sexta-feira, 26 de junho de 2015

Inefável

eu tenho um palpite
de como a geração "beat"
fazia poesia

com um "snif" no pó
ou tomando num gole só
a doidera
gera
o verso/vômito
galopar indômito
de imagens e sensações
caleidoscopicamente
na velocidade da luz
da alucinação
da ação
da mente/sonho
randômico
filmessequenciadeslides
a expor vaidades
e mitos
rito xamânico
a evocar o inefável

(em 23/05/2014)

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Ingrato


Vestiu o terno da indiferença, os óculos escuros do desprezo e subiu o vidro da intolerância.

Após realizar o ritual diário, rumou pelo meio daquela gente, que ele sempre desdenhou, para onde aquela mesma gente, que pagava seu salário, o colocou.

domingo, 21 de junho de 2015

In cwb













Luz dos pinheirais

Belíssima Curitiba

Gelada e solar


Imagem da web: neve em Curitiba no inverno de 1975.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Vai assistir notícia!

Você já ouviu alguma vez em sua vida uma frase do tipo: “larga mão de ficar vendo besteira na TV. Assiste um noticiário, que assim você se informa do que está acontecendo!” ou então: “Filme? Série de TV? Não, não assisto. Isso não leva a nada. Só vejo mesmo notícia, e para me manter informado!”. Se já ouviu algo parecido com isso antes e ficou sem resposta, aqui vai uma pitada de polêmica para você ver que não é bem assim como se diz...

Primeiro: isso é um papo velho e ultrapassado. Mas isso não impede que alguém, de pouca idade, venha até você e o censure por assistir os seus filmes e suas séries de TV favoritas; certamente essa pessoa não desfruta deste lazer, e quer destruir o seu. Pior: impondo que apenas ‘notícia’ vale a pena de se assistir, é que eu questiono estes cidadãos: a qual parte da notícia você se refere? Qual, ou mais precisamente, quais notícias valem mais a pena de assistir do que um filme (ou do que um episódio repetido de Friends)?

Bem, se optarmos por segmentar o que assistimos de notícias, estaremos dividindo-as por categorias, da mesma forma que aos gêneros de filmes. Exemplo: minha namorada prefere romance à comédia, então não é qualquer comédia que ela assiste. Já um romance... É, mas a notícia tradicional de TV ainda não nos dá essa escolha – tudo é jogado ali, à sua frente. É assim que é decretado o que é notícia; basicamente a mesma que está nos jornais, ou na internet... hum, quase ia me esquecendo que, na INTERNET podemos escolher o tema de nosso interesse – aí sim, justo, podemos selecionar ao que assistir de notícia, e não o que os jornalistas, ou melhor, os donos de emissoras, querem que a gente assista.

No meu caso, há um tipo de notícia que eu não apenas não gosto, como sinto náusea ao assistir: o noticiário político brasileiro. Prefiro, sinceramente, assistir a um filme B de terror italiano. Ou espanhol. Ou do leste europeu, sei lá. Com imagem ruim. Roteiro tosco. Sim, prefiro. Isso que estou para um terror B tanto quanto minha namorada está para uma comédia besteirol americana. Um pouco deprimente, não?

Outro argumento, para eu que sou fã de Star Wars (pode me chamar de nerd, vai!) é que nos filmes ou séries, podemos torcer para o mocinho e quase sempre conseguimos ver o vilão se ferrar no fim, exceto quando algum gênio da 7ª arte resolve imitar o que acontece na vida real - e aí temos Michael Haneke. Que, por sinal, pode ser uma indicação para esse camarada que “só vê notícia”. Um pouco de realidade nua e crua para esse cidadão. Que não precisa ficar atormentado após a sessão, não. É claro que filmes perturbam. Nos fazem pensar. Mas, se você inocentemente sentar à frente da sua TV e começar a ver o seu noticiário, metade do tempo que se propõe, falando de corrupção no Brasil, na FIFA, denúncia daqui, denúncia dali, suborno, propina, estelionato, desvio de verba... Pode ter certeza que isso sim é o que ATORMENTA. Não o filme do Haneke. Ou do Scorsese. O que se dirá de um mísero Star Wars?

