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sábado, 2 de junho de 2007

Cilada II (foto de Graça Loureiro)

A cena era clara: O marido comia como um porco. Fazia ruídos com a boca, o som da mastigação era nojento. À noite roncava atrapalhando meu sono. Babava no travesseiro. Tinha um recipiente na beira da cama que usava durante a madrugada para mijar, por pura preguiça de ir ao banheiro. Bebia muita cerveja em frente à TV e depois ia dormir. Não deu noutra: virou o conteúdo do pinico em nossa cama. Que cheiro! Aquele líquido morno tocara minha perna...
Voltei à realidade e dei a resposta que todos esperavam.
-NÃO.
O padre confuso perguntou novamente:
-Maria Luiza: aceita Paulo Roberto, como seu legítimo esposo, para amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?
-NÃO.
Virei as costas e fugi em disparada.

.
Me
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obs.: Não existe dia sem sol, noite sem lua, chuva sem cheiro de terra molhada, sorriso sem alegria, poeta sem poesia, Bar sem bebuns, e entre tantos, um que sobressaia pelo talento: Anderson H.
"Poeta neto do Vale das Violas, no cariri cearense, e filho da São Paulo da garoa e do concretismo."
Não deixe de espiar aí embaixo o lançamento de TORMENTA, de nosso menino com cheiro de Nordeste. Eu li e fiquei apaixonada.
.
Me Morte

7 comentários:

  1. Premonição?

    Hehehe, se todas as noivas tivessem essa visão do inferno, o pessoal do cerimonial e buffet ia morrer de fome,rs

    Maneiro...

    ficanapaz, Mascaruda!

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  2. Muito bom ME !
    Mas uma coisa ficou obscura:
    Nessa parte, à narradora comeca em terceeira pessoa e dá um salto para primeira pessoa, olha :

    "O marido comia como um porco".

    ( aquí, à narradora não é à personagem reclamante )

    Fazia ruídos com a boca, o som da mastigação era nojento.
    À noite roncava atrapalhando meu sono
    ( "atrapalhando meu sono" aqui ocorre o salto para primeira pessoa)
    É assim mesmo ou foi um equívoco ?

    desculpe essa minha cabeca questionadora, é mais falta do que fazer !
    rssssss

    fora isso, tá tudo perfeito !

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  3. eu conheci o avô deste conto. agora, já lapidado, tá fera.
    a história contada de trás para frente tá ótima.

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  4. Legal. E tem gente que caga a regra de que um conto tem que ter uma narrativa linear.
    Rememorar fatos no altar é um bom recurso para se contar histórias. Dr. Jekyll inclusive tem um conto em que se utiliza desta idéia chamado, Bodas de Outono.

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  5. Pelo menos ela chegou ao altar para decidir!! Viveu o noivado, o namoro...bem melhor que aquelas que têm crise de pânico só de pensar em dividir a mesma saliva.rsrs. O bicho homem é muito e pouco previsível.
    òtimo texto, vou voltar sempre para dar pitacos!!!

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  6. Muito bom, Me. A cada dia que passa reafirmo, o que já escrevi tantas vezes, que prefiro você proseando a poetando. Muito bom.

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  7. ...rs
    Entendí a narrativa como uma aliteração temporal rapidíssima, onde a personagem dispunha de pouco tempo para decidir-se... Como, aliás, ocorre na vida da gente todo dia.
    O "pré-pânico" foi o mote da estória, que, em sí contém elementos humanos bem destacados...Medo,racionalização e atitude ; que somados justificam o simples ato de respirar...

    Beleza menina!

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