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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Só-tão



Vivo abarrotada de almas,
tanto novas quanto usadas,
pra mudar conforme o caso

(se uma suja, jogo fora,
quase nunca lavo).

Algumas são falsa-cor,
vermelhas,
cheias de prendas e laços,
penduricalhos mil costurados,
que já nem sei mais o nome.

– tenho um motivo fajuto
e sempre o sapato perfeito
pras feras que me consomem –

Há uma de esguelha, há outra rodada,
envolta em fuxicos, ismálias
e finas organzas de musas

– amélias no forro, teresas na barra –

há uma fechada, há outra que ousa,
e não tem botões, nem amarras,
rendada com puta de esquina.

(troco a cara e o vestido
quando aquela não mais me fascina).

Em noite de gala,
quando o amor desvestido me despe,
me visto com fendas
e tons de imprevisto.

Acordo no dia seguinte, num sopro,
já pano de vela que encontra
seu porto

- alma á espera, com jeito de corpo -

6 comentários:

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