quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

tic tac tic tac




quando cheguei naquele ocaso

por acaso atrás do tempo, do siso

um vento torto encapetou minhas velas

bem naquela hora que dizem ser mágica

afoguei-me nos teus olhos



vim para acalmar tempestades

alisar os mares em que cismas

soprar a neblina dos sofismas

não fiz nada.

Assim, sem querer, morri.



era quase noite

nuvens magenta se arrastavam

minha nau aportava em teus olhos insones

tu chamaste e eu corri

desastrada tropecei

e caímos enredados

abraçados nas promessas



tantas!

doidas!

imensas!



queria salvar-te e soçobrei

danem-se! Minhas culpas e intenções enfermas.



era tão tarde, ninguém viu

a mãe terra seguiu girando em seu fuso

gamos-rei vagueavam órfãos

vagávamos também atrás do tempo, tempo que vinha

tempo que foi sem ter sido



tic tac tic tac



beijávamos dias a fio

enfastiados dessa tarde inteira

desse acaso sem fim

fechávamos os olhos mudos

fugíamos da luz

driblávamos a escuridão



a lua escorregava sem pressa

e chegava quando dormias

perdido e desabado na noite que caía

sorrias dentro dos espelhos



avessa e cansada entrevia futuros

visagens inúteis



morri nos teus olhos numa tarde qualquer

beijei teu sorriso que o breu comia

ele partiu-se

cacos de riso tilintam pelos cantos

guardados na antessala vazia



a luz respinga em mim

pinta negrumes dissonantes

poemas rendados na pele nua

2 comentários:

Ruy Villani disse...

Primoroso.

Marcelino disse...

Porreta a imagem dos "cacos de riso" tilintando pelos cantos de uma casa. Gostei desse poema marítimo, outonal.