O jornalista Guto Correia entrevista Pablo Treuffar pro BDE
COMO FOI CRESCER NO RIO, ESPECIALMENTE EM IPANEMA?
Ipanema é um bairro de praia, cresci na praia, junto com tudo que ela oferece. Foi na praia de Ipanema que conheci a turma do morro, do subúrbio, da classe operária, da classe média, os traficantes, as putas, as sapatas, os viados, os artistas, os esportistas e a burguesia; enfim, a praia é um território democrático, todos os segmentos da sociedade estão lá.
VAMOS AO QUE INTERESSA. O QUE É ESCREVER PRA VOCÊ?
É um processo criativo no qual desejo irritar as pessoas perante suas próprias mazelas, suas inquietações. Quando escrevo, penso na reflexão, minha e do leitor. Escrever é passar minha alma a limpo, passar a humanidade a limpo. Gosto da ideia de Sócrates que o importante é a pergunta e não a resposta. Procuro o questionamento. Não há respostas.
EU LI SEUS TEXTOS E POSSO DIZER QUE TEM MUITO HUMOR NELES, VOCÊ CONCORDA QUE A IRONIA E O HUMOR SÃO FATORES MARCANTES NA SUA OBRA?
O humor é de cada um. Eu acho meus textos muito divertidos, outros também acham, mas os que acham são porque têm neles o senso de humor, outros leitores acham meus textos simplesmente ruins e ofensivos, um dedo na cara das mazelas que eles carregam e não querem assumir. Por isso eu incomodo. Conta uma piada pra um cara com dor de dente, ele não vai rir. Humor é mão dupla.
VOCÊ ENCONTRA DIFICULDADE AO ALTERNAR TEMAS POLÊMICOS E SÉRIOS COM A COMÉDIA?
Não há dificuldade alguma, a alternância entre rir e chorar se faz na consciência do leitor, não é lido o escrito, é lido o entendimento escrito, o entendimento é de cada um, uma vez escrito, sendo tudo verdade, escrito não é verdade, ou seja, o mesmo texto é cômico pra uns e sério pra outros.
COMO COMEÇOU A ESCREVER?
Quando criança, eu tinha meu diário, escrevia nos meus cadernos durante as aulas, no primário, no ginásio e daí pra sempre segui registrando alguns pensamentos. Devo ter quase mil textos inacabados. Escrevo muito, mas mostro quase nada. Se todas as pessoas escrevessem tudo o que vem à cabeça, qualquer pensamento, todos seríamos gênios. Comecei a escrever quando entendi que eu escolho meus pensamentos. Concordo com o Waly Salomão “A memória é uma ilha de edição”.
QUANDO DECIDIU TORNAR-SE ESCRITOR?
Acho que sempre fui escritor, mesmo quando não era, quando não escrevia, pensava. Estou sempre escrevendo mentalmente, sempre fiz isso, desde que me entendo por gente. Não paro um minuto. Minha mente é um caderno de redação. A única diferença é que hoje vocês podem ler alguns dos meus pensamentos.
QUANDO VOCÊ CRIOU SEU BLOG?
Meu blog é de outubro de 2006. Mas as pessoas começam a ter acesso aos meus escritos em meados de 2005, graças ao Bar do Escritor, de Giovani Iemini. Um dia, eu estava navegando no Orkut e achei esta comunidade, comecei a postar e fui achincalhado por muitos membros, vários comentários sucederam em todos os meus textos, muitos de cunho pessoal, daí percebi que eu incomodava e não parei mais. Com o tempo, os desafetos começaram a entender o meu não estilo. Ainda tenho muitos inimigos no Bar do Escritor. Adoro incomodar. Vou citar uma frase do escritor Alex Wildner que cabe muito bem agora: “Se tiverem a oportunidade de escolher como serão reconhecidos, optem por ser o incômodo. O Gênio. O Sábio. O Belo. O Astuto. O Achaque. A Doença. O Mal. O Incômodo. Todo Incômodo tem seu Talento.”
QUEM É ALEX WILDNER?
Um blogueiro da nova safra de bastardos da literatura, assim como eu, um escritor amador em busca de dois leitores.
