Um natal diferente
Pela primeira vez em toda sua existência os festejos natalinos a incomodavam; não sentia mais a alegria da escolha dos presentes, a satisfação da gula natalina e, nem tão pouco, o prazer com o ultimo consumismo do ano.
Naquele ano, aos trinta e cinco anos de idade, descobrira, quase sem querer, que papai noel não existia e que todo aquele gasto infundado saía de seu parco bolso, às custas de muito trabalho durante o ano.
Tivera a revelação tardia de que o décimo terceiro salário só servia para fomentar a economia mundial , descobrira ainda que toda família é um núcleo doente por natureza e que a sua não ficava para trás- os minutos de festejo não apagariam os problemas que cruzavam seu caminho há vários natais.
Dessa vez, não haveria pisca-pisca, tender, chester, árvore de natal, bolas vermelhas, chegada de papai noel, presentes inúteis, família distante reunida e um porre para comemorar a merda de ano que ficava para trás, pois, como de costume, merda maior estaria por vir com o ano vindouro.
Assim, cambaleante e decepcionada, saíra a esmo pelas ruas, sem procurar, nem esperar nada, quando deparou-se com um forte papai noel a brincar com as crianças.
Lembrou-se dos quinze anos de casamento, dos filhos adolescentes e problemáticos, do sufoco para adquirir a cobertura em que morava, da dureza dos primeiros anos, da falta de amor, da falta de companheirismo e principalmente da falta de sexo.
Olhou firme naqueles olhos, que de velhos não tinham nada e, percebeu que sua carência era insaciável; os muitos anos de deserto sentimental a deixaram assim- um poço fundo e vazio.
Desejou desesperadamente aquele homem, que só deixava a mostra os olhos. Apenas os olhos, somente as janelas da alma, bastariam para satisfazê-la aquela noite.
Quando a encenação acabou, aproximou-se daquele homem como uma pedinte faminta a implorar por um pão e, sem pronunciar uma só palavra, abaixou-lhe as calças e fez amor com seu membro e principalmente com seus olhos.
Depois, foi embora, ainda em silêncio absoluto e guardou em sua mente a lembrança dos olhos mais ternos que já viu sobre a face da terra.
Aquele fora o único ano em toda sua existência que um papai noel lhe dera alguma coisa, sem que ela tivesse pago antes por isso!
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