quarta-feira, 2 de julho de 2014

A MENINA E A FLOR


A menina segurava a flor. O vento batia em seu cabelo ralo. Os pés no chão sentiam o frio da madrugada. Ela não passava de uma mancha na paisagem. As mãos ensanguentadas tremiam. Mas ela segurava a flor cada vez com mais força.
Começou a chorar. Chorou tão alto que os bichos da noite se esconderam na mata próxima. Ninguém passava por ali.
Lá atrás o carro da família ainda estava de cabeça para baixo.
A menina só queria mostrar a flor ao pai que dirigia. Uma distração. E a vida mudou o rumo.
Não restava carro, nem família, nem destino. Só a flor que agora já se desfazia com a ventania.
A menina ficou ali até o sol nascer. Sem consolo, tendo a solidão por companhia.
Ninguém veio ao seu socorro. Ela começou a andar. No horizonte o sol passou a brilhar alto. As sirenes da polícia não abalaram a menina, que simplesmente andou, andou, até secarem as lágrimas.
A flor se foi, o tempo passou e a menina virou mulher. Mora nas ruas, sem rumo. Se perdeu na rodovia e na vida.

*TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA "ANTOLOGIA TOMO IV DO BAR DO ESCRITOR"

2 comentários:

Carol Naiara disse...

Nossa que triste e bonito.Como uma pequena coisa pode mudar todo o rumo da vida não é mesmo?
Bjjj

andrea carvalho deca disse...

né? assim é a vida, cada curva uma nova história, um novo rumo. beijoooo