Páginas

domingo, 30 de setembro de 2012

Despedaçada


Do que estava inteiro, eu quebrei e despedacei. Quantas alucinações cabem num coração esfomeado? Em quantos podemos quebrar quem já está em pedaços?

Se a sua dor me atingisse, seria a minha menor?

Prefiro adoecer sozinha. Doer em prantos sensorizados com fundo musical. Mãos dilaceradas nos apertos e ruídos que não posso conter. Fogem de mim os barulhos que denunciam a loucura iminente. Não me olha assim. Olhar para mim diminui a dor do seu pranto? Fundamenta minha face reconstruída?

Sorrio hoje e todos os dias com a intrepidez de quem mente para viver, de quem mentirá a dor que sente e a felicidade que não possui. Sorrio e não me perguntarão o que me adoece.

Não há cura se a doença sequer chegou a existir. Não a reconheço, ela não está aqui. E de auto-ajuda eu me dilacero em negações eternas. Penso positivamente que todo esse pesar é brincadeira de esconde. Escondo o pranto, parto o tempo em dois e meus pesadelos travestem-se de sonhos coloridos. Cubro escombros com flores e deles finjo jardim.

Chamo de passado, mas não passou. Digo que está vivo, mas te encontro na morte. Desenho-o inteiro, no entanto, desloca seus ruídos em pedaços.

Chamo tristeza e, finalmente!, responde.

Ana Marques


3 comentários:

  1. Parabéns pelas relevantes e tão poeticamente sábias palavras.

    ResponderExcluir
  2. belo e lírico.

    me gradou-me a mim.

    ResponderExcluir
  3. Adorei!!! Arrasou !! muito bem escrito. Da pra sentir lendo seu poema.

    ResponderExcluir

As opiniões para os textos do Blog Bar do Escritor serão todas publicadas, sem censura ou repressão, contudo, lembramos que pertence ao seu autor as responsabilidades por suas opiniões e, também, que aqui agimos como numa mesa de bar, ou seja, quando se fala o que quer pode se escutar o que nem merece.