COMO FOI PUBLICAR SEU PRIMEIRO TEXTO?
Foi porrada, apanhei muito dos leitores. Apanho ainda nas comunidades de textos net adentro. Faz parte.
COMO VOCÊ ENCARA AS CRÍTICAS?
Adoro, é muito fácil ler alguma coisa e escrever “gostei”, mas pra criticar você tem de ter lido a fundo, formado opinião a respeito, prestado atenção. Realmente, uma crítica de várias linhas me envaidece muito mais que um simples “muito bom”. Não tenho problema com isso.
QUERIA QUE VOCÊ FALASSE DE COMO FOI ULTRAPASSAR A BARREIRA DO ANONIMATO?
Não ultrapassei, ainda sou anônimo, mas é muito gratificante ver que dois ou três malucos entendem o que escrevo.
SABERIA DIZER O NÚMERO DE ACESSOS DIÁRIOS DO SEU BLOG?
Muito pouco, uma média de 80 visitas novas por dia.
VOCÊ ACHA QUE COM ESSE FENÔMENO DE MILHÕES DE BLOGS INTERNET ADENTRO O BRASILEIRO ESTÁ LENDO MAIS?
Infelizmente não acredito, acho que os internautas ainda são um retrato da TV aberta, usam a internet basicamente pra Orkut, MSN, futebol e sítios de fofoca. Todo o resto são jogos e pornografia. Se o meu blog tivesse mulher pelada, eu teria 80.000 vistas dia e não míseras oitentinhas visitas dia.
VOCÊ DISSE QUE COMEÇOU A MOSTRAR SEUS TEXTOS NO ORKUT, ACHA O ORKUT UMA BOA FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO PRA NOVOS ESCRITORES?
O Orkut pra nós que queremos ser lidos é uma boa ferramenta de debate, mas, por exemplo, se você entrar na Comunidade do BDE vai ter por volta de 4.000 membros, dos quais, 200 no máximo publicam e comentam regularmente uns aos outros, já a comunidade EU SOU GOSTOSA tem 1.658.652 membros, mais ou menos, veja bem, o Orkut é usado pra ver fotografias, pra azaração, não estão lendo no Orkut.
QUAIS SÃO SEUS AUTORES PREFERIDOS?
Poderia citar os ditos clássicos: Machado de Assis, Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Mario Quintana, Clarisse Lispector, Isabel Allende, Garcia Marques e tantos outros que são tudo e mais alguma coisa de bom em matéria de narrativa e conteúdo, gosto muito, mas eu gosto mesmo é dos marginais. Rubem Fonseca pra mim é Deus, Nelson Rodrigues um monstro sagrado, esses dois são fontes inspirativas sempre. Não posso esquecer o João Ubaldo de jeito nenhum, adoro a Norma Lucia, um ídolo pra essa sociedade careta (Norma Lucia é personagem do livro “A casa dos Budas Ditosos”, de João Ubaldo Ribeiro). Dos gringos, gosto muito do Charles Bukowski, do John Fante, do Henry Miller, do Maiakovski, tô completamente apaixonado por um escritor cubano chamado Pedro Juan Gutiérrez. Se eu tivesse de falar só um escritor hoje pra você, seria sem sombra de dúvidas o Gutiérrez. Tô lendo agora Pornopopéia, do Reinaldo Moraes, e achando muito bom. Gosto da linguagem suja.
VOCÊ REALIZA ALGUMA ESPÉCIE DE RITUAL ANTES, DURANTE OU APÓS O ATO DE ESCREVER?
Não, mas se eu puder fumar unzinho eu gosto.
ONDE ESCREVE?
Em qualquer lugar, a qualquer hora, sou escatológico, eu vomito onde estiver. Se possível, como eu já disse, gosto de fumar unzinho pra escrever.
VOCÊ FALOU SOBRE A MACONHA EM DUAS RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS QUE EU TE FIZ, VOCÊ ACHA QUE A MACONHA AJUDA NO PROCESSO CRIATIVO?
Não é isso, sou um cara muito ansioso, minhas pernas não param de mexer um minuto, essa inquietude física, nada mais é que o reflexo da minha alma ansiosa, fumar unzinho me deixa menos apreensivo e fica mais fácil de terminar os meus escritos. Só isso.
