Era uma noite muito quente,
o que contribuía bastante para que o bar localizado no bairro Santa Mônica
estivesse lotado. O calor foi supostamente o principal motivo para que o grupo
de amigos se encontrasse ali. Eram seis no total. Conversavam todos, muito alto, na verdade nem
todos, pois uns pareciam serem mais narradores do que outros, mas conversavam
assim porque o barulho no bar era muito alto e não havia outra maneira para que
pudessem se comunicar.
Sentado-se à mesa ao
lado estava Nicolas, bebendo sozinho. Como as mesas estavam muito próximas e de
todos os sons que ele podia captar no bar o mais interessante parecia ser a
conversa daqueles jovens, começou a escutar atentamente o que falavam.
- Cara, é absurdo essa
questão da Copa. Vocês viram o vídeo daquele despejo? A polícia desceu o cacete
em todo mundo. Puta que pariu! Mas eu boto fé demais que esse ano o bicho vai
pegar, não sei não se vai ter Copa tão fácil assim. O que vocês acham? – Quem
dizia isso era um rapaz negro, bastante magricelo e alto, com o cabelo estilo “black
Power". A expressão do seu rosto transparecia que aquele assunto sobre o
qual estava discorrendo era bastante grave, dava para ver isso nas contrações
de sua face. Gesticulava com os braços e as mãos em movimentos bastante
enérgicos e firmes. E no fim de cada frase terminava sempre por bater a mão
direita sobre a palma da mão esquerda aberta.
A roupa desse rapaz era
bem parecida com as dos demais rapazes que estavam na mesa: camiseta colorida
meio amarrotada sem estampa, uma calça jeans e um “sapatênis” surrado. A
diferença era a cor das camisetas e dos sapatos, a dele, no caso, era uma
camiseta laranja.
- O foda é que aqui em
Uberlândia não é cidade sede da Copa. Se fosse, eu acho que a gente podia tocar
o terror aqui também – dizia outro rapaz de camiseta roxa. Este fazia movimentos
menos bruscos para expressar sua fala do que seu colega.
- Ah, mas mesmo que
aqui não seja, eu boto fé que a gente pode tentar ir pra alguma cidade sede e
participar das manifestações, dá pra ficar na casa dos nossos amigos. –
Respondeu uma moça, bastante magra, de cabelos loiros um pouco ondulados e pele
clara. Ela vestia uma blusa cavada e muito colada ao seu corpo e com um decote
que destacava seus seios, mesmo que pequenos, e na parte de baixo um saião
estilo hippie que em boa parte do tempo escondia as sandálias de couro que
calçavam seus pés. Uma outra moça vestia algo bastante semelhante, mais uma vez
o que se alterava eram as cores das roupas, somente a terceira que mudava um
pouco o estilo, trocando o saião por uma calça jeans e as sandálias por um
tênis. O que se destacava nessa terceira era uns óculos quadrados bem grandes e
de um vermelho muito chamativo.
Nicolas não só escutava
a conversa, mas reparava em cada detalhe desses jovens, nesse estilo das
roupas, na postura deles, na maneira como gesticulavam para se comunicarem uns
com os outros. Reparava que parecia ser um jeito agressivo e impositivo.
Pensava “o que é que eles vão fazer com toda essa raiva?”. Sem deixar de
prestar atenção neles, sacou um maço de cigarros amassado do bolso da camisa e
puxou um cigarro tão amassado quanto o maço e colocou-o na boca e perguntou
para os jovens se eles tinham isqueiro. Prontamente a moça de estilo hippie,
não a loira, mas uma morena que tinha os cabelos cortados bem curtos e um corpo
mais destacado do que o da outra esticou o braço em direção à boca de Nicolas e
ascendeu o cigarro com seu isqueiro.
- Oh! Obrigado, nem
precisava de tanta gentileza.
- Que isso moço, de boa
– respondeu ela dando uma risadinha antes de começar a frase.
A garota fumava um
cigarro de palha e, depois que respondeu, lançou um olhar mais atencioso em
direção à Nicolas para observá-lo melhor. Ela avistou um homem que
provavelmente já deveria estar na casa dos quarenta anos, cabelos castanhos bem
finos e em grande quantidade, partidos de lado, moreno claro que usava uma
camisa verde escura, calça jeans já com a cor desbotada presa por um cinto de
couro preto e nos pés uma botina um pouco gasta. Olhando as vestimentas do
homem, pareceu a ela que fosse desses funcionários públicos que estava na
base da pirâmide da hierarquia e que já estava bem cansado por todos os anos de
dedicação ao serviço, porém, sem grandes recompensas. Mas quando olhava em seu
rosto percebia algo diferente. A expressão era bastante séria, mas tal
seriedade não parecia advir do cansaço aparente dele, mas sim porque estava
imerso em pensamentos profundos, sentado ali fumando o seu cigarro, foi também
nesse exato momento onde percebeu que esse homem estava atento à conversa na
mesa deles. Porém, ao mesmo tempo parecia conseguir escutar tudo o que diziam e
ainda continuar imerso nos seus pensamentos. E que pensamentos eram aqueles?
