terça-feira, 30 de outubro de 2012

convidado Cedenir Haas

Sentidos

Acordei sentindo o cheiro
de tinta da casa ao lado.
Olhos abertos, semiacordado,
espumo o travesseiro
que me espanta com seus gritos
(aquele ganso morto masoquista)
enquanto o ovo do sol 
anuncia o novo dia:
um céu azul sem sonhos.

Do lado de lá das pálpebras,
o mundo não é nada.


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Cedenir Haas

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Vida em nossas mãos

Viver a vida é tempo ganho,
saber viver é arte pura.
Sofrer à toa é inumano,
na certa é dose de loucura.

A gente vive se anulando,
doente sempre sem a cura.
E a vida segue, no entanto,
independente da postura.

Pois tome as rédeas da sua vida,
porque ela é curta e tão sofrida.
A hora é agora, a decisão:

Não perca o prumo, vá em frente,
que a vida passa de repente
e gera mágoa ao coração.

(Um "das antigas", encontrado numa pasta esquecida, escrito em 04/11/2008)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Converta-se!



“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião” (Raul Seixas)

As redes sociais estão interferindo nos espetáculos da mídia de massa. Refiro-me aos programas de televisão com grandes pontos de audiência. Os programas atacados pelas redes sociais estão censurando indiretamente o status “no que você está pensando?”. 

De uma forma cognitiva, mexem com sensibilidade dos usuários de internet: segurança e privacidade. Ao entrar numa rede, todos são obrigados a concordarem com os “termos de uso”, e se não concordarem não abrem a conta, muito simples. Muitas pessoas se entregam de corpo e alma ao domínio público e aos proprietários dos sistemas, elas sabem o que estão fazendo, assim eu creio. 
O que acho terrível dentro da sociedade da informação é a tentativa de imbecilização da mídia tradicional, que está caindo de madura.
Estamos vivendo uma metamorfose de idéias, pensamentos, opiniões. Somos a própria convergência digital. Mas ainda precisamos levar palmadas, só que não!

Monotonia

Se o que é reto for muito longo
muito mesmo
sem nenhuma nuance
se tornará eterno
e chato.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Esplendor


A sala era divida em quatro blocos, que, por sua vez, eram divididos em quatro cubículos. Apenas a sala do chefe, separada da outra, tinha janelas - que de nada adiantavam, uma vez que não se abriam e que eram cobertas por uma película escura. Aqueles tantos cúbiculos estavam todos ocupados, com exceção de um: discutiu com o chefe e pediu demissão, não aguentava mais.

Dizem que foi porque um dia teve que sair um pouco mais cedo, para levar o filho ao dentista, e, só então, depois de anos, reparou que o mundo não era cinza como na hora em que saia de casa ou na hora em que voltava.

No dia seguinte, com um sorriso reluzente, comentou com os colegas:

- O mundo é amarelo!