SEUS TEXTOS SÃO BASTANTE POLÊMICOS, PRINCIPALMENTE QUANDO VOCÊ ABORDA TEMAS COMO SEXO, DROGAS E VIOLÊNCIA. QUAL É SUA RELAÇÃO COM ESSES TRÊS TEMAS RECORRENTES?
Intensa, é uma trilogia recorrente na humanidade, a pecaminosa trindade. Eu sou o pecado. Você também é. Todos são. Eu admito. Sou pessimista e acredito na maldade humana.
SEUS CONTOS SÃO INSPIRADOS NA SUA VIDA, NO SEU DIA A DIA?
Esse tema é legal, por eu escrever na primeira pessoa, as pessoas acham, na maioria das vezes, que estou escrevendo sobre a minha vida, não é verdade! Meus escritos são inspirados na sua vida, na minha vida, na vida de todo o mundo. Escrevo as muitas visões da vida.
COMO SURGE SUA POESIA, SEUS CONTOS?
Depende muito, uma frase, um olhar, um filme, um livro, uma conversa, tudo me inspira. Basicamente, meus escritos surgem da observação das fraquezas humanas.
ANOTA MUITO?
O tempo todo, guardanapos, extratos bancários, cartões, anoto em qualquer lugar. Se você abrir minha carteira, vai achar coisas escritas em toda parte.
O QUE O INSPIRA?
Essa é fácil, tudo!
COMO FOI SEU APRENDIZADO?
Não foi. Eu nunca aprendo. A ideia de ter aprendido alguma coisa assusta-me, saber algo é a possibilidade real da estagnação. Como eu já disse: interessam-me as perguntas, e o aprendizado são as respostas. Prefiro as perguntas.
LENDO COMENTÁRIOS NOS SEUS TEXTOS, NOTEI QUE HÁ UMA DÚVIDA RECORRENTE SOBRE O QUE VOCÊ ESCREVE, SEUS LEITORES CLASSIFICAM SEUS TEXTOS DE FORMAS DIFERENTES, ALGUNS COMO CONTO, OUTROS COMO CRÔNICA E OUTROS AINDA COMO POESIA, MUITAS VEZES NO MESMO TEXTO VOCÊ É CLASSIFICADO DAS TRÊS FORMAS, SEU ESTILO É BASTANTE PECULIAR, COMO O DESENVOLVEU, COMO VOCÊ CLASSIFICA A SUA ESCRITA?
Adoro isso. Não me preocupo com o que escrevo, é assim que se desenvolve minha escrita. Meu estilo é não ter estilo. Já discuti com vários leitores por causa disso, lembro de uma discussão que tive com o escritor Edson Bueno de Camargo sobre esse assunto. Prosa ou verso? Não dou à mínima. Odeio rótulos. Existem correntes que me mandam escrever prosa, outros dizem o contrário. Comentaristas brigam entre si pra definir a minha escrita. Sinceramente, eu escrevo textos, ou “coisas” como Giovani Iemini gosta de denominar meus escritos. Acredito em textos bons ou ruins, além disso... o nada. Sei que vou continuar sendo massacrado pelos catedráticos de plantão por essa minha postura com a literatura, mas pra mim existem dois tipos de literatura, a literatura boa e a ruim, e isso na visão do um. Não necessariamente o que você vai gostar eu vou também. Só isso.
QUAL A SUA MAIOR DIFICULDADE AO PRODUZIR UM TEXTO?
Não tenho dificuldades, talvez o processo de me convencer que o texto está pronto às vezes seja doloroso, outras vezes é muito fácil, mas, se tenho um momento de dúvida no processo, esse momento é terminar. Nada que um ponto final não resolva.
VOCÊ CITOU O NOME DE GIOVANI IEMINI ALGUMAS VEZES. QUEM É GIOVANI IEMINI PRA VOCÊ?
