SEIO DE NATAL
As lembranças
Carinhosamente
chamada pelos amiguinhos mais próximos de Nat, Natália era para Natanael a
menina dos seus olhos, a sua grande paixão e verdadeira musa inspiradora, desde
os tempos de infância. Uma linda bonequinha, sempre recatada, tímida, e que,
hoje, ganhou formas esplendorosas, curvas inebriantes de bela e escultural
mulher.
Nunca
saiu da cabeça de Natanael todas aquelas divertidas brincadeiras com ela no
pátio da escola – esconde-esconde; pega-pega; beijo, abraço, aperto de mão;
cabra-cega; passa anel; - principalmente as trocas daqueles deliciosos pedaços
de doces e lanches no recreio; os beijinhos inocentes que ela dava melando o
seu rosto de chocolate, além, é claro, dos seus cabelinhos loiros encaracolados
deixando-a bem-parecida com um anjinho. E o fato de Natanael sentar-se ao seu
lado na sala de aula, nutria, fazia crescer ainda mais a sua admiração, o seu
amor pela Nat. Ah! Lembranças angelicais, encantadoras, que guardava na memória
por anos a fio.
O grande sonho
O
tempo foi passando, passando, os amiguinhos se formando e cada um seguindo o
seu próprio caminho. Mas, a paixão pela Nat não passou, muito pelo contrário,
só foi aumentando, aumentando, sem que ela nunca sequer tivesse percebido
qualquer coisa, já que Natanael cultivava por ela um gigantesco e, porque não
dizer, intrínseco amor platônico. Por isso, há anos, ele alimentava o grande
sonho da sua vida: o de passar uma inesquecível noite feliz perto da sua tão
querida Nat.
Os pensamentos
Todo
dia, toda hora, em todos os lugares, era assim: Natanael trabalhava, estudava,
malhava, dirigia, tudo o que fazia, fazia sempre pensando nela. Era Nat daqui,
Nat dali, enfim, o nome da sua amada retumbava em sua cabeça, não saia de jeito
nenhum do seu pensamento. E, ano após ano, toda vez que novembro despontava,
véspera dos preparativos para as Boas Festas, Natanael embalava ainda mais o
seu sonho e também os seus mais íntimos desejos espalhados e espelhados na
atmosfera cristã de presépios, do badalar incessante e tocante dos sinos de
Belém. – Esse ano tudo vai ser diferente, eu tenho certeza, pensava ele.
Passarei o Natal ao lado de quem eu realmente amo muito. Dessa vez, vou me
revelar. Ah! Se vou, completava ele.
O pedido de Natal
Seu
sentimento pela Nat era tão grande, mas tão grande, que Natanael parecia uma
criança carente esperando ansiosamente pela merenda escolar. Assim, não via a
hora do Papai-Noel chegar ao shopping da cidade para dar-lhe as boas-vindas,
aquele forte abraço e, ao mesmo tempo, de fazer o seu tão desejado pedido,
entregando-lhe em mãos a sua cartinha onde escrevera pedindo a Nat de presente
de Natal. Apesar do seu total envolvimento com aquele sentimento avassalador,
ao ponto de achar o seu pedido uma coisa comum, ele refletia: - O que
Papai-Noel vai pensar quando ler a minha cartinha? Qual será a sua reação?
Porém, como sempre se comportou muito bem, Natanael acreditava piamente que o
bom e velho Noel - um ser humano que era todo coração, iria fazer o impossível
do impossível para realizar o seu pedido.
