Uma historia difusa,
confusa, um tanto alusiva e imprudente, cheia de parafasias, muito
contingente... escrita em meados de maio/abril, tempo em que muito pouco se
sabia sobre o que acontecia, e muito menos sobre o que aconteceria. Tempo em
que a filosofia era fraca e as meras poesias eram horizontes utópicos,
ilusórios, inatingíveis, inalcansaveis, ou não. historia perfazida em outubro.
Na soma das contas de ambos os lados, cada um chega a
um pensamento concludente cabível, desmedido, negativo, diferente ou não. Mas
aos que muito sabem, restara uma conclusão mais perto do real acontecido ,
talvez algo como "uma verdadeira tragédia". Porém só mesmo o ator
principal dessa obra sabe de verdade o que aconteceu.
Melancolia
Inspirado nos contos de Edgar Allan Poe
Sob o parapeito da janela paira uma tênue mariposa
megera, e com o peito sobrecaido sob o mesmo parapeito um corpo embriagado e
quase já inoperante, a observar num olhar longínquo a linha do horizonte, tão
distante. Ansiando pelo deleite de ver o sol no expoente nascer, trajando nos
olhos as olheiras esculpidas pela insônia e pelo choro quase incessante, choro
que durante dias dançou suas lagrimas tristes da alma a saudade eterna que é o
sentimento inquietante que atormenta infindo seu coração, ao remexer das
lembranças escritas na memória.
Haviam se passado dias após a morte de sua amada e
embora não tivesse pronunciado nenhuma palavra sequer a ninguém, também porque
ninguém quis escuta-lo, seu semblante taciturno dizia tudo, lastimava sua
falta, pois fora ela a razão de sua vida, fora ela que o salvou da solidão, ela
que agora deixava-o para sempre de onde o tirou. Ao decorrer, dias de
tempestades, grandes nevoeiros e fortes ventos haviam saturado de medo e de
fome o pobre homem, inconformado, sentia-se sozinho em seu amor por vezes
demasiado outrora efêmero
Na noite
passada o pipocar tormentoso no seu telhado e a cabeça fadigada estarrece e
pode repousar algumas horas sob o alivio do barulho da chuva. são nessas poucas
e duradouras horas interferiveis senão apenas pelo despertar pavoroso, que tem um sonho, o mesmo sonho pesado de
outras vezes, sonho em que acordado desfruta ter tudo que se quer ao seu lado,
de repente num momento inesperado, tudo se desmancha, se destrói, se desfaz,
acorda suado, vê-se acorrentado por galhos de um grande arbusto de onde
emergem milhares de pássaros negros a voar, que o fazem acordar num susto,
dessa vez na realidade de dentro de seu quarto escuro.
O quarto reproduz um cenário sombrio e de tristeza,
no qual rodeado de mobílias antiguadas pelo descuido, livros caídos da estante
e um quadro de um pintor surrealista mal pendurado na parede deixa o ambiente
com um tom mais sombrio e velharesco. Lá fora o cachorro morre de fome .
O café frio acolhe as moscas numa curiosidade
mortífera, as bitucas no cinzeiro viraram cinzas e mofaram no amargo tempo de
solidão em que já não se alimenta direito e nem sente vontade de fazer nada
além do que ficar ali naufrago, perdido no tempo, trancado no quarto em estado
profundo de depressão, olhando o constante vai vem dos carros e o pendulo do
velho relógio na parede oscilando o tic tac; a espera do que lhe foi programado
no final, A Morte.
Uma voz
silenciosa e fria, se aloja cada vez mais em sua cabeça ,fixando a ideia de um
caminho a seguir, tornando todas as outras estradas impercorriveis, atropelando
os sonhos, despedaçando-os, transformando-os em poeira que o vento se
encarregara de levar para longe logo depois, querendo ou não construindo uma
muralha cada vez mais impenetrável na sua oposição á vida. Estava vivendo do
lado de fora do castelo que um dia tanto sonhou e vendo ele se desmoronar diante
seus olhos, sem ao menos poder fazer algo.
Lhe restara apenas a solidão de um amor, e o ganho de
algumas garrafas de wiske e maços de cigarros como consolação pelo mal
ocorrido, além de preciosos minutos de vida recheados das mais doces amargas
recordações, os pensamentos descordenados voando em sua cabeça deixando-o de
certa forma inebriado, absorto, pois do trago foi a deriva, bebeu tanto quanto
não devia, fumou até ofegar, guardando o ultimo cigarro para o momento
esperado.
O cachorro lá fora uiva anunciando a chegada hora
esperada, o sol estronda o céu com suas cores fulgidas e gritantes e ao mesmo
tempo cálidas, e aquela voz que antes o chamava silenciosamente agora ecoa cada
vez mais alta pensamentos mortíferos em sua cabeça, sofre o incidiu desejo derradeiro
da voz que contamina totalmente seu espirito de assombro e terror. Se dirige
com passos arrastados na direção da estante do quarto de onde em meio a livros
emaranhados, abre um recipiente
empoeirado, parecido com um baú, de onde tira um frasco de veneno, e
volta a se sentar próximo a janela com o frasco na mão, pega o cálice de wiske
e despeja o liquido do frasco de cor roxa dentro do cálice, a junção das substâncias torna-se mortal, então bebe daquele cálice como se beijasse a morte,
acende o cigarro que esperou, o efeito é quase instantâneo, em segundos o dia
amanhece, contemplação e terror, projeta-se uma sombra por trás dele, senti
sua visão embaçar e escurecer sofre uma midríase (dilatação das pupilas) apesar da forte luminosidade do sol impregnando e
cobrindo com seus raios de luz cada pequeno espaço do seu quarto e aquecer seu
corpo e alma melancólica, deduz ser seu fim, fecha os olhos e senti sua alma
escorregar para os braços da morte.
O mundo
parou descontinuou ao silencioso triunfar da morte.
- Joel Lavino
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