas isso e nada mais. Mas também cresceu, e aprendeu que o que se sonha com o coração, um dia pode ser realizado. O que de fato vale a pena sonhar e realizar vai acontecer.
As janelas da vida abrem e fecham a toda hora. Cada momento temos uma visão do lado de fora. Hoje abri minha janela, e o tempo estava nublado, fiz o sinal da cruz, e agradeci, mesmo que nem tudo esteja como desejo. Agradecer engrandece a alma. Os pássaros a voar e cantar espalham nas janelas o desejo de tentar uma vez mais.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Ela tinha razão

Ele está no sofá.
Ela chega.

ELA: Vamos dormir?
ELE: Daqui a pouco, tá? Tô terminando de ver o jogo.
ELA: Mas você já não viu?
ELE: É outro.
ELA: Outro?
ELE: É.

Ela olha para a televisão.

ELA: Isso não é futebol.
ELE: É futebol americano.
ELA: Futebol americano?
ELE: É, amor.
ELA: E você entende isso?
ELE: Que isso, amorzinho?
ELA: Você me odeia.
ELE: Oi?
ELA: É, odeia, tenho certeza. Prefere qualquer coisa a mim. Prefere assistir a esse jogo esquisito. Você me odeia!
ELE: Para com isso, minha linda...
ELA: E tá me achando gorda.
ELE: Não tô, princesa.
ELA: Claro que tá. Você preferia que eu dormisse aqui no sofá, né? Tô cada dia mais gorda, não é isso que você acha? Aquela cama de solteiro, eu desse tamanho, você todo espremido, me odiando o tempo todo...
ELE: Meu amor...
ELA: Odeia quando eu venho pra cá, porque eu invado seu espaço, porque não paro de comer, porque eu fico falando o tempo todo, porque eu pergunto tudo e não deixo você prestar atenção em outras coisas, porque só falo na hora dos programas e fico quieta no intervalo. Você me odeia. Sua vida ia ser muito melhor sem mim.

Silêncio.

ELA: Não vai falar nada?
ELE: Vou: você tem razão. Em tudo.


