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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Ela tinha razão

Ele está no sofá.
Ela chega.

ELA: Vamos dormir?
ELE: Daqui a pouco, tá? Tô terminando de ver o jogo.
ELA: Mas você já não viu?
ELE: É outro.
ELA: Outro?
ELE: É.

Ela olha para a televisão.

ELA: Isso não é futebol.
ELE: É futebol americano.
ELA: Futebol americano?
ELE: É, amor.
ELA: E você entende isso?
ELE: Que isso, amorzinho?
ELA: Você me odeia.
ELE: Oi?
ELA: É, odeia, tenho certeza. Prefere qualquer coisa a mim. Prefere assistir a esse jogo esquisito. Você me odeia!
ELE: Para com isso, minha linda...
ELA: E tá me achando gorda.
ELE: Não tô, princesa.
ELA: Claro que tá. Você preferia que eu dormisse aqui no sofá, né? Tô cada dia mais gorda, não é isso que você acha? Aquela cama de solteiro, eu desse tamanho, você todo espremido, me odiando o tempo todo...
ELE: Meu amor...
ELA: Odeia quando eu venho pra cá, porque eu invado seu espaço, porque não paro de comer, porque eu fico falando o tempo todo, porque eu pergunto tudo e não deixo você prestar atenção em outras coisas, porque só falo na hora dos programas e fico quieta no intervalo. Você me odeia. Sua vida ia ser muito melhor sem mim.

Silêncio.

ELA: Não vai falar nada?
ELE: Vou: você tem razão. Em tudo.


Um comentário:

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