Saída de Yosemite (Danilo Berardo)
Aquela
viagem em 1998 tem muita história, história para antes, durante e depois. De certa
forma, mudou o rumo da minha vida, de forma lenta e consistente. Mas um pequeno
pedaço dela foi inusitado.
A ideia
era passar a noite em Yosemite, não me lembro muito bem se vinha de São
Francisco ou outra cidade, posso conferir isso depois, mas não é o mais
importante agora. Lembro que o caminho já era cheio de emoções, com o Escort
Sedan cheio de comidinhas da California e carregando toda a bagagem de
novidades e descobertas na primeira viagem internacional sozinho.
É claro
que tinha mais bagagem que comidinhas, mas elas afetaram a possível parada em
Yosemite. Ao passar pelo portão do parque, recebi um panfleto mostrando os
possíveis riscos de deixar comidas no carro ou por perto de onde estivesse
hospedado. Algo como ursos bem famintos. Segui esperando poder conseguir um
quarto seguro, mas ao chegar na recepção da hospedagem, só havia barracas de
lona. Era pegar ou largar. Era fim do dia.
Achei
que ir embora de lá não seria tão ruim, tinha mais coisas para ver pela
California, não tinha muita noção de quais cidades teria pela frente. Sabia que
o carro tinha só meio tanque de gasolina e postos não eram muito fáceis na
região. Tinha que decidir logo. Naquela época não tinha celular, nem GPS, nem
Google Earth!
Decidi
sair do parque e continuar rodando como era o plano do dia seguinte, caso
tivesse o quarto melhor. O sol começava a se esconder por trás das árvores. Eu
já estava lá e queria dar uma olhada rápida, pelo menos. A olhada rápida tinha
que ser de no máximo uns 30 minutos, segui rodando um pouco.
Depois
dos 30 minutos, o sol já era quase apenas alguns raios. Pensei que era o
limite, tinha que sair do parque. Comecei a tentar achar a saída, mas parecia
que não via o caminho correto. Algumas partes tinham opções de 3 ou 4 caminhos,
havia perdido um pouco a noção tentando olhar rápido no tempo que tinha, mas
não percebi por onde havia passado.
Não podia
gastar muita gasolina, não tinha onde me hospedar, tinha o panfleto dos ursos
famintos na minha mente e o dia indo embora, chegando a noite. Nada pior que
estar perdido ao cair da noite, se com luz não sabe-se onde está, imagine sem
luz. E em estrada sem postes...
Ficar
preocupado com esse tipo de desconhecido nunca foi algo muito preocupante para
mim, gosto do novo, das possibilidades de caminhos inusitados, mas ali algo
estava pior e começando a ficar aterrorizador.
Escuro
na floresta, sem ninguém por perto, era o cenário perfeito para começar a
pensar coisas desagradáveis. Fiz uma oração silenciosa. Preciso sair daqui.
Preciso de ajuda.
Há quem
acredite, há quem não.
Vi uma
pessoa andando na beira da estrada, acelerei até ela, não pensei em mais nada.
Era uma pessoa, sim. Parei do lado, acenei e perguntei diretamente: Como saio
do parque? Me perdi e não acho a saída. O braço indicou a estrada e disse
apenas: Por ali! Não tinha tentado aquela opção ainda. Acelerei, gritei:
Obrigado.
Olhei
para a estrada, tinha que ser ali. Olhei pelo espelho, não vi mais ninguém. Por
um momento percebi que não podia lembrar do rosto da pessoa. Não lembrava mais
nada da pessoa, apenas me lembrava da voz. Que coisa, seria um sonho? Continuei
na estrada, não lembrava da pessoa, só da voz. Ela ecoava sem rosto para
lembrar. A estrada apontada me levou para o portão de saída.
Fui em
frente, uma estrada escura, solitária. Eu precisava parar, descansar. Pararia
no primeiro lugar. Eu ainda lembro da voz, mas não do rosto, lembro do espelho
vazio. Quem esteve ali?
Mariposa.
Sim, a primeira cidade era a pequena Mariposa. Pousei nela, dormi e segui o
caminho. Sem nunca saber quem apontou a estrada. Ou talvez sim...
Nenhum comentário:
Postar um comentário