BIM BOM

    Eu estava preparado mentalmente, seria uma batalha, mas eu precisava vencer. Acordei bem naquele dia, depois de uma boa noite de sono sem interrupção nenhuma. Era sábado de manhã, sol, temperatura boa em torno de uns 23 graus, mais ou menos 9 horas. Podia ver pela janela que o dia era lindo, manhã perfeita para um joguinho de tênis, mas eu não podia deixar de cumprir minha missão planejada durante a semana toda.
    A cadeira estava lá, bem confortável, na frente do computador, com o telefone viva-voz com bateria carregada, internet ligada, todos os meus documentos digitalizados, para fácil acesso. Além disso, tinha amendoim, biscoitinhos, água, tudo preparado. Não sabia quanto tempo aquilo poderia levar. Levantei da cama, ainda de shorts sem cueca por baixo, ou seja, conforto total! Liguei o computador, peguei o número, apertei o botão para pegar linha no aparelho de telefone e fiz a ligação. A sorte estava lançada.
    Do outro lado, lá veio a gravação:
-    Obrigado por ligar para a Bim Celular, escolha uma das opções a seguir. Sua ligação é muito importante para nós.
Não há nada mais cínico que mensagens de `carinho` de centrais telefônicas de empresas de telefonia, eu sabia ali naquele ponto que o jogo estava começando. Um jogo tenso, de paciência, movimentos precisos, um xadrez de altíssimo nível com direito a canelada embaixo da mesa. Eu segui as instruções com muita calma e tensão. A qualquer movimento mais brusco ou tecla errada ou frase imprópria, a ligação pode cair ou ficar mudo o user transferido para o vale das almas que vagam pela opção errada dos call centers, ou centrais de atendimento.
Eu consegui me mover bem no começo e driblar o atendimento automático até ali tinha sido fácil. Depois de escolher a opção Cancelamento, ouvi a frase amedrontadora:
-    Sua ligação será transferida para um de nossos consultores, por favor, aguarde.
Eu gelei, mas me segurei na cadeira e comecei a jogar Tetris e transferi o aparelho para o viva-voz para acompanhar a música até o atendimento. Lá pela terceira partida de Tetris (e eu sou bom em Tetris), um barulho e uma voz humana:
-    Bom dia, setor de cancelamentos, com quem estou falando? Por favor, número de cadastro na Bim de trás para frente, data de aniversário no formato romano, quem matou Odete Roitman, artilheiro do Brasil na copa de 1958, notação simples do fenilpropileno reagindo com cloreto de amônia e os três últimos dígitos do seu CPF multiplicado por 7,1.
Eu pude sentir um silêncio demoníaco do outro lado, mas eu estava preparado. Já tinha ouvido aquele mesmo pedido em uma ligação anterior durante a semana. Respostas dadas e 2 segundos de silêncio ao que ouvi a voz humana de novo:
-    Muito obrigado pelas informações corretas, senhor. Elas são importantes para sua segurança.
Aquelas últimas três palavras ecoaram em minha cabeça e me lembrei daquela música dos anos 80… `para sua segurança….`, mas em menos de 1 segundo, reagi e evitei o golpe da desligada na cara. Era mais uma tentativa de me impedir de concluir a missão. Então falei rápido, mas sem mostrar ansiedade:
-    Por gentileza, gostaria de cancelar meu celular com a Bim.
Aquele era um momento crucial, eles sabiam agora que eu estava no ataque e tinha furado o primeiro bloqueio. A voz tenebrosa disse sem mais comentários:
-    O senhor será trasnferido para o setor de controle de qualidade para podermos registrar os motivos do seu cancelamento. Por favor, aguarde. Lembre-se que todas as ligações serão gravadas e utilizadas contra o senhor em caso de quaisquer dúvidas, conflitos ou problemas posteriores, além de publicadas na internet de forma anônima com seu nome, caso possamos fazer graça da sua cara.
Eu respirei fundo, era mais uma peça do xadrez que era derrubada, senti que tinha perdido uma torre. Precisava resistir, viva-voz de novo, 9:45, silêncio na casa, comecei agora com uma navegada nos jornais pela internet. Depois de mais ou menos 13 músicas ouvidas, um estalo na linha. Tremi. Segurei o mouse com força. Ouvi outra voz, era uma voz suave, quase angelical. Ela disse:
-    Senhor, bom dia, estamos aqui no setor de controle de qualidade e queremos que o senhor saiba que você é um cliente valioso para nós, que prezamos a sua escolha em utilizar nossos serviços e que gostaríamos de fazer com que sua experiência conosco fosse adiante querendo saber nesse momento como podemos fazê-lo ficar. E, nesse sentido, gostaríamos de saber o motivo do cancelamento.
Aquela sequência de palavras suaves com um tom leve e doce quase me hipnotizaram depois de 55 minutos aguardando, mas eu estava focado, aquele dia era um dia diferente, estava preparado para um sábado inteiro de batalha. Confesso que estava vivendo algo novo, não tinha ainda chegado naquela fase da batalha antes e aquela pergunta era quase um cheque contra meu esquadrão de peças no tabuleiro daquela ligação de Guerra.
    Eu tinha um motivo, mas precisava agir com cuidado, muito cuidado. Dizem que no tênis, o que separa um grande vencedor do perdedor é a reação dele naquele segundo que antecede como ela vai bater aquela bola a mais. Ele vai bater mirando a quina da quadra com força total ou ele vai passar a bola de novo aguardando o erro do adversário? Eu tinha que agir.
    Comecei minha resposta. O motivo.
-    Senhora, na verdade, hoje é um dia especial para mim e logo depois que eu acordei, eu refleti um pouco, tendo tido uma ótima noite de sono, e por algum motivo quase que inexplicável eu tive uma visão, algo quase celestial. Pude apenas espreguiçar, abrir bem os olhos e decidi de forma definitiva e com muita certeza sem explicações e teses técnicas nem compreensíveis pela humanidade ou qualquer ser inteligente, que hoje eu iria e deveria, por motivos sobrenaturais de vozes interiores e cósmicas, ligar para a Bim e cancelar meu celular. Foi isso. Apenas isso.
O silêncio me corroia. Dois segundos se passaram e ouvi a voz do outro lado:
-    O senhor pode anotar o número do protocolo de cancelamento, por favor?
Cheque-mate! 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Café

