terça-feira, 20 de março de 2012

Convidado José Carlos Vieira

nuvens cor de chumbo e um continho

como foi legal aquela noite... bebemos uma garrafa de vinho... falamos de kerouak, de t. s. eliot, dos mandarins e das vidas loucas de dom pedro primeiro e dona leopoldina. a lua, quase azul, nos acompanhava embrulhada em nuvens cor de chumbo. caminhamos de mão dadas pela praça dos três poderes... ela queria porque queria “passear na praça dos três poderes” (coisa de jornalista)...
num banco distante, um grupo de estudantes cantava e dançava renato russo... “quando penso em alguém, só penso em você”... estava frio, apesar do gosto de vinho quente em nossas bocas e de nossos olhos vermelhos... ela, linda, soltou minha mão e fingiu voar... parecia uma bailarina pronta para subverter a gravidade e decolar do cimento úmido... ela era linda... pensei em milhões de poemas de amor para dizer... poemas-clichês sim, porque o amor é um clichê… bobo, lírico, embriagado, fantasioso, mentiroso e brincalhão... o amor...
do seu apartamento, conseguia ver um sinal de trânsito piscando um amarelo triste... outra garrafa de vinho... transamos no tapete mesmo ao som de charlie parker... havia uma vela acesa ao lado do incenso de maçã.... um quadro azul de iolovitch dormia triste na parede amarela... sua pele era alva, alva como a neve... neve no cerrado? sim, ela era quente, doce e molhada como a neve de las leñas... nua, era uma paisagem de dalí... minha menina mais querida com algumas pintinhas nas costas magras...
já era madrugada quando deixei sua casa... liguei o carro e sapequei mick jagger, “it’s only rock and roll, but a like it”... eu, que sempre me achei um poeta, não conseguia traduzir aquela noite de truffaut... eu... estava com medo... felicidade é uma coisa estranha...
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 José Carlos Vieira
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