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domingo, 13 de maio de 2007

Após jantar com os urubus (Foto de Kevin Carter)


Por Anderson H.

mortos engasgam
com as areias da fome.

"tossem costelas secas
em imagens vivas de horror
e osso a osso elevam rangidos...
(lamentos tribais sem tambor)"

comovidos,
anjinhos de escura cor,
olhos saltados,
pernas finas
e cabeças agigantadas pós barroco,
aparecem embalados nas súplicas.

cada baque oco
arrasta um abutre;
morte com odor - carnes pútridas,
um se desfaz - outro se nutre.

enquanto isso as pirâmides dormem
o sono dos faraós
e o vento deflagra
a verdade quente e magra
pelo continente.

um prato de comida,
parado à minha frente,
muito maior que a fome,
determina que a tevê
seja desligada
e que a raça humana
mude de nome
após jantar com os urubus.

Anderson H.

17 comentários:

  1. Primeiramente, peço desculpas aos integrantes do Blog pelo meu esquecimento.
    Me e Fernando, muito obrigado pelo auxílio e pela compreensão.
    Valeu mesmo.

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  2. Impressionante a força desse poema. Sint0-me menos humana...
    PARABÉNS.

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  3. Só corrigindo alguns pequenos erros de digitação na segunda estrofe:

    "tossem costelas secas
    em imagens vivas de horror
    e osso a osso elevam rangidos...
    (lamentos tribais sem tambor)"

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  4. ufa!!

    uma poema-reflexão!!

    muito bom!

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  5. Muito legal .. Gostei do tema .. Beijins ...

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  6. Gostei muito do poema.
    Pesado, eloqüente, perturbador.
    Parabéns.
    S. Quimas

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  7. O poema em si seria belo e marcante, não fosse por essa imagem assustadora que faz a gente ficar sem ação. Não sei definir o conjunto, absurdamente real e monstruoso.

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  8. Por falar na imagem assustadora que ilustra esse seu poema, me parece que o autor da mesma cometeu suicídio algum tempo depois de ter feito a foto do garoto morrendo e o abutre aguardando para banqueteá-lo. Banqueteá-lo porque a alma desse corpo deve ter evoluído milênios durante os poucos anos que viveu...
    Abutre: o cume do poema!
    "cada baque oco
    arrasta um abutre;
    morte com odor - carnes pútridas,
    um se desfaz - outro se nutre."
    É quase uma tristeza incurável existir tanta poesia em tal poema...
    Salve a vida eterna que nos salva!
    Parabéns!

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  9. Eu queria aplaudir. Mas não deu...Chorei.
    Uma das melhores obras que lí por aqui.

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Triste reflexão sobre a verdade. Se nos toca, é porque foi bem conduzida.

    Pena que a humanidade não se conduz tb com tanta destreza... :-(

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  12. Sou meio avesso a comentar poesias e penso que uma palavra bem dita vale mais do que mil imagens, mas neste caso, o poema encaixa-se de modo perfeito a ilustração e nso remete a que ponto estamos chegando.

    Parabéns pelo belo e pertubador trabalho.

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  13. acho que ainda não elogiei esse aqui. Demais, cara!

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  14. Foda.

    Não tenho outra palavra. O texto é foda e a foto também, choca geral. Dá até para entender por que o fotógrafo colocou termo à vida depois disto.

    ficanapaz (acho que nunca utilizei tão bem esta despedida como agora...)

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  15. Maravilha! ótimas imagens e conteúdo intrigante ao mesmo tempo comovente.Sucesso, Poeta!

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  16. hehehe, tá cheio de gente boa por aqui.

    se tudo der certo, vou produzir o ebook do anderson. e ele será lançado aqui no bar!!!

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