Não tinha como um viciado em café não escrever sobre

Olhos vidrados, cabeça doendo, coração em disparada.....não são sintomas drogalíticos excessivos, mas sim o sombrio líquido em falta
Aquele que faz as cabeças de recrutas a caudilhos, impondo seu poderio ofensivo, acabando com a paz e saindo dos trilhos

Torra grão Pérsico, agora não...sério?.....pois a demora insana de algumas horas me faz enlouquecer...quero beber
Estimulante...acho que não, pois tomo copos e corpo fica são...como podes então ter fama de vilão?
Injusto, hooo grão torrado, moído e filtrado.....tu que relaxas este ente calcinado, esfalfado e estressado. Estimulante...não...nãoooo és vilão

Glorifico Kaldi e suas cabras que comeram do cafeeiro
A vivacidade adquirida os deixou prisioneiros.....assim como todos egípcios, árabes e turcos
Todos cativos em seus muros
Esperta foi Constantinopla, que levou o ditado a sério, se não pode vencê-lo, junte-se a ele...ou prive-se do mais deleitoso mistério

Em 80, segunda commodity atrás do petróleo, hoje combustível para mente e do coração és o óleo
Lubrifica minhas entranhas, amacia meus músculos, harmoniza minhas sinapses...lassia-me tudo
E sobre meu braço lasso minha íris esmorece, pois tomo-te e nada ilumina-se, ao contrário...escurece

Vens da Etiópia, direto para mim, com paradas mil até difundir-se.....enfim
Seria injusto um “vilão” ser enaltecido deste jeito, se mal fizestes já terias tido um leito

Eu não me importo, sou teu prisioneiro
Nesta cela morrerei, passando de janeiro a janeiro
Sejas diluído ou concentrado, candente ou álgido
Não importa...desde que estejas ao meu lado
Coffea arabica abundante, já que nunca és o bastante
Tanto faz....por fora ser branco, negro, amarelo ou mestiço
Sendo por dentro da cor bruna deste delicioso líquido
O fluído em questão....nunca será vilão
Ao menos...para mim....o café é o que me faz feliz
E me deixa são