Clima de festas
Nessa
época, o clima das festas de fim de ano já começava magicamente a iluminar
todos os cantos da cidade. As portas, vitrines, fachadas e jardins das
residências, lojas, empresas, enfim, as ruas e avenidas ganhavam, novamente,
todo o esplendor, toda a beleza e encanto das decorações natalinas: luzes
coloridas e pisca-piscas formando belíssimas imagens; papais-noéis
simpaticamente rechonchudos, sorridentes e barbudos; as renas e seu trenó;
guirlandas de flores, frutas ou ramagens representando prosperidade, evolução e
recomeço; sinos, duendes, anjos, árvores dos mais variados tamanhos enfeitadas
com bolas vermelhas, azuis, prateadas, douradas... Ah! E os tão esperados
presentes! Por falar em presente, numa noite dessas, Guilherme reuniu os seus
amigos de puerícia – Natanael, Drica, Heitor, Lara, João Pedro, Gabriela,
Johanes e Nat; e fez a todos um convite muito especial: desejava que estivessem
presentes em sua casa na noite de 24 de dezembro para o amigo-secreto e também
para comemorar a chegada do Natal com muita alegria, amor e saúde. Na mesma
hora, todos aceitaram, e rapidamente fizeram os papeizinhos com seus nomes para
o sorteio. Por obra do destino, sabe quem Natanael tirou? Nem precisa
responder, não é mesmo?
Para
ele, o seu tão desejado pedido de Natal estava próximo de se realizar, graças
ao convite de Guilherme e, principalmente, àquele resultado que só evidenciava
a sua tamanha sorte. Sem demonstrar qualquer sentimento ou reação exterior, por
dentro, Natanael estava esfuziante como ninguém.
A busca incessante
pelo presente de Nat
Por
vários dias, lá estava Natanael em busca pelo inusitado presente que daria à
sua tão amada amante, uma vez que se considerava muito mais do que simplesmente
o seu amigo-secreto. Na verdade, era ele o seu amante secreto. Ninguém da turma
sabia disso, muito menos Nat. Era um segredo guardado a sete chaves. Mas que,
uma hora ou outra, teria que ser revelado. E porque não no dia da revelação do
amigo-secreto?
Natanael
corria incansavelmente seus olhos pelas vitrines das lojas pesquisando algo que
não apenas surpreendesse, mas, sim, que, também, representasse tudo aquilo que
sempre sentiu em seu coração. Contudo, até então, nada de encontrar. Natanael
perguntava a si mesmo: - O que seria assim tão singular, único, que fizesse com
que os olhos de Nat ganhassem um brilho todo especial e passassem a olhar para
mim de uma forma diferente? Essa era a pergunta que não queria calar. E
Natanael continuava a sua via-sacra, batendo perna, pensando, matutando, sem
encontrar qualquer resposta. Até que numa noite quente da última semana de
novembro, lindamente enluarada e repleta de estrelas, uma delas, a cadente,
iluminou sua visão quando estava bem em frente a uma joalheria. – Achei,
pensava ele alegremente. Por que não pensei nisso antes? Uma jóia em forma de
estrela! Uma linda jóia para outra jóia! Não há mulher que resista!
Rapidamente
entrou na loja e comprou aquele belíssimo colar 18 k maciço que tinha como
pingente uma estrela de Davi trabalhada em ouro branco e amarelo, símbolo de
proteção ao seu grande amor. Um presente que, com certeza, iria agradar em
cheio, chamando a atenção e, quem sabe, conquistando o amor da sua pretendente.
O amigo-secreto
Enfim,
chegara o tão esperado dia D. Ou melhor, a noite D, carregando consigo um certo
ar de paz, tranqüilidade e romantismo. Presente muito bem escolhido e
embrulhadinho, lá vai Natanael, todo produzido e exalando um sedutor perfume
cítrico, rumo ao seu importante encontro natalino, assoviando alegremente
“Noite Feliz” para disfarçar sua ansiedade. Lá onde estaria toda a galera, onde
estaria também o seu pedido especial de Natal – Natália, a mulher da sua vida.
Chegando
à casa de Guilherme, iniciam-se os beijos e abraços emocionados entre os amigos
da turma. Quase todos já estavam ali, menos Nat. Natanael, pensando alto,
dispara: - E a Nat, ainda não chegou? Guilherme prontamente responde: - Até
agora, não! Parece que teve um problema com o carro e vai se atrasar!