Será que eram interessantes? Tudo isso estava deixando Sônia muito curiosa.
- Você não acha cigarro
de palha muito forte? Não que meu Marlboro vermelho também não seja, aliás,
talvez essa porcaria que estou fumando seja muito pior – Nisso Nicolas tirou
seu cigarro da boca e ficou olhando-o – Mas não sei, esses palheiros parecem um
soco no pulmão quando a gente levanta e, industrial por industrial, eu to preferindo
as indústrias de grande porte – Depois disso, soltou uma risadinha curta e
maliciosa.
- Ué, como assim? Você
prefere as indústrias de grande porte pra que? O senhor vai me desculpar, mas
só se for pra morrer mais rápido.
Nisso Nicolas pareceu
um tanto sombrio e não respondeu de cara a pergunta da menina, parecia pensar
sobre o que ela lhe falou. Todos os jovens da mesa ficaram olhando pra ele na
expectativa de uma resposta e pareciam até um pouco assustados pelo tom que a
garota dos óculos vermelhos usou.
- Morrer mais rápido.
Talvez realmente seja isso, morrer mais rápido – Respondeu Nicolas quebrando o
silêncio – Se todos nós, dia após dia, nos definhamos no vício, porque tentar burlá-lo?
Os alcoólatras que encham a cara da cachaça mais barata, os fumantes que fumem
o pior cigarro que exista, um que queime a garganta e o pulmão. Felizes dos
maconheiros que nunca morrem de overdose, talvez o máximo que aconteça com eles
seja morrer de tanto comer, que se afoguem em muita gordura saciando suas
respectivas laricas.
Não se sabe se essa
última frase proferida por Nicolas realmente foi uma piada, mas ela pareceu
bastante cômica para os jovens e eles desataram a rir escandalosamente.
- Mas por que riem? –
disse Nicolas um pouco irritado – Isso é uma questão muito séria meus
pequeninos. Qual é o nome de cada um de vocês? – O tom em que proferiu a frase
cortou instantaneamente o riso.
- Carlos – disse o de
camiseta laranja.
- Beatriz – a moça
loira.
- Eduardo – o de
camiseta roxa.
- Manoel – um terceiro
rapaz que estava de verde.
- Júlia – a dos óculos
vermelhos.
- Sônia.
- Muito bom, muito bom,
pequeninos, o meu nome é Nicolas, encantado por conhecer vocês – esse novo tom
rebuscado que assumira fazia com que os jovens soltassem risinhos de canto de
boca, contidos para que não o irritassem mais uma vez e para não ficar tão
escancarada a vontade de debochar que tinham.
- Mas por que o senhor
tá chamando a gente de pequeninos? O senhor é louco? – proferiu Júlia mais uma
vez uma de suas frases fortes.
Então Nicolas soltou
uma forte gargalhada e disse:
- E você não é?
Desculpe então chamar vocês de pequeninos, mas é que, de fato, são e nem
percebem. Enquanto a minha loucura, ela não difere de várias outras que se
encontra em algumas páginas de uns bons livros.
Tentando disfarçar
Beatriz se aproximou do ouvido de Carlos e cochichou:
- Falou então o maluco
com mania de grandeza – O rapaz respondeu somente com mais uma risadinha
contida.
- No fim das contas,
todo mundo é – comentou ironicamente Júlia.
Parecia ser ali o fim
da conversa entre ambos, os jovens voltaram seus corpos para o centro de sua
mesa para retomar a conversa em que estavam e Nicolas bateu o cigarro para
derrubar a cinzas que como ele ficou muito tempo sem fumar já estavam ficando
maiores do que o próprio cigarro. Serviu mais um copo de cerveja para si e
retornou ao que fazia antes, no caso aos seus pensamentos e a escutar a
conversa das moças e rapazes da mesa ao lado.
Reparou também que sua
cerveja estava acabando, decidiu tomar numa só golada tudo que tinha no seu
copo para poder terminar o resto da garrafa e pedir outra. Ao virar o copo e
batê-lo na mesa, levantou-se e foi ao banheiro. Chegando lá tinha dois caras na
fila.
