domingo, 20 de abril de 2014

Convidado Luiz Neves de Castro



UM BORDEL EM RIOPARA

Cada uma à sua maneira, toda cidade pequena é outra Macondo. Riopara era outra Macondo onde viviam mulheres incomuns. Sobressaíam sete Marias – oito ao todo – incluindo a proprietária, que compunham o corpo feminino do bordel de Maria Xibiu Seco. O apelido "Xibiu Seco" decorria do fato que, reconhecidamente, a xoxota de Maria era a mais justa, a bainha mais estreita daquela paragem ribeirinha. Mulher de buceta não lúbrica e apertada a tal ponto que parecia sem umidificação quando penetrada. Toda população masculina, incluindo padre Jesuíno, iniciara-se homem na cama entre suas pernas. Conhecia desejos e manhas da alma masculina, doutorada em sexualidade nos prostíbulos da vida, deixou muitos homens endoidecidos pelos prazeres que ela lhes proporcionava. Além da buceta, caracterizava-a fisicamente o fascínio do olhar sedutoramente fêmeo, que lembrava muito o olhar das mulheres afegãs;

Maria Madalena – mais nova das oito, irradiava sensualidade e desejos irrefreáveis, mulher irresistível, fogosa e indomável. Jesus Jatobá, Príapo rioparense, único que a deixava levitando após os ritos eróticos de uma grande noitada. Quando Maria Madalena dançava rebolando sensualmente, Jesus Jatobá costumava dizer: “Essa pequena cortesã é uma tentação obscena, incita-nos a luxúria e a sodomia”;

Maria das Dores – balzaquiana, ensimesmada, sempre resmungona e de mal com a vida, reclamava de tudo. Conseguia simular muito bem o contrário do que aparentava, gostava extremamente do ofício;

Maria Bichana – a mais bela, de gestos mansos, meiga e manhosa; de pele alvinha e sem manchas, mamilos cor-de-rosa, felina selvagem quando estava no coito, tinha o caminhar sigiloso de gata vadia;

Maria do Benin – de sorriso obsceno, negra fagueira com olor de fêmea no cio; de andar bamboleante, irrequieta nos quadris e na alma; muito chegada a um forró e samba-de-roda, encantava a todos rebolando suas belas curvas negras e carnudas;

Maria Maluca – olhar de cachorro doido e alma andrógina, valentia em pessoa, homem que a desrespeitasse apanhava na certa, muito chegada a brigas e devaneios com as outras mulheres;

Maria Frieza – enigmática, tímida e frígida, uma pedra, abstrata, alheamento total na cama, nem mesmo Jesus Jatobá, o falo ereto de Riopara, conseguia lhe dar prazer, por mais diminuto que fosse. Mulher que continha fortalezas dentro de si, alma fugidia, de corpo inalcançável.

Hedonistas inconscientes. Excetuando Maria Frieza, pareciam ter vindo ao mundo para gozar a existência, para o prazer. Nenhuma engravidava, todas infecundas. O hedonismo e infecundidade daquelas mulheres, só eu, cobaia de deus e do diabo, conhecia. E que, por razão misteriosa, pessoal, ou mesmo por birra, não revelarei a ninguém. Coexisto entre vivos e mortos, incorporo-me em todas elas, sou também Maria, Maria..., Maria..., Maria..., Maria..., Maria..., Maria..., Maria. No bordel de Xibiu Seco, sou fêmea de buceta metafísica, lúbrica, lasciva; sou mulher de alma libertina. Estando lá, de tanto tesão, deliro; viro-me do avesso e sou toda vulvar.




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Luiz Neves de Castro

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