texto do livro Colcha de Retalhos

sábado, 20 de outubro de 2012

convidada Belén Greece

50 RAZONES PARA AMARTE


Porque siempre estás cuando se te necesita.
Por tu corazón tan generoso.
Porque nunca falta un palabra de ánimo.
Porque nunca me dejas desfallecer.
Porque haces de cada momento el más especial.
Porque iluminas mi mirada con solo pensarte
Porque eres mi cómplice.
Porque pensar en ti me da la vida.
Porque mi madre aún te debe una receta.
Porque en cinco años nunca me has fallado.
Porque sueño contigo cada noche.
Porque me gusta dormir abrazado a ti.
Porque cuando me acaricias siento un escalofrió recorrer todo mi cuerpo.
Porque haces de mis problemas los tuyos propios.
Porque a tu lado, mi mundo es perfecto.
Porque cada recuerdo tuyo es un recuerdo feliz.
Por el calor de tus abrazos.
Por la dulzura y sabor de tus besos.
Porque haces de nuestra relación algo mágico.
Por tu compañía impagable.
Por tu amor desinteresado.
Por el sentimiento de tus lágrimas.
Por el resplandor de tu sonrisa.
Porque das sentido a mi vida.
Porque me haces volar en la tierra.
Porque eres mi compi de camino.
Porque nunca me falta tu mano.
Por nuestras interminables charlas en el sofá.
Por enseñarme a sentir.
Porque nunca me has abandonado, pese a tener motivos para ello.
Por quererme como soy.
Por soportar todos mis defectos.
Por tu apoyo incondicional.
Por darle sentido a mi vida con tu regreso.
Por regalarme un donuts.
Por enseñarme a expresar sentimientos.
Por tener el blog más bonito que he visto.
Por dejarme escribir en él.
Por darme la oportunidad de disfrutarte.
Por dejarme esta a tu lado.
Por dejarme quererte.
Por hacerme sonreír cada día.
Por aquella preciosa postal de cumpleaños que me enviaste.
Por hacerme tocar el cielo al escuchar tu voz.
Porque necesito cada día que esa letra verde me diga que me tengo que mover.
Por esa comida juntos tan maravillosa.
Por el olor de tu pelo.
Por el tacto de tus manos.
Y porque te quiero, no por lo que eres, sino por quien soy cuando estoy contigo.

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Belén Greece

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Somniu


              https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQb9MW9eKqi8wKd34sxAUMt7LvW4kPbrxQV8ChZOBRkrpfw3otzhm1gczUjruCzOo9CXsouDa5VY8Cj_mnIixso581SSW2Xry92RYNs6tLe_DH4FZ0BcMm5qLdC0bGSRfiJccP/s1600/sonho.jpg

Ainda era madrugada quando ele me tomou por assalto. Onírico, lançou seu corpo sobre o meu, dormiu em mim, contou-me de vulcões e trigais, roçou-me a língua da inverdade. Abandonou-me. Acordei solitária. Manhã azul, anunciação de Sol.

Sendo assim, fiquei dividida. Metade pétala, metade vento.

Porta entreaberta. Algumas gotas ainda brilhavam sobre o assoalho branco-fosco da primeira sala. Seus passos, ainda mornos, mergulhavam naquela imensidão azul que cantava lá fora. Deixei meus olhos sentarem. E me re-dividi: Um quarto de tristeza, um quarto de vulcão, um quarto de andor, um quarto de descrença.
Dois dedos de café com leite e canela.

Na cabeça ecoava alguma coisa de gratidão. Alguma coisa de certeza. Alguma coisa de dor. Algumas palavras entaladas de faringe abaixo. Anulações.

Só teu sorriso ainda cantava desperto no meu travesseiro.

Fui duas, dez, mil vezes ao teu encontro, e em todas, tu me lambeste e pediste pra que eu ficasse. Eu tonta, sentava em teu colo, tu me dizias palavras bonitas: “Tudo é possível, em breve, acredite, estarei com você”.

Até que a última cortina cerrou no fim do último ato.
Não lançaram flores, recém beijadas, ao meu encontro.
Ninguém aplaudiu.
Ninguém secou aquela lágrima salgada que correu serena até os teus pés.
Nem mesmo tu.

Ingrato.

Tu a quem devotei minhas noites mais mansas e as mais quentes. Tu, que amamentei, ninei, aconcheguei e embalei como a um filho.

Foste, e nem me deixaste bilhetes. Só cacos.
Cacos imateriais que machucam mais que farpas de vidro.

Fiquei.
Partistes.

Adeus, Sonho.

(Jessiely Soares)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O que o vento não conseguiu levar


