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terça-feira, 24 de setembro de 2013

MAIS DUAS TALAGADAS NO BDE


NOITES DE TORMENTA

Quarto lúgubre, 22 horas. Nenhum feixe de luz para apaziguar, apenas, como mamãe ensinara, um pai-nosso e o sinal da cruz. Escuridão absoluta encobrindo as marcas do desespero e inúmeras tentativas de fuga estampadas nas paredes sombrias. Mais uma noite daquelas, sem conseguir pegar no sono, enfronhada sob o denso manto mórbido da tormenta. Pesadelos medonhos, gritos alucinantes engasgados na garganta e muita agonia sufocando seus sonhos de criança. Mas, o pior de tudo ainda estava por vir – o monstro do alçapão debaixo da sua cama que insistia em aparecer geralmente na mesma hora, ameaçando, com sua voz atroz, matar seu irmãozinho, tentando a todo custo invadir outra vez, viril e violentamente, sua santa ingenuidade infantil. De repente um forte estampido e uma faísca iluminam a cena derradeira: de um lado, sua mãe empunhando um fumegante 32, do outro, aquele maldito padrasto pedófilo com um furo no peito, estirado ao chão para todo o sempre.


DOU-LHE UMA, DOU-LHE DUAS, 
DOU-LHE TREZE

Marcos morava na 13 de Maio, 1313, apê 13. Envolveu-se, nos últimos 13 anos, com 13 mulheres. Todas, coincidentemente, tendo como iniciais dos seus nomes a décima terceira letra do alfabeto: Maria, Mara, Mirtes, Mônica, Marisa, Mariana, Marta, Márcia, Marilda, Matilde, Melissa, Morgana e, a última, a surpreendente Mortiça. Seria, então, treze o seu número de sorte? Ou azar?
Numa sexta-feira, 13 de Agosto, ela descobre que há muito tempo já não vinha sendo mais a única em sua na vida. Nesse mesmo dia, quando Marcos chegou para o almoço, lá pelas 13h, antes de por a comida no prato dele, após treze beijos ardentes, Mortiça deu-lhe uma, duas, treze garfadas em seu peito. Uma delas, certeira, fatal: bem no coração. Judiação!
Em menos de treze segundos, Marcos subiu aos céus, deixando para ela, na conta corrente, uma herança de treze mil reais negativos. Quantia transferida na manhã daquele fatídico dia 13 para o seu décimo quarto amor – Nazira –, despertando em Mortiça toda a sua ira. Acabou na Saudade, sepultura 13, a 13 palmos do chão. Que infortúnio!


Obs:

• NOITES DE TORMENTA e DOU-LHE UMA, DOU-LHE DUAS, DOU-LHE TREZE, minicontos extraídos do livro “Só Concursados – diVersos poemas, crônicas e contos premiados” – 2010. 

8 comentários:

  1. Minicontos maravilhosos - mais diamantes das maos de um mestre no oficio. Parabens, amigo.

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  2. Mais uma aula de criatividade do mestre Trombin. Que continue sempre assim.

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  3. Lendo e aprendendo. Os curtos que dizem tudo. Muito bom!

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  4. Obrigado Ed, Piaia e Cinthia! Vamos minimizando rsss

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  5. Boa tarde! Apanhei o seu blog no FB por termos como amiga comum Cinthia Kriemler. Para dizer que gostei muito e vou voltar a visitar!

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  6. Obrigado, Mena... Seja sempre bem-vinda!

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  7. Curtos, incisivos e cortantes. Quem os leu também se contundiu, soube o que é ser ferido e experimentou o prévio gosto amargo da morte.

    Deva

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  8. O gosto amargo da morte sempre rondando... Abração

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