Nossa, como eu queria ter um sabre de luz e desafiar todos esses bandidos que a notícia brasileira nos mostra. Queria ir para qualquer lugar, sei lá, poderia ser a Terra Média também (sim, gosto do Senhor dos Anéis – nerd ao quadrado!). Então, com todo o respeito que os jornalistas deste país merecem - afinal, temos muitos bons jornalistas aqui e no exterior - vamos mudar o foco um pouquinho? Falar mais de cinema, de teatro, de séries de TV? Pode ser até do Chaves. Tá valendo. É melhor rir do seu Madruga fugindo para pagar o aluguel do que assistir a um congresso inteiro que não se mexe. Ou falar mais de esportes, mas de preferência de outras modalidades que não o futebol – uma que futebol já é o assunto diário nas rodas de conversa do brasileiro, e outra por castigo, já que sua organização regente, a FIFA, está seguindo as mesmas ações da política brasileira: roubar, mentir e reinar. Não necessariamente nesta ordem...

Bem, caros leitores, paro por aqui. E que a força esteja com vocês!

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A Dívida

telefone soa. Atende no terceiro toque.
— Alô?
— A Soraia está?
— Tá na Igreja.
— Que horas aquela piranha volta?
— Mais respeito, dona! Quem tá falando é o marido dela.
— Então o senhor diz pra esta vagabunda me pagar o que deve! Não
trabalho na zona, pra ganhar dinheiro fácil!
— Te deve o quê?
— Noventa reais, pelas três fantasias.
— Que fantasias? Minha esposa detesta carnaval, é
crente! Você deve tá confundido minha mulher com outra
Soraia!
— É esse número mesmo! Quer me enrolar, seu filho da
puta? Quero meus noventa contos pelas fantasias de enfermeira,
polícial e estudante! Se essa vaca não me pagar até sexta, eu vou
na porta dela e armo um escândalo!
— Vai se fudê, mulher doida!
Desligou. Pensamentos atordoados zuniam em sua
cabeça. Foi ao quarto do casal. Por minutos revirou gavetas, vasculhou o armário e cantos suspeitos. Ouviu a chave da porta principal girar. Retornou à sala. Transpirava.
— Chegou cedo, querido.
— Onde você estava?
— Na igreja, onde mais?
— Na porra da sua igreja funciona escola, hospital ou delegacia?
— Quê?
Três facadas no peito. Uma por cada vestimenta erótica.

Ponteiro do Tempo


Vivo a escutar
O tic-tac
Do relógio do tempo.

Não há minuto nem segundo
No único ponteiro que é o vento.

E faz as nuvens andarem
Por caminhos que não sabemos.

Que dá vida ao mar
Tornando seu líquido violento.
 
Movimenta nas árvores
Os galhos finos
E
Secos.

E corre.

C                 e

    o          r
         r
       
Assanhando teus lindos cabelos.

André Espínola

(Poesia presente no Ebook "Apenas Cinco Minutos")

terça-feira, 16 de junho de 2015

Tarado anti-modernista

Cachaça com bíter me deixa tarado
não entendo poemas modernistas
nunca fui nem quis ser avant-garde
numa estética primitiva e minimalista

Cachaça com bíter me deixa tarado
note o volume em minhas calças
não sei tocar nenhum vaudeville
nunca gostei da nouvelle vague

Cachaça com bíter me deixa tarado
fico afiado
sou velho
mas ainda sirvo pra montaria
só ando armado
e tenho boa pontaria.

domingo, 14 de junho de 2015

COLUNA: TROVAS DE EDWEINE LOUREIRO

Amigos, a partir deste mês, publicarei minhas trovas neste espaço poético.
Grande abraço do Japão a todos.