Mario Quintana
Quando ainda estava no colégio não compreendia muito bem o que aqueles poemas todos que aprendíamos na matéria de literatura diziam. Talvez pela falta de interesse, talvez por falta de competência da profe
ssora. Nessa época nunca me apaixonei por nenhum poeta, daqueles que te fazem suspirar com seus poemas.
Durante muito tempo acreditei que a poesia era para as aulas de literatura ou para grandes estudiosos. Felizmente depois de algum tempo, tive a oportunidade de conhecer os poemas de Mario Quintana. E me descobri uma apaixonada sem medidas. Em cada palavra dita por ele, podia enxergar uma parte de algo que acontecia em minha vida.
Dentro de cada poema uma nova descoberta para o aumento de uma paixão. Entre passarinhos e ventos Quintana sempre me mostrou caminhos da vida, amores perdidos, sonhos realizados. Teve uma infância difícil, foi um menino azul por traz das vidraças. 
Saber que a dele foi assim, deu-me mais alegrias de quanto divina a minha foi, sempre brinquei com minhas amigas, montei sonhos com minhas Barbies e sempre interagi com pessoas. Quintana não, durante muito tempo seus únicos amigos foram cadernos e lápis, onde criou obras primas da literatura, soube genialmente passar por seus problemas e aproveita-los para produzir.
Já na adolescência remédios foram suas maiores inspirações, pois durante muito tempo trabalhou na farmácia do seu pai. Um gaúcho com gostos parecidos com os meus, adorador de quindim e café, assim como eu. Sempre com seu jeito excêntrico de ser.
Meu maior lamento, não ter me apaixonado por ele enquanto ainda era vivo, pois assim poderia ter o conhecido e provavelmente teria ficado sem palavras diante da genialidade de um poeta que não foi aceito na Academia Brasileira de Letras, mas se consagrou muito mais grandemente que muitos que lá tiveram. Afinal, eles passarão.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ruídos de um silêncio sobre luzes imaginárias


cacos violeta de um caleidoscópio
ecos, reflexos, cacos
giros violeta de todas as cores

de repente a visão, mas não há imagem
e o que eu supunha indelével
eram apenas pegadas em tempestade de areia
apenas o início do precipício
um lapso negro
do dia mais brilhante
do que eu previra primavera

há momentos em que a estrada escapa-me dos pés
como se engolisse o olhar de aves migratórias fora de seu rumo
em rotas tortas que indeferem sentidos
como o decidir a revoada dos dedos que seguram as asas em silêncio
a calar sobre costas que pesam cem milhões de lembranças

de repente a visão, não a imagem
há momentos assim
impregnados da descoberta da verdade doída da ilusão
de se palpar o irreal
de se enxergar o que não há
mas há
assim

(Celso Mendes)

sábado, 13 de outubro de 2012

A ressaca

Era domingo de Carnaval.
Levantou meio zonzo e foi até a cozinha. Na gaveta do armário, procurou um antiácido. Ou um anti-qualquer-coisa. Ou qualquer outro remédio. Talvez um que não existisse.
Mas insistia na procura.
Logo, tinha encontrado um envelope pequeno que rasgado sem muita perícia, foi despejado no copo com água. Olhou para a espuma. Quase numa contemplação.
Ele não estava feliz.
E não havia motivos para estar. Acordara com uma ressaca absurda. Mas não, não havia saído na noite anterior. Havia passado o sábado de carnaval em casa.
Sozinho.
Assistira ao desfile das escolas de samba de São Paulo. Junto, uma garrafa inteira. Sem misturas ou aperitivos.
Ou companhia.
Andara pelos blocos da cidade na sexta e no sábado. Bebera o dia inteiro. Voltou pra casa. Não pelos motivos que deveria.
Não, não estava doente. Era. Tentou, depois de tantos anos, brincar o carnaval. Não foi capaz.
O golpe derradeiro fora a noite anterior. Em frente à televisão, percebeu a total ausência de sentido da sua respiração. Queria ter um coquetel molotov para destruir suas alegorias.
Precisava de uma solução para aquela sensação.
Era um clichê ambulante. Saber disso não o fazia sentir melhor. Ignorar também nunca resolveu nada. Era ele, ali, sentado no sofá da sala, garrafa na mão, uma vez mais sem respostas.
Insistia.
Era forte. De um lado pro outro, pensava. Não que fosse solução. Foi ao quarto. Em frente à porta, olhou para dentro. Antes de entrar.
Encarou o ambiente.
Dentro, abriu o armário. Contemplou o interior por dez ou doze segundos. No cabideiro, estava a fantasia de Super Homem. Ao lado dela, os ternos que usava nos outros 360 dias do ano. Nas gavetas, mágoas.
Separadas por cor e tamanho. Tudo aquilo havia sido acumulado ao longo de muitos anos. Sem fechar a parte em que mexia, abriu a porta ao lado.
Vazio.
Pegou a fantasia. Vestiu-se com o que restava de dignidade e foi para o terraço do prédio.
Não retornou mais ao apartamento.


