quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Atemporal

Eu te amo como os seres com mente se amam
mas também com amor de mamífero, de cabra e tamanduá.
Te amo como os pássaros mergulhando no vento,
nas reticências escuras dos tempos,
antes de um eu existir -
com o eros pré-amoroso dos répteis e a fúria fria dos dinossauros
que perdem tempo se matando sem saber que o mundo vai explodir.

Te amo em eras glaciais,
em desastres naturais
e na areia da praia antes de você nascer.

Te amo como os peixes na substância comum das águas,
como os pólipos, os corais, as algas
com o amor que a esponja tem pelo mar
e as plantas pela atmosfera.

Te amo em todas as histórias
em cada éon e era,
com o contágio inevitável dos virus
e a matéria reunida de todas as bactérias.

Te amo no microscópio, meus elétrons e seus prótons.

Te amo cosmogonia,
Eros órfico, Big Bang:
O meu amor antigo é gritado
no chuvisco das tevês.

Te amo além dos limites da ciência
e dos sonhos que não são lembrados.

Te amo na minha pressão sanguínea
e na sua pele invadindo minhas células olfativas.
No buraco vazio do peito,
no saco cheio da vida,
na voz que sai da barriga.

Te amo na realidade da gente: sua delicadeza às avessas,
que corta a floresta de espinhos para ver a primavera,
o seu peito de toureiro, o seu preto e o seu vermelho,
eu amo você inteiro.

Amo te alisar feito um gato
forjar um frio exagerado
e te puxar pra baixo do meu cobertor.

Amo e amo viver de amor.

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