Também queria divulgar o blog que criei no início do ano, com poesias visuais, contos, minicontos, pequenos relatos de viagens... Para conhecê-lo: www.prosaseviagens.blogspot.com
Guerreira, guardiã das estrelas.
Da linhagem das bruxas e das fadas.
Da linguagem do fogo e das águas.
Frágil tempestade arrastando nuvens.
Prisioneira ocasional de brumas escuras,
Esconde-se nas entranhas dos dragões
Fazendo dos raios, armadura.
E, dissolve-se em gotas
Que se estilhaçam nas vidraças.
Suas canções desbotaram
Nas praias desertas de sol,
Lançaram-se dos penhascos rochosos
Mergulhados no orvalho.
Imagem da web: Belona, de Rembrandt van Rijn (1633)
Os vidros fechados quase o impedem de ouvir o chiado das rodas deslizando sobre o asfalto molhado, o repenicar dos pingos da chuva fina (mas persistente) no vidro dianteiro. Entrevê apenas, através dos vidros respingados, tiras de vegetação rasteira, úmida, devorada quase toda pelas mansões do Park Way / e o empreendimento imobiliário se amplia, estendendo-se, cada vez mais, em direção a Valparaíso, a Luziânia, ao sítio que mantém pros lados de Cristalina, num entremeado de condomínios, cidades, cidadelas, assentamentos // desordem de casas casebres casarões, motéis postos de gasolina prédios ruínas /// súbito, uns resquícios de cerrado resistindo heroicamente aos avanços do homem e suas máquinas.
Que ninguém se iluda: não se trata de um ecologista — o ser ao volante apenas constata friamente esses rasgos no corpo do cerrado, sem que isso possa, no entanto, desviar-lhe a atenção, acelerar-lhe os batimentos cardíacos, inundar-lhe a alma de angústia e revolta. Com o mesmo olhar com que analisa um processo, registra agora essas alterações lentas e progressivas na paisagem. Tudo isso seria mesmo inevitável, sentencia: o crescimento populacional, a ausência de uma política habitacional séria, a esperteza de alguns vigaristas desaguando no mar da desordem, no loteamento desenfreado de cada palmo de terra nos arredores da Capital...
Mas que fastio pensar em tudo isso! Que perda de tempo se desgastar tentando encontrar solução para esse caos. No futuro, vaticina, tudo isso aqui será uma megalópole, de Planaltina a Luziânia, um mundo só. Talvez cheguem até o seu sítio, na ânsia de se juntarem também a Cristalina. Depois, premidos pela necessidade ou pela ganância, perguntar-se-ão com ar de desbravadores, — E por que não emendar com Paracatu?
Ah, como é difícil esvaziar a mente! A todo instante, assalta-o a imagem do tribunal, arrastando-o para o julgamento, para a reflexão. E ele aproveita essa ida ao sítio exatamente para se desvincular desse universo de leis e sentenças. Do conceito de certo e errado. Sentir-se livre, quase outro, é tudo o que almeja.
A chuva persiste. Persiste, também, a prudência, a falta de pressa de chegar ao sítio. Não fosse isso, nem teria notado a figura esguia de uma mulher pedindo carona, perto da entrada do Catetinho, protegida apenas por um pedaço de plástico. Devia estar com metade do corpo encharcada. Devia estar congelada sob aquelas roupas mínimas. Devia estar ali há horas tentando comover os carros.
Sempre se orgulhou de ser um homem prudente, incapaz de agir por impulso, daí quase não se reconhecer na súbita decisão de frear o carro e dar carona à mulher.
