quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Tilt (Por Paulo Eduardo de Freitas)

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O corpo de Cecília era uma máquina tão finamente ajustada que promoveu uma “parada” quando da morte da última das células originalmente existentes em seu organismo desde o nascimento.

Foi durante a festa de aniversário de vinte e um anos. Pouco depois do SURPRESA! a pobre caiu de cara sobre a nega maluca enfeitadinha, e vários convidados saíram de lá convencidos de que fora uma reação puramente emocional.

Mas na vida de uma criatura pragmática como Cecília não havia espaço para emoções baratas. Ela sabia tratar-se de uma reação em cadeia oriunda do lóbulo frontal esquerdo, parte do cérebro onde longamente residiu a célula anciã.

Decidida, bem-resolvida e absoluta, tinha desde os dois anos de idade traçado o mapa da vida. Formar-se logo após o piripaque, dedicar-se exclusivamente à carreira até lá pelos trinta e tantos e a seguir entrar para a política.
No plano pessoal, os projetos incluíam casar aos quarenta e oito e meio, dar cria aos sessenta e cinco e morrer logo que as conexões sinápticas demonstrassem sinais de desgaste, ali pelos cento e nove ou cento e vinte anos.

É que as grandes capacidades de Cecília não se voltavam exclusivamente para seu interior. Sua eficientíssima malha de consciência expandida integrava-a ao todo, tornando-a célula do universo. Sua memória funcionava para dentro, para fora, e também para trás e para frente, bem ao gosto do pai do pequeno príncipe. Na verdade ia além.

Apenas como exemplo, que conste que em seu aniversário de vinte e um anos, Cecília só não havia ainda decidido os detalhes da vida pós-morte porque acreditava que cada momento é único, não se devendo existir de forma pré-estabelecida.
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Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

4 comentários:

Klotz disse...

Você andou bebendo de novo?

O conto ficou bom!

MPadilha disse...

Dar cria aos sessenta e cinco foi demais,rsss. Cara, hilário. Primeiro texto sério, com fundo fantástico, mas sério, rss
Gostei.

Anônimo disse...

A Cecília é um ser surpreendente.

Giovani Iemini disse...

meu sobrinho fala tilpt. hehehe.