Páginas

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Para não ser



Antes que a bomba estoure
Na minha cara de açougue
(Porque meus irmãos agonizam no frigorífico
a dor de suas carcaças geladas)
Antes que o favo mele
Meu “do-ré-mi”
Esturricado
Antes do pescoço na navalha
E o grito coagulado na garganta
Pecados que velam desejos
Mares nítidos na parede pichada
(E lá estava meu antigo nome, declarando amor eterno)

Antes que visite meu sonho mais uma vez
E roube minha consciência
Condeno-me á um pouco de juízo

Terei a primavera mínima
Nos olhos daquela menina
Da defunta calorosa

Antes de qualquer coisa
Despedaço o consolo
Em nervos rompidos
E cânticos de assassinos

Antes de mulher
Serei malandro
Surrando pequenas
Com flores parcas

Antes de mim
A sina
O desmaio no cartão vermelho
Um beijo no pescoço
Do vampiro que não gotejava sangue
Mas palavras sanguessugas.

6 comentários:

  1. Muito bom, Rita.

    Uma violência em sentir com a qual muito me identifico. Sucessão de imagens ferrada. Colagem poética, Benjaminiana... Rua de mão única.

    ResponderExcluir
  2. eh dificil imprimir um tremor interno, admiro vc por fazer isso com lirismo =*

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Em alguns momentos lembrou-me a dolorosa Sylvia Plath.

    Apareça no Cinco Espinhos e conheça nossa proposta.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  5. aff... essa menina é poeta demais!

    ResponderExcluir

As opiniões para os textos do Blog Bar do Escritor serão todas publicadas, sem censura ou repressão, contudo, lembramos que pertence ao seu autor as responsabilidades por suas opiniões e, também, que aqui agimos como numa mesa de bar, ou seja, quando se fala o que quer pode se escutar o que nem merece.