Contrai a barriga murcha, dando passagem à mão desvairada que busca, com a ponta dos dedos, tocar-lhe os pêlos pubianos, ralos, ásperos. Mas que sensação primordial essa de adivinhar pelo tato o vão úmido entre as coxas! E a mão vai deslizando com muito custo até tocar uma carne magra, grudada aos ossos, tão grudada aos ossos que parece não haver ali cavidade alguma. A mulher, incomodada com a pressão dos dedos, retira a mão que a escava abaixo do ventre em busca de reentrâncias, — Você está dirigindo, recrimina-o com uma voz inexpressiva, exausta, — Não tem problema, ele retruca, consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo, e tenta desabotoar-lhe a calça, procura avidamente por um zíper, mas a mulher retira-lhe novamente a mão trêmula, — Tô é com fome, moço, andei a noite toda. Só então ele se dá ao trabalho de observar atentamente a figura ao seu lado, muito diversa agora daquela que ele vislumbrou ao lado da pista sob a chuva rala (que persiste), uma ninfeta, pensou de chofre, a calça de cós baixo e o bustiê deixando à mostra uma barriguinha com piercing e tudo. Nota, no entanto, sua barriga magra, sem piercing, o rosto seco e a boca meio puxada para um lado, o olhar embaçado, denunciando uns resquícios de álcool ou droga, — O que você fez durante a noite pra ter andado tanto assim? A mulher se tranca numa frágil redoma de cansaço e tristeza, deixando escapar apenas um leve sorriso de deboche e mistério. Mas aos poucos, com enfado, vai revelando fragmentos da sua vida: mora no Jardim Ingá, com a mãe e o filho de dois anos, — Como você se chama? Hesita, como se revelar o nome fosse se desnudar ou se desarmar de vez, — Nara. Talvez nem seja o nome verdadeiro, mas, de qualquer forma, é um belo nome, — O que faz na vida? — Nada. Mente, deduz, deve fazer programa, sabe-se lá como, em que condições, com que espécie de gente. Agora, desvencilhando-se do desejo cego do início, ele, um quase-ministro do STF, um homem de notável saber jurídico e reputação ilibada, começa a sentir nojo ao imaginar que ela nem se lavou ainda, — Transou muito?, indaga, e ela continua a olhar para fora, deixando-se evadir para o interior da paisagem molhada, melancólica. Parece que falar rouba-lhe energia, esfacela sua pobre existência. Enfado e gelo. Seu corpo, então, se deixa violentar, permite que as mãos brancas e trêmulas rompam seus limites. Os dedos, grossos e lisos, tentam alcançar, por dentro do bustiê, seu peito murcho, — Me paga um lanche?, pede, impondo à voz um tom de sedução. A melodia dessa voz, ainda que mutilada pelo cansaço e pela fome, arrasta a presa para os seus labirintos. Ávido, o homem procura envolver, na concha da mão, os seios flácidos, mínimos. A mulher, embora esteja fraca, sem couraça, amplia os seus recursos: acaricia-lhe o rosto, despenteia-lhe os cabelos brancos e ralos. A razão, porém, começa a se impor novamente, restabelecendo a conexão entre os neurônios, plugando-se ao que ele considera sua fonte de sabedoria: os preceitos da justiça. Então vai parar numa lanchonete qualquer e correr o risco de deparar com um advogado conhecido? Mas meritíssimo, o senhor aqui, nesse fim de mundo?!, e no outro dia toda a magistratura estaria sabendo, todos os acólitos, toda a plebe, mas que alegria dos adversários, que farra pelos corredores dos tribunais (suspendam os julgamentos, suprimam os artigos, ignorem os acórdãos, os mandados de busca e apreensão, neguem habeas-corpus, todos os recursos, arquivem os processos), ih, o riso avassalador dos técnicos e analistas judiciários, o palavrório dos advogados nos debates públicos, transmitidos ao vivo pela TV, o promotor, ah, aquele promotorzinho que o odeia, um iniciante ávido para se expor na mídia, ah, canalha (homo homini lupus ), aqui tens o meu ser abatido, aviltado, destroce ainda mais a minha alma, arraste o meu nome para o lamaçal! — Quer que eu faça um boquete?, — O quê?!, ele deixa escapar num susto, — Um boquete, não sabe o que é isso? Começa a se sentir ridículo: que faz ali, escavacando aquela mulher sem eira nem beira? Ainda que estejam só os dois no interior do carro, sob o cerco da chuva rala, não pode furtar-se à pressão de uma consciência que não o abandonará jamais. Pode parar o carro e pedir que ela desça. Exigir que ela desça, se for preciso. Mas por que não o faz? Por que não lhe dá um pé na bunda ali mesmo, logo depois de Valparaíso? Como se estivesse adivinhando-lhe os pensamentos, a mulher desliza a mão sobre sua braguilha, despertando o que já estava quase adormecido. O incêndio, que parecia controlado, volta a se alastrar. Ainda não está livre do desejo insano, por isso lhe indaga com voz abafada, vacilante, — E você tem camisinha? — Não, ela responde lacônica, e, depois de um breve silêncio, pergunta, — será que posto de gasolina vende? Ah, então ele vai parar agora num posto de gasolina para comprar camisinha e correr o risco de ser surpreendido