nuvens cor de chumbo e um continho
como foi legal aquela noite... bebemos uma garrafa de vinho... falamos
de kerouak, de t. s. eliot, dos mandarins e das vidas loucas de dom
pedro primeiro e dona leopoldina. a lua, quase azul, nos acompanhava
embrulhada em nuvens cor de chumbo. caminhamos de mão dadas pela praça
dos três poderes... ela queria porque queria “passear na praça dos três
poderes” (coisa de jornalista)...
num banco distante, um grupo de estudantes cantava e dançava renato
russo... “quando penso em alguém, só penso em você”... estava frio,
apesar do gosto de vinho quente em nossas bocas e de nossos olhos
vermelhos... ela, linda, soltou minha mão e fingiu voar... parecia uma
bailarina pronta para subverter a gravidade e decolar do cimento
úmido... ela era linda... pensei em milhões de poemas de amor para
dizer... poemas-clichês sim, porque o amor é um clichê… bobo, lírico,
embriagado, fantasioso, mentiroso e brincalhão... o amor...
do seu
apartamento, conseguia ver um sinal de trânsito piscando um amarelo
triste... outra garrafa de vinho... transamos no tapete mesmo ao som de
charlie parker... havia uma vela acesa ao lado do incenso de maçã.... um
quadro azul de iolovitch dormia triste na parede amarela... sua pele
era alva, alva como a neve... neve no cerrado? sim, ela era quente, doce
e molhada como a neve de las leñas... nua, era uma paisagem de dalí...
minha menina mais querida com algumas pintinhas nas costas magras...
já era madrugada quando deixei sua casa... liguei o carro e sapequei
mick jagger, “it’s only rock and roll, but a like it”... eu, que sempre
me achei um poeta, não conseguia traduzir aquela noite de truffaut...
eu... estava com medo... felicidade é uma coisa estranha...
---
--
Nenhum comentário:
Postar um comentário