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domingo, 8 de fevereiro de 2009

RESGATE



Esta cidade que pertence aos carros,
será possível amá-la ainda, amá-la
como quem ama a um filho que se desviou,
a uma querida irmã extraviada?

Minha cidade mãe desnorteada,
que parece ter perdido o seu sudeste:
que pólo magnético é este,
que a faz tão atraente
para tanta gente?

Minha querida desorientada!

Minha cidade norte e oriente,
que bandeirantes tão intimidados
não te reconquistamos,
não tomamos posse,
não vimos desbravar-te?

Minha cidade enchente;
vêm de toda parte
os que te entopem as veias,
que te invadem
sem te amar
os que te bebem,
te devoram,
que destroem tua arte,
os que te exaurem, jurando
não poder suportar-te
nem mais um dia: precisam
fugir de ti, minha amada.

E vão-se, os bárbaros, a cada
pequena oportunidade.

Escoam-se pelas estradas,
estrangulam-nas,
mas temporariamente partem,
os não-amantes da cidade.

É quando quem te ama,
teus filhos e imigrantes,
pode reencontrar-te
como antes:
tuas lânguidas ruas,
teus bosques suaves,
teus prédios antigos,
tua maravilhosa nova arquitetura.

E assim te sei, Cidade,
ainda a mãe mais pura

apesar de tudo que te invade.

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