Edweine Loureiro


terça-feira, 9 de junho de 2015

À DERIVA


Procuro ser o que não sou
O mundo projeta minhas ilusões de felicidade
Tenho o meu querer
Sei o meu querer
Não!
Óbvio que não!
Meu mundo interno cheio de projeções megalomaníacas e egocêntricas desiste de mim enquanto alma e canaliza-me no desejo da minha libido doentia e viciada
A sexualidade segrega minha vida da poesia
Sou um ser sem alma
Vazio
À deriva em um oceano sexual

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at www.pablotreuffar.com
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

domingo, 7 de junho de 2015

Um Cisco nos olhos - parte I



Apertou no peito o bilhete amassado. Arremessou a bituca de cigarro, colocou as mãos no bolso e aninhou com os ombros a mochila nas costas. Olhou os carros que passavam rápidos na Avenida, nem sinal do ônibus. A passagem custa R$3,10. Amanhã, vai tentar mais empresas, vai enfrentar mais entrevistas, vai ser testado novamente. Vai buscar um emprego. Como um boi no matadouro, como um porco sendo castrado.
Eram dez horas da noite e tem fome. Em sua casa há apenas alguns pães, já duros, e um pacote de macarrão. Mas não tem molho e pensa em fazer o macarrão com um tablete de caldo de carne. Sabor churrasco.
Estava contrariado pela derrota que sofrera no bar do Ramiro. Não havia resistido à tentação e passou no bar pra beber uma pinga, bebeu duas e desafiou o Ramiro pra uma melhor de três. Perdeu as duas primeiras partidas e jogaram a terceira só de sarro. Estúpido, pensara que pudesse vencer Ramiro e sair com mais dez reais da banca e ainda beber outra pinga. Foi tolo, como se aposta dinheiro com o dono do bar, o dono da mesa? Imbecil.
Perdeu dez reais.
Tanto dinheiro pra quem tem fome.
Dentro do ônibus, os passageiros calados, quietos. O ônibus está vazio. O terminal de desembargue ao contrario já está lotado, pessoas andando rápido, crianças de colo, senhores idosos e jovens voltando da escola. Todos esperando o ônibus que os levarão aos seus bairros, às suas casas. Um cheiro de pipoca, de sanduíche, de carne fritando se mistura no ar.  O gosto da gordura lhe vem à boca. Lembra-se da sensação de ter seus dentes rasgando um naco de carne. Há quanto tempo não come um pedaço de carne? O estômago começa a doer. É como se o socassem por dentro, forte, como se um boxeador o golpeasse o baixo ventre e o baço. A cachaça pegou em cheio suas entranhas e ácidos intestinais e os revirou como fazem com o lixo os moradores de rua, sobrando somente um chorume que, como um cachorro sobre a carniça, lhe devorava por dentro.
As tevês do terminal estavam sintonizadas em um telejornal e a todo momento surgiam, entre as falas dos repórteres, rostos de homens, com seus nomes e números com muitos zeros logo abaixo de suas caras. Seus rostos surgiam na tela, imensos. Eram os políticos da tal lista de corrupção. Uns caras começaram a falar sobre aquela merda toda ao seu lado e quando percebeu que poderiam puxar assunto, colocou os fones no ouvido. Mas não ligou a música no celular. Continuou a ouvir os homens agora protegido pela barreira dos headfones e seguro de que não lhe dirigiriam a palavra.
Listas de nomes. Isso o lembrou do dia fatídico em que seu nome surgiu na lista de demissões do canteiro de obras, numa bela manhã de sol. Inesperadamente. Chegou ao canteiro e um amigo o olhou de forma estranha, outros dois vieram lhe cumprimentar sérios. “Que foi mermão?“. Seu nome estava no fim da primeira folha, das duas pregadas na porta do almoxarifado. Francisco Rocha, e em seguida seu RG. O encarregado das finanças disse que a obra estava em conclusão e que decidiram cortar custos. Ganharia todos os direitos e o aviso prévio também seria pago.
Esse foi um bom período, bons meses. Ralava muito é verdade, mas tinha sua grana, tinha amigos, tinha uns chapas. E a grana era até boa. Dava pra sair no fim de semana, pagar umas cervejas para as meninas. Beber uns destilados dos bons. E a amizade entre os caras era firmeza. Às vezes, rolava uns empréstimos, quem ainda tinha algum dinheiro no fim do mês, segurava as brejas e as sinucas dos sem grana. No dia do pagamento era como o canto do galo, logo pela manhã, certeiro. Quem devia já passava o dinheiro vivo na mão do credor. Agradecia o empréstimo e se dispunha a ajudar caso o outro precisasse. Era como um acordo no fio do bigode, na palavra. Havia uma justeza entre aqueles homens. E quem não cumpria recebia a represália dos demais. “dá mancada não mermão“.
Ele gostava desses códigos, dessa confiança e camaradagem implícita. Era o segundo emprego dele na cidade, e começava a se interessar pela construção, pelo avanço colossal de uma obra, pela ideia de que suas mãos ergueriam tanto aço e concreto rumo ao céu infinito, modificando violentamente a paisagem. Observava também que muito dinheiro circulava ali, que os donos eram muito ricos, que andavam em carrões novos, que as contas e os gastos eram todos na casa dos milhões e isso o agradava, estar próximo de dinheiro. Começou a pensar que podia se tornar um encarregado ou um motorista de guindaste talvez, porque os motoristas não carregavam peso e ficavam boa parte do tempo, muitas horas do dia escorados em alguma sombra aguardando as ordens para subirem nas cabines das altíssimas máquinas e trabalharem sentados, enquanto ele, como servente só parava pra tirar o suor da testa. E os motoristas de guindaste por mais que trabalhassem, mantinham suas roupas muito mais limpas. Isso também o interessava.
Mas nada disso aconteceu, foi demitido, recebeu todo o seu acerto, alguns mil reais e os consumiu rapidamente em alguns meses, procurando outro emprego. Nos últimos tempos havia feito um bico num restaurante em troca do almoço, lavando as louças e todo o piso do salão, depois das três da tarde, quando fechavam a cozinha. Que se lembre, foi lá que mordeu pela última vez algo que se possa chamar de carne.
Seus dentes doíam, era a fome. Tinha que sair do terminal de embargue logo, o cheiro dos sabores da comida, e as lembranças ruins, o corroíam o estômago. Ter fome dói.