Natanael
disfarça, abaixa a cabeça e fica pensativo andando pela sala. Passam-se quinze,
trinta, quarenta e cinco minutos, uma hora além do horário combinado para a
revelação e nada de Nat aparecer. Angustiado, ele acompanhava a corrida do seu
relógio. O tempo voava rapidamente e se aproximava cada vez mais da meia-noite,
quando Guilherme intercedeu: - Pessoal, infelizmente, terá que começar a
revelação do amigo-secreto. Quem tirou a Nat, depois se revela e entrega o
presente para ela, ok!
Subitamente,
o pacote que Natanael segurava firme e ansiosamente em sua mão cai ao chão
quando ele vê o seu sonho desmoronando. Seus olhos tristemente se fecham, seu
rosto franze, seu semblante apaga.
O
amigo-secreto começou a ser revelado, mesmo sem a presença da Nat. Os presentes
começaram a ser trocados e abertos como os inúmeros sorrisos de alegria, até
que, no final, Natanael sobrou, literalmente! Ele acabou não entregando nem
sequer recebendo o seu presente, revelando que, além de amigo-secreto de Nat,
por ironia, Nat também era a sua amiga-secreta. Que situação constrangedora!
De
repente, trimmmmmm, o telefone toca lá no canto, quebrando o silêncio que
acabara de se instalar naquele instante. Guilherme atende rapidinho! Era a Nat
justificando-se pelo atraso e avisando que logo, logo estaria chegando. Um
certo alívio torna a fisionomia de Natanael mais leve e alegre.
Passados
alguns minutos após o telefonema, Nat, maravilhosa como sempre, trajando um
lindo, estampado e decotado vestido de alcinha, chega ao encontro dos seus
amigos, de mãos vazias, após uma noite repleta de problemas. Pede desculpas a
todos e, principalmente, a Natanael, pois, devido às excessivas jornadas de
trabalho tinha deixado para a última hora a compra do seu presente e que, por
fim, acabou não fazendo por causa do acidente de trânsito em que se envolvera,
causando-lhe inúmeros transtornos.
Todo
receptivo, compreensivo, Natanael aproximou-se dela, deu-lhe um gostoso abraço
e também o seu presente, dizendo: - Estou muito contente por ter vindo, viu! E
também por estar tudo bem com você agora! Aliás, aqui está o meu presente de
amigo-secreto, espero que lhe traga muita proteção!
Nat,
completamente emocionada e com os olhos cheios d'água, pega aquele embrulho
caprichadinho, devolve fortemente o abraço a Natanael acompanhado de um beijo
longo e carinhoso em seu rosto, inclina-se para sentar-se no sofá e abrir, com
calma, o seu presente, quando, sem perceber, expõe, assim visceralmente, num
lento, provocativo e instigante movimento, toda a sua nua fartura peitoral,
deixando Natanael sem jeito, desorientado e sem graça!
Nat presenteia
Natanael de uma forma inesquecível.
E,
naquela noite feliz, o maior presente que ele poderia ter ganho de Nat
realmente foi a visão estonteante, delirante daquele bem modelado, rígido,
virginal e exuberante seio. Um inesquecível seio de natal.
Obs:
• SEIO DE NATAL, conto extraído do livro “Só Concursados – diVersos poemas, crônicas
e contos premiados” – 2010.
5 comentários:
Microcapitulos que encantam e seduzem, alem de uma conclusao fantastica. Nat, Natalino. Gera Genial!!!
Gostei dessa forma de apresentação. Que mulher inexquecível, hein? Caramba, que sujeito obsessivo! Mas foi premiado, ao final. E como! Texto leve e gostoso.
Obrigado, Ed e Cinthia... um formatinho diferente... e, sim, com uma certa leveza... Gracias pela leitura... Feliz Natal!
Já conhecia o conto por ter lido o livro do qual faz parte. Mas li-o novamente, sob o mesmo suspense da primeira vez. Fraseado fluente e sedutor, como o próprio envolvimento cheio de meandros do casal. Além de uma longa história de amor, nem tão incomum assim, o que importa é saber contá-la e fazer o leitor se envolver como cúmplice. Isto é a essência maior da prosa.
Deva
Valeu, Deva... Conto do livro já lido... bom que tenha gostado novamente... abração
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