Verdades...



Assim é a vida…

A verdade do governo…
A verdade da imprensa….
A verdade de Hollywood….
A verdade do vencedor…
A verdade do derrotado…
A verdade fantasiada…
A verdade da igreja….
A verdade falsa….
A verdade conveniente….
A verdade para as crianças….
A verdade da internet….
A verdade verdadeira…

E no final, é tudo mistério!



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Mudança...novamente

Mudanças.....mudanças mundanas, pois vamos onde nos pagam mais

Se fixos quiséssemos ficar, como sanguessugas para sangria, selar raízes...sofrimento viria

Somos os pássaros não as árvores....somos o pólen não as flores
Amigos fixos....não amores

Mudamos, nós...mundanos, pois queremos o que há de melhor
Norte, sul, leste, oeste, dobre sua mente e sente...e sentado decida qual direção dobrar

Levo o mundo...levo tudo, nada leve....leve só o que for importante
Encaixote as vidas afortunada e a ferida....felicidade exposta e tristeza lacrada, agora estou pronto para mais uma empreitada

Irei mudar novamente....começar igualmente a outras vezes, mas em direção diferente
 E....diferentemente ao que já vivi, espero que a sorte sorria para mim....por mais tempo

Mudanças...sempre montanhas...escalo e espero encontrar todos meus amigos e outros no topo
Sem choro, nem reza....sem bolo nem festa, pois quando presentes...somos presente

Agradeço a todos os presentes que fazem parte da minha festa (vida) que sempre muda de local




quarta-feira, 10 de outubro de 2012

convidado Francisco Félix

Cabelo

Caía inteiro, soberbo
soberano findava
subtilmente efémero
ignorado por quem se movia
de um, para outro lado.

As árvores observavam,
baloiçando indiferentes.

Esta noite trará a lua maior do ano.
Volto a casa
com essa desculpa
sofrido, vestido d’engano.

Se eu pudesse existir!
- suspirava entre goladas -
como iria celebrar
este pôr-do-sol
a música no seu verter
a criança à janela
o sorriso a gaguejar
no olhar que arde

O cabelo branco
ao passar
da velha
sensação de ser
final de tarde.

---

terça-feira, 9 de outubro de 2012

ATALUM



Eu e Fred crescemos juntos
Da creche ao vestibular
Ininterruptamente bons amigos
Mas o Fred foi meter a pica na Laura
Essa mulata mudou nossas vidas
Suas curvas
Seus lábios
Acabaram comigo
Conheci a Laura na quadra da Mangueira
Lembro dela sambando de shortinho branco
Apaixonei-me na hora
E o Fred veio dizer estar comendo
Tava de sacanagem
Fred passava o rodo
Eu não
Numa bebedeira pedi-lhe para deixar-me a Laura
Tampamos na porrada
Brigamos como cão e gato
Parceiros, não mesmo.
Paramos de nos falar
Algumas semanas passaram
Comecei a ver Laura
Perguntei por Fred
Disse ser um cachorro
Caímos na gargalhada
Depois estávamos namorando
Fomos morar juntos
Na comunidade ninguém sabia do Fred 
Achava ótimo
Nossa vida era excelente
Saíamos pra trabalhar pela manhã
À noite, sexo.
Abundante libidinagem
Laura trabalhava meio expediente
Ficava à tarde em casa
Pra fazer-lhe companhia, perguntou-me:

- O que acha de termos um cachorrinho?

Boa ideia
Laura trouxe o mastim
Moraria conosco
Estava sozinho no sitio do seu avô
Embora não fosse filhote, aceitei.
Arrependi-me no final de semana
O canino não podia demorar-se ao meu lado
Rosnava
Na maldade
Mas valia a pena
