terça-feira, 26 de maio de 2015

Fazer Poesia

(a Manoel de Barros)

meu canto é atento
lento alento
do que leio em tudo
grito mudo
que tropeça
em traços e letras
é pena, formão e lira
que ocupa espaços
entre a invenção e a mentira

(em 19/05/14)

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Frase para começar um romance #5


Encarou o relógio de parede, o ponteiro pequeno chegando ao cinco, ponteiro grande querendo abandonar o nove, e sorriu pensando que ainda era cedo.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Matematicamente


Sempre se deu bem com números: somando investimentos, fazia as cifras se multiplicarem.

Em relação aos outros, subtraía; Nunca aprendeu a dividir.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Luz

Na sina da noite as corujas entrecortam com seu olhar gritante o silêncio do mundo, a expor verdades e mentiras ditas e não ditas da vida.
Das águas que bebem, das águas correntes, das águas que choram,
Das Rodas-moinhos, das chuvas que deságuam cheias de dó e
Dos oceanos de estrelas vertentes de amor,
Tidas nos transbordantes peitos e prantos dos poetas, profetas, sábios, loucos e outros.



Dos meus amigos sós a mandar SOS para deus
Que seus lamentos encontrem a cura,
Nas estradas da sabedoria ou da loucura,
Onde também transluz e aflora minhas palavras, que ressoam
Até os rincões do universo a parir vibrantes de elucides,
Como tiros de luz na escuridão dos olhos cegos,
Que obcecados procuram tatear o prazer
Fugindo errados da liberdade alada e do verdadeiro amor puro, este é quem procuro...

Minhas armas, entre partidas e chegadas, são elas, minhas palavras sabias alvoradas.
a navegar mares de livros, milhares de anos e luas de clara ação, nascida no sol das manhãs,
A poesia translúcida que vinda dos meus devaneios compostos de inspiração,
No olhar profundo de compaixão da minha alma aventurada,
Que sobe os degraus da evolução humana,
Em ideais e ideias alumiadas a vagar de encontro à realização e a felicidade.
A rosa dos ventos, dos erguidos conhecimentos a guiar minha paixão,
Conhecendo a luz dos tempos e lançando versos e cantos nas dimensões dos espaços onde ando
Meus passos percorrem e procuram os girassóis do céu de encanto onde
O amor é uma única e harmônica musica de paz entre todos.


                                          
                                           -  Joel Lavino Garcia da Luz

terça-feira, 19 de maio de 2015

Bye Bye, Brasil

Leozinho havia contado à sua família sobre sua decisão. Apenas seu comentário final não agradou a sua tia-avó e madrinha Eleonice: “Vou embora daqui para nunca mais voltar”. Leozinho se referia ao Brasil. O que Eleonice se perguntava era: “mas por que esse ressentimento todo? Afinal nosso país é tão lindo, não tem terremoto nem tsunami, o clima é maravilhoso...” – claro que isso era o que a madrinha de Leozinho achava. Já ele, mesmo com apenas 24 anos de idade, tinha suas razões para sentir o que sentia por seu país.
E foi através de uma pequena carta, escrita a caneta Bic, numa folha de caderno com linhas azuis, que Leozinho escreveu estas palavras e as entregou à sua mãe antes de embarcar no avião que o levaria para fora do Brasil. Assim Leozinho escreveu:

“Querida família,
Apesar de todo o meu amor por vocês, estou deixando o nosso país
Que hoje, já não amo mais
Toda a magia de criança se esvaiu
Como numa promessa vazia,
Uma após a outra, campanha após campanha
E a solução fica cada vez mais distante
Enquanto a favela vai inchando
A bala perdida pegando
A impunidade aumentando
Nossa, sem querer acabei rimando...
Ah, deixa pra lá
Vocês sabem que não sou poeta mesmo
Não vou mentir para vocês,
Nem para ninguém
Pois não quero tirar vantagem dos outros
Quero continuar tendo a mesma educação
Que aprendi com vocês, papai e mamãe
E pô-la em prática em um lugar que a valorize
Onde a oportunidade exista para o trabalhador
Onde os sonhos se tornem, de fato, realidade
Ou não – eu não sei!!!
Mas vou nessa do mesmo jeito,
Só para conferir
Até porque,
Não quero envelhecer aqui
Criticando o que até hoje
Nunca ninguém tentou sequer mudar
Rindo do que é para chorar
Se é para ser rico (e quero ser rico, viu papai e mamãe?)
Que seja num lugar menos desigual.
Acho que, sinceramente
Não me sentirei tão mal”

