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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Fragmentos I a V

o santo
mesmo porque aqueles santos eram ocos de paus-de-arara e de cara ainda tinham a cara-de-pau de ostentar o lacre vermelho-escuro-sangue-falso na face e dizer da migalha do milagre da cura do bicho-de-pé do beato que veio da roça. eram tudo, menos estradeiros ou milagreiros. o que se sabe é que morreram. um de fimose e outro de caganeira.

a serra
jurava que era jabuticaba que brotava naquele espinhaço na Serra do Mar. pudera, o minúsculo ponto negro encravado no dedão do pé de Maria supunha a alcunha dada ao bicho. disse isso e saiu. suspirou aliviado ao notar a presença de uma espécie de serpente que chacoalhava rente ao pênis de Pedro que mijava na pedra logo na entrada da gruta escura. Maria não tirava o palito dos dentes. fui dormir inda cedo sempre lembrando daquele dedo, e do palito. Maria e Pedro, nunca mais vi.

meu avô
meu avô tinha uma verruga enorme atrás da orelha direita. dizia que era onde guardava os segredos que lhe contavam. minha avó era calada e austera e isso causava no meu avô uma certa relutância ao diálogo entre eles. Severo era filho de vó Joana, dona de um terreiro de umbanda numa vila de pescadores. nunca soube o porquê de ter se tornado padre ao vinte e um anos. meu avô sabia.

o chocalho
o conteúdo não importa. veja, meu bem, e ouça a blasfêmia insignificatez da bela sonoridade dessa poesia morta. era o que sempre quis dizer: nada. Maria não entendeu. coitada, teve um colapso nervoso ao ouvir um grito estridente de um choro de criança. apaguei o cigarro no assoalho e fui dar o chocalho pra Fabiana.

1961
Jânio era um resmungão, chato e bicha. queria encontrar alguém de peito que o demovesse daquela idéia alienígena. não achou. Rita servia café-com-leite no gabinete com pretexto óbvio de misturar com sua vodka matinal. ao que tudo indica, ali só se bebia coca-cola. café puro, era raro. o país-continente magoou, e logo daria o troco. e deu no que deu, para o bem e para o mal.

Um comentário:

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