Merda de ônibus que não chega.

_ continua

sábado, 6 de junho de 2015

Mad Max Fury Road, crítica boca suja do cinéfilo desbocado


tá ok. tem a galera que acha que os anos 80 foram do caralho porque neles surgiu uma puta cultura pop inimitável e irrepetível; tem a galera mais xiita que xinga, roga praga e deseja ardentemente que quem ousa reproduzir qualquer 'clássico' dos 80 passe a eternidade a arder no mármore cinza-corumbá do inferno ao som de uma banda misto de fresno e restart, com pitadas ch-tum ch-tum ch-tum de david gueta. não sou desses. penso que os anos 80 - como os 40, 50, 60, 70 e tal - pariu muitos filhos geniais e muitos bichos-de-goiba. vi, baixei, revi, revi, revi de novo a trilogia mad max; cada qual, descontada a carga tosca ou cult - a depender do gosto do freguês, com seu nível singular de fodeza (sou da banda cult e curto pacas o the cult, embora a crítica da revista bizz/showbizz sempre tenha feito a maldosa questão de incluí-los no mesmo balaio de guns'n'roses e skid row). bom, vamos ao que interessa: o mad max da foto. tá, ok, beleza, não tem mel gibson nem tina turner. tá certo, tem efeito especial pra homem-aranha nenhum botar defeito. aos amigos de meia-idade: aquelas caralhas de óculos 3D também me dão enjoo. mas, na boa véi, é um puta filme bom pra caralho! o cenário desértico tá lá; o visual a la tank girl também; os veículos, os personagens punk-rock, as perseguições, tá tudo lá. de quebra, ainda puseram um carro com tambores e um guitarrista heavy metal dedilhando uma guitarra-lança-chamas. há quem diga que transformaram o clássico dos 80 num reles blockbuster. concordo. mas uma coisa é certa: blockbuster ou clássico ou filme cult ou a porra da caralha da buceta do que seja, o filme é bom pra caralho e me diverti à beça. é isso. ponto. ponto final. falomaisnada. cabô.