
Casou-se moço, no auge de seu vigor produtivo: viçoso, trigueiro, reluzente, belo. Celebração natural de um amor brotado à primeira mirada, os folguedos vararam madrugadas e dias, de sol, fogo, chuva, mormaço. Malgrado protestos, sem cocas, crushs ou tubaínas afins, barraram-se os crentes à porta. Assevera a História Oral que o bagulho foi frenético, bombou. Pena o festivo começo não ter escapado à sanha tradicional dos matrimônios felizes. Amante fogosa, insaciável, ela reclamava elevadas e diuturnas performances e potências do fatigado cônjuge que, herculeamente, desdobrava tripas para satisfazer à amada. Debalde. Tamanha azáfama cotidiana fê-lo, paulatinamente, murcho, verde, opaco, feio de se ver. Apaixonado, chupado pelo amor que devora, consumiu-se até à morte; feliz. Doña Calibrina, a viúva, dizem, à boca pequena, logo anunciou núpcias novas, desta feita, múltiplas. Dada a profusão de pretendentes, decidiu-se por todos. Embevecidos, festejam os excessos da esposa volúvel. De quando em vez, tomba um. Outros poucos convertem-se à seita das vogais iguais. Porém, muitos outros vêm e juntam-se à bacanal. Sempre sorrindo, Doña Calibrina dança. E queima. E roda. Roda. Roda. Roda.
Carlos Cruz - 20/04/2011
* Pintura de Serhiy Reznichenko.
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