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sábado, 10 de agosto de 2013

Convidado Jonatas Rubens Tavares



Reflexos

Alzira passava por uma crise de identidade um tanto quanto diferente: Ela sabia muito bem quem era. Não tinha dúvida alguma em relação á isso. O problema eram as outras pessoas. Estas, sim, não sabiam quem era Alzira.
Os colegas da faculdade e do trabalho não a conheciam, as amigas (até mesmo as de longa data!) também não, o namorado não a conhecia, seus pais (com quem dividia a mesma casa desde o nascimento) também não. Aquilo tudo era muito estranho e incômodo. Sentia-se coadjuvante da própria existência. Vivia em um mundo em que as pessoas não se conheciam e nem se esforçavam para tanto.
Alzira não queria ser o centro das atenções, o centro do universo; Só não queria mais ser subestimada. Era isso o que mais a perturbava.
O jeito, a solução encontrada, foi mostrar a que veio. Mas muitos não gostaram do verdadeiro eu de Alzira. Procuraram se afastar. E a moça tinha de admitir: agindo daquela forma, querendo mostrar-se, provar-se, distorcia, de alguma forma, a própria personalidade. Distorcia o seu próprio Eu. Então a sua crise de identidade só piorou. Agora, ela mesma tinha dúvidas quanto a quem era de fato a Alzira que até pouco tempo atrás acreditava conhecer tão bem.
-Quem sou eu? – Perguntou a moça, aos prantos, ao namorado.
-Você é a mulher que eu amo...
Pois o namorado amava uma pessoa que não existia. Amava a imagem que tinha de Alzira, não a Alzira em si. Talvez ela mesma estivesse apaixonada apenas pelo que acreditava ser seu namorado. Esse pensamento a confundiu. Na certa, todos que ela supostamente conhecia eram apenas uma imagem errônea que ela havia produzido... Tratava-se de um mundo muito estranho, repleto de pessoas estranhas, que, estranhamente, estranhavam-se entre si mesmas... O fato é que a verdade não passa de um belo engano enquanto o que julgamos engano é o que talvez mais se aproxime da realidade que julgamos conhecer, mas que na realidade desconhecemos totalmente... Duplamente enganados.
Alzira procurou acalmar-se e, após uma longa e regeneradora noite de sono, estudou o próprio rosto no espelho. Não conseguiu distinguir, naquelas feições, o seu Eu. Era triste, mas era verdade, era realidade:
As pessoas nos veem como nos enxergamos no espelho: Apenas um mero reflexo do que realmente somos. 

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 Jonatas Rubens Tavares
http://ooportal.blogspot.com.br/

 

Um comentário:

  1. O ser humano e sua formação psicológica em EGO, ID e SUPEREGO. Matamos esta charada de Freud?

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