Sob o manto da
lua negra os astros tornavam-se archotes para o seu caminho. Velar-se entre as ramagens
densas do sombrio bosque, que era acometido pelo gélido e ruidoso vento, não
facilitava o seu caminhar, mas, já se acostumara a transitar pela sinuosidade
das madrugadas. Fora a vida que escolhera nestas pesadas horas.
A lua não era
mais sombria que àqueles tempos... Nem, a rusticidade do bosque, nessas horas
mortas, era mais trevosa que a intransigência humana hostilizando através da
violência e sob o signo da ignorância, atos que julgassem pagãos.
Logo, a água
fresca da fonte lamberia os seus cabelos e refrescaria o seu corpo, encobertos
pelo pesado capuz da longa capa, vestes necessárias para a segurança nessa
época de trevas.
As nascentes d’água
traziam a energia curativa da Mãe, eram bálsamos para os enfermos. Também, as
ervas se tornavam mais frescas sob o orvalho. Apressou-se para encher o seu
cantil e coletar algumas ervas; sempre muito atento, pois as sombras eram tão
perigosas quantos os seres.
Não muito
distante, havia um grupo de pessoas a esperá-lo; os recursos xamanísticos faziam
parte dos antigos costumes e atuais ritos.
Destinaram-lhe
as incumbências de demarcar o círculo e acender a fogueira central. Não demorou,
um agrupamento de pessoas o rodeou, ocultos em trajes semelhantes.
Bebeu do
cálice da vida, entoou cânticos sagrados, reverenciou a Terra. Retirou o néctar
dourado de um favo e o saboreou. Repartiu o dourado fraternalmente, agradecendo
pela colheita, pelos frutos do trabalho e à fertilidade do solo. Festejou com
os próximos a luz do sol, a divindade das chuvas, a temperança das estações do
ano. Rompeu as noites e os dias e atravessou portais temporais. Vestiu novos
trajes, participou de novas ordens cerimoniais, assimilou transformações
sociais..., mas, continuou a pisar com os pés voltados para as estrelas.
Após sentir em
sua nuca a água fresca da fonte, todo o seu corpo estremeceu. Despiu-se do
tempo que oprime as eras e os passos e, pôs-se a nadar nu no lago.
Sua aura
purificara-se e tornara-se translúcida com os primeiros raios do sol.
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