Ao final da carta, lida em voz alta para a família de Leozinho por sua mãe, Eleonice se viu emocionada. E, desta vez, deu toda a razão ao seu sobrinho-neto.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Jubileu

Ano de 2007. Sentou-se diante do computador em postura altiva, superior e preparou-se para digitar as primeiras linhas do seu romance. Caso acreditasse em Deus, estaria convencido que o toque do Criador o contemplara com um talento fabuloso. Era despeitado com críticas – no seu entender invejosas – aos seus trabalhos anteriores exibidos na grande rede. O tolo desconhecia que Deus nos brindava com um Rimbaud a cada cem milhões de nascimentos e, dada a seletividade divina, o resto da humanidade não abraçara a genialidade aos 20 anos de idade.
Nem um pretenso Deus muito menos os invejosos o atrapalhariam em seus planos de brilhar o universo das letras, pensava entre muxoxos banhados de desprezo. Manchou em tipos negros o virtual papel alvo que preenchia a tela com a expressão “A História de um Grande Presidente”. Sacudiu negativamente a cabeça. Um título demasiado simples para um livro candidato a  eternizar-se nos meios literários tupiniquins. Acionou a tecla “Del” e mandou “A História” paras os quintos dos infernos digitais, substituindo-a pela expressão “Revelações”.  Não gostou da sonoridade da palavra, considerando o título pobre sem atentar para o fato de faltar vocabulário no cemitério de idéias que era sua mente.
Buscou no dicionário eletrônico alojado no HD palavras bonitas para compor o título. Gastou cerca de uma hora pesquisando, juntando verbetes, amontoando expressões sem sentido para chegar ao rótulo definitivo de sua obra-prima. “Radiofotografia de Um Presidente” – escreveu desconhecendo todavia o significado da palavra a encabeçar o título. “Ficou bonito...” – sorriu triunfante.
Agora faltava o miolo, a alma do livro. Como ignorava que uma biografia, mesmo romanceada, tem a obrigação de se fiar na verdade dos fatos, inventou uma história inverossímil a respeito do biografado. Ávido, escreveu cerca de dez linhas para em breve estancar no deserto de criatividade a habitar sua caixa pensante.
Não se dando por vencido, enquanto tentava avançar em sua obra, alardeava em espaços virtuais suas façanhas sem comprovação como escritor laureado. Inventava prêmios recebidos, amigos escritores, gente famosa em seu rol de amizades. Tudo ruía ante a menor investigação, mas ele tanto mentia que passou a crer sinceramente em suas falsidades.
Estamos em 2057. Dezessete laudas da “Radiofotografia de Um Presidente”  foram compostas. Erros crassos de concordância e regência povoam a pretensa narrativa, equívocos ortográficos pululam o texto feito abelhas em torno de uma colmeia agredida.  Nada ali é aproveitável. Porém, o escritor, rosto carcomido pelas rugas, coluna antes ereta envergada para frente, castanha cabeleira pretérita agora embranquecida pela crueldade dos anos, ainda se engana. No jubileu de ouro de sua arrogância,  mirou a vista no título e exclamou “Sou um Gênio!” para em seguida dar prosseguimento a sua  triste e misantropa sina.


Poças de Mar

Nos teus olhos verdes,
Há duas pequenas poças de mar
Fora do oceano.

As águas são calmas,
E Netuno não é soberano.

Não preciso de vento
Nem de vela.

- Éolo que mande seus ventos
para outros cantos! -

Basta-me teu olhar,
Para neles seguir navegando.