por um dos colegas de tribunal ( nos limites já do estado de Goiás!), logo aquele que anda de olho numa das vagas do STF, — Mas meu caríssimo, que fazes aqui a esta hora? e quem é aquela no carro? a tua filha? mas ela não se encontrava nos Estados Unidos? e continuaria a falar assim, uma interrogação após a outra, quase um inquérito inteiro, tentando minar o seu futuro, canalha!, e no outro dia toda a magistratura estaria sabendo, as manchetes dos jornais, sensacionalistas, arrastando a sua imagem de homem público, íntegro, ( e repete para si mesmo, de notável saber jurídico e reputação ilibada) para o lixo, ele, o mais cotado para assumir uma das vagas no STF, dono de um trabalho intelectual expressivo, voltado para o engrandecimento da justiça, para o bem do Estado, ad majorem Dei gloriam, e de repente o escândalo, o linchamento em praça pública, que chance lhe dariam de se defender? de justificar seu ato absurdo? os princípios da lei seriam suficientes para julgá-lo? Dura lex sed lex, parece ouvir a própria voz sentenciando, e Pôncio Pilatos, lavando mais uma vez as mãos, oferece-o enfim à sanha da multidão ignara, e a filha mais velha vindo de Nova York, acompanhada do noivo ianque, de cara rosada e gorda (um típico filho do Tio Sam), só para indagar-lhe atônita, — Mas pai, que loucura foi essa?! & as socialites, com as quais sua esposa sempre toma chá, joga gamão, promove eventos beneficentes, todas todas negando ( uma, duas, três vezes até) fazerem parte do círculo de amizade da sua família, e imagine ser surpreendido em plena felação, como aquele ator norte-americano ( ou inglês, não se recorda bem), acusado de atentado ao pudor ao ser pego fazendo sexo oral com uma prostituta (como é mesmo o nome dela? só se lembra de que era negra), um escândalo em escala mundial, a noiva dele, coitada, tão bonita e sofrendo tanto!, a esposa dele esvaindo-se em lágrimas, a filha vindo dos Estados Unidos (o noivo de cara gorda e rosada a tiracolo, sem entender bulhufas do que está acontecendo, — What’s the problem? ) só para lhe jogar na cara, — Mas pai, o senhor não pensou no mal que faria à sua família?, e a farra então nos corredores do tribunal, os jornais escancarando seu nome, com foto e tudo, jogando anos e anos de um laborioso trabalho intelectual no lixo, no esgoto.
Raiva e nojo. Todos os sentidos parecem funcionar agora. Há um cheiro forte, denso, quase irrespirável no interior do carro. Vê, nitidamente, os pés sujos, encardidos, de quem vagou a noite inteira em busca de nada, deixando marcas incriminadoras. Corpo seco, vazio. Olhar arrasado, sem sol. Quando chegar ao sítio, vai lavar as mãos milhares vezes, na ânsia de se livrar da presença desse ser na sua pele. Vontade de pedir que a mulher desça, mas, dominado ainda por sentimentos e sensações contraditórios, vacila: sente pena ( a chuva ainda persiste), sente raiva (nunca fez nada parecido assim na vida), sente medo (deseja tanto que nada dê errado, que é bem capaz de acontecer um acidente por puro escárnio do destino: o carro derrapar, sair da pista, bater numa árvore, e, no outro dia, os jornais estamparem: ACIDENTE DE CARRO MATA JUIZ E PROSTITUTA. Vexame para a família! Passaporte para o inferno!), sente vontade de escancarar os vidros e respirar ar puro, pois o interior do carro, embora o ar-condicionado esteja ligado, tornou-se sufocante. Parece faltar-lhe espaço. A vida, submetida assim a uma convivência tão estreita com o oposto, torna-se insuportável. Irrespirável! Mas, apesar de tudo isso, inexplicavelmente não se liberta do desejo, e arrasta-o ainda a vontade de bolinar na mulher, tocar de novo na sua vulva seca, hermética, fria, como se durante todo esse tempo estivesse tentando seduzir um cadáver. Contra todas as leis da prudência, decide: vai até o fim. E, apartado ainda do homem sensato que sempre foi, acelera o carro, ignorando a pista molhada, a irregularidade das construções, a melancolia da paisagem úmida e devastada.
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(Texto publicado, originalmente, na revista eletrônica Bestiário e no jornal Correio das Artes, na Paraíba)
Geraldo Lima é autor dos livros A noite dos vagalumes (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária, FCDF), Baque (contos, LGE Editora/FAC), Nuvem muda a todo instante (infantil, LGE Editora) e UM (romance, LGE Editora/FAC). A Editora Multifoco (http://grupomultifoco.com.br/tresporquatro) publicará seu livro de minicontos Tesselário. É autor das peças de teatro Error (encenada pela Oficia do Teatro de Periferia) e Trinta gatos e um cão envenenado (inédita).Tem textos publicados em jornais e revistas eletrônicas e impressas. Mantém o blog: www.baque-blogdogeraldolima.blogspot.com É colunista do blog O Bule: www.o-bule.blogspot.com
Lembro de um banquete leve para dois,
sabores sensitivos e afrodisíacos,
a malícia de nossas faces marcantes,
bocas provocantes e corpos quentes.
