As aventuras do pequeno Douglas I
Douglas era um ex-viado. Converteu-se. Aceitou Jesus e tudo. Ponto.
Um dia, passarinho cantou na sua janela.
- Ai, ai. Sangue de Jesus tem poder...
Outro dia, a casa do vizinho pegou fogo. Apareceu bombeiro com mangueira na mão...
- Ai, ai. Sangue de Jesus tem poder...
Seguiu firme na graça de deus.
Até que sua mãe o chamou pra ir pra feira.
- Douglas, escolhe umas cenouras bonitas pra mim
- Tá bom, mamãe.
Naquele dia ele teve uma recaída.
As aventuras do pequeno Douglas parte II
Arrependido, Douglinhas resolveu escrever um poeminha pra Jesus.
Como manda o figurino, decidiu que aqueles versos seriam em redondilhas, pra ficar bem bonitinho. O problema, contudo, era que Douglas nunca havia se aventurado por aquelas bandas ainda.
As redondilhas, arquipélago de ilhas redondas próximas à puta que pariu, era um ambiente muito selvagem. Logo nas primeiras letras, nosso herói começou a dar sinais de confusão. Douglas acabou se perdendo nos próprios versos. Nos próprios sentimentos reprimidos.
- Ai ai... Nunca vou sair dessa redondilha. Jesus não vai me perdoar.
Douglas, seguindo pelo mar, começou a andar em círculos (óbvia, a ilha era redonda).
Após horas de caminhada, sentiu fome e resolveu procurar comida.
Procurou, procurou, e achou um pé de carne seca. Feliz, começou a orar em agradecimento.
- Oh, senhor. Muito obrigado pela comida. Que teu nome seja glorificado, e que minha mania de enfiar coisas no cu caia por terra, em nome de Jesus.
Com o fim da oração, quase que instantaneamente, Douglas começa a sentir a terra tremer. Parecia um estouro de manada.
- Ai, Jesus! O que será isso?! Um terremoto? Afros descendentes ?
Não.
Era uma manada de abóboras gigantes e ferozes destruindo tudo. Não ia sobrar nada. Douglinhas, entretanto, esperto baitola que era, conseguiu rapidamente puxar uma abóbora jovem para dentro de um buraco em que havia se escondido.
Com o final da confusão, Douglas acendeu uma fogueira, estabeleceu acampamento e descansou. Naquela noite teve carne seca com abóbora.
Antes de adormecer, Douglas pensou: “as coisas de deus são perfeitas...Só faltou uma lingüiça”.
No outro dia, acordou com sede e com vontade de dar. Orou para que deus apagasse seu fogo, e começou a procurar água doce. Logo, seu pedido foi atendido.
- Um coqueiro! Oba!
Ele, com muita dificuldade, subiu no coqueiro, e tentou pegar o máximo de coca cola possível. Bebeu, se lambuzou, e agradeceu:
- Deus, a coca desse coqueiro é a melhor coisa que o senhor inventou...
Um coco, entretanto, tinha coca de cocaína. É. Aquela coisa branca sem vergonha.
- Credo... Mamãe não quer, papai não deixa...
- Mas se você experimentar um pouco, ninguém vai saber – disse uma voz misteriosa.
- Hã, o quê?!?! Quem está aí?
E de trás de uma moita surgiu uma cobra muito bem vestida, e bem apessoada.
- Viestes me tentar, como fizestes com Adão?
- Não... Na verdade, deus me mandou aqui. Eu tenho a missão de te ajudar.
- Ajudar? Como? Me fazendo ingerir essa coca branca malvada sem vergonha?
- Não... Isso foi apenas uma sugestão... Só pra gente se divertir e conversar. Deus me mandou aqui pra te salvar. Você quer fugir dessa redondilha, não quer?
- Quero sim. Eu tentei me aventurar nas redondilhas, mas acho que deveria ter ficado mesmo era com os alexandrinos.
- Então. Apenas meu bote pode tirar você daqui. Você deverá navegar pra oeste, direção do pôr do sol.
-Mas seu bote não é venenoso?
-Você nunca saberá se não aceitar. Além do mais, é sua única chance de fugir daqui.
- Você tem certeza, dona cobra?
- Não. Eu nunca dei um bote em/pra mim mesmo.
Douglas começou a refletir... A cobra era um bicho traiçoeiro, todo mundo sabe, até a bíblia. Mas aquele bote seria sua única chance de fuga. Não havia escapatória. Além disso, o formato cilíndrico da cobra inspirava confiança.
- Oquêi. Eu aceito. Vamos. Me dê seu bote.
Os dois se dirigiram pra praia, e a cobra se enrolou pra preparar o bote.
- Ai!
Bote entregue, Douglinhas sobe e segue viagem.
Após um tempo viajando, nosso herói lilás começou a sentir tonturas... Sua mão direita, a que recebeu o bote, começou a inchar. Era o veneno.
- Meu deus... Diga-me, senhor! Por que fizestes isso? Para me provar?
As nuvens se abriram, e Deus falou:
- Sim, minha pequena gazela. Se você realmente for puro, seu Butantã irá fornecer-lhe o soro de que tanto precisa.
- Ai, senhor! É por isso que você é deus!
Douglinhas, empolgado, tentou extrair o soro antiofídico do próprio Butantã, mas este estava parcialmente danificado pelas cenouras da feira. Ele até conseguiu um pouco, mas aquilo era, literalmente, uma merda.
E assim, sozinho, num bote, perto da puta que pariu e com o dedo enfiado no cu, nosso herói, o pequeno Douglas, morre sem terminar o poema.
As aventuras do pequeno Douglas III
No meio da tortura,
Douglas, o ex-viado, pergunta ao seu carrasco:
- Ai, ai, ai... Seu brutamontes! Você é sádico?
- Não. Só quero ser promovido.
- Hummmm... Então bate mais pra cá.
FIMmoral 1: não existe ex-viado
moral 2: métrica é coisa de baitola
moral 3: as drogas podem te deixar retardado