DOIS TIROS NA FAVELA
Hoje
Leio o jornal
Ontem mataram um garoto no Morro Azul
Onde estou lendo, ontem estava no segundo papelote.
Estava eu aqui
Depois de bater várias carreiras
Botei napa adentro
Adoro a Falete
Tarja amarela
É o que há
50 paus
Tem sempre um moto-táxi pra entregar
Acabei de foder
Digito compulsivamente entre um teco e outro
A imagem da minha letra recolhe em si negativamente o conteúdo do texto
Benditos Blocos de Nota, Word e WordPad.
Viva a cocaína
Mataram alguém no Morro Azul
Ouvi os tiros
Dois
A queima roupa
Tuf. tuf.
Da janela do quarto, na cama onde linda morena dorme ao meu lado, vejo dois clarões.
Ouço dor
Sinto morte e medo
Procuro
Paranoica, mente.
Furos de bala em minha cabeça
Não tenho
Estou de frente pro morro, sentado na cama, digitando merdas em um laptop.
A imagem digitada faz bem pro texto
No meu outro lado, o prato com pó.
Dou mais um belengo
A morena não acorda
Bom
Não quero foder
Quero entender
Um desconhecido insignificante deve ter morrido
Eu com isso
Foda-se
Acabei de foder
Tô cheirando e digitando
Caguei pro Azul
Azul é o caralho
Eu gosto é de Branco
Vou dar outro teco
A morena está roncando
Mulheres ronronam, vai saber...
Mataram alguém
Fui chupado, eu como, assim.
Como assim?
Porra! Mataram alguém!!
Foi a polícia
O Bope
Pronto, agora sou politicamente correto.
A culpa é da polícia
Pessoas morrem
Não tô ferido
Maldita polícia
É tudo culpa do Estado
O cidadão é um fodido
Nossa, sou uma pessoa boa.
Vou dar outro teco
Polícia matando remete culpar ao Estado absorvendo a bosta toda, absolvendo assim o pensador da imagem.
É
Bendita polícia
PUTA PÁTRIA QUE ME PARIU
Não sou assim
Tia dizia-se médium, vai saber...
A múmia paralítica disse eu ser também
Por que procurei a bala em minha cabeça?
Não quero ser médium
Vou dar outro teco
Foi a cocaína que matou esse garoto
Assim falaria o Capitão Nascimento
Fascista infeliz
É, sou uma pessoa boa.
Vou meter a pica na boca da morena safada
Mataram alguém
Uns fodem
Outros morrem
E agora...
Foder é o cacete
Tão fodendo o Morro e eu querendo foder
Sou o próprio Filho do Dinheiro escarrado e cuspido
Fico justificando pra legitimar prazer
O mundo tá fodido
Eu pensando em foder
Foder de novo
Só tem mais um belengo
Vou ligar pro moto-táxi
Terá moto-táxi no Azul?
Mataram alguém no Morro Azul, eu pensando se lá tem moto-táxi pra trazer cocaína.
Eu matei
Matei porra nenhuma
Vai se foder, Capitão Nascimento.
Vou foder sim!!!
Como disse o gênio Rubem Fonseca
Tão me devendo buceta e todo o resto que viria ao caso agora
Vou dar último teco e acordar morena pros trabalhos orais
Não tenho culpa
Não sei sobre vocês
A verdade é que eu minto
DOIS TIROS NA FAVELA de Pablo Treuffar é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
A VERDADE É QUE EU MINTO
6 comentários:
É Pablo, parece mentira.
hehehe, li este delicioso poema no bde na flip 2010. foi ótimo.
Muito envaidecido caro amigo, primeiro pelo DOIS TIROS NA FAVELA ter sido lido na FLIP, segundo por ter sido lido por vc meu caro.
Caralho, eu não to cabendo em mim de inveja de vcs, fico me convencendo q foi por uma boa causa.
abço no coração.
Don Pablito,
o poema é porreta
e mereceu a fliparada.
Saravá,mano!
Bjs e abraços
Este poema é demais... merece destaque...
Abraços poetanos...
Bom demais. Eu já tinha lido em outra ocasião... lê de novo foi ainda melhor.
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