sábado, 10 de novembro de 2012

convidado Ediloy Ferraro

 A desforra

   Ágeis como feras, produto da necessidade a astúcia. O velho tomba ao chão, cabeça temerosa deitada na calçada, medo de reagir, 65 anos, calvície acentuada, a lente esquerda do óculos, partida. Chapéu de feltro, à distância.
 Um monte inerte, inferior a uma criança, porque cônscio da fragilidade e do perigo, da impossibilidade de defesa. O corpo desajeitado não obedeceria uma reação repentina, com o coração sujeito a uma síncope abrupta. Não bastasse a posição deprimente, em decúbito ventral, feito um bêbedo qualquer, o incômodo de um filete rubro a escorrer pelas narinas, espalhando-se pela face toda, manchando a camisa azul-clara, impecavelmente limpa.
Aguardava em suspense o saque. Deveria ter umas poucas notas na carteira, uma foto da neta, o velho relógio de corrente. Nada restava a fazer além de quedar-se, feito fantoche, à vontade dos marginais, aguardando a decisão de seus algozes. Discutiam. Jovens, no máximo três, falando rápido, linguagem cifrada de gírias, não conseguia concatenar os fatos, a audição falhava. Ficou em crise, mergulhado num julgamento tolo de sua inutilidade, aspirando as imundícies da via pública.
 As imagens sucediam-se em sua mente, dando conta da situação. Dispensara o chofer e resolvera fazer um passeio sozinho, há tempos não se dava ao luxo de ficar consigo mesmo. Viera desprevenido de qualquer salvaguarda, afinal o parque sempre foi bem iluminado, não oferecia perigos. Mas, pensava agora, nenhum lugar, exceto nas muralhas da sua nobre residência, ou no carro blindado com motorista, era seguro. Era o tal submundo, aquele que sorvia entretido nos noticiários, pelas manhãs, no saboroso café, seja lendo as histórias policiais mais bizarras ou mesmo mudando com o controle remoto em busca de novos espetáculos na televisão... Aquela escória oferecia sempre espetáculos permanentes! Estranho como se divertia com os escabrosos relatos daquelas vidas tão distantes de seu mundo privado e acolhedor.
Mas agora ali estava deitado na via pública e cercado pelos marginais. Não era um relato acontecido com estranhos, ele estava no centro dos fatos... Arrepiou-se. Pensou rezar em pensamento e viu que não sabia uma oração em seu sentido total, sempre as repetira, enfadado, nas raras cerimônias religiosas. Antipatizava-se com o pároco, sempre recheando os sermões com as questões sociais, da distribuição de renda e da fraternidade...coisas de comuna disfarçado de padre ! Parecia a encarregada do setor de ferramentaria da fábrica, reivindicando pelo emprego de 90 operários a serem dispensados pelo desmonte do setor. A insistência foi tanta, alegações de que seriam famílias vitimadas pelo flagelo do desemprego e da argumentação de remanejar em outras secções, tal a petulância que a própria também acabou inserida no rol dos demitidos. Era o que faltava, aquela fulana tentar ensinar administração de custos na sua empresa! Questão social, sempre ela! Pois que dela cuide o governo, eleito pelos miseráveis, ao empresário bastava garantir os empregos e os impostos, que não eram poucos...
  Quis morrer, simplesmente. Pensou seriamente em uma atitude defensiva e se reteve assustado, procurando alternativas para manter-se vivo, tentando valorizar a própria existência, carcomida e insignificante.
Inerte, infeliz como um animal acuado, sentiu as mãos lhe apalpando o corpo, arregaçando bolsos, invadindo intimidades. Não reteve as lágrimas, mescladas à poeira e ao suor do rosto. A garganta ressequida, engolindo saliva grossa e vermelha, retendo, a custo, um pigarrear. Permanece impassível, paralisado pelo terror e pelo prudente instinto de sobrevivência.
Num ato conjunto o viraram de frente. Maior então a vergonha. Fitando-os, cara-a-cara, uns meninos ainda, donos de sua vida, responsáveis por sua sorte. Toda a existência fragmentada em minutos, a reflexão lúcida, o orgulho ferido. Um final só imaginado pelos deserdados de qualquer chance, como aqueles garotos, personagens párias da sociedade, vivos protagonistas dos hediondos dramas lidos nas manchetes do jornal matutino, leitura saboreada com o café da manhã, no aconchego do lar, imune às ameças do submundo, universo alheio e distante. Mundo proscrito de meliantes, prostitutas, em todos os níveis da escória social.
Repentinamente, invadido pelo pavor da morte, em tudo semelhante a de um suíno, ao pressentir a lâmina do canivete de um deles, teve um grito seco, suplicante, de piedade.
A sua desventura agigantou-se, sentiu-se pequeno. Implorou perdão, como se responsável por tudo aquilo. As faces mutiladas, infâncias abortadas, sonhos miseravelmente desfeitos. O opróbrio a envenenar-lhe a alma, a omissão a corroer-lhe as entranhas da consciência, a casta que em pensamento quis renegar, a vida fausta e cega...
Os rapazes riram do desgraçado, aturdido e envergonhado.
O líquido acre e fétido escorrendo pela face, ardendo nas escoriações: a urina das personagens das páginas policiais, pelo pagamento dos espetáculos saboreados nos cafés matinais...

---


Ediloy Ferraro

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

TREUFFAR DECIDE MORRER



Penso alto
No limiar louco o possível balbuciar
As pessoas podem ouvir meus pensamentos
Meus adágios são o nada na contramão
Um nó no meio do peito
Arranquem minha carcaça daqui
Sinto o frio na barriga
Vocês não devem escutar meus aforismos
Meus devassos macabros são ruínas
Contenho medo no vazio
Ases de espadas galopam contra mim
Ânsias
Vou pra longe deu
Não consigo libertar moléstia
Salvo-mo se puder
Meu corpo dá-me o ultimato
O mal associasse em min'alma
Dores interioranas
Deterioração
Tonteiras
Vai dar merda
Sou indigesto
Desagradável
Sou o incômodo
O acabrunhar
Sou o achaque
Convenceram-me
Não doa a quem doer
Treuffar decide morrer

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at http://www.pablotreuffar.com/.
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

FANTASMAGÓRICO





Há qualquer coisa de insano
Não sei bem onde ou quando

Vem nesse sorriso
Ou viaja comigo?

