sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Melancolia Mortífera

                 Uma historia difusa, confusa, um tanto alusiva e imprudente, cheia de parafasias, muito contingente... escrita em meados de maio/abril, tempo em que muito pouco se sabia sobre o que acontecia, e muito menos sobre o que aconteceria. Tempo em que a filosofia era fraca e as meras poesias eram horizontes utópicos, ilusórios, inatingíveis, inalcansaveis, ou não. historia perfazida em outubro.
                Na soma das contas de ambos os lados, cada um chega a um pensamento concludente cabível, desmedido, negativo, diferente ou não. Mas aos que muito sabem, restara uma conclusão mais perto do real acontecido , talvez algo como "uma verdadeira tragédia". Porém só mesmo o ator principal dessa obra sabe de verdade o que aconteceu.


                                              


                                   

                Melancolia Mortífera
                                                 
                    Inspirado nos contos de Edgar Allan Poe


                Sob o parapeito da janela paira uma tênue mariposa megera, e com o peito sobrecaido sob o mesmo parapeito um corpo embriagado e quase já inoperante, a observar num olhar longínquo a linha do horizonte, tão distante. Ansiando pelo deleite de ver o sol no expoente nascer, trajando nos olhos as olheiras esculpidas pela insônia e pelo choro quase incessante, choro que durante dias dançou suas lagrimas tristes da alma a saudade eterna que é o sentimento inquietante que atormenta infindo seu coração, ao remexer das lembranças escritas na memória.
                Haviam se passado dias após a morte de sua amada e embora não tivesse pronunciado nenhuma palavra sequer a ninguém, também porque ninguém quis escuta-lo, seu semblante taciturno dizia tudo, lastimava sua falta, pois fora ela a razão de sua vida, fora ela que o salvou da solidão, ela que agora deixava-o para sempre de onde o tirou. Ao decorrer, dias de tempestades, grandes nevoeiros e fortes ventos haviam saturado de medo e de fome o pobre homem, inconformado, sentia-se sozinho em seu amor por vezes demasiado outrora efêmero
                 Na noite passada o pipocar tormentoso no seu telhado e a cabeça fadigada estarrece e pode repousar algumas horas sob o alivio do barulho da chuva. são nessas poucas e duradouras horas interferiveis senão apenas pelo despertar pavoroso,  que tem um sonho, o mesmo sonho pesado de outras vezes, sonho em que acordado desfruta ter tudo que se quer ao seu lado, de repente num momento inesperado, tudo se desmancha, se destrói, se desfaz, acorda suado, vê-se acorrentado por galhos de um grande arbusto de onde emergem milhares de pássaros negros a voar, que o fazem acordar num susto, dessa vez na realidade de dentro de seu quarto escuro.
                O quarto reproduz um cenário sombrio e de tristeza, no qual rodeado de mobílias antiguadas pelo descuido, livros caídos da estante e um quadro de um pintor surrealista mal pendurado na parede deixa o ambiente com um tom mais sombrio e velharesco. Lá fora o cachorro morre de fome .
                O café frio acolhe as moscas numa curiosidade mortífera, as bitucas no cinzeiro viraram cinzas e mofaram no amargo tempo de solidão em que já não se alimenta direito e nem sente vontade de fazer nada além do que ficar ali naufrago, perdido no tempo, trancado no quarto em estado profundo de depressão, olhando o constante vai vem dos carros e o pendulo do velho relógio na parede oscilando o tic tac; a espera do que lhe foi programado no final, A Morte.
                 Uma voz silenciosa e fria, se aloja cada vez mais em sua cabeça ,fixando a ideia de um caminho a seguir, tornando todas as outras estradas impercorriveis, atropelando os sonhos, despedaçando-os, transformando-os em poeira que o vento se encarregara de levar para longe logo depois, querendo ou não construindo uma muralha cada vez mais impenetrável na sua oposição á vida. Estava vivendo do lado de fora do castelo que um dia tanto sonhou e vendo ele se desmoronar diante seus olhos, sem ao menos poder fazer algo.
                Lhe restara apenas a solidão de um amor, e o ganho de algumas garrafas de wiske e maços de cigarros como consolação pelo mal ocorrido, além de preciosos minutos de vida recheados das mais doces amargas recordações, os pensamentos descordenados voando em sua cabeça deixando-o de certa forma inebriado, absorto, pois do trago foi a deriva, bebeu tanto quanto não devia, fumou até ofegar, guardando o ultimo cigarro para o momento esperado.
                O cachorro lá fora uiva anunciando a chegada hora esperada, o sol estronda o céu com suas cores fulgidas e gritantes e ao mesmo tempo cálidas, e aquela voz que antes o chamava silenciosamente agora ecoa cada vez mais alta pensamentos mortíferos em sua cabeça, sofre o incidiu desejo derradeiro da voz que contamina totalmente seu espirito de assombro e terror. Se dirige com passos arrastados na direção da estante do quarto de onde em meio a livros emaranhados, abre um recipiente  empoeirado, parecido com um baú, de onde tira um frasco de veneno, e volta a se sentar próximo a janela com o frasco na mão, pega o cálice de wiske e despeja o liquido do frasco de cor roxa dentro do cálice, a junção das substâncias torna-se mortal, então bebe daquele cálice como se beijasse a morte, acende o cigarro que esperou, o efeito é quase instantâneo, em segundos o dia amanhece, contemplação e terror, projeta-se uma sombra por trás dele, senti sua  visão embaçar e escurecer sofre uma midríase (dilatação das pupilas) apesar da forte luminosidade do sol impregnando e cobrindo com seus raios de luz cada pequeno espaço do seu quarto e aquecer seu corpo e alma melancólica, deduz ser seu fim, fecha os olhos e senti sua alma escorregar para os braços da morte.

O mundo parou descontinuou ao silencioso triunfar da morte.



- Joel Lavino


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