Giovani Iemini é o responsável por vocês estarem me lendo. Foi na comunidade dele: O Bar do Escritor, que comecei a botar pra jogo meus escritos. Ele é autor do livro Mão Branca, entre outros projetos. Junto com Cristiano Deveras, são eles os idealizadores e escritores dos livros BAR DO ESCRITOR – Anarquia Brasileira de Letras e BAR DO ESCRITOR BRAND. Estes dois livros são coletâneas de vários autores independentes em formato pocket e de baixo valor de comercialização, com a finalidade de divulgar uma turma de escritores, que se não fosse por pessoas como eles, não seriam impressos tão cedo (Pablo Treuffar escreve nos dois livros). Outra coisa, com muita luta, eles conseguiram levar esses livros pra FLIP 2010 e pra Bienal de São Paulo 2010, ou seja, Giovani Iemini é um empreendedor, um amante da escrita. Pra mim, Giovani é o cara!
VOCÊ TEM CONTOS ESCRITOS NO FEMININO, COMO É PRA VOCÊ ESCREVER NA PRIMEIRA PESSOA UMA PERSONAGEM FEMININA?
Isso foi uma brincadeira, mulheres comentavam meus escritos e me chamavam de porco chauvinista pra baixo. Eu tenho um texto que se chama VADIAS MIMADAS, muitas que o leram vestiram a carapuça e me atacaram de todas as formas possíveis, resolvi criar uma personagem mulher que pisava nos homens e escrevi: MEU NOME É LUA. Deu certo. Elas adoraram. Gostei e escrevi mais dois. São três textos na verdade, PSICO-FOFO, MEU NOME É LUA e O PRAZER. Faço minhas as palavras de Gilberto Gil “Minha porção mulher que até então se resguardara, é a porção melhor que trago em mim agora”.
VOCÊ TEM UM CONTO SOBRE DEMETRIO TENÓRIO DE MELLO, QUE DE FATO EXISTIU. QUERIA QUE VOCÊ FALASSE COMO ERA SUA RELAÇÃO COM ELE?
Demetrio morou no meu prédio, em Ipanema, na década de 80. Era um cara enigmático, bonito, cheio de mulheres, dirigia carros importados e não trabalhava. Tráfico de influência era o seu ganha pão. Foi o ídolo da minha infância. Ele morreu assassinado, o caso nunca foi resolvido.
QUANTAS PUBLICAÇÕES IMPRESSAS VOCÊ TEM?
Além da minha participação nos dos dois livros do Bar do Escritor supracitados, tenho também um contrato assinado com a Editora Multifoco. Meu livro será lançado no dia 11 de janeiro de 2011.
PARA FINALIZAR. O QUE VOCÊ PODE ADIANTAR SOBRE O SEU LIVRO?
O nome é A DOENÇA É A DESCULPA DO CARÁTER. A editora é a MULTIFOCO. São 42 textos. A capa é do cartunista ANDRÉ DAHMER, pra mim o melhor cartunista da nova geração. O texto de apresentação do livro é do escritor TONINHO VAZ, autor das biografias de Torquato Neto, Paulo Leminski, Darci Ribeiro, entre outras. As orelhas são de GIOVANI IEMINI e GUTO CORREIA, que não por acaso é você que está me entrevistando. (gargalhadas)
Ipanema é um bairro de praia, cresci na praia, junto com tudo que ela oferece. Foi na praia de Ipanema que conheci a turma do morro, do subúrbio, da classe operária, da classe média, os traficantes, as putas, as sapatas, os viados, os artistas, os esportistas e a burguesia; enfim, a praia é um território democrático, todos os segmentos da sociedade estão lá.
VAMOS AO QUE INTERESSA. O QUE É ESCREVER PRA VOCÊ?
É um processo criativo no qual desejo irritar as pessoas perante suas próprias mazelas, suas inquietações. Quando escrevo, penso na reflexão, minha e do leitor. Escrever é passar minha alma a limpo, passar a humanidade a limpo. Gosto da ideia de Sócrates que o importante é a pergunta e não a resposta. Procuro o questionamento. Não há respostas.
EU LI SEUS TEXTOS E POSSO DIZER QUE TEM MUITO HUMOR NELES, VOCÊ CONCORDA QUE A IRONIA E O HUMOR SÃO FATORES MARCANTES NA SUA OBRA?
