João encilhou o cavalo em frente ao saloon e percebeu que era um dos primeiros a chegar para o aniversário de John. “O que fazer agora? Não tem uma alma viva sequer nessa cidadela agora à noite!” pensou João olhando para os dois lados da rua na inóspita cidade em meio ao Velho Oeste. E entrou saloon adentro. Numa mesa quase grudada ao palco, no melhor lugar da casa, encontrava-se sentado o grande John, um baralho à mão, uma garrafa do melhor uísque da casa na outra:
- Mexe esse traseiro até aqui, João! – bradou John em seu inigualável e inconfundível timbre de voz; essa talvez fosse a característica mais marcante deste que era uma das lendas vivas do Velho Oeste: sua potente e intimidadora voz.
- Parabéns, John. Desejo que possas comemorar muitos aniversários, e que estes sejam sempre regados a muito uísque e prostitutas!
- OK João. Agora deixa de besteira, senta aí e vamos jogar. Barman, traga um scotch para o forasteiro aqui, que essa garrafa é só minha!
De trás do balcão, saltou o barman apressado, trazendo uma garrafa de um uísque um pouco inferior ao que John tomava, e o serviu imediatamente no copo de João. E começaram a jogar. John era um cara de poucas palavras, mas ele nem precisava falar muito para ser notado ou temido. João tirou um palheiro do bolso e ofereceu ao aniversariante da noite; John pegou sem fazer cerimônia.
Enquanto o carteado seguia, o uísque começava a fazer seu efeito em João, e os convidados iam chegando. Randolph Scott foi um dos primeiros que apareceu, e já entrou no jogo – ele e John se conheciam há muito tempo; ambos tinham talvez mais tempo de amizade do que João tinha de vida. Em questão de minutos chegaram Jimmy Stewart, Henry Fonda, Burt Lancaster e Kirk Douglas – estes dois últimos chegaram juntos e já pareciam estar altos de uísque – e o sempre brincalhão Paul Newman, que fazia todos darem risada. Do time mais novo, o único conhecido de João que chegou foi Kevin Costner, que preferiu jogar gamão em outra mesa do saloon.
Quando o primeiro show da noite foi anunciado, o público que era inteiramente masculino ficou parecendo um bando de cachorros na porta de um açougue. John parou o jogo de cartas e todos fixaram o olhar para o palco. As dançarinas entraram para o seu número, e cada vez que suas saias subiam, a plateia as ovacionava. João reconheceu poucas delas, mas todas eram bonitas. Shirley McClaine, Madeleine Khan e Angie Dickinson eram as dançarinas que João lembrava por nome. Quando o show acabou, antes que os homens invadissem o palco, as cortinas se fecharam rapidamente para o feliz aniversário oficial que seria cantado em homenagem a John. Nesta hora entrou no palco ninguém mais, ninguém menos do que Marlene Dietrich para cantar. Como não poderia deixar de ser, o parabéns acabou com ela sentada no colo de John – a melhor de todas as mulheres que subiram ao palco naquela noite, para, provavelmente, o melhor caubói que já existira.
João deu uma volta ao redor do saloon, e mesmo com as dançarinas fazendo a festa dos cowboys, João lembrou-se de sua prometida, Sônia, que o esperava no rancho de propriedade de seus familiares. E antes de sair do recinto, João despediu-se de todos os caubóis e dançarinas – exceto de John e de Marlene, que tinham dado uma escapadela da festa para digamos, um lugar mais reservado.
Ao sair do saloon, João se deparou com o vento seco e gelado do deserto. Antes de montar em seu cavalo – havia mais de uma dúzia deles agora – João escutou passos vindo em sua direção. Ao girar seu corpo rapidamente, João se deparou com alguns caras-pálidas a sua frente, segurando facas em suas mãos. João estremeceu. Os índios foram andando na direção de João, que ao se afastar, afastava-se também do saloon. E pior: João tinha um revólver carregado em seu coldre, mas não tinha a mínima ideia de como manuseá-lo. Sua única alternativa era correr; e foi o que ele fez, num ato de desespero. Ao ouvir o som de tiros, João se jogou ao chão, apavorado. Foram apenas 4 ou 5 tiros, e o barulho cessou. João ouviu cavalos se aproximando então. Quando João levantou o rosto todo empoeirado, estavam a sua frente, montados em seus respectivos cavalos, Giuliano Gemma e Franco Nero, cada qual com um sorriso estampado no rosto.
- João, onde está sua arma? – indagou Giuliano. – Se não lhe encontrássemos, esta hora você estaria sete palmos abaixo da terra!
Aí João viu três caras-pálidas estendidos no chão, um a um.
- Nossa, eu não tenho como agradecê-los; vocês salvaram a minha vida. Eu estava no aniversário do John...
- Wayne – retrucou imediatamente Franco Nero – este ianque nunca nos convidaria mesmo. Só passamos por aqui porque estamos indo para a nossa festa, certo Gemma?
- Festa? – perguntou João, sem entender muito.
- Monte no seu cavalo e vamos até lá. É a festa do spaguetti-western! – explicou Giuliano – vamos nos apressar, para não perder o show de Claudia Cardinale.
- Bom, não posso recusar um convite destes. Será uma honra, cavalheiros. – e João montou em seu cavalo e rumou para a festa do spaguetti-western acompanhado dos dois valentes caubóis que salvaram sua vida. Sônia entenderia o atraso em casa. Talvez João omitisse a respeito do show de Claudia Cardinale, apenas por uma questão de segurança...
2 comentários:
Show!!!! Muito criativo.... abraço...
Muito bom, André... sabe quem iria adorar??!!! O Vô Pedro rss
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