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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Convidado Edson Rossatto

Dia desses, minha mãe veio me perguntar se eu sabia de alguma empresa que estava contratando, pois o filho da vizinha dela estava desempregado, e entre os argumentos de que ele era uma pessoa que merecia a tal chance ela mencionou “honesto” e “sempre chega no horário”. Realmente ser pontual é uma grande vantagem em relação a maioria dos profissionais por aí, porque hoje, se você marca uma reunião às nove da manhã no escritório, ela não começa às nove. Ela começa umas nove e quinze, nove e vinte… Então, quando dizem “te espero às nove” isso pode ser traduzido como “te espero lá pelas nove” ou seu equivalente “a gente se encontra nove horas mais ou menos”. Honestidade também é algo que as pessoas se orgulham em ter. Outro dia, fui tomar um café e paguei com uma nota. O caixa me deu o troco. Eu ia saindo, quando ele me chamou. Ele havia me dado troco para vinte, quando deveria ser para cinquenta. Ele me entregou a quantia certa, abriu um sorriso, como se quisesse dizer “viu como sou honesto?”. Acho que ele esperava ser agradecido por isso, então dei o que ele queria: “Obrigado por ser honesto!”. Isso me fez pensar em quanto nossos valores sociais mudaram. Quando na História “honestidade” e “pontualidade” se tornaram qualidades? O mesmo vale para “justiça. Deveriam ser obrigação de qualquer cidadão. E destaco “justiça”, pois se as pessoas fossem justas não tirariam vantagem das outras e assim extinguiríamos o “jeitinho brasileiro” tão vergonhoso, uma vez que não é justo cortar uma fila, pois as pessoas que estavam na frente chegaram antes. E em algumas situações, essa mentalidade de valorizar aspectos que deveriam ser obrigação de todos nos cega. Quantas vezes, no ônibus, metrô ou trem você se deparou com um vendedor ambulante com o seguinte discurso: - Eu poderia estar roubando ou matando, mas estou trabalhando. Vendo essa caneta por um real. Aí você se sensibiliza e compra a tal caneta, pensando “poxa, o rapaz está trabalhando”. Mas, na verdade, ele está querendo dizer: - Se eu não tirar dinheiro suficiente desse trabalho, vou virar ladrão ou assassino. A responsabilidade é sua. Os valores sociais e a cidadania não podem mudar com o tempo. Pelo menos não negativamente como tem acontecido. Uma forma de preservá-los é manter os olhos e a mente aberta e enxergar as situações como elas realmente são. Fiz o que minha mãe pediu e encaminhei o currículo do rapaz para algumas empresas que eu conhecia, mas não antes de dar uma bela olhada. Entre os motivos que ele julgava que o tornavam apto a exercer uma função naquela empresa, ao lado das palavras “honesto” e “pontual” estavam “ético” e “educado”.

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Edson Rossatto

Um comentário:

  1. Fico lisonjeado com esse convite! De verdade! Abraços e desce mais um chope!

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