não há paixão que sobreviva nesta calçada
onde teus pés de salto agulha feriram o concreto
e poças de lama preenchem os buracos
que escondem o sangue jorrado
dos últimos colibris de asfalto
não há mais passos em frente desta janela de bar
que não lembrem teu hálito de espuma
vazando pela veneziana
como serpente
a procura de pupilas escancaradas
não há mais amor nesta alameda em desatino
destino de alucinações desencarnadas
que não sopre o reflexo apagado de pirilampos
que já foram olhos
já não há mais a saliva espargida do teu canto
a deixar o brilho de teu rastro estéril
à porta destas casas
já acostumadas a hábitos cetônicos
hepatotóxicos
agora órfãs
de tua corrosiva doçura
etílica
nem há mais lua nesta rua
onde pisaste
e agora jazem as estrelas
ao fundo
opaco mundo
e apenas blues
(Celso Mendes)
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