Era uma vez um gato. Um gato mau. Além de mau, mal-humorado. Ficava fulo quando alguém dizia: "olha, que gatinho bonitinho!" "Gatinho bonitinho é o caralho!" - dizia, balouçando o pênis. Um belo dia, uma bela jovem o viu na via e se apaixonou enlouquecidamente pelo bichano. "Bichano é o puto do seu pai!" Ops, desculpe-me. ...e se apaixonou perdidamente pelo felino. Mas ele, bruto que só, nada quis com a pobre moça. "Moça o cacete! Vou mostrar a vocês do que é capaz uma mulher apaixonada. Esse gato há de ser meu!" Cabeleireiro, manicure, banho de loja, batom vermelho, perfume de feromônios e uma lata de sardinha como plano B. Funcionou. Os vizinhos não dormiram aquela madrugada, tamanho o alarido produzido pelos amantes. Pela manhã, cara amassada, remelenta, a mulher arrasta o corpo dolorido para casa. Após o banho, o inexorável espelho. Vê olhos fundos em órbitas fundas envoltas por fundas olheiras. Ao fitar as pernas, depara-se com sulcos esbranquiçados e sinuosos, lembranças de uma noite animal que jamais desapareceriam e seriam transmitidas aos seus descendentes que, por sua vez, repassariam aos seus. Muitos anos depois, um homem chamado especialista poria uns nomes feios e esquisitos naquela coisa feia e esquisita, cuja simples pronúncia do designativo mais simples faria estremecer até a dama mais recatada: hidrolipodistrofia ginóide, dermatopaniculopatia edemato-fibroesclerótica ou, simplesmente, celulite.
Carlos Cruz - 13/07/2010
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