sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Aos mentirosos, com carinho

Essa é em homenagem a todos os mentirosos e contadores de histórias mundo afora... Afinal, o que seria de nós sem eles?
Quando adolescente, em todos os verões eu encontrava este amigo, o Fabiano. Ele vinha do Paraná passar as férias em Santa Catarina. Gente boa esse Fabiano. Mas tinha uma fama de ser mentiroso... Pois, certa noite ocorreu uma queda de energia no condomínio onde passávamos as férias; exatamente nesta noite, apresentei o Fabiano para o Paulinho, outro amigo meu. Sem luz, o negócio foi ficar conversando mesmo, assim, entre amigos. Quando o Fabiano começou a falar em armas, o Paulinho já ficou todo interessado na história. Logo em seguida, o Fabiano disse que numa ‘das fazendas’ de seu pai alguns posseiros haviam tentado invadir a propriedade deles e que seu velho precisou ir com munição pesada, junto de alguns capatazes, só para dar um pequeno susto nos invasores. Mal o Fabiano havia acabado de falar a última palavra de sua estória, o Paulinho já sentenciou logo em seguida:

- Meu pai tá respondendo processo criminal.
- Por quê? – perguntou de imediato o Fabiano.
- Há uns meses atrás, um ladrão tentou entrar em nossa casa. Meu pai acordou com o barulho, pegou a calibre doze que ele guarda no quarto dele e deu dois tiros no ladrão.
- Nossa! – os olhos do Fabiano brilharam com a dramaticidade que Paulinho dava à história, para minha surpresa também, que até então não sabia de nada.

No fim da noite, com a luz já reestabelecida, estávamos somente eu e o Paulinho, conversando. Aí falei:

- Cara, como você não me contou esta história do teu velho antes?
Nessa hora, Paulinho me olhou com uma cara de sem-vergonha deslavado e disse:
- Eu não podia perder na mentira. A minha tinha que ser maior que a dele, pô!


Essa outra aconteceu alguns anos depois. Havia outro Paulinho, também meu amigo. Pois a característica maior dele era, exatamente, inventar histórias. Para as meninas que ele costumava conquistar em festas, Paulinho inventava coisas das mais absurdas. Eu, ao lado dele, não sabia onde enfiar a cara quando ele começava a mentir. Até sotaque de carioca ele imitava, só para dizer que era do Rio.
Pois naquele dezembro aconteceu a formatura do meu irmão e, além do Paulinho, também estaria na festa o Pedrinho, um primo nosso famoso na família por suas mentiras. Mas o lance do Pedrinho era diferente: ele não inventava histórias, e sim aumentava tudo uma barbaridade. Se ele tinha vinte amigos, eram duzentos. Se sua casa tinha oito peças, rapidinho eram oitenta. E assim por diante...
Acontece que naquela noite de formatura, entre tantos amigos e familiares reunidos, não tive muito tempo de ficar ao lado nem de um, nem de outro. Mas percebi que ambos passaram conversando um bom tempo juntos. Ao final do festerê, já de manhã cedo, voltei para o meu apartamento ao lado do meu primo, Pedrinho, que estava se hospedando lá em casa devido à formatura. Aí não resisti e perguntei:

- E aí Pedrinho, vi você conversando com o Paulinho um tempão na festa. Me parece que vocês se entrosaram muito bem. O que você achou dele?
- Nossa... – Pedrinho fez uma cara de nojo, para a minha surpresa.
- O quê foi?
- Nossa, detestei esse cara, nada a ver ele.
- Como assim? Vocês estavam conversando numa boa...
- Não, não dava para aguentar aquele cara. Não gostei dele. De jeito nenhum.
- Mas por que, Pedrinho?

Enquanto Pedrinho não conseguia se justificar direito, pensei cá com meus botões: a mentira do Paulinho deve ter sido maior que a do Pedrinho. Só podia ser. E isso, caros amigos, é um verdadeiro ultraje para qualquer mentiroso que se preze...

Um comentário:

Cleide disse...

Realmente é complicado ouvir comentários de pessoas que querem ganhar vantagens em tudo. Porém não podemos deixar de lado os momentos de muitas gargalhadas com estes contadores de "historias" Parabéns pelas crônicas meu amor !