Inexorável
Cerca
Ronda
Povoa


Ontem te vi
Cruzando a Brigadeiro

Delírio
Sonhos
Gavetas
Medo
Desejo


Converso contigo
Sem pressa
Apreso teu apreço
Deito no colo e cantas

Recito
Mantras
Tentativa
Inútil

Controlar pensamentos?
Bobagem!

Você é turbilhão
Arrasta
Pensamentos
Gavetas

Livros
Letreiros
Tudo que vejo
Traz gotas da tua saliva

Beijo fantasmagórico
Queima feito brasa

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

São Jorge terça-feira 23 # IV



_ bom nos encontrarmos. como anda a vida? - me perguntou são jorge, sentado no balanço da mangueira. 
_ frágil. na corda bamba. sempre é um novo recomeço, é toda uma reviravolta.

_ esse lugar é legal. casa verde. bonita. combina com o nome.  
_ também acho. 

_ anda escrevendo?
_ um pouco. há sempre uma necessidade desse ritual. é como um vício, um prazer.  
_ e escrevendo sobre o que? 
_ sobre muitas coisas. venho deixando o fluxo tomar conta da escrita, uma linha fina esticada entre uma idéia e perdida entre nenhum ponto à frente. minha intenção é  escrever um romance. algo realmente que eu possa entrelaçar destinos, definir tragédias. 
_ interessante
_ você devia me ajudar. 
_ como eu poderia?
_ conhece tantas histórias, já esteve em tantos lugares e viu tantas coisas acontecerem. talvez me conte uma tão boa que me desperte uma grande inspiração. já estou cansado de escrever sobre mim e sobre o que conheço tão bem.
_ histórias existem aos montes, saber contá-las é que são elas. 
_ não quero histórias, quero uma estória. quero um segredo mortal, uma grande trapaça ou uma tremenda emboscada. quero saber de algo tão engraçado que eu role de rir. quero a pior desgraça que puder me contar. 

nesse momento, são jorge me olhou sério. 

_ cuidado com o que pede, meu rapaz. 

vi que ele havia ficado abalado com minha proposta. 

_ te desafio a contar a mais desgraçada e trágica estória que puder.
_ não conseguirá suportar. 
_ não me subestime.
… 
são jorge abaixa a cabeça e sua feição se fecha, demonstrando consternação. percebi então ter tocado em tremendas lembranças com certeza muito doloridas e que lhe devia respeito e desculpas.

_ olhe, não se preocupe com isso, esqueça. falemos de outro assunto. da vida. do futebol. de música. do amor. 

são jorge continuou olhando para seus pés

_ as desgraças a  que se refere. as tremendas tragédias, que busca encontrar e saber, todas elas, foram em certo momento, histórias de amor. o amor é tão maravilhoso, e por assim ser, tão volúvel, que muito facilmente se liquemorfa em  gás lacrimogêneo, soda cáustica e excremento na ponta da bota. 

não pude deixar de concordar, em certo sentido, com o que ele dizia. 