O humor é de cada um. Eu acho meus textos muito divertidos, outros também acham, mas os que acham são porque têm neles o senso de humor, outros leitores acham meus textos simplesmente ruins e ofensivos, um dedo na cara das mazelas que eles carregam e não querem assumir. Por isso eu incomodo. Conta uma piada pra um cara com dor de dente, ele não vai rir. Humor é mão dupla.
VOCÊ ENCONTRA DIFICULDADE AO ALTERNAR TEMAS POLÊMICOS E SÉRIOS COM A COMÉDIA?
Não há dificuldade alguma, a alternância entre rir e chorar se faz na consciência do leitor, não é lido o escrito, é lido o entendimento escrito, o entendimento é de cada um, uma vez escrito, sendo tudo verdade, escrito não é verdade, ou seja, o mesmo texto é cômico pra uns e sério pra outros.
COMO COMEÇOU A ESCREVER?
Quando criança, eu tinha meu diário, escrevia nos meus cadernos durante as aulas, no primário, no ginásio e daí pra sempre segui registrando alguns pensamentos. Devo ter quase mil textos inacabados. Escrevo muito, mas mostro quase nada. Se todas as pessoas escrevessem tudo o que vem à cabeça, qualquer pensamento, todos seríamos gênios. Comecei a escrever quando entendi que eu escolho meus pensamentos. Concordo com o Waly Salomão “A memória é uma ilha de edição”.
QUANDO DECIDIU TORNAR-SE ESCRITOR?
Acho que sempre fui escritor, mesmo quando não era, quando não escrevia, pensava. Estou sempre escrevendo mentalmente, sempre fiz isso, desde que me entendo por gente. Não paro um minuto. Minha mente é um caderno de redação. A única diferença é que hoje vocês podem ler alguns dos meus pensamentos.
QUANDO VOCÊ CRIOU SEU BLOG?
Meu blog é de outubro de 2006. Mas as pessoas começam a ter acesso aos meus escritos em meados de 2005, graças ao Bar do Escritor, de Giovani Iemini. Um dia, eu estava navegando no Orkut e achei esta comunidade, comecei a postar e fui achincalhado por muitos membros, vários comentários sucederam em todos os meus textos, muitos de cunho pessoal, daí percebi que eu incomodava e não parei mais. Com o tempo, os desafetos começaram a entender o meu não estilo. Ainda tenho muitos inimigos no Bar do Escritor. Adoro incomodar. Vou citar uma frase do escritor Alex Wildner que cabe muito bem agora: “Se tiverem a oportunidade de escolher como serão reconhecidos, optem por ser o incômodo. O Gênio. O Sábio. O Belo. O Astuto. O Achaque. A Doença. O Mal. O Incômodo. Todo Incômodo tem seu Talento.”
QUEM É ALEX WILDNER?
Um blogueiro da nova safra de bastardos da literatura, assim como eu, um escritor amador em busca de dois leitores.
COMO FOI PUBLICAR SEU PRIMEIRO TEXTO?
Foi porrada, apanhei muito dos leitores. Apanho ainda nas comunidades de textos net adentro. Faz parte.
COMO VOCÊ ENCARA AS CRÍTICAS?
Adoro, é muito fácil ler alguma coisa e escrever “gostei”, mas pra criticar você tem de ter lido a fundo, formado opinião a respeito, prestado atenção. Realmente, uma crítica de várias linhas me envaidece muito mais que um simples “muito bom”. Não tenho problema com isso.
QUERIA QUE VOCÊ FALASSE DE COMO FOI ULTRAPASSAR A BARREIRA DO ANONIMATO?
Não ultrapassei, ainda sou anônimo, mas é muito gratificante ver que dois ou três malucos entendem o que escrevo.
SABERIA DIZER O NÚMERO DE ACESSOS DIÁRIOS DO SEU BLOG?
Muito pouco, uma média de 80 visitas novas por dia.
VOCÊ ACHA QUE COM ESSE FENÔMENO DE MILHÕES DE BLOGS INTERNET ADENTRO O BRASILEIRO ESTÁ LENDO MAIS?