- Porra! Eu tinha que
ter pedido outra cerveja. Foi pra isso que eu levantei e não pra ir ao
banheiro. Vou lá pedir. – saiu então da fila e deu dois passos em direção ao
balcão, mas parou e girou seu corpo em cima do calcanhar direito tornando a colocá-lo
em direção a fila do banheiro.
- Mas se eu sair da
fila pra ir pegar outra cerveja, provavelmente, quando voltar, a fila vai estar
muito maior. Merda de indecisão! – enquanto sua mente não chegava a uma
conclusão, ficou parado ali mesmo e passou um olhar naquela parte interior do
bar descobrindo assim da onde surgia tanto barulho.
A composição das mesas,
em sua maioria, era bastante parecida com a mesa dos jovens que estavam
sentados ao seu lado. A maioria que estava ali era daquela mesma faixa etária,
mudavam os estilos das roupas, mudavam os temas das conversas, mas uma
característica principal permanecia: todos tentavam gritar mais alto do que os
outros com a necessidade extrema de despejar todas suas angústias e pérolas de
exibição, mas poucos paravam para ouvir essas mesmas questões.
- Puta merda! Desde
quando o mundo ficou tão homogêneo? Eu sei que já tem muito tempo, mas parece
que a coisa tá cada vez mais próxima do buraco. E que música é essa? – a música
vinha de umas caixinhas que ficavam espalhadas por todo bar, no caso estava
tocando uma música famosa contemporânea do estilo sertanejo universitário que
dizia respeito sobre como os homens “pegariam” as mulheres na “balada”. Nem
todos ali no bar pareciam gostar daquela música, mas a canção só contribuía
para que todos falassem mais alto ainda.
Quando Nicolas se
voltou para a fila do banheiro, viu que ainda tinha uma pessoa na sua frente e
pensou “será que ela cortou fila de mim? Ou será que nem passou tanto tempo
assim? Ah, que se foda o banheiro! Qualquer coisa eu “mijo” na rua. Saiu da
fila e seguiu em direção para retornar a sua mesa, porém, caminhado uns cinco
passos adiante, trombou com uma garçonete e aproveitando a ocasião pediu mais
uma cerveja.
Chegando olhou para a
mesa daqueles jovens e já pareciam estar bem “altos”, os rostos mais
avermelhados, os gestos de todos, mesmo que em proporções diferentes, mais
rápidos e agitados e as gargalhadas altas aconteciam com maior frequência. A
conversa seguindo o fluxo de todo bar já acontecia aos gritos também.
- Mas, afinal, eu
demorei ou não demorei tanto tempo lá dentro? Não é possível, ainda não deu tempo
dos pequeninos estarem bêbados. – nisso reparou que um deles estava com o pé em
cima de sua cadeira – Qual é mesmo o nome desse moleque? Manoel! Sim, Manoel. –
Manoel era um rapaz moreno e robusto, não muito alto, de estatura mediana,
porém era o mais sorridente de todos, tinha um sorriso bem largo, parecia que
sua boca tinha o dobro do número de dentes e suas piadas apesar de bastante
chulas, de tão sinceras que eram pareciam divertir muito todos ali.
- Tira o pé da minha
cadeira, fedelho – disse Nicolas.
- Olha o tanto que esse
velho é louco, uma hora ele tá chamando a gente de pequenino, de repente já
volta tirando onda com a nossa cara – Respondeu Manoel, tirando o pé da cadeira
de Nicolas e fazendo os outros rirem com esse comentário. Depois das risadas,
todos deram uma olhada para Nicolas e fizeram um gesto pequeno com a cabeça,
balançando para um lado e para outro, demonstrando assim uma mistura de negação
com escárnio.
Nicolas sentou sem
olhar e sem dar consideração alguma para os jovens. Tirou novamente o maço de
cigarros do bolso, deu uma batida por debaixo dele com um dedo e um cigarro
pulou de lá e apanhou-o diretamente com a sua boca. Nisso puxou uma caixa de
fósforos do bolso esquerdo da sua calça e com muita classe protegendo o cigarro
do vento com as mãos ascendeu. Aquilo tudo pareceu uma cena de filmes de
faroeste.
- Caralho! Como você
fez isso? Eu sempre tento fazer esse truque, mas nunca consigo – disse Manoel
olhando para Nicolas surpreso.
- Então ele tinha uma
caixa de fósforos e pediu isqueiro só pra puxar conversa com a gente, né?–
disse ironicamente Júlia voltando-se para Sônia.
