segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O foxtrote dos desiludidos


Como o salão é todo espelhado
uma hora você acaba se enxergando
severo, severo demais.
Você sabe que perdeu no jogo
qualquer coisa que te fará muita falta
mas a banda continua, inflexível
porque o show é bem maior que a vida.

É a primeira vez que você dança
o foxtrote dos desiludidos
mas a dama não vai perdoar
o seu menor deslize.
Você dança, algo entorpecido
e pensa em quanto ainda falta
para a hora do embargo total.
Mas a banda continua, inflexível...
zomba de tua desjuventude.

A dama quer tentar aquele giro
que você se esqueceu de ensaiar.
— Hoje você tem dezenove, ela diz,
amanhã terá trinta. A temporada
de ensaios it's over. E rindo:
Todas as formas de suicídio, darling,
resultaram/resultarão inúteis.

Você ri também (em todos os espelhos
suas mãos espalmadas contra o tempo).
Mas a banda continua, inflexível
enquanto a dama desliza (e com que
facilidade, e com que doçura) para
os braços de um cara mais jovem.

***
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Um comentário:

Costa disse...

poema mais lindo!
tipo, é vida, é realidade, resumida em palavras que, nessa formação, me apaixonaram.

gabryel fellipe - quimeras mirabolantes