André Espínola

sábado, 16 de maio de 2015

O pior



eis a mesa
as garrafas
o incensário
meus cotovelos
eis a janela
e o vento frio
do fim da tarde

um pardal entra voando
bate no teto
e nas paredes
e vai embora

eis minhas vísceras
assim expostas
dilaceradas
estranhas
eis minhas entranhas
eis o que arranha
minha pele
e a perfura
e não há cura

os desvalidos
solitários
alcoólatras
poetas da sarjeta
noturnos andarilhos
os mal-amados
suicidas
rejeitados
loucos
todos
todos
todos
são meus.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

TROVA (II)



Navego desde criança,
sem um porto onde ficar;
mas ainda tenho esperança 
de achar, um dia, meu lar.

***

sábado, 9 de maio de 2015

REBENTO


Por ser seu pai
Peço bênção rebento
Por ser pai
Peço perdão minha mãe
Por ser pai
Peço bênção meu pai
Por ser pai
Peço perdão desavença
Por ser pai
Peço bênção ao sol
Por ser pai
Peço perdão ao passado
Por ser pai
Peço bênção ao futuro
Por ser pai
Peço perdão à intolerância
Por ser pai
Peço bênção à vida
Por ser pai
Peço perdão à morte
Por ser pai
Peço bênção ao mar
Por ser pai
Peço perdão desamor
Por ser pai
Peço bênção sobrinha
Por ser pai
Peço perdão ao meu primo
Por ser pai
Peço bênção à boa irmã
Por ser pai
Peço perdão outra irmã
Por ser pai
Peço bênção ao útero
Por ser pai
Peço perdão à raiva
Por ser pai
Peço bênção ao choro verdadeiro do Guto
Por ser pai
Peço perdão ao perdão
Por ser seu pai
Bênção ao amor

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at www.pablotreuffar.com
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

quinta-feira, 7 de maio de 2015

À beira da queda


Um bom poema
te pega pela garganta já na primeira linha
subitamente, nas linhas seguintes, como um
boxeador costa-riquenho, te acerta mais dois golpes
a partir disso você se interessa pelo combate
limpa o canto da boca e se torna mais ligeiro e astuto

Seus olhos se fixam nas palavras, seguindo as linhas
e você continua a luta, as pupilas se dilatam
há eletricidade no ar e um zumbido surdo começa a ecoar
no oco de seu crânio, como se abelhas, trêmulas e inquietas
cantassem um novo hino, numa invisível colmeia
dependurada atrás de sua orelha esquerda

As palavras, como um valentão injusto, começam
a golpear, lhe arranham a goela como uma bebida forte e amarga
te acuando num desfiladeiro íngreme, sem saída, à beira da queda
te encurralando enquanto as imagens passam em frente aos seus olhos
como uma manada de animais selvagens fugindo do fim do mundo,
e é como uma febre intensa e você engole seco; são vertigens

Um bom poema
nunca te abandonará,
ele te perseguirá,
te impedirá de saltar a ponte,
de investir na Bolsa de Valores,
de se envolver com Deus

Você poderá morrer abraçado
a um bom poema
ele te guiará ao encontro de Caronte e te impedirá de,
durante a travessia, atirar seu corpo nas águas do rio
ou enfiar sua cabeça dentro do forno e respirar o gás
depois de escrever seu último verso na fria palma da mão

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Liberté, Egalité, Fraternité, Panelé Vameaux Baté


quer participar do panelaço em protesto aos mandos & desmandos da presidanta e seus petralhas amestrados mas não quer passar por pequeno-burguês ascendente de classe média emergente? quer batucar o utensílio da empregada com pompa e circunstância, estilo e glamour? quer causar frisson, ficar todo pimpão e bebericar seu chandon? chegaram as novíssimas Panelas Tramontana, com design arrojado, hastes em ouro 23 quilates, fabricadas na França sob encomenda. na próxima manifestação, mostre sua indignação. mas sem perder o savoir-faire nem o physique du rôle.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Tempo

Eu calço o sol

e voo no céu

na calma do tempo

dou alento ao léu

emano a alma de amor

careça aonde for

orbito na esperança

sutil como a temperança