- Ué, mas talvez ele
comprou quando foi lá dentro, você não sabe. Para de implicar com ele, nunca
vi. – respondeu Sônia.
- Iiii já tô vendo que
tem gente que tá toda interessada pelo tiozão. – retorquiu Júlia com todo o seu
veneno.
- Ai meu deus, me deixa
quieta, presta atenção aí na conversa.
A conversa parecia ser
mais uma vez sobre algum assunto político.
Carlos parecia ser mais uma vez o narrador central:
- Cara, esse é um
momento muito interessante. Toda hora surge um fenômeno inesperado, espontâneo.
- É, e da pra ver que
esse tipo... – tentou Beatriz começar algum tipo de raciocínio, porém foi
cortada bruscamente por Carlos.
- Tem que pegar essa galera
e dar alguma orientação pra eles. Eles precisam de um projeto político
concreto, se não pode ocorrer o mesmo risco das jornadas de junho, fica algo
com muito potencial, mas sem pauta, esvaziado de conteúdo.
- Mas talvez não seja
bem assim, por que tipo... – mais uma vez tentou Beatriz dizer alguma coisa,
mais uma vez foi interrompida por ele.
- Por que agora é
diferente – continuou dizendo Carlos – agora é a galera da periferia que tá
tocando no ponto central do capitalismo, tá invadindo o maior templo de consumo
deles. É uma questão de afirmação, tanto racial como enquanto classe social,
mas também não é só isso. Quando a galera cola no shopping, tem muitos que nem
estão abrindo, consequentemente está impedindo o consumo, está prejudicando o
lucro das empresas. Isso é genial!
- Beleza, Carlos, boto
muita fé no que você disse, mas acho... – começou a dizer Eduardo – que a gente
tem que tomar muito cuidado com esse lance de dar linha política e tal, da
questão do projeto político que você falou. Acho que realmente tem que ter um
projeto, mas a questão é construir ele coletivamente, sem hierarquias, se não
já vão começar a acusar a gente de vanguarda, farol da revolução e blá, blá,
blá.
- Pois é, era isso que
eu queria dizer se o Carlos não ficasse me interrompendo toda hora – disse
apressadamente Beatriz antes que fosse interrompida mais uma vez e finalizou o
seu comentário com um sorriso que parecia ser um misto de ironia com
frustração.
- É isso! – gritou de
repente Nicolas – É essa a tragédia de vocês pequeninos. Reparem. É nítido.
Vocês mesmos conseguem sentir isso. Proclamam a própria libertação e, ao mesmo
tempo, causam o próprio caos – Falava e gesticulava isso duma maneira tão
espantosa, tinha até se levantado da cadeira. Era como se estivesse conduzindo
uma orquestra, até lembrava Beethoven.
Aliás, os seus gestos eram tão bruscos com as mãos e os braços que isso
realmente fez com que seus cabelos se esvoaçassem, lembrando de fato a figura
do grande maestro.
- Vocês pequeninos,
vocês têm uma fórmula perfeita de mundo. Sabem exatamente como tudo deve ser,
mas não sabem como chegar até lá. Aliás, sabem sim. Basta ganhar a consciência
das pessoas, não é assim que dizem? Ganhar a consciência! E quando todos
estiverem esclarecidos assaltarão o Estado de uma vez. Para isso, é preciso
pegar em armas, não é? Claro, a revolução tem que ser sangrenta, qual não foi?
Mas aí vocês dirão: mas também não é assim. Existem as reformas, as reformas
também são importantes, tudo é um processo, um processo histórico, mesmo que
sejam graduais, elas são importantes para realidade concreta das pessoas, a
realidade material. Mas o que importa mesmo é tomar o Estado, não é,
pequeninos? A ditadura do proletariado, assim como foi na Comuna de Paris. Oh
meus pequeninos proletários bem vestidos! Mas tudo isso é só uma fase de
transição, não é mesmo? O mais importante é acabar com as classes, com a
exploração do homem pelo homem. Viva ao comunismo! Viva a perfeição! Não! Mas
não é assim, não é o fim da história, é somente o inicio dela, é o fim da
pré-história, não é assim que o velho barbudo dizia? Vocês se lembram dessa
frase dele? – Os jovens olhavam pra ele calados, atônitos, faziam apenas uns
minúsculos gestos de negação, mas todos com o olhar bem fixo em Nicolas para
ver onde tudo aquilo iria dar. As demais pessoas do bar também já começavam a
olhar pra ele por causa de toda aquela cena.
