Jota - para os mais íntimos ‘Jotinha’, para seus admiradores contemporâneos ‘Jotão’ - sempre foi um cara das mulheres. Desde pequeno, quando o pai saiu de casa para comprar um maço de cigarros e nunca mais voltou, o pequeno Jotinha fora criado por sua mãe e suas tias. O único tio homem de Jota era o tio Deco, que tinha um bar e lanchonete de beira de estrada, daqueles que ficam anexos a um posto de gasolina.
Claro que Jotinha desde pequeno gostava de ir até o posto do tio, que sempre dava um pastel de vento e uma Coca para Jotinha; com o passar dos anos, Jota foi ficando adolescente e começou a ajudar o tio toda vez que algum funcionário folgava, ou para fazer os serviços de banco, como um office-boy. Percebendo que seu sobrinho já tinha um fraco por suas coleguinhas de escola, tio Deco logo percebeu que o menino se interessaria por, digamos, algumas meninas de vida fácil que passeavam pela lanchonete no turno da noite.
Pensando em prepara-lo para o futuro, e vendo que o menino não tinha uma figura paterna para lhe dar um conselho sequer, tio Deco foi logo tratando de pagar uma dessas meninas para seu sobrinho, que iria completar quinze anos na semana seguinte. Pensou bem, e escolheu Pink, uma moreninha de 18, no máximo 19 anos que fazia ponto ali pertinho. Parecia ser, entre todas aquelas que vinham ‘trabalhar’ por ali, a menos rodada e certamente, a mais novinha de todas.
Na véspera de seu aniversário, Jotinha estaria substituindo um funcionário de folga do turno da noite, e ficaria até às 11 horas na lanchonete – isso era o que a mãe de Jotinha pensava, porque na verdade seu tio Deco já tinha arranjado todo o esquema: Jotinha sairia as 9 e usaria o mesmo quartinho que seu tio utilizava quando precisava, digamos que, recarregar suas energias. Quando o relógio bateu no ponteiro mostrando nove horas, tio Deco foi dar um abraço de aniversário em Jotinha, entregando-lhe a chave do quartinho e dizendo: “Seu presente estará lhe esperando lá, garoto. Não esqueça de revestir o que for mais importante, hein? Segurança em primeiro lugar!” Jotinha agradeceu o tio um pouco sem jeito, e seguiu empolgado para o quartinho, já imaginado o possível presente que o aguardava ali.
Ao abrir a porta, à meia-luz, Jotinha percebeu uma menina deitada na cama já com suas roupas íntimas. Reparou também que o quarto estava todo limpinho, e que havia meia dúzia de camisinhas no criado-mudo ao lado da cama. Assim que Jotinha trancou a porta, a garota então acendeu a luz principal do quarto, para mostrar ‘todo o material’ para o aniversariante: tratava-se da Galega, uma amiga de Pink que fazia ponto em outro lado da cidade. Jotinha já tinha visto fotos dela, e abriu um sorriso de orelha a orelha quando ela aproximou-se dele e começou a despi-lo...
No dia seguinte ao seu aniversário, que também fora comemorado com sua mãe e tias em casa, com direito a bolo, canapés e croquetes, Jotinha voltou para o seu batente no posto, e logo de cara seu tio lhe chamou de canto, para conversarem:
- E aí Jotinha, gostou do presente do tio?
- Puxa... nem sei como agradecer tio! Não consegui usar todas as camisinhas, daí deixei as três que sobraram dentro da gaveta do criado-mudo, tá?
- Já vi garoto, já vi... mas, me conta: o que achou da Pink?
- Hum? – Jotinha parecia não entender a pergunta do tio.
- A Pink, moleque, a prostituta que te paguei. O que achou dela?
- Ah, acho ela top, tio. Mas na verdade quem foi lá aquele dia foi a Galega. Aquela loirinha toda bonitinha que faz ponto lá na Zona Sul, já esteve uma ou duas vezes por aqui atrás da Pink, tá lembrado tio?
- Hummm... Sim, sim “vai ver ela não pôde vir, mandou a Galega em seu lugar” pensou tio Deco. Até que Jotinha disse:
- Realmente tio, eu não teria grana para pagar uma hora com a Galega, então foi o melhor presente que eu poderia ganhar de aniversário. Muito obrigado mesmo.
- Que é isso garoto, estamos aqui para isso. Não comenta com sua mãe, tá?
- Pode deixar, tio.
- Mais uma coisa: você disse uma hora, mas foram duas horas, certo?
- Não, tio. Só uma hora mesmo. Até fiquei esperando dar onze horas no quartinho para a mãe não desconfiar de nada.
- Filha da mãe...
- Ah, e outra coisa tio: a Pink me cobrou programa só a primeira vez que a gente transou. Da segunda vez em diante, ela não me cobrou mais nada não, foi sempre ‘na faixa’. Deve ser por isso que veio a Galega em seu lugar... mas foi muito bom, tio! Agora, vou trabalhar...
- Vai, vai lá garoto... – disse o tio de Jotinha, enquanto já passava a mão tremulante no telefone para ligar para Pink. Enquanto ouvia a mensagem de celular desligado ou fora de área, tio Deco só pensava em reaver cem dos duzentos reais que tinha dado à Pink, por duas horas de programa. Para diminuir a sensação de ‘que otário que eu fui’, tio Deco ainda pensou: “Que garoto mais ligeiro. Meu sobrinho, meu sobrinho...”
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