terça-feira, 24 de dezembro de 2013

SEIO DE NATAL

SEIO DE NATAL

As lembranças
Carinhosamente chamada pelos amiguinhos mais próximos de Nat, Natália era para Natanael a menina dos seus olhos, a sua grande paixão e verdadeira musa inspiradora, desde os tempos de infância. Uma linda bonequinha, sempre recatada, tímida, e que, hoje, ganhou formas esplendorosas, curvas inebriantes de bela e escultural mulher.
Nunca saiu da cabeça de Natanael todas aquelas divertidas brincadeiras com ela no pátio da escola – esconde-esconde; pega-pega; beijo, abraço, aperto de mão; cabra-cega; passa anel; - principalmente as trocas daqueles deliciosos pedaços de doces e lanches no recreio; os beijinhos inocentes que ela dava melando o seu rosto de chocolate, além, é claro, dos seus cabelinhos loiros encaracolados deixando-a bem-parecida com um anjinho. E o fato de Natanael sentar-se ao seu lado na sala de aula, nutria, fazia crescer ainda mais a sua admiração, o seu amor pela Nat. Ah! Lembranças angelicais, encantadoras, que guardava na memória por anos a fio.

O grande sonho
O tempo foi passando, passando, os amiguinhos se formando e cada um seguindo o seu próprio caminho. Mas, a paixão pela Nat não passou, muito pelo contrário, só foi aumentando, aumentando, sem que ela nunca sequer tivesse percebido qualquer coisa, já que Natanael cultivava por ela um gigantesco e, porque não dizer, intrínseco amor platônico. Por isso, há anos, ele alimentava o grande sonho da sua vida: o de passar uma inesquecível noite feliz perto da sua tão querida Nat.

Os pensamentos
Todo dia, toda hora, em todos os lugares, era assim: Natanael trabalhava, estudava, malhava, dirigia, tudo o que fazia, fazia sempre pensando nela. Era Nat daqui, Nat dali, enfim, o nome da sua amada retumbava em sua cabeça, não saia de jeito nenhum do seu pensamento. E, ano após ano, toda vez que novembro despontava, véspera dos preparativos para as Boas Festas, Natanael embalava ainda mais o seu sonho e também os seus mais íntimos desejos espalhados e espelhados na atmosfera cristã de presépios, do badalar incessante e tocante dos sinos de Belém. – Esse ano tudo vai ser diferente, eu tenho certeza, pensava ele. Passarei o Natal ao lado de quem eu realmente amo muito. Dessa vez, vou me revelar. Ah! Se vou, completava ele.

O pedido de Natal
Seu sentimento pela Nat era tão grande, mas tão grande, que Natanael parecia uma criança carente esperando ansiosamente pela merenda escolar. Assim, não via a hora do Papai-Noel chegar ao shopping da cidade para dar-lhe as boas-vindas, aquele forte abraço e, ao mesmo tempo, de fazer o seu tão desejado pedido, entregando-lhe em mãos a sua cartinha onde escrevera pedindo a Nat de presente de Natal. Apesar do seu total envolvimento com aquele sentimento avassalador, ao ponto de achar o seu pedido uma coisa comum, ele refletia: - O que Papai-Noel vai pensar quando ler a minha cartinha? Qual será a sua reação? Porém, como sempre se comportou muito bem, Natanael acreditava piamente que o bom e velho Noel - um ser humano que era todo coração, iria fazer o impossível do impossível para realizar o seu pedido.