Nicolas então caiu na
cadeira soltando um suspiro como se fosse de decepção e continuou num tom muito
mais baixo e sereno:
- Oh pequeninos, mas
vocês não percebem a ação de vocês. Não vê como você é opressor com essa
garota, mesmo sem querer? – disse isso se dirigindo a Carlos – E toda essa
raiva meus queridos? Utilizam-na contra vocês mesmos e pelo visto devem
utilizar contra qualquer um que se coloca no caminho do seu projeto perfeito de
revolução. Afinal, quem é o inimigo? Se realmente é como o rapaz ali disse –
agora apontou para Eduardo – Se o caso é fazer uma construção coletiva, sem
hierarquias, não deveria então existir algum projeto pré-fabricado, a proposta
de vocês se anula em si mesma, percebem? E vocês, moças, combatem o machismo
dia após dia não é? E, de fato, devem
fazer, deu pra perceber o tanto que ele é presente no cotidiano, como o fato
aqui na mesa. Mas o que pretendem fazer? Ter um casamento monogâmico feliz? Com
lindas crianças com roupinhas limpinhas e bonitinhas? Sendo que todas elas vão
estudar nas melhores escolas particulares para poderem ingressar na faculdade
assim como vocês? Vão morar numa casa biossustentável dentro de um condomínio
fechado e perceber a cada dia que passar como a boa máscara de seus
companheiros, vai se esfacelando aos poucos, revelando o porco dominador e
violento que ele é que adora sempre te foder por trás?
Terminou todo esse
discurso parecendo estar exausto, corria muito suor de suas têmporas e sua
camisa também estava um pouco molhada. Mirou um lugar qualquer na rua com olhar
e se fechou numa expressão extremamente séria, praticamente impenetrável.
- Ai, vamo embora
daqui? – perguntou Júlia – Eu to morrendo de fome, vamo em algum lugar comer.
- Vamo, vamo sim, eu to
super laricado também – Respondeu Eduardo.
A maioria começou a se
levantar, parecia que todo aquele discurso de Nicolas tinha momentaneamente
cortado à embriaguez deles, estavam se preparando para pagar a conta, quando
notaram que Sônia continuava sentada.
- Ué Sônia, você não
vem? – perguntou Beatriz, mas a outra nem reagiu a pergunta.
De repente, Nicolas
retornou sua mente das sombras e vendo que os jovens estavam indo embora
parecia desesperado.
- Não meus queridos, me
perdoem. Às vezes o meu jeito afasta as pessoas mesmo, eu sei disso, mas, por
favor, não vão embora – Dizia tudo isso com as mãos juntas e cruzadas uma na
outra, parecia uma criança implorando algo pra mãe – Se ofendi vocês,
sinceramente me desculpem. Mas é que todas essas ideias, tudo isso que
discursei pra vocês, comecei a pensar sobre exatamente quando tinha a idade de
vocês, devia ser uma idade parecida com a de vocês. Fico pensando, se nessa
época minha cabeça produziu essas coisas, o que deve estar fermentando nessas
cabecinhas de vocês? Fiquem! Contem-me o que essas cabeças produzem,
compartilhem comigo, por favor.
- Não tio, pra gente já
deu. – respondeu Júlia – se não, você vai começar a dizer que nossas ideias são
contraditórias e não sei o que. – se dirigiram então em direção ao balcão para
poderem pagar a conta, mas deram apenas três passos e perceberam que Sônia
ainda continuava imóvel e calada na sua cadeira.
- Sônia, você não vem?
– perguntou Júlia.
- Não, to de boa. Pega esse dinheiro aqui, deve dar pra pagar a minha parte – e tirou da bolsa
uma quantia de dinheiro, estendeu o braço e entregou pra Júlia, mal olhando para
ela. Júlia então pegou o dinheiro, porém se abaixou e começou a cochichar no
ouvido de Sônia:
- Sônia, eu não
acredito que você vai ficar aqui com esse tio muito doido.
- Ai, eu não to com
fome, podem ir sem mim, qualquer coisa eu ligo pra vocês.
Júlia deu uma risada
inaudível e fez alguns gestos de negação com a cabeça e respondeu:
- Ou, você é muito
doida mesmo. Mas você é quem sabe, qualquer coisa liga pra gente então. – Se despediram
dando um beijo na bochecha de cada uma, os outros parecendo não acreditar se
despediram somente com um aceno de mão.
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Um comentário:
ORLANDO SERPIETRI
Ispettore Onorario del Ministero per i Beni e le Attività Culturali. Settore Arte Federitalia.
La invita a “seguire” il Blog dei “Cento Artisti per il Mondo”, non le costa nulla e puo farne parte con le sue idee, Opere, invenzioni, artigianato e scritti inerenti alla Cultura in generale.
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