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sábado, 17 de março de 2007

Eu, o Amor e a Solidão


Naquela noite fria eu estava sozinho no meu quarto escuro. Uma luz fraca iluminava parcialmente o quarto. Eu estava sentado, escrevendo alguma coisa, com uma garrafa de vinho pela metade em cima da mesa, um cinzeiro com um cigarro aceso e a Solidão ao meu lado.

Ela era minha acompanhante. Cada vez que terminava algum poema ou conto, mostrava-a e ela fazia suas críticas, mostrando-me o que e onde mudar, de acordo com suas emoções.

Inesperadamente um desconhecido entrou no quarto.

Inicialmente não o reconheci. Estava um pouco escuro.

Mas era o amor.

Ao reconhecer o visitante meus olhos se encheram com o brilho da esperança, um brilho de felicidade, um brilho de admiração diante de um visitante nobre, ilustre. Mas no olhar da Solidão via-se a chama do ciúme.

O amor passou uma vista rapidamente pelo quarto, encarou a Solidão, olhou-me piedosamente e falou:

- Vem comigo. Tu, que há tanto me esperas, vem comigo, vem!

Aquelas palavras pegaram-me de surpresa. Eu não sabia como reagir!

Não sabia se corria para abraçá-lo, aproveitando sua tão sonhada presença, ou se respondia um simples “eu vou”, educadamente, controlando minhas emoções.

Não fiz nada disso.

Eu chorei.

Caiu uma lágrima pelos meus olhos.

- Não posso. – falei tristemente mostrando-lhe a algema que me prendia à Solidão.

O amor imediatamente compreendeu minha situação: eu era um prisioneiro.

A Solidão, por sua vez, sorria vendo toda aquela cena. Estava muito confiante em si mesma.

Mas uma coisa eu não entendia. O amor continuava a olhar-me de um jeito estranho, condescendente até.

O visitante então falou:

- Não te preocupes. Não desistirei de ti. Ocasionalmente visitar-te-ei a fim de que tu te acostumes com a minha presença. Dar-te-ei a força necessária para que tu possas te livrar dessas algemas, do domínio da Solidão. Doravante terás a mim como companhia.

Olhei-o em agradecimento.

Ele entendeu, virou as costas e se retirou.

E eu fiquei novamente sozinho com a Solidão.

Tomei mais um trago do vinho, sentei e tornei a escrever.

Aguardando a próxima visita do amor.


André Espínola

16 comentários:

  1. Cara, você ainda vai ser conhecido como o "escritor da solidão", rs

    Gostei da condução do texto e porra, que mote legal! Ficou bom prá caraio.

    Ah, gostei também da garrafa de vinho e do cigarro. Posso ficar com eles?

    ficanapaz!

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  2. Uma alegoria. Tá se especializando em escrever sobre sentimentos que se materializam como entidades.

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  3. O jeito "André" de escrever.Tem música que dizem ser "Melô de Corno", tu escreve "A la corno".Mas, com beleza e, afinal não é isso que faz mais sucesso?
    Eu curto pra caramba teus poemas sentimentais, só espero que não se mate como já fez tantas vezes nos poemas.Beijos

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  4. aeiueahiaehiaehe

    vou me matar não... pode não parecer, mas eu curto a vida
    eaiuehiuehea

    valeu!

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  5. Muito bonito. Uma polida em alguns detalhes e fica perfeito. Acho que aqui não é um espaço muito adequado para comentários longos, então não vou me ater a estes detalhes, mas se quiser discutir alguns pitacos, podemos fazer via e-mail ou na comuna orkut. :-)
    Parabéns, André. Belíssimo texto.

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  6. Atenção com a Solidão. Pode ser sua única companheira, mas ela tem vários casos, se envolve com muitos ao mesmo tempo. A Solidão é infiel.

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  7. Para nos livrarmos da incômoda companhia da solidão, nada melhor do que a chegada do amor. Gostei muito do tema e da forma como ele foi conduzido.

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  8. Como diz a poetisa: Expulsá-la de casa desfaz tal sensação.

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  9. "Amor são duas solidões protegendo-se uma à outra" (Rainer Maria Rilke). Não havia melhor estratégia que a frase: 'Ele entendeu, virou as costas e se retirou.' Texto nota dez!

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  10. ANDRÉ...

    Vc faz parte do futuro. Do futuro Romance Brasileiro... Eu APOSTO!

    Muito BOM!!!!

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  11. bem trabalhado André...
    eu me identifico muito com teu estilo
    e até parece que te conheço quando te leio

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  12. Já falei contigo sobre esse teu texto. Ele é uma das melhores coisas que vc já criou. A fábula toca no nosso coração parecendo uma verdade crua.

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  13. Um grande e estimulante texto. Sabes que sou teu fã!!!

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  14. Puta que terxto lindo!

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  15. Nós e as nossas opções.
    André, acho que tem muito de verdade o teu texto. Não estamos aqui pra procuramos o amor indiscriminadamente e eu acho que ele simplesmente aparece e nos acha (ele mesmo o disse, lembra?)
    Enquanto isso companheiro, curta a velha e boa solidão e, afinal, transar com ela também não é de todo ruim.
    Belo texto.

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  16. Um de seus "escritores" COPIOU meu texto inteiro!!!!!
    Eu quero a retirada do texto e um pedido de desculpas!!!!

    MEU TEXTO: RELÓGIOS – PUBLICADO EM 27/02/2007

    A CÓPIA: Terça-feira, 13 de Março de 2007
    Mente humana?

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