Infelizmente não acredito, acho que os internautas ainda são um retrato da TV aberta, usam a internet basicamente pra Orkut, MSN, futebol e sítios de fofoca. Todo o resto são jogos e pornografia. Se o meu blog tivesse mulher pelada, eu teria 80.000 vistas dia e não míseras oitentinhas visitas dia.
VOCÊ DISSE QUE COMEÇOU A MOSTRAR SEUS TEXTOS NO ORKUT, ACHA O ORKUT UMA BOA FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO PRA NOVOS ESCRITORES?
O Orkut pra nós que queremos ser lidos é uma boa ferramenta de debate, mas, por exemplo, se você entrar na Comunidade do BDE vai ter por volta de 4.000 membros, dos quais, 200 no máximo publicam e comentam regularmente uns aos outros, já a comunidade EU SOU GOSTOSA tem 1.658.652 membros, mais ou menos, veja bem, o Orkut é usado pra ver fotografias, pra azaração, não estão lendo no Orkut.
QUAIS SÃO SEUS AUTORES PREFERIDOS?
Poderia citar os ditos clássicos: Machado de Assis, Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Mario Quintana, Clarisse Lispector, Isabel Allende, Garcia Marques e tantos outros que são tudo e mais alguma coisa de bom em matéria de narrativa e conteúdo, gosto muito, mas eu gosto mesmo é dos marginais. Rubem Fonseca pra mim é Deus, Nelson Rodrigues um monstro sagrado, esses dois são fontes inspirativas sempre. Não posso esquecer o João Ubaldo de jeito nenhum, adoro a Norma Lucia, um ídolo pra essa sociedade careta (Norma Lucia é personagem do livro “A casa dos Budas Ditosos”, de João Ubaldo Ribeiro). Dos gringos, gosto muito do Charles Bukowski, do John Fante, do Henry Miller, do Maiakovski, tô completamente apaixonado por um escritor cubano chamado Pedro Juan Gutiérrez. Se eu tivesse de falar só um escritor hoje pra você, seria sem sombra de dúvidas o Gutiérrez. Tô lendo agora Pornopopéia, do Reinaldo Moraes, e achando muito bom. Gosto da linguagem suja.
VOCÊ REALIZA ALGUMA ESPÉCIE DE RITUAL ANTES, DURANTE OU APÓS O ATO DE ESCREVER?
Não, mas se eu puder fumar unzinho eu gosto.
ONDE ESCREVE?
Em qualquer lugar, a qualquer hora, sou escatológico, eu vomito onde estiver. Se possível, como eu já disse, gosto de fumar unzinho pra escrever.
VOCÊ FALOU SOBRE A MACONHA EM DUAS RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS QUE EU TE FIZ, VOCÊ ACHA QUE A MACONHA AJUDA NO PROCESSO CRIATIVO?
Não é isso, sou um cara muito ansioso, minhas pernas não param de mexer um minuto, essa inquietude física, nada mais é que o reflexo da minha alma ansiosa, fumar unzinho me deixa menos apreensivo e fica mais fácil de terminar os meus escritos. Só isso.
SEUS TEXTOS SÃO BASTANTE POLÊMICOS, PRINCIPALMENTE QUANDO VOCÊ ABORDA TEMAS COMO SEXO, DROGAS E VIOLÊNCIA. QUAL É SUA RELAÇÃO COM ESSES TRÊS TEMAS RECORRENTES?
Intensa, é uma trilogia recorrente na humanidade, a pecaminosa trindade. Eu sou o pecado. Você também é. Todos são. Eu admito. Sou pessimista e acredito na maldade humana.
SEUS CONTOS SÃO INSPIRADOS NA SUA VIDA, NO SEU DIA A DIA?
Esse tema é legal, por eu escrever na primeira pessoa, as pessoas acham, na maioria das vezes, que estou escrevendo sobre a minha vida, não é verdade! Meus escritos são inspirados na sua vida, na minha vida, na vida de todo o mundo. Escrevo as muitas visões da vida.
COMO SURGE SUA POESIA, SEUS CONTOS?
Depende muito, uma frase, um olhar, um filme, um livro, uma conversa, tudo me inspira. Basicamente, meus escritos surgem da observação das fraquezas humanas.
ANOTA MUITO?