Clima de festas
Nessa época, o clima das festas de fim de ano já começava magicamente a iluminar todos os cantos da cidade. As portas, vitrines, fachadas e jardins das residências, lojas, empresas, enfim, as ruas e avenidas ganhavam, novamente, todo o esplendor, toda a beleza e encanto das decorações natalinas: luzes coloridas e pisca-piscas formando belíssimas imagens; papais-noéis simpaticamente rechonchudos, sorridentes e barbudos; as renas e seu trenó; guirlandas de flores, frutas ou ramagens representando prosperidade, evolução e recomeço; sinos, duendes, anjos, árvores dos mais variados tamanhos enfeitadas com bolas vermelhas, azuis, prateadas, douradas... Ah! E os tão esperados presentes! Por falar em presente, numa noite dessas, Guilherme reuniu os seus amigos de puerícia – Natanael, Drica, Heitor, Lara, João Pedro, Gabriela, Johanes e Nat; e fez a todos um convite muito especial: desejava que estivessem presentes em sua casa na noite de 24 de dezembro para o amigo-secreto e também para comemorar a chegada do Natal com muita alegria, amor e saúde. Na mesma hora, todos aceitaram, e rapidamente fizeram os papeizinhos com seus nomes para o sorteio. Por obra do destino, sabe quem Natanael tirou? Nem precisa responder, não é mesmo?
Para ele, o seu tão desejado pedido de Natal estava próximo de se realizar, graças ao convite de Guilherme e, principalmente, àquele resultado que só evidenciava a sua tamanha sorte. Sem demonstrar qualquer sentimento ou reação exterior, por dentro, Natanael estava esfuziante como ninguém.

A busca incessante pelo presente de Nat
Por vários dias, lá estava Natanael em busca pelo inusitado presente que daria à sua tão amada amante, uma vez que se considerava muito mais do que simplesmente o seu amigo-secreto. Na verdade, era ele o seu amante secreto. Ninguém da turma sabia disso, muito menos Nat. Era um segredo guardado a sete chaves. Mas que, uma hora ou outra, teria que ser revelado. E porque não no dia da revelação do amigo-secreto?
Natanael corria incansavelmente seus olhos pelas vitrines das lojas pesquisando algo que não apenas surpreendesse, mas, sim, que, também, representasse tudo aquilo que sempre sentiu em seu coração. Contudo, até então, nada de encontrar. Natanael perguntava a si mesmo: - O que seria assim tão singular, único, que fizesse com que os olhos de Nat ganhassem um brilho todo especial e passassem a olhar para mim de uma forma diferente? Essa era a pergunta que não queria calar. E Natanael continuava a sua via-sacra, batendo perna, pensando, matutando, sem encontrar qualquer resposta. Até que numa noite quente da última semana de novembro, lindamente enluarada e repleta de estrelas, uma delas, a cadente, iluminou sua visão quando estava bem em frente a uma joalheria. – Achei, pensava ele alegremente. Por que não pensei nisso antes? Uma jóia em forma de estrela! Uma linda jóia para outra jóia! Não há mulher que resista!
Rapidamente entrou na loja e comprou aquele belíssimo colar 18 k maciço que tinha como pingente uma estrela de Davi trabalhada em ouro branco e amarelo, símbolo de proteção ao seu grande amor. Um presente que, com certeza, iria agradar em cheio, chamando a atenção e, quem sabe, conquistando o amor da sua pretendente.

