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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Dinho e as coincidências do dezenove

Uéldom teve a sina de ostentar por muitos anos o fardo de ter um nome “diferente”. Sofreu bullying na escola, o que o tornou um menino um tanto cabisbaixo e por vezes até calado, em momentos em que queria externar sua maneira de ser e agir. Uéldom carregou uma mágoa com os pais durante sua infância e adolescência; com o pai por ter lhe dado este nome, com a mãe por ter consentido com a escolha paterna. Mesmo sabendo que o nome do pai também era diferente – Sidiclei – Uéldom não entendia o porquê de o pai repetir a dose e escolher um nome, no mínimo, incomum para o filho. Mas o tempo passou e, ao entrar para a faculdade de Jornalismo, Uéldom conseguiu que o seu apelido se tornasse mais forte que o seu nome: Dinho (como era carinhosamente chamado pelos próprios pais) acabara se tornando seu apelido oficial na Universidade, o que subitamente encheu de moral e confiança o adolescente inseguro de outrora.

Deste momento em diante Uéldom, ou melhor, Dinho, passou a viver intensamente sua rotina acadêmica, e ao término do seu curso ele havia chegado à fascinante conclusão de que o dezenove era o seu número. Uma série de coincidências o fez crer acima de qualquer coisa que não se tratava apenas do seu número da sorte, mas do número de sua vida, para o todo e sempre. A primeira constatação foi no dia em que Dinho perdeu a virgindade: num 19 de setembro, seu primeiro semestre acadêmico, aos 19 anos de idade. Até aí, tudo não passava de um mero acaso, até mesmo para ele. Com o passar dos semestres, mais coincidências foram surgindo: Dinho era nascido em 01/09, o que o fez automaticamente ignorar os zeros da data para enxergar o dezenove mais uma vez. O seu nome de batismo também carregava dezenove letras: Uéldom Aparecido Lima. Mas havia mais.

No penúltimo ano de faculdade, o time de futsal de Dinho sagrou-se campeão dos joguinhos universitários, e de sobra, ele fora o goleador da competição com dezenove gols – vestindo a camisa 9, é verdade, mas segundo palavras do próprio “ o time só foi campeão pelo pênalti defendido por meu colega Denis na final, que vestia a camisa número 1. 1 e 9, dezenove”. As vésperas da formatura, mais uma constatação: Dinho anotava o nome de cada menina com quem tinha relações sexuais e, ao final do curso, pasmem: Dinho tinha adicionado dezenove mulheres ao seu currículo de conquistador. O fato de Dinho ter namorado a Ritinha por um ano e a Nina por seis meses só ajudou para que o número fechasse redondo. Para ele, seu destino com o número dezenove estava traçado para a eternidade.

Dois anos se passaram desde sua formatura e hoje Dinho trabalha como assistente de redação em um jornal de importante circulação no país. De lá para cá, é bem verdade, não ocorreu mais nenhuma coincidência, o que não diminuiu em nada a fé dele pelo dezenove. Dinho joga todas as semanas no jogo do bicho com seu número mágico. Segundo ele: “Ainda não ganhei nada, mas logo vou encher os bolsos. É o destino, não posso fazer nada”. No time de futebol do trabalho, Dinho exigiu que sua camisa fosse a número dezenove, mesmo com o time contando apenas com 16 atletas. Dinho também adquiriu o vício por tabaco na Faculdade e ainda hoje, a cada maço que ele abre, o primeiro cigarro vai direto para o lixo. O motivo: cada maço contém 20 cigarros...

Hoje em dia Dinho já é chamado pelos colegas e amigos mais próximos de Dezenove, o que lhe agrada, e muito. Quanto ao problema com o seu nome de batismo, isto já virou coisa do passado. Ele até agradece ao pai seguidamente pela escolha, e pela combinação numérica perfeita formada pelos sobrenomes junto de seu nome. Seus pais acham isso tudo muita superstição, mas preferem o filho assim, feliz e vivendo cada dia como se fosse o dezenove – ou melhor, como se fosse o último.

2 comentários:

  1. Muito boa a história, lembra aquelas do Verísismo! Gostei da criatividade dos nomes dos sujeitos! Abraço!

    Felipe Bortolon

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  2. É verdade que todos possuímos algumas superstições, inclusive com números. Quem não tem o seu numero da sorte? Ótimo texto André. Grande abraço.

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