Nos trajávamos com fantasias,
desejoso a abracei intensamente,
o cheiro e calor me excitaram,
seus pêlos arrepiaram
enquanto te agarrei.
Mascarada e coberta deitou-se
em meu divã enquanto a analisava
para descobrir os encantos
um pequeno corpo libidinoso,
que lentamente se despia
provocando-me com seus lábios.
Na longa e extasiante noite
chocolates derretiam aos beijos,
nossas peles atritavam-se
e atingimos o apogeu do prazer.
Acabou-se tudo, mas lembrarei
Que essas são nossas memórias...
- Mensageiro Obscuro.
Abril/2008.
Foto: Foto romântica sem referências encontradas. Adquirida no Google Imagens.
Da série: A ODISSÉIA DE UM CIDADÃO COMUM NUM DIA COMUM.
IGUALDADE SIM, MAS COM ALGUNS LIMITES !
Os Shopings Centers são, hoje em dia, os locais de maior afirmação da presença do primeiro mundo.
Lojas muito bem estruturadas, oferecendo os produtos com os artifícios da imaginação capazes de convencer os passante a adquiri-los, mesmo que deles não necessitem; pátios de alimentação com orgulho de satisfazer , com razoáveis retribuições, os mais refinados paladares e, para as eventuais necessidades, instalações sanitárias com sofisticação operacional capaz de saber se o usuário já as liberou de sua utilização.
Esse local de apreciável ardor capitalista iguala os e as consumistas no afã de demonstrar atualização no que respeita a modas e costumes, pois, afinal, nele desembocam todas as tendências preconizadas pelos figurinistas nem sempre convictos das necessárias e inconfundíveis diferenças entre o masculino e o feminino.
O cenário acabou sendo o palco de meditações filosóficas sobre a igualdade.
Compareço, por necessidades fisiológicas às instalações sanitárias elogiadas em parágrafo anterior.
Porto um pacote de volume moderado resultante de compra recém efetuada por minha senhora, nesse mesmo momento usuária das dependências ainda destinadas ao sexo oposto.
Uma ligeira inspeção me confirma a suspeita da inexistência de local apropriado para colocar, temporariamente, o embrulho. No chão molhado, não sei de que, nem pensar !
Em virtude de a urgência começar a se fazer presente, com certa insistência, resolvo adequar o embrulho debaixo do braço mas logo reconheço que essa providencia não me libera a mão direita para outra atividade.
Equilibrar o incomodo pacote no cocuruto concluo não ser capaz com certo grau de segurança. A solução foi segura -lo com a mão esquerda.
Destino a mão direita, já que sou destro, `a missão mais nobre de conduzir a atividade principal do momento.
Com ela, procuro encontrar a braguilha da calça e me surpreendo com a sua inexistência. Com certeza, fruto do talhe moderno de dedicados estilistas.
Restava-me fazê-la descer mas, para tal, o cadarço que a ajusta `a cintura deveria ser afrouxado.
Pensa que e fácil desatar um nó com uma só das mãos? E, principalmente, quando há urgência ?
Situação difícil nos conduz a fazer certos milagres e desta feita a ansiedade conduziu a habilidade ao sucesso.
Baixada aparte frontal da vestimenta, inutilmente procuro a abertura da cueca. Não sei o porquê , mas, hoje, em nada difere das calcinhas a não ser pelo conteúdo.
Sou obrigado a fazer subir o sujeito da ação por sobre a borda da cueca tentando abaixá-la com apenas uma mão o suficiente para aponta-lo para o paciente mictório acremente perfumado.
Sucesso num primeiro e aliviante momento!
É evidente que os equilíbrios instáveis tendem a provocar mudanças bruscas e nem sempre esperadas.
O resultado é que o queixo e minha gravata foram aquinhoados com razoável quantidade de liquido caliente no momento em que a impertinente cueca resolveu voltar a sua posição normal.
Ainda bem que a platéia era constituída de apenas meia dúzia de gozadores que não puderam conter o riso, gratuitamente, por mim provocado.
O fato me leva a meditar se a globalização da igualdade não me obrigará a igualmente urinar, apenas, sentado!
Obs. O autor é pós graduado em Estudos de Problemas Brasileiros.