O amigo-secreto
Enfim, chegara o tão esperado dia D. Ou melhor, a noite D, carregando consigo um certo ar de paz, tranqüilidade e romantismo. Presente muito bem escolhido e embrulhadinho, lá vai Natanael, todo produzido e exalando um sedutor perfume cítrico, rumo ao seu importante encontro natalino, assoviando alegremente “Noite Feliz” para disfarçar sua ansiedade. Lá onde estaria toda a galera, onde estaria também o seu pedido especial de Natal – Natália, a mulher da sua vida.
Chegando à casa de Guilherme, iniciam-se os beijos e abraços emocionados entre os amigos da turma. Quase todos já estavam ali, menos Nat. Natanael, pensando alto, dispara: - E a Nat, ainda não chegou? Guilherme prontamente responde: - Até agora, não! Parece que teve um problema com o carro e vai se atrasar!
Natanael disfarça, abaixa a cabeça e fica pensativo andando pela sala. Passam-se quinze, trinta, quarenta e cinco minutos, uma hora além do horário combinado para a revelação e nada de Nat aparecer. Angustiado, ele acompanhava a corrida do seu relógio. O tempo voava rapidamente e se aproximava cada vez mais da meia-noite, quando Guilherme intercedeu: - Pessoal, infelizmente, terá que começar a revelação do amigo-secreto. Quem tirou a Nat, depois se revela e entrega o presente para ela, ok!
Subitamente, o pacote que Natanael segurava firme e ansiosamente em sua mão cai ao chão quando ele vê o seu sonho desmoronando. Seus olhos tristemente se fecham, seu rosto franze, seu semblante apaga.
O amigo-secreto começou a ser revelado, mesmo sem a presença da Nat. Os presentes começaram a ser trocados e abertos como os inúmeros sorrisos de alegria, até que, no final, Natanael sobrou, literalmente! Ele acabou não entregando nem sequer recebendo o seu presente, revelando que, além de amigo-secreto de Nat, por ironia, Nat também era a sua amiga-secreta. Que situação constrangedora!
De repente, trimmmmmm, o telefone toca lá no canto, quebrando o silêncio que acabara de se instalar naquele instante. Guilherme atende rapidinho! Era a Nat justificando-se pelo atraso e avisando que logo, logo estaria chegando. Um certo alívio torna a fisionomia de Natanael mais leve e alegre.
Passados alguns minutos após o telefonema, Nat, maravilhosa como sempre, trajando um lindo, estampado e decotado vestido de alcinha, chega ao encontro dos seus amigos, de mãos vazias, após uma noite repleta de problemas. Pede desculpas a todos e, principalmente, a Natanael, pois, devido às excessivas jornadas de trabalho tinha deixado para a última hora a compra do seu presente e que, por fim, acabou não fazendo por causa do acidente de trânsito em que se envolvera, causando-lhe inúmeros transtornos.
Todo receptivo, compreensivo, Natanael aproximou-se dela, deu-lhe um gostoso abraço e também o seu presente, dizendo: - Estou muito contente por ter vindo, viu! E também por estar tudo bem com você agora! Aliás, aqui está o meu presente de amigo-secreto, espero que lhe traga muita proteção!
Nat, completamente emocionada e com os olhos cheios d'água, pega aquele embrulho caprichadinho, devolve fortemente o abraço a Natanael acompanhado de um beijo longo e carinhoso em seu rosto, inclina-se para sentar-se no sofá e abrir, com calma, o seu presente, quando, sem perceber, expõe, assim visceralmente, num lento, provocativo e instigante movimento, toda a sua nua fartura peitoral, deixando Natanael sem jeito, desorientado e sem graça!

Nat presenteia Natanael de uma forma inesquecível.
E, naquela noite feliz, o maior presente que ele poderia ter ganho de Nat realmente foi a visão estonteante, delirante daquele bem modelado, rígido, virginal e exuberante seio. Um inesquecível seio de natal.



 Obs:

• SEIO DE NATAL, conto extraído do livro “Só Concursados – diVersos poemas, crônicas e contos premiados” – 2010. 

5 comentários:

edweinels disse...

Microcapitulos que encantam e seduzem, alem de uma conclusao fantastica. Nat, Natalino. Gera Genial!!!

Cinthia Kriemler disse...

Gostei dessa forma de apresentação. Que mulher inexquecível, hein? Caramba, que sujeito obsessivo! Mas foi premiado, ao final. E como! Texto leve e gostoso.

geraldo trombin disse...

Obrigado, Ed e Cinthia... um formatinho diferente... e, sim, com uma certa leveza... Gracias pela leitura... Feliz Natal!

Anônimo disse...

Já conhecia o conto por ter lido o livro do qual faz parte. Mas li-o novamente, sob o mesmo suspense da primeira vez. Fraseado fluente e sedutor, como o próprio envolvimento cheio de meandros do casal. Além de uma longa história de amor, nem tão incomum assim, o que importa é saber contá-la e fazer o leitor se envolver como cúmplice. Isto é a essência maior da prosa.

Deva

geraldo trombin disse...

Valeu, Deva... Conto do livro já lido... bom que tenha gostado novamente... abração