
Horas depois receberia, eufórico, a notícia de que sua filha, Ana Clara, seria finalmente beneficiada com a córnea doada pela família de um jovem assassinado por traficantes.
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Martin, o motorista daquele ônibus, estava nervoso. Nunca havia feito nada parecido, não tinha noção do cuidado e da atenção que isso exigia. Apenas concordou com a idéia porque precisava muito do dinheiro. Agora que a esposa esperava gêmeos, a situação financeira necessitava de um auxílio, algo que garantisse o sustento dos filhos que já nasceriam em menos de um mês.
O plano era gastar a quantia que recebesse, somente depois de passadas dez semanas, para evitar as suspeitas sobre ele. O esquema era após o ônibus passar por baixo do segundo viaduto, o motorista ascenderia e apagaria as luzes do veículo quatro vezes. Esse seria o sinal. Logo então deveria alegar aos passageiros que havia um problema com os freios do ônibus. Com isso todos deveriam descer e trocar de veículo.
- Eu vou perder minha novela – disse a passageira mais velha.
- Calma senhora, tudo vai acabar bem – respondeu o motorista.
O mais complicado para Martin era saber que todos o conheciam. Todos sabiam um pouco da sua vida. A esposa grávida e a situação difícil que ele se encontrava. Os passageiros foram transferidos para o primeiro ônibus que passou, o segundo veículo envolvido naquele que seria o maior e melhor seqüestro já realizado por motoristas de ônibus.
Eu já li nos jornais que os consumidores buscam por produtos e serviços de empresas socialmente responsáveis. Do fundo do meu coração... espero nunca ver nas manchetes de jornais: nomes de empresas que influenciam o consumismo, através do rótulo responsabilidade social, nem tão menos, que a solidariedade se tornou um valor de mercado ou moeda de troca.
A partir deste contexto, geram-se várias opiniões contrárias ou parecidas com a minha. Ora, vive-se em um país corrompido pela estupidez humana, pelo mau uso do dinheiro público, pela violência e pela degradação do ecossistema.
Não consigo entender porquê de a população ter que doar para as campanhas do menor abandonado e contra fome realizadas por emissoras de TV. Aproveitam-se do sentimento, "solidariedade" para tirar o dinheiro suado do bolso dos brasileiros em prol de campanhas que, muitas das vezes, não têm um destino certo. Essas redes de televisão sabem manipular os pensamentos da sociedade, sempre colocam artistas, que estão na mídia, para motivar pessoas fazer doações.
Gente, os representantes políticos ganham bem para defender tais causas. Por que o Estado não o faz, se pagamos impostos? Ah! é porque somos tolerantes. Sabemos digerir bem promessas eleitoreiras.
Tem mais... luta-se contra exploração sexual, mas vendem-se relatos de momentos de prostituição de forma banal. Armas e drogas circulam livremente pelo Brasil. É triste, mas, é real, este país não é sério. Quando algum político corrupto apodrecer atrás das grades, por favor, avisem-me!
O que dizer então dos produtos como camisetas, broches, adesivos, mochilas etc. das campanhas do momento. Sim, somos persuadidos a consumir. Isso coloca o marketing em “xeque” da seguinte forma: como diferenciar um marketing de negócios, para o marketing social? Teoricamente eles são diferentes, enquanto o primeiro visa o lucro, o segundo visa serviços de interesse público bem como promover a cidadania. E na prática, quem garante que as empresas cumprem as escrituras?
Não sei, e, nem quero saber se você liga para os “0500”, “0300” e afins para fazer sua boa ação. Se depender de mim, vão morrer de fome todas as operadoras de telefonia, ou você pensa que somente as pessoas carentes se beneficiam?
"Se beber, não dirija!"
Este texto é da autora Lena Casas Novas. Faz parte da Obra: A Banda do Marketing.
- Não posso estar aqui só pra me preocupar em ruminar, existir precisa ser mais do que isso! – mal terminou a frase e uma bala atravessou seu crânio.
- Estes baderneiros parecem não aprender nunca... – resmungou o administrador local, enquanto recolocava o revólver no coldre e previa o trabalho que daria limpar mais aquela enorme poça de sangue.
THORPO
“Palas, antes de aprontar o dardo para o arremesso, ergueu uma prece a Hércules: ‘Herói poderoso, lembre-se da casa onde um dia encontrou hospitalidade e ajude-me neste combate. Talvez seja audácia demais da minha parte querer enfrentar tão famoso guerreiro. Conto, porém, com seu auxílio, para vencer esse orgulhoso latino e despojá-lo de suas armas’”.
