Poucas atividades na vida nos dão a
dupla vantagem de crescer enquanto se faz o que gosta. De poder sentir-se
realizado, mesmo naquela ralação de não ter tempo para mais nada que a operação
a que se destina. Aquele tipo de aventura que te deixa todo ralado, estropiado
e feliz. Sim, feliz, porque não mediu esforços para fazer aquilo que ama e o
resultado será sempre satisfatório. O mesmo vale para quem gosta de trilhas,
rafting, longas viagens de moto e afins.
Assim sendo, de 30
de abril até ontem, 03 de Maio, estive na Flipiri – Festa Literária de
Pirenópolis, a sexta edição deste evento que traz para esta bucólica cidade o
mundo mágico das letras. Autores nacionais e internacionais, oficinas,
palestras, shows e tudo o mais que se tem direito em um festival destes. A resposta
do público foi imediata e o que vi nos dias que lá estive foi um sinal
inequívoco que, quando a arte se mostra acessível, as pessoas comparecem em
peso.
Então, por conta da saída atrasada, cheguei em Piri
somente à noite, mas no tempo certo para pegar a show de lançamento, da
parceira Isabella Rovo e a Camerata Caipira. A mistura perfeita de sons para
começar uma festa que começa a se tornar tradicional, em uma das mais
tradicionais cidades de Goiás.
Como não tinha mais
como montar o stand de noite, decidi ficar por ali e apreciar tudo com o tempo
livre que raramente tenho nestas ocasiões. Foi quando aproveitei a presença de
Ignácio de Loyola Brandão para aquela tietagem básica, pois não é todo dia que
se topa com alguém com toda essa bagagem literária (havia o encontrado na Feira
De Frankfurt de 2013, mas foi uma situação muito corrida). E a partir daí, comecei
uma aprendizagem em série, pois o ensinamento está nos olhos de quem o vê.
Por conta do
volume do som e da minha propensão a falar enrolado, levei-o a entender que meu
nome era “Luciano” (isso acontece frequentemente, a única variação é quando
entendem “Juliano”). Informado do nome certo, Ignácio, não titubeou: meteu uma
errata e arremeteu que era um autógrafo único, dono de uma retificação que
aumentava-lhe o crédito.
Achei aquilo tão
natural e simples, que aumentou-me a admiração pelo trabalho. Em tempo, ainda
não terminei de ler o livro, mas é excelente.
Meu próximo
estágio de crescimento nesta viagem foi a forma como fui recebido e tratado por
meus anfitriões, Marcos Lotufo e Edith. Marcão, como é mais conhecido, é um
guerreiro das artes, o baluarte da Officina Cultural Gepetto, que, junto com
sua esposa Edith, a europeia mais goiana que conheço, formam um dos casais mais
agradáveis para um bate papo, seja cultural, político (algo raro hoje em dia)
ou sobre amenidades da vida. Pessoas que te deixam à vontade com um simples bom
dia, que traduzem tranquilidade só pelo linguajar pausado e a forma de
demonstrar o carinho mútuo e respeito ao próximo.
Do tipo de
abnegados que conseguiram transferir aos filhos (que já repassam aos netos) a
ideia que na vida o importante são os valores pessoais e não os materiais; que
o crescimento vem de dentro e deve ser compartilhado, seja ajudando a carregar
uma simples sacola de supermercado, ou hospedando de surpresa três marmanjos de
procedências diversas quanto Goiânia,
Brasília ou Moçambique. Ótimo foi poder acompanhar as trocas de experiências
entre eles e Mahiriri Ossuka, de quem trato mais à frente.
O casal Lotufo e seus convidados |
Outra parte
importante nestas aventuras literárias é encontrar colegas autores,
reconhecidos ou não, amigos barnasianos, como Gláuber Vieira ou Sonnos, o sumido,
agora residente em Piri, podendo desta forma mostrar nosso trabalho em
conjunto, as antologias onde traduzimos o mundo em poemas, contos, crônicas e
afins... E junto poder levar as palavras de outros parceiros.
Giovani, eu e Nicholas Behr |
Com o stand
aberto pudemos perceber a receptividade do público ao trabalho feito por estes
construtores de mundos imaginários, prosadores que subvertem a realidade
vigente ou poetas que brincam com as significâncias ou significados, reafirmando
a verdade que teimam em esconder, que o Brasil é sim, um país de leitores, assim
como uma nação de autores, por mais que o mercado volte sempre sua face para os
produtos de filmes, jogos de vídeo games ou postulantes das listas dos “dez
mais”.
Descontraídas, eram verdadeiros bate papos onde relatamos o que passamos e aprendemos muito quando estávamos lá para ensinar, algo extremamente gratificante, que corrobora as palavras de Cora, de que “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”, tudo isso em parceria com autores como Alexandre Lobão e o mais recente barnasiano, Mahiriri Ossuka.. O show de declamação do poeta moçambicano foi algo que me deixou maravilhado.
Giovani, Mahiriri Ossuka e Alexandre Lobão |
Adriano Siri e Cristiano Deveras |
Por falar no
Ossuka, deixei-o para o final por um motivo básico: conversando com ele, tive
aquela nítida impressão que às vezes reclamo demais dos percalços pelos quais
passo nesta jornada. Afinal, não tenho que encomendar impressão de livros a
aproximadamente 2.300 km da minha cidade; sou circundado por gráficas e
editoras, algumas em meu próprio bairro e, por mais que às vezes reclame dos
preços dos livros em algumas estantes ou livrarias, a acessibilidade a eles é relativamente
fácil para mim.
Ainda lembro-me do
brilho em seus olhos, enquanto arrumava a pilha de livros recebidos de diversos
autores presentes ao evento (todos cativados por seu jeito espontâneo e o leve
sotaque aparentado com o lusitano), um tanto preocupado com o transporte dos volumes,
enquanto dizia, quase que para si:
─ Estes irão ajudar-nos muito com os miúdos...
Espero que
aquelas páginas transitem inúmeras vezes por infantis mãos africanas, enquanto
o mesmo processo multiplica-se aqui no Brasil.
É isso, ano que
tem mais Flipiri. Espero estar lá, de um lado ou do outro do balcão.
P.S. dia 15 de
Maio começa aqui em Goiânia a Galhofada Cultural, capitaneada pelo Almirante
Lotufo. Estaremos lá, com a mesma dedicação e livros. Muitos livros...
2 comentários:
Salve, Cristiano.
Parabéns pela batalha e obrigado pela generosidade de levar nossas obras.
E que venha a FLIP!!!
Abraços.
Wilson R.
Inesquecível o momento desta festa de troca de saberes e sabores literários.
Os detalhes guardamos em nossos bolsos de segredos que não se devem escrever, nem aqui. Talvez no Bar do Escritor, cujo garçon seria a Quinta Barnasiana.
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