O carro está parado e desligado.
Ela está sentada no lugar do motorista, ele no banco do carona.
ELE: Tenho que ir.
ELA: Tem certeza?
ELE: Acho que a gente tá num ponto sem volta.
Ele solta o cinto de segurança. Ela desvia o olhar. Tenta se ajeitar, mas o banco não ajuda.
Tampouco o cinto.
Encontra com o olhar o retrovisor e permanece olhando fixamente por ele. Tenta ver alguma coisa que não consegue enxergar.
ELA: Como eu faço pra sair daqui?
ELE: Segue em frente. No fim da rua, tem um retorno.
ELE: Você consegue ver pra onde a gente vai?
ELA: Não sei.
Ela decide ir embora.
Está sufocada, precisa sair daquele lugar. Tenta ligar o carro, mas o carro não liga. Ele ignora a tentativa dela de ligar o carro.
ELE: Pois é. Também não sei.
ELA: Não quero que acabe.
ELE: Nem eu. Mas acho que você não tá pra valer.
ELA: Como assim?
ELE: Acho que a gente podia ir adiante, mas não vejo você abrir mão de nada.
ELA: Como?
ELE: Desculpa, vou reformular. Acho que você podia abrir de algumas coisas.
Ela olha pra ele.
Pensa o que ele deve estar sentindo. Tenta adivinhar. Sente que o esforço é em vão.
Fala, bastante incisiva.
ELA: Mas eu já abro mão de muita coisa. Pode ter certeza.
Silêncio.
ELE: Não quis te ofender.
ELA: Sei que não.
ELE: Tô falando sério.
ELA: Eu sei.
ELE: Quero voltar.
ELA: Eu também.
ELE: Mas vai ter que ser diferente.
ELA: Eu sei.
ELE: Tudo. Completamente.
ELA: Completamente diferente é ódio. Não quero te odiar.
Silêncio.
ELE: Sabe que eu não falei isso.
ELA: Você disse completamente diferente.
ELE: Eu sei. Mas você sabe o que quero dizer.
Ela não sabe.
Não faz a mais vaga ideia. Pensa consigo o que seria diferente. Amar mais parece impossível. Mais dedicação, também. Não sabe o que ele quer dizer. Nem o que sentir.
Não sabe amar mais. Também não sabe amar menos.
ELE: Você entende o que quero te dizer?
ELA: Entendo.
Não, ela não entende.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
As opiniões para os textos do Blog Bar do Escritor serão todas publicadas, sem censura ou repressão, contudo, lembramos que pertence ao seu autor as responsabilidades por suas opiniões e, também, que aqui agimos como numa mesa de bar, ou seja, quando se fala o que quer pode se escutar o que nem merece.