_ veja bem robisson, lhe contarei uma estória, ela aconteceu na frança por volta de 1920. havia um homem em paris, se chamava amadeo. era pintor. um bom pintor. pintava aquarelas muito vivas e iluminadas, influenciado por cézanne e picasso, chegou mesmo a travar encontros com esses e outros pintores, qua admirava.
amadeo vivia na parte sul de paris num casebre, que fora de seus avós; imigrantes tunisianos, e depois que fora de seus pais e agora dele. sua única irmã, mais velha, morava do outro lado da cidade e os dois pouco se viam. amadeo não tinha parentes em paris. e não havia família em lugar algum. tios primos sobrinhos. não havia família para amadeo, simplesmente não existia. a tunisia era um país destruído pela guerra civil, destroçado em sua árvore genealógica. quantas pessoas tiveram e mudaram de nome, em seus novos países, aos se instalarem, fugindo da guerra? ah as guerras,  destroem demais. 
aos 30 e poucos anos, amadeo sobrevive da venda; aos amigos simonn e vylova, da pequena horta que cultiva em sua propriedade, e dos quadros que pinta. lhe sobra tempo razoável em seu dia pra o trabalho na horta, para a pintura e os afazeres domésticos e de conserto de sua velha casa de taipas e andaimes.  vive razoavelmente bem, em sua luta diária pela sobrevivência. 
- sim?
_ pois bem, muitas vezes as enormes mazelas que a solidão nos propicia, refletem na sua alma e quanto mais vasto e desértico seja seu coração, mais desventuras esse homem terá. 
_ mas você não disse que o amor é um veneno, agora mesmo?
_ sim, mas não estou dizendo sobre o amor, somente, mas sobre a profundidade que estão cravadas seus medos dentro do seu coração. há corações que temem tanto o mundo e o desafio da vida, que se tornam tão maus quanto puderem, buscando contra atacar e aplacar o vácuo que o medo provoca. a paralisia, a estática. nunca aprenderão a amar verdadeiramente, no máximo se relacionarão com outros homens e mulheres pela vida afora, e só. 
 _ entendo. 
_ e amadeo era um homem com um coração profundamente solitário. freqüentava bordeis sujos, e se humilhava pedindo afagos. trôpego, quase sempre era escorraçado dos ambientes, e visto amanhecendo dormindo nas calçadas, sob as marquises das lojas. não tinha amigos e todos se acostumaram com essa realidade. viciado em morfina adquiriu, antes dos 30 anos, uma tuberculose crônica e uma febre vaporosa que o cobria de tempos em tempos, o deixando acamado e aos cuidados dos seus únicos amigos, o casal de judeus simonn e vylova, que talvez, se não fossem seus patrões, assim digamos, não se incomodariam em deixá-lo à própria sorte.
_ um grande artista bêbado?
_ um homem com uma dor. 
_ entendo.
_ apesar de todas essas complicações financeiras e de saúde, amadeo gozava de certo prestígio e reconhecimento da sociedade que lhe acolhia sendo o filho de zlavoc, o marceneiro, como era chamado seu pai. ao perceber que amadeo  tinha vocações para as artes, zlavoc não quis que seu filho dedicasse tempo ao desenho e a pintura, e o sobrecarregava nas tarefas pesadas diárias. somente com a morte do pai, é que amadeo pôde se dedicar a pintura como profissão. levando sua vida solitária e desregrada, porém batalhadora e honesta aos olhos de seu círculo social, amadeo ainda era considerado um rapaz que tinha salvação e rumo. e um buchicho ao seu redor, na boca principalmente das moças, foi crescendo e fantasiando a lenda de que era moço rebelde e que só sossegaria, quanto encontrasse uma esposa e formasse uma família. 
conhece uma jovem artista, então com 19 anos, Joanne, pintora como ele. moça tida como tímida, mas de olhos insinuantes à emoldurar seus silêncios. muito pobre, joanne se submeteu primeiro a posar para amadeo por uma pequena quantia de dinheiro e algumas frutas secas. logo em seguida, depois de alguns dias e alguns quadros produzidos e já na provocação da intimidade, acertaram que não haveria mais pagamento, pois assim não estaria correto, eram enfim amantes e joanne se mudou para sua casa, no fim de poucos dias.  
_ se casaram?
_ sim, mas não sem antes uma grande conturbação, para a época, os envolver.
amadeo pinta joanne nua. expõe seu quadro numa galeria e a apresenta como sua modelo, musa e futura esposa. para os carolas da época e as senhoras e fino trato da sociedade francesa, era um absurdo uma mulher posar nua, para o marido a pintar e expor daquela forma. isso era papel guardado às prostitutas e mulheres de baixo calão. amadeo alardeia certa fama após a exposição e joanne que tinha grande talento, passa a viver a sombra de amadeo, produzindo suas telas por hobbie, em casa e sem motivação. 
nos anos seguintes a vida segue dura e produtiva. o casal tem um filho e a situação financeira melhora razoavelmente. mas, com a frágil bonança que adquiriram, cresce em amadeo os vícios carnais e o mau caratismo. começa a jogar e a viver constantemente na zona boêmia parisiense, pintando agora os dorsos nus das jovens concubinas francesas em seus próprios leitos cheirando a sexo, e aceitando trabalhos de gigolôs para que transmitisse a beleza de suas mulheres, para o deleite dos clientes, em enormes telas que emolduravam os grandes salões dos bordéis mais freqüentados da cidade. vendia suas telas e sua arte puramente para pagar dívidas e dívidas, contraídas em apostas e noitadas infernais. nessa época, sua tuberculose piora e o vício em morfina e ópio o torna mais irritadiço e delirante. já não consegue se movimentar sozinho e tem crises tremendas de tosse.
_ meu deus. 
_ aos poucos, a família se desestrutura e vai à ruína. enclausurados dentro de sua própria casa, agora joanne espera o segundo filho do casal. amadeo vende seus pertences, e até ferramentas de estúdio e trabalho, para comprar comida. se alimentam de batatas e lingüiças velhas. passam dias isolados do mundo, tão fracos que não conseguiam chamar ajuda. são encontrados por simonn, sujos, famintos e desidratados. joanne está delirando e amadeo não consegue pronunciar uma palavara, devido ao estado de inanição. ambos são internados na casa de saúde, joanne está prestes a dar a luz e a qualquer hora pode entrar em trabalho de parto.
a noticia corre a cidade e as obras do pintor odiado por sua bela arte, por seus nus, sofre uma valorização enorme. nas casas de prostituição, terços são rezados pela sua saúde, outros pela sua alma. 
 _ meu deus, e esse amadeo vez sucesso? nunca ouvi falar?
_ o sucesso não importa, meu amigo. ele não foi feliz. o sucesso, que se acredita que ele teve, com toda a certeza, trocaria por uma serenidade verdadeira em sua vida.
_ sim.
_ amadeo morre numa manhã, sozinho como viveu a vida, no quarto 17 da casa de saúde. joanne recebe a triste notícia, visita em silêncio amadeo, e lhe deixa uma mecha de seu cabelo negro. no dia seguinte, grávida, se atira da janela do seu quarto. 
_ putz. 
_ por ter suicidado, o padre não quis realizar o enterro, e sem família seu corpo não foi reclamado, e permaneceu exposto sob o sol, enegrecendo a pele, antes alva e linda.
um homem recolheu o cadáver de joanne e o levou ao sr. simonn, que aterrorizado o mandou embora. joanne foi atirada na beira do rio, onde os urubus e pequenos abutres que rondam as estrebarias de paris, devoraram suas vísceras, e onde depois sua carcaça, com seu filho na barriga, apodreceu entre as flores e a grama verde, por muitos dias ainda, e se misturou ao solo pela eternidade adiante. amadeo foi enterrado nu, em uma cova rasa do cemitério da casa de saúde. 