Odeio esses caras que só comem mulher bonita Ficam escolhendo Pensando A bunda dessa é caída Essa é gorda Aquela é magra Essa tem narigão Aquela tem cabelo ruim Essa não tem peito Aquela não tem bunda Todas têm defeito Quase todas são barangas Esse negócio de avaliar muito é coisa de mulherzinha Homem que é homem fode mulher feia Seleção natural porra nenhuma Eu quero é cuspir porra Esporrar Todo dia Quem pondera demais não mete em ninguém Quem avalia muito acaba virando viado Eu sou macho Só como mulher feia No mínimo uma por dia Sem dente Gorda Pixaim Adoro Gosto muito duma nega gorda desdentada Naomi Campbell Beyoncé Monica Bellucci Bárbara Mori Angelina Jolie Não quero De jeito nenhum Mulher bonita não sabe foder Dona bela é pra baitola Ontem matei o décimo segundo babaca selecionador dos muitos que vou matar Esqueci de falar Tive um sonho noites atrás Deus falava comigo: - Nada de seleção cultural. - As bonitas têm de sofrer. Ele disse: - Quando acordar vai ser pouco ter relações sexuais com uma mulher feia por dia até o fim da sua vida. - De agora em diante você vai matar um mauriceba escolhedor por dia. Obedeci Agora estou indo pro analista Procuro meu eu interior Na mala do meu carro tem um corpo Isso não é bom Foge ao meu estilo de desova natural Deixa pra lá Vou contar como matei um zé cu O mané tava pegando uma mulata deliciosa Pensei Bichaloca Coloquei minha máscara Minhas luvas Saí do meu carro Andei até os dois Saquei minha Remington Disparei Adoro armas velhas São como as mulheres feias Vendidas por um terço do valor Um patamar baixo Como eu dizia Dei um tiro perfurante no estômago do playboy Gosto de atirar no estômago e ficar vendo o sujeito morrendo Sofrendo Tiro no estômago mata por embolia Dá tempo deu explicar por que ele tá morrendo Gosto que o fulano entenda que tá fenecendo por fazer pouco de mulher feia Eu sou o equitativo Eu faço a minha parte nas excluídas da beleza cultural Sou o enviado de Deus em prol da salvação das mocreias sem picas Em viado pegador de gata eu meto bala Sem dó Nem piedade Lisura de procedimento Rectidão Esse é o meu destino na terra Depois que vi o otário morrer Reparei sua mulher olhando apavorada Ela me disse chorando: - Eu faço qualquer coisa, não me mate. Tive uma ereção e por isso atirei nela também Foi a primeira mulher que matei Não posso fraquejar Não como mulher bonita em hipótese alguma Atirei na testa Não queria explicar nada pra ela Daqui a pouco, meu analista vai enlouquecer. Contei pra ele do meu sonho com Deus Descrevi minha teoria da crueldade humana com o não belo Das sem pirocas E agora não basta eu só foder elas Deus mandou matar os homens que não copulam com mulher feia O analista não perguntou se já matei alguém Filho da puta Ficou ouvindo plácido Tudo bem Hoje ele vai saber Hoje ele vai morrer A mulher dele é protagonista da novela das oito Foi eleita uma das dez mulheres mais lindas do Brasil Estou bolando requintes Crueldades pra morte dele Antes tenho que me livrar do corpo da mulher na mala do carro Sim A carcaça dela está na mala O cadáver dos ditos-cujos que mato deixo no lugar onde caem Nem ligo pras investigações Não leio a repercussão Não sou vaidoso Sou Diplomata Não sinto culpa Papo pro meu analista Sociopata Ele deveria ter me dito isso Não disse O fato é Imunidades para Diplomatas estrangeiros existem desde a Antiguidade Esqueci de dizer que sou de El Salvador O menor país da América continental Nasci na cidade de Sonsonate Voltando aos meus privilégios Os embaixadores romanos eram considerados sagrados Sua violação constituía motivo para guerra justa Sei lá o que isso quer dizer Adoro “guerra justa” Na Idade Média as relações internacionais davam-se entre Chefes de Estado Ofender um embaixador significava ofender o Chefe de Estado Isso justifica as precauções da imunidade E sendo assim Foda-se todo o resto Mato mesmo Quer saber Depois eu penso no que fazer com o corpo da mala Meu carro tem placa azul Não podem guinchar um carro com placa azul, mesmo que ele esteja fechando uma via. Essa é minha guerra injusta Vou direto pro analista Hoje ele vai entender Salvem as barangas Não bata, coma!
Escarrou-me numa calçada, cão lambeu, proliferei bactéria grudada no olho alheio. Sigo sedenta por sapatos desatentos pra não secar no passeio público.