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sexta-feira, 25 de maio de 2007

O lixo da madame

O lixo da madame

Estava cansada da companhia vazia da televisão que, além de ser uma porcaria, ainda a fazia recordar-se do seu ex-marido; um malfadado diretor de núcleo da emissora nacional mais assistida.
Desligou com fúria o aparelho, desceu as escadas languidamente e tomou a rua. Parou em frente a uma cena usual, mas nunca antes observada: o lixeiro recolhia o lixo das luxuosas casas de Santa Teresa, bairro onde ela residia.
Ficou estarrecida. Nunca imaginou que um homem poderia conservar tamanha beleza dentro de vestes tão maltrapilhas e em função tão desfavorável ao Belo. De certo, era novo no local, pois conhecia os antigos lixeiros há décadas.
O sujeito era um negro alto, másculo, dono de um belo par de olhos esverdeados, portador de uma aparência de causar inveja a qualquer modelo internacional. Em outras palavras, um verdadeiro Deus africano.
De súbito, sentiu um arrepio percorre-lhe toda espinha e um leve fio de líquido lubrificante fez-se presente em meio a suas pernas. Como era bonito aquele homem!
No dia seguinte, Laura tomou os sacos de lixo das mãos da serviçal, que ficou sem entender absolutamente nada e parou em frente à lixeira de sua casa. Trajava uma leve camisola preta, que deixava todo seu corpo visível aos olhos de quem por ali passasse.
Bem mais tarde que de costume, o Homem apareceu para fazer a coleta e levou um susto ao deparar-se com aquela bela Dama, tão mal comportada a sua frente, mas entendeu muito bem os motivos de sua presença: conhecia plenamente o submundo das madames renegadas à própria sorte.
Tirou os dejetos das finas mãos da moça, passou o braço por sua cintura e, sem falar uma única palavra, levantou o fino pano, deparando-se com uma pele branca e cheirosa que sob a iluminação da rua ficava ainda mais reluzente. Vasculhou meticulosamente com os olhos cada parte daquele corpo e parou frente à bela cabeleira ruiva da vulva exposta.
Sem pressa, abaixou sua calça laranja e adentrou o corpo da fêmea com um cetro rijo e imenso, fazendo-a urrar feito uma loba no cio em plena rua, próxima a seus vizinhos, em frente a sua moradia, ocultado pelo sujo caminhão de lixo.
A bela dama gozou como jamais o fizera, como jamais imaginara em seus trinta anos de existência na Terra! Jogou fora naquele pênis ébano toda repressão de anos de um casamento de fachada.
Tais noites tornaram-se um hábito nas vidas do lixeiro e da madame, até que ela resolveu promovê-lo a motorista e companheiro de sua história. Desde que o conhecera, mudara completamente: agora se sentia plenamente amada, tal como sempre desejara. Andava feliz por Santa Teresa.
Mas os comentários não cessavam, nem mesmo a revolta alheia, principalmente a de seu enrustido ex-marido, que dias desses, lhe telefonou:
— Acaso, enlouqueceu Dona Laura? O que você pretende morando com o lixeiro da sua rua? Enxovalhar o meu nome e do nosso filho? Atirar nossa reputação na lama?
Ela ouvia a tudo calada, até que ele proferiu a sentença final:
— Sabe o que vou fazer? Vou à Justiça pedir a guarda de nosso filho, porque a mãe dele sempre teve um caso com o lixeiro e agora resolveu colocá-lo dentro de casa.
Então, não teve jeito, respondeu o que estava engasgado a meses:
— Faça isso e eu irei em rede nacional e ao juiz dizer que sendo assim, você também não poderá ter a guarda de nosso filho, pois você teve um caso com nosso jardineiro . A diferença é que você não assumiu! Acho melhor você pensar bem, ou do contrário, nosso filho será entregue a um orfanato!
Fez-se o silêncio do outro lado da linha, seguindo-se o barulho de ligação encerrada.
E até hoje ninguém entende como o ex-marido, humilhantemente trocado por um lixeiro, nunca esboçou qualquer reação, tendo em vista seu costumeiro temperamento vingativo. “São coisas da vida”, dizia ele, plenamente conformado com a situação.

4 comentários:

  1. Sou supeito para falar do texto do meu bom e velho amigo Sacerdote, mas ele é um dos mais liberários e libertinos contistas o bar e não tem medo de expor a hipocrisia humana, como vemos neste conto em questão.

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  2. já conhecia o texto
    e lembro de ter gostado!

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