O texto acima foi extraído de uma versão para colégios feita por Alfred J. Church, baseada na Eneida de Publius Virgilius Maro (70-19 a.C.), poema épico que narra as aventuras de Enéias desde a sua fuga de Tróia até chegar em terras italianas. O jovem Palas, filho do rei Evandro, vendo-se em evidente inferioridade diante do poderoso Turno, apela para seu deus implorando-lhe ajuda. Por que isso me soa tão familiar?
Na violenta guerra travada pela besta do norte e o chacal do oriente, as marionetes de ambos os lados certamente gritaram por seus deuses distantes e indiferentes, rogando por providências divinas quando as armas mostraram-se entidades mais poderosas que os anjos. E as armas venceram mais uma vez, pois os deuses, sejam quais forem, não se importam com os homens. Eles divertem-se com a estupidez de seus adoradores. De um lado, desnutridos famintos passam toda a sorte de privações com uma resignação irritante e não hesitam em lançar-se com aviões desgovernados contra prédios, na esperança de alcançar a eternidade ao lado de virgens e riquezas (tsc!). De outro, belos e fortes soldados de olhos azuis acreditam realmente ser a força da justiça do mundo, mas tudo o que fazem é aumentar o faturamento de grandes empresas, à custa de suas vidas e da de outros. Não consigo entender como um povo que enche-se de bombas e abraça o inimigo não pôde fazer isso contra o ditador que apenas se enriqueceu e matou milhares de pessoas sem suar. Também é difícil entender como os estadunidenses acreditam ter uma vida invejável se são escravos de um regime que tanto lhes cobra e lhes dá, em troca, câncer no pulmão, obesidade e alienação de espírito.
Muitas pessoas dizem que damos valor demais à guerra e esquecemos da “outra guerra” que é travada no Brasil, onde traficantes isso, traficantes aquilo, etc., coisa e tal. Mas devo lembrar aos defensores dessa demagogia fatalista que, no caso da guerra, bastaria um (apenas um) dos dois líderes desejarem e a morte de milhares seria evitada. E também devo lembrar que o crime, seja organizado ou não, não é exclusividade de nosso país, tampouco do terceiro mundo. Comparar índices de criminalidade com guerras é hipocrisia. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa .
Mas os homens rezam para seus deuses aguardando milagres, em vez de tomar medidas concretas. Ficam rezando e deixam tudo “nas mãos de Deus”, como gostam de pregar alguns, seja em cultos religiosos ou em publicações de auto-ajuda que cumprem sua função, claro - ajudar o pastor ou autor a ganhar uma grana dos covardes que procuram a salvação nas palavras de uma criatura igual ou pior que ela. E cultos e publicações assim pipocam aos montes.
É... assim estamos em maus lençóis.
P.S. – Para quem não leu Eneida, Palas (apesar das preces a Hércules) foi morto por Turno, que mais tarde foi morto por Enéias. Este fundou a cidade de Lavínia, que mais tarde seria conhecida como Roma. Como podem ver, não é de hoje que os deuses ignoram as preces dos homens.
I
Lá fora, chove.
- e as águas enchem as ruelas,
derrubam barracos,
e no Derby motoristas em carros lentos
tocam sinfonias com as buzinas
e acreditam que o som de seus instrumentos
tirá-los-á do congestionamento -
E o sol seca aqui dentro.
- e no Recife do meu mundo
o calor tropical me leva à praia
de Boa Viagem onde me sento
me bronzeio e tomo cerveja
enquanto cegam-me os raios solares
refletidos nas ondulantes águas -
II
O sol queima lá fora.
- e as senhoras da menopausa
praguejam contra o calor ardente,
abrem as janelas e portas das casas
para refrescá-las o mulherengo vento
por debaixo de suas saias
fazendo-as suspirar de alívio e de tormento -
Chove, aqui dentro.
- a tempestade sorri com escárnio e alaga
todas as ruas e casas
construídas com labor orgânico
das células que em mim vivem
e morrerão ou afogadas
ou pelo efeito do tempo -
III
Morre-se lá fora.
- e as folhas secas e amareladas caem das árvores
durante as mortes do outono
e o suicida filósofo, artista e louco,
que pula do CFCH* a fim de voar, mas não voa,
cai
e beija a terra -
Vive-se aqui dentro.
- e vejo surgir minha primavera
em jardins coloridos e bem-cuidados
pelo jardineiro bêbado que se embriaga
através do aroma das rosas, dos cravos,
colhendo a mais bonita
e beijando sua flor predileta -
IV
E vivo assim pelo inverso,
Através das estações dentro e fora do poeta.
* Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco. Há casos de estudantes se jogarem do 14º Andar numa tentativa de provar a inexistência da gravidade.
André Espínola
Fodeu, fodeu, fodeu, fodeu. Fodeu a noite inteira a bunda da mulher, e já de manhãzinha recolheu com o dedo médio espessa gota de porra que aflorava em seu sorridente caralho, introduzindo-a fundo na buceta quente e sonolenta.
Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves