entre Tantos questionamentos tantas Duvidas interpretações. Difusas, confusas. Que num Flash um dia o cinza prata ficou Azul. o Ar parado dentro do Peito depois de Virar vendaval Por um tempo, Foi perdendo força. Quando Se deu conta era apenas Brisa. as perguntas que A muito não tinham Mais respostas continuaram Assim... porque As respostas de tanto Demorarem quando em fim Respondidas perderam de todo O signIFicado. O que Era dor virou impressão Sem cor... o que outrora Ferida já cicatriz coberta, encoberta disfarÇada. Então como que por MAGIA nada faz Mais sentido... as respostas ficam Ocas sorrisos FIcando amarelados Perderam de todo a Coloração a transparênCia tomou tudo. Assim a vida segue Adiante Sem promessas renovadaS apenas folhas perdidas ao VENTO...
Acordei com o barulho da academia. Enquanto dormia, Silenciava-me o trânsito e a fila Do pão e leite da padaria. E de tantas que seguirão Até que eu finde, e não o dia. Enquanto eu dormia, Silenciava-me o custa da vida, Meus encargos para o Estado. Não importava se havia saldo, Se estava livre ou não do assalto, Do crediário, do bandido, do estelionatário. Se paguei o dízimo, Ou dei o conto do vigário. Não importava ter picado em tiras O jornal do emprego, para ter sossego, Por ter gasto a vida E todo o tempo Saboreando o vento do pastel, Aprendendo o que não serve Para a tributação fiscal, O departamento pessoal, A gestão empresarial, O call center, O malabarismo de sinal. Não importava o poema desenhado. E, se o sonho mastigado ficou indigesto. Se o mundo acabaria Num colapso de ganância caos concreto. Se ainda me restaria energia. Não importava, Papelão colchão, tecido puído, amalgama gelada. E se o riso era cortante frio na alma.
A boca com sede invade, o corpo desejo aceita. E ela faz da noite segredo, revelado... Quando ele , pura tara, a entala.
Eliane Alcântara.
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e a boca quente chega perto da pele que arrepia arreda os cabelos, beija a nuca mamilos eretos, convidam ao sugo o sexo reage lubrifica esperando encontro preenchimento a alma anseia descanso dos anjos, os seres metades são um por instantes êxtase de vontades satisfeitas que os fazem prisioneiros quando sozinhos, querem encontro, querem mais querem completar sua vontade de completude que todo ser humano só encontra no corpo do outro.
Pequenos espaços e segmentos se agrupavam na manhã.
Seu sorriso, todo incompatível com as sombrinhas de Boa Viagem, ofertava algo entre água doce e paz de pedra.
Era de um desejar tão ameno que pintou de mansidão a onda, aquela que carregou minhas sandálias, quando a maré subiu a sua ordem.
Eu fui pega desprevenida. Veja só, contra o amor não há fator de proteção solar!
Você chegou como sombra em pleno caminhar Sol.
Não sei como fez isso, mas de lá pra cá, plantou-se mais verde na minha íris.
O seu cuidado fez brotar plantação. Os girassóis nem adormecem de tanta ansiedade.
Algo no seu corpo me diz que a safra será boa esse ano.
Pureza nos sentimentos Da menina sufocada Por anseios e devaneios Tão longínquos Adormecidos Esquecidos...
Agora atiçados Pelo desejo despertado Por um simples olhar frio
Enlouquecida, enfurecida descobre a ansiedade Que estava encolhida Na sua alma virgem De emoções perturbadoras
Com seus olhos Cor de amêndoas doces seduz e hipnotiza
E faz qualquer um tentar descobrir O que aquele olhar indecifrável Quase esfíngico clama e, involuntariamente absorvidos por aquela falsa calmaria surta a todos que a segue
Seu olhar sempre ta apontado rumo as estrelas Ousada se perde... Como o meteorito Que acabou de cruzar o céu...
Pensva o que da vida não queria leva nada nem o tempo nem os sonhos, tudo era ilusão lhe dissera o vendedor de doce da cidade, se fosse rico diria que era seu pisicologo mais como pentencia a uma clase subalterna não podai fazer nada a corte deveria viver assim obedecendo a um padrão de ordem mais quando ele chegava nos bares era reconhecido logo como o grande artista da cidade uns vinham e o saudava com um copo de vinho ele gentilmente o recebia e logo procurava uma femêa bela para ser um pouco romantismo e como elas gostavam muito de beijo e romantismo logo apareciam e iam em troca de uns trocados de uns chamegos e mais logo agora que tenho que escreve uma grande obra para o rei do brasil dom pedro I, tenho que passar mais tempo no cabaré ou secando uma garrafa de vinho. Prefiro as mulheres, sempre depois do sexo usamos opio vindo diretamente de londes, as vezes somos tão estupidos e nossos sonhos que esquecemos que o canhamo planta sagrada an inglaterra e tão vasta em nosso pais, temos aos montes e de graça, pelo quimico chamada de THC, para nós triste ocidentais chamada de balsamo. Era assim que se encontrava meu corpo e meu espirito sem conseguir fazer ou sem querer fazer a obra pra o rei, quando apareceu aquela menina tinha um nome europeu Orfélia mais era viva e quente como as morenas brasileiras, perto dela conseguia afastar um pouco meu genio nostalgico e melancolico, ensaiavamos umas caricias no escuro da noite, lembro que ela tinha uma pele branca e quente nossa lúxuria durava toda uma noite. Orfélia foi minha inspiração fiz noves poemas o nome do livro coloquei: incesto REAL. o escandalou foi medronho , mais pra mim foi apenas sorriso orfélia estava ao meu lado pareciamos um sonho uma ilusão. E como vendeu aos montes aquele livro, Orfélia ao meu lado ria também e me beijava como uma linda madeimosselle. Logo o rei teve que tirar o livro de circulação. e eu tive que exila em paris Com a função de adminsitrado de um café me paris. Fui logo que recebi a noticia deixei minha doce orfélia depois de tres meses instalado lá mandei busca-la.
No mais corrupção e falta de sexo na minha cidade. obrigado por me lerem amigos desconhecidos
O cortejo suave de quem chorou Extinguiu-se em cor mortal. A mortalha longa tremulou, Tornou-se capa espectral. Esgueiro-me entre lápides, Vestido em tecidos mortuários, Sugando o calor de vários, Má notícia em tablóides.
Pele cianótica, inerte carcaça, Nesse baile de máscaras, Somente vida pútrida e escassa. Só esquecimento, vida etérea, Ofereçam-me vinho e uma taça Para brindar essa marcha funérea.
Você já teve um daqueles pesadelos que parecem não terminar nunca?
Daquele tipo em que você acorda, assustado e aliviado por sentir o calor e a segurança de sua cama, até que o mundo vira de cabeça para baixo, e você, apavorado, percebe que seus temores não eram um sonho, afinal?
E depois acorda novamente, e a cena se repete, e você acorda de novo, e de novo, sem nunca saber se continua dentro do mesmo e terrível sonho, ou se finalmente acordou?
Pois, para mim, esta foi uma noite daquelas.Acordei banhado de suor e respirando com dificuldade, mas fiquei grandemente aliviado quando percebi que finalmente acordara e o pesadelo havia chegado ao fim.
Isto, por cerca de um ou dois segundos.
Foi o tempo que, assustado, levei para perceber que não estava em minha cama, e que o ar viciado que eu respirava combinava perfeitamente com a escuridão total que me cercava.
Tentei me mover, e percebi, desesperado, que estava preso em uma espécie de caixa.Sem parar para pensar empurrei com toda força a tampa, e não fosse o peso das lembranças me assaltando ao mesmo tempo em que meus olhos reconheciam o ambiente, eu poderia jurar que continuava no pesadelo.
Eu estava dentro de um caixão, que descansava sobre uma mesa de mármore na mesma cripta do cemitério da cidade que eu havia visitado no dia anterior.
Com o medo fazendo subir a bile de meu estômago, pulei do esquife, meus olhos aflitos procurando a saída e circulando nervosos sobre inúmeros caixões, organizados em prateleiras de cada lado da cripta.
Com um grito que morreu em um nó na garganta, percebi que vários dos caixões se abriam, como se o barulho que eu fizera tivesse acordado seus ocupantes.Apesar da escuridão do local, pude entrever corpos magros e pálidos, olhos vermelhos e dentes.Grandes e afiados dentes.
Em pânico, disparei pela única saída da cripta, que levava ao mesmo corredor que eu percorrera no dia anterior.Senti, mais do que vi, as sombras escuras que se aproximavam e gritavam como que em agonia, logo atrás de mim.
Ao fim do corredor pude ver um raio de luz, uma esperança ao longe que minhas pernas pareciam não ter força ou velocidade suficiente para alcançar.
Com o desespero me impulsionando, não ousei me voltar, mas pude sentir o frio das mãos esqueléticas que tentavam me agarrar, rasgando minhas roupas e arranhando as minhas costas.Pelo canto dos olhos, pude ver sombras correndo, movendo-se de maneira estranhamente inumana não apenas no corredor atrás de mim, mas também pelas paredes e teto.
A pouca distância.
Minha mente, estranhamente confusa, lembrava da cena semelhante, ocorrida no dia anterior: eu entrara na cripta, para roubar um crânio como uma estúpida prova de coragem para meus amigos.
As memórias, flutuando, trouxeram de volta à boca o sabor aziago do medo que senti quando, aterrorizado, vira – como agora - os caixões se abrirem lentamente.
O desespero repetido de correr pelo mesmo corredor, com as mesmas sombras me caçando, quase me levou à loucura.
Sem tempo para articular nem um pensamento a mais, saboreei a sensação de júbilo e vitória ao me atirar para a luz do dia, deixando na escuridão os vampiros que gritavam de frustração e ódio.
Apenas quando senti a luz do sol queimando minha carne até os ossos foi que lembrei que no dia anterior havia uma grande diferença!
Eu havia corrido até o fim do corredor e, da mesma maneira, atirei-me para fora, deixando os vampiros para trás.
Porém a luz do dia, agora mortal para mim, me lembrava que no dia anterior, ao fim do corredor, eu havia encontrado a noite.
E vampiros não temem a noite.
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Alexandre Santos Lobão Escritor e roteirista
http://www.AlexandreLobao.com
há 723 anos atrás no interior da floresta profunda índios ao entardecer, ritualisticamente, cessam todo o trabalho que estiveram a fazer .................................[para contemplar o crepúsculo ...
ontem as 5:45 da tarde eu atravessava a rua, imerso, preocupado com a prova ................................................[de geometria.
Sentei-me a mesa de um café e comecei a observar as pessoas. Diferentes, iguais a nada. Todas arrumadas outras disfarçadas. Olhei alguém que do nada apareceu pedindo um café e uma água gelada. Vi um senhor que se sentou tranqüilo lendo o jornal. Um casal que se abraçou sem medo das olhadas. Vi a garçonete olhando para porta imaginando, quanto tempo ainda faltava.
Peguei o cardápio e vi que nada combinava com nada. Resolvi mudar, pedindo em voz baixa Um café de ilusão com um pouco mais de emoção Queria um pouco de açúcar sem adoçar a decepção Uma água gelada quem sabe afogar as mágoas.
Vi que poderia ter uma historia em cada café. Um café que chorava as lágrimas de uma malvada. Um café soberbo de uma dissimulada. Também teria um café de alguém que ainda sonhava. Um café gelado outro bem amargo. Para entender toda cilada
Um café que poderia ser planejado Com canela ou mascavo Simplesmente um café para brindar a derrota Ou que sabe um café bem Melado Para entender que o pior estava ao lado.
Um café na xícara pequena, pois não precisa de mais nada Um café na xícara enorme, para sentir a dor do golpe. Café de ilusão com açúcar sem emoção Café de coração só assim se entende a traição.
Um café só de mentira esse seria sua golada Um brinde a todos os monstros que passava na calçada. Um café de esperança de nunca mais sofrer por nada Um café sem tolerância pra mandar você pra outra estrada.
Poderia pedir um cappuccino mais seria exagerada Mas uma xícara bem quente melhor que água gelada
Queria um café dos sonhos, não melhor que não tenha nada Sonhos são mentiras, mesmo estando em outra estrada Um café de pouco leite ou curto aparada Café com alegria você não tomaria nem adoçado.
Vi que as pessoas tomavam um gole meio forçado Talvez lembrança dos golpes ou do café que estava amargo. Café que descia embolado com medo de ser amado Pois ser traído de confiança nem café descafeinado O melhor seria um café desenrolado
Mesmo vendo cada pessoa, não imaginava seu percalço Café atrapalhado daqueles que foram humilhados
Tomando um café, talvez importe a cada pessoa que está ali sentado Avaliando, sonhando, idealizando, ou até mesmo rezando por quanto tempo foi enganado O que importa o motivo Se café é só café em um cardápio feito livro sujo, que pode ser rasgado
Primeiro, foram os gatos sem rabo. Depois, vieram as galinhas peladas. Estranhas manchas azuis surgiram no corpo das vacas. Cavalos apareceram totalmente sem crina. Atônito, o fazendeiro contratou, de uma só vez, os serviços do veterinário, do padre e da rezadeira. Em vão. Fosse zoonose rara, diabo zangado ou invejoso mau-olhado, a verdade é que nada tinha mudado. Era muita conjectura para nenhuma solução. Antevendo o pior, o fazendeiro cogitava escambos, compras e vendas imobiliárias, quando um berro delator elucidou o mistério: Pedrinho, o filho do caseiro, serrava o chifre do bode, que, nada satisfeito com a desonrosa mutilação, alardeava ao quatro ventos o torpe crime em andamento. Dona Maria, mãe de Pedrinho, de chinela em riste e vociferando imprecações, surge em cena, no exato momento em que o pequeno peralta debanda velozmente para as bandas do chiqueiro. Encolhido em meio à podridão fedorenta, ouve a voz ameaçadora de sua genitora: "Cadê aquela peste? Quando eu puser as mãos nele, ele vai ver o que é bom pra tosse!" Foi quando Pepe, o porco, sonora e nefastamente, espirrou.
Estava na Bienal do Livro de Goiás, atuando no corpo-a-corpo, vendendo a Antologia do Bar do Escritor de forma guerrilheira, abordando as pessoas, oferecendo literatura, praticando a arte de escrever de forma física, full contact. Como era o último dia da feira, muita gente estava aproveitando a queda dos preços e as vendas prometiam. Os corredores cheios de visitantes, expositores fazendo contatos, leitores conferindo estantes, editores sondando escritores; estava empolgado com a possibilidade de fazer bons negócios, mas também estava com a cabeça quilômetros dali. Mais exatamente no Maracanã, onde rolava Flamengo e Botafogo. Mas como deixar a primeira participação em uma feira? Conversei a respeito do assunto com o Jurandir Araguaia, o escritor que havia cedido o espaço para que pudesse expor meu trabalho e dos companheiros do BDE e chegamos à conclusão que a coisa mais profissional a fazer era continuar com o stand aberto, pois o evento ainda se estenderia até as 18:00 h, acabando no mesmo horário que gritos de “É campeão” estivesse nas gargantas de diferentes torcidas em diferentes estados. Mesmo sabendo que a era a coisa certa a se fazer, ainda assim ficava com o pensamento longe, imaginando a quantas estaria a coisa. Conversava com as pessoas, apresentava os livros, mostrava diversos títulos, falava sobre os autores, enumerava a origem de cada um, mas todo momento a imagem de uma bola cruzando o espaço das traves, indo morrer gloriosamente nas redes ficava rondando a mente. Vendi cinco livros enquanto rolava o primeiro tempo e em quase todos dei uma vacilada na hora de autografar: caneta que fura página, erro de data, até o ápice que foi a troca de nome em uma dedicatória. Tenho uma habilidade natural em ser desastrado, mas assim já é demais. Um amigo ligou durante o intervalo, tomando todas, estava alguns coqueiros pra lá de Marrakesh, mas no ritmo dos 2 x 0 do Flamengo ele atravessaria a África toda rapidinho. Imaginava isso enquanto comentava o mercado editorial para um jornalista que buscava respostas sobre o futuro da literatura contemporânea no século das comunicações instantâneas. Bom, era isso ou qualquer coisa que tivesse um título extremamente grande e que se mostrasse aparentemente culta. Alguém de um stand próximo conseguiu descolar uma televisão e “o pobre entretenimento das massas invadiu o sagrado solo da literatura,” segundo as palavras de um poeta performático que estava presente. Aproveitei para espichar o olho e ver se conseguia alguma informação relativa ao duelo no Maraca. Em rápida sucessão, um uniforme alvinegro corria para o lado do campo, várias pessoas pulando na arquibancada. Sinal de gol. A tensão começou a se apossar do resto de pensamento que ainda tinha. Como a imagem estava um tanto truncada, um dos presentes resolveu agir mudar a configuração da coisa. Acabou derrubando a tevê; um baque surdo no chão, algumas fagulhas no ar e dezenas de torcedores imaginando milhares de formas dar fim ao infeliz. Voltei então para a literatura novamente. Recebi a visita do escritor e jornalista Valdivino Braz, que propôs um negócio para lá de generoso: dois por um. Minha pequena biblioteca particular saiu no lucro. O papo anarquista e amistoso me devolveu a serenidade para dar tempo ao tempo e saber do resultado mais tarde. Na verdade, cheguei até a esquecer a partida. Acontece que o velho guerreiro das letras teve que puxar o carro. Até os bárbaros vão para casa uma hora. A ansiedade voltou para ficar, assim como o Roberto disse um dia. Perguntei a uns dois ou três passantes e nada de notícia. Foi quando vi um sujeito com um radinho de pilhas colado ao ouvido, daqueles que a gente nem acredita que exista mais. Vinheta de programa de esportes derramando-se para fora das minúsculas caixas, batata: o cara com certeza saberia do resultado. Adiantei-me com fome de informação, coração aos pulos e os ouvidos apurados para não ter que perguntar mais de uma vez (tem gente que não gosta de responder mais de uma vez, vai que fosse o caso). O elemento me olhou profundamente no fundo dos olhos e, como eu não portava nenhum adereço que demonstrasse minha filiação futebolística, arriscou: Botafogo 3x2, de virada, 45 do segundo tempo. E saiu andando com jeito de quem estava em uma feira de livro. Na Alemanha. A espera havia acabado, afinal. Mas a feira do livro ainda continuava, e como em um passe de mágica várias pessoas adentraram o stand ao mesmo tempo, minha atenção teve que ser toda dedicada a estes. Mesmo naquele estado bagunçado da mente ainda consegui fazer as mesmas apresentações sem demonstrar qualquer alteração no humor; um inglês em frente à rainha não teria feito melhor. Finalmente a feira acabou, começando assim o desmonte. Juntei livros, decorações, cartões, contatos; ainda havia muita coisa a fazer, mas o corpo apresentava um cansaço descomunal. E nem mesmo o convite de um amigo botafoguense (que também estava na feira, ajudando no stand), para tomar umas cervejas às suas expensas me animava. Estava esgotado, física e mentalmente. Decidi ir direto para casa. A noite caiu rápido, e enquanto tirava as coisas do Centro de Convenções os buzinaços dos vencedores saíram das ruas principais, indo para outras paragens. Peguei aquele trânsito de domingo-tarde-da-noite, inóspito, silencioso e calmo. Menos pelos gritos do meu carona, animado com a conquista. Mas alguma coisa ainda me encucava e não sabia o porquê. Parecia que algo não estava exatamente no lugar em que deveria estar. Foi quando parei isoladamente em um semáforo que descobri. Ao meu lado, parou uma moto, com um casal jovem. Ambos vestidos com as cores da Gávea e com uma estranha animação no rosto, que pude perceber mesmo por entre a viseira do capacete. Não resisti e disparei a pergunta para a moça que ocupava a garupa: - Aí, quanto ficou mesmo o jogo? - Você não viu? – o rosto dela irradiava alegria – Um jogão! 2x2 no tempo normal, pênaltis e o Mengão levou! Soltei o berro preso na garganta enquanto que no banco do carona a felicidade tomou asas. Ia começar a tirar o sarro mais pesado do planeta, cantar todas as marchinhas que sabia e as que ainda iria inventar, quando ao ver a expressão de perplexidade na face do outro (até então tão enganado com o resultado como eu), vi ali a mesma apatia que havia me corroído por mais de duas horas. A horrível sensação de ser vice. Meio sem saber o que fazer, só me ocorreu na hora de citar os versos de Djavan: “Ainda bem que sou Flamengo”.
Quanto mais quieta mais intensa a agitação encoberta A fala presa num suspiro travado aguarda um vão neste campo de concentração Os olhares de gelo Os sorrisos da hipocrisia Terrenos infestados Todos cegos comendo tua própria merda É ínfimo o instante... Dedilhando tuas costas A palavra inteira passou por um fio, Percorreu direta, como um líquido injetado em tua pele Tudo na medida, de não adivinhar, nem acrescentar Completa. Pode-se dizer. Completa. Vou pelo ritmo agora, O ritmo que vier, Direto, dentro do meu ouvido, Fala e saliva Respondo: com as mãos e o corpo inteiro...
II - Todos os espaços se colidem não há mais frente ou verso derramei-me inteira agora posso ir... agora sei que não há limite não há berço não há o lençol que forre nem tão pouco o que cobre agora sei...
III - A febre vazou o delírio não entorpece que venham todas as dores que venham e testem até onde me querem?
Na sala de reuniões do Colégio Francisco de Assis dois professores se encontram após o feriadão: -Marina minha linda, não gostou do carnaval? Parece tão triste... -Um Arlequim não morreu pelo amor de uma Colombina nesse ano. Uma lástima! -Lá vem você com seus livros. Quem disse que Arlequim morre pela Colombina? Que eu saiba, ele fica chorando apenas... -Seu grosso, insensível! Não sabe de nada...Todo carnaval um Arlequim morre pelo amor de uma Colombina, sim. -Calma...Cada louco com sua mania, melhor não contrariar. Deu uma sonora gargalhada e saiu da sala. A moça abriu a janela e fitou o horizonte recordando o dia anterior...
Os olhos fixos e avermelhados imploravam por ajuda. Parecia um choro sem lágrimas, um último pedido de um moribundo, um grito no escuro... _Calma. Logo a dor passa. Não se agite, prometo ficar contigo até o final.Quer que segure sua mão? A moça estava ajoelhada ao lado do rapaz. Parecia uma deusa com aqueles olhos azuis e pele acetinada. Usava um shortinho branco e transparente, deixando a mostra um minúsculo e alucinante fio dental preto, detalhes que fizeram o rapaz não desgrudar mais desde que a vira no salão do clube naquela terça de carnaval. -Isso. Relaxa... O rapaz estava amontoado no chão do banheiro feminino, a moça ao seu lado com suas pernas grossas por sobre sua barriga. O barulho dos músicos agora soava infernal. Tinha os braços paralisados, a cabeça doía, na boca uma espuma branca escorria e um tremor aumentava a cada segundo. A voz sumira, queria gritar por socorro, mas era como se tivessem cortado suas cordas vocais. Precisava ser socorrido. Parecia uma overdose de alguma droga, não era apenas álcool, nem tinha bebido tanto...Claro! Ela devia ter colocado algo em sua bebida...Meu Deus! Mas por que não o socorria? E por que parecia se divertir com a situação? Não percebia que estava morrendo? -Vamos meu lindo...Não tenho a noite toda. Morra de uma vez. Acho que precisa de mais uma dose...Abriu a bolsa e ele desmaiou. A última lembrança foi de um sentimento de desespero por saber que ia morrer, misturado ao ódio por ter caído num truque tão macabro. A moça era linda! Como ele ia adivinhar que era doida?
Pela manhã:
-Cara, fica calmo! Você está bem agora!Tudo vai ficar bem. Seu amigo o consolava na cama do pronto socorro. -Mas...E ela? -Fica sossegado, se existiu alguma moça já foi embora... -Não acreditam em mim não é...Eu juro que falo a verdade! -Encontramos você no banheiro feminino encharcado de álcool e sabe-se lá o que mais...O importante é que foi socorrido a tempo, podia ter morrido veio! -Não tinha uma moça comigo? -Cara! Tinha muita mulé ao seu lado, parecia um príncipe árabe no céu ao lado das 70 virgens. Deu uma gargalhada. -Era uma doida..A moça tentou me matar... -Claro, claro...Agora fica quietinho ou essa agulha sai do seu braço. Para de se agitar! -Ela tentou me matar cara... -Tudo bem, já passou. Amor de carnaval cara, violento mas passa logo. Fica frio...
-Dormiu...Quanto tempo vai durar a alucinação doutor? Ele diz que alguém tentou matá-lo... -Vai dormir o resto do dia. Logo estará bem. Não se preocupe, pode ir. A noiva vai cuidar bem dele. -Noiva? Ele não tem noiva... -Não? Eu podia jurar que...Bom, noiva, irmã, vizinha, sei lá...Alguém da família ja telefonou e está vindo.Pode ir tranquilo. -Engraçado, eu não avisei ninguém...Ele deve ter ligado...Melhor assim.-Eu vou sim, até a noite doutor. Obrigado por tudo.