O tempo todo, guardanapos, extratos bancários, cartões, anoto em qualquer lugar. Se você abrir minha carteira, vai achar coisas escritas em toda parte.
O QUE O INSPIRA?
Essa é fácil, tudo!
COMO FOI SEU APRENDIZADO?
Não foi. Eu nunca aprendo. A ideia de ter aprendido alguma coisa assusta-me, saber algo é a possibilidade real da estagnação. Como eu já disse: interessam-me as perguntas, e o aprendizado são as respostas. Prefiro as perguntas.
LENDO COMENTÁRIOS NOS SEUS TEXTOS, NOTEI QUE HÁ UMA DÚVIDA RECORRENTE SOBRE O QUE VOCÊ ESCREVE, SEUS LEITORES CLASSIFICAM SEUS TEXTOS DE FORMAS DIFERENTES, ALGUNS COMO CONTO, OUTROS COMO CRÔNICA E OUTROS AINDA COMO POESIA, MUITAS VEZES NO MESMO TEXTO VOCÊ É CLASSIFICADO DAS TRÊS FORMAS, SEU ESTILO É BASTANTE PECULIAR, COMO O DESENVOLVEU, COMO VOCÊ CLASSIFICA A SUA ESCRITA?
Adoro isso. Não me preocupo com o que escrevo, é assim que se desenvolve minha escrita. Meu estilo é não ter estilo. Já discuti com vários leitores por causa disso, lembro de uma discussão que tive com o escritor Edson Bueno de Camargo sobre esse assunto. Prosa ou verso? Não dou à mínima. Odeio rótulos. Existem correntes que me mandam escrever prosa, outros dizem o contrário. Comentaristas brigam entre si pra definir a minha escrita. Sinceramente, eu escrevo textos, ou “coisas” como Giovani Iemini gosta de denominar meus escritos. Acredito em textos bons ou ruins, além disso... o nada. Sei que vou continuar sendo massacrado pelos catedráticos de plantão por essa minha postura com a literatura, mas pra mim existem dois tipos de literatura, a literatura boa e a ruim, e isso na visão do um. Não necessariamente o que você vai gostar eu vou também. Só isso.
QUAL A SUA MAIOR DIFICULDADE AO PRODUZIR UM TEXTO?
Não tenho dificuldades, talvez o processo de me convencer que o texto está pronto às vezes seja doloroso, outras vezes é muito fácil, mas, se tenho um momento de dúvida no processo, esse momento é terminar. Nada que um ponto final não resolva.
VOCÊ CITOU O NOME DE GIOVANI IEMINI ALGUMAS VEZES. QUEM É GIOVANI IEMINI PRA VOCÊ?
Giovani Iemini é o responsável por vocês estarem me lendo. Foi na comunidade dele: O Bar do Escritor, que comecei a botar pra jogo meus escritos. Ele é autor do livro Mão Branca, entre outros projetos. Junto com Cristiano Deveras, são eles os idealizadores e escritores dos livros BAR DO ESCRITOR – Anarquia Brasileira de Letras e BAR DO ESCRITOR BRAND. Estes dois livros são coletâneas de vários autores independentes em formato pocket e de baixo valor de comercialização, com a finalidade de divulgar uma turma de escritores, que se não fosse por pessoas como eles, não seriam impressos tão cedo (Pablo Treuffar escreve nos dois livros). Outra coisa, com muita luta, eles conseguiram levar esses livros pra FLIP 2010 e pra Bienal de São Paulo 2010, ou seja, Giovani Iemini é um empreendedor, um amante da escrita. Pra mim, Giovani é o cara!
VOCÊ TEM CONTOS ESCRITOS NO FEMININO, COMO É PRA VOCÊ ESCREVER NA PRIMEIRA PESSOA UMA PERSONAGEM FEMININA?
Isso foi uma brincadeira, mulheres comentavam meus escritos e me chamavam de porco chauvinista pra baixo. Eu tenho um texto que se chama VADIAS MIMADAS, muitas que o leram vestiram a carapuça e me atacaram de todas as formas possíveis, resolvi criar uma personagem mulher que pisava nos homens e escrevi: MEU NOME É LUA. Deu certo. Elas adoraram. Gostei e escrevi mais dois. São três textos na verdade, PSICO-FOFO, MEU NOME É LUA e O PRAZER. Faço minhas as palavras de Gilberto Gil “Minha porção mulher que até então se resguardara, é a porção melhor que trago em mim agora”.