são jorge me olhou nos olhos, como sempre fazia, quando dizíamos algo realmente importante. e eu disse ...

e o amor, jorge? 
_ foi morto. 
_ por eles?
_ não. por nós. 
_ como assim?
_ não conhece essa história?
_ não
_ pois então. se familiarize. ela é a sua.
_ claro que não é minha. é muito triste. é uma história desgraçada. por isso nunca gostei de dizer essa palavra.
_ faz bem em não dizê-la. não digo que é, ou será a sua história, mas que é a sua história, por que pode acontecer com qualquer um. amor e loucura são faces da mesma moeda, meu amigo. mataram o amor muitas vezes na vida desse homem, amadeo. não foi o amor de sua mulher que o matou, esse eles viveram, o quanto puderam. foi o amor próprio. fizeram desse homem fantástico, um artista sensível e inteligente, um bicho, o tiraram a dignidade e o deram um pedaço de carne podre para comer como um cão do infernos. esse homem, robisson, foi um dos muitos homens que caminham mortos sobre a terra, todos os dias. 

realmente a história era triste, talvez não a mais triste história que exista, mas bastante trágica.

_ será que ajudei você? a te inspirar para seu novo livro?
_ sim. acredito que sim
_ que bom. 
_ robisson?
_ diga. 
_ aceita uma manga? - e uma linda fruta verde e rosa caí, exatamente, nas mãos do santo - não sei apenas contar boas estórias. já fui moleque também,, sei como trepar em árvore e pegar fruta no pé. rsss
_ entendi, e por que não subiu e pegou ao invés de transportar a manga pra tua mão?
_ se esqueceu, ¨para os poetas algumas coisas são bem complicadas, e outras muito fáceis¨. 

se movimentou no balanço, rindo.