VOCÊ TEM UM CONTO SOBRE DEMETRIO TENÓRIO DE MELLO, QUE DE FATO EXISTIU. QUERIA QUE VOCÊ FALASSE COMO ERA SUA RELAÇÃO COM ELE?
Demetrio morou no meu prédio, em Ipanema, na década de 80. Era um cara enigmático, bonito, cheio de mulheres, dirigia carros importados e não trabalhava. Tráfico de influência era o seu ganha pão. Foi o ídolo da minha infância. Ele morreu assassinado, o caso nunca foi resolvido.
QUANTAS PUBLICAÇÕES IMPRESSAS VOCÊ TEM?
Além da minha participação nos dos dois livros do Bar do Escritor supracitados, tenho também um contrato assinado com a Editora Multifoco. Meu livro será lançado no dia 11 de janeiro de 2011.
PARA FINALIZAR. O QUE VOCÊ PODE ADIANTAR SOBRE O SEU LIVRO?
O nome é A DOENÇA É A DESCULPA DO CARÁTER. A editora é a MULTIFOCO. São 42 textos. A capa é do cartunista ANDRÉ DAHMER, pra mim o melhor cartunista da nova geração. O texto de apresentação do livro é do escritor TONINHO VAZ, autor das biografias de Torquato Neto, Paulo Leminski, Darci Ribeiro, entre outras. As orelhas são de GIOVANI IEMINI e GUTO CORREIA, que não por acaso é você que está me entrevistando. (gargalhadas)
10 comentários:
Eu gosto muito dos textos do Pablo, eu gosto da versatilidade que ele tem em assumir diferentes eus líricos e expressões para usar elementos tão variados nos textos. Ele tem um humor negro pesadíssimo, eu também tenho um humor assim que faz uns rirem e outros chorarem, por conta disso ele é amado e odiado por várias pessoas e isso é comum para pessoas de personalidade marcante e poder pessoal que causam grande impacto nas pessoas.
O Pablo é um guerreiro das artes assim como eu, por isso me identifico com ele pois o cara já levou altas portas na cara e tá aí persistente acreditando em si. Fico contente de ele não ser um fraco que pensa demais na opinião pública a ponto de choramingar e desistir de tudo. Esse não seria o Pablo que conheço que se arma até os dentes e entra na porrada solitário.
Essa entrevista foi realmente boa.
Faço minha as palavras do mensageiro
o poeta guerreiro solitario, gostei.
Gostei da entrevista.
só uma coisa: quando ele fala que o leitor escreve apenas "gostei", ele fala que o leitor pode ter lido por cima.
Eu não acho isso, até porque eu faço isso várias vezes, e não por ter lido por cima, e sim porque eu não tenho o que escrever, e então digo ao escritor que gostei do que ele escreveu.
boa sorte a ele!
Mensageiro Obscuro
Obrigado pelo incentivo
Vlw mineirinha e Natalia
A mina do cara!
Obrigado, sobre o "gostei", o q eu quis dizer foi q gosto das criticas e não q não gosto dos elogios, talvez eu tenha expressado-me mal.
Aço e bjs a todos
Pablo realmente é um bom escritor, é um dos pouco que acompanho regularmente na internet. A entrevista tb foi muito boa, por revelar um pouco do processo criativo e da própria vida dele.
Pablo realmente é um bom escritor, é um dos pouco que acompanho regularmente na internet. A entrevista tb foi muito boa, por revelar um pouco do processo criativo e da própria vida dele.
Vlw Glauber, fico emocionado com suas palavras.
Gostei de ler esse cara, agora não paro mais, não gosto muito disso, passei por algo parecido apenas com as músicas da Janis Joplin e do Pink Floyd, ouvir uma vez e tornar um hábito do cotidiano.
Boa entrevista, faz tempo que não leio nenhuma, mas essa ficou bacana.
Aquele abraço!
Sergio Filho, caralho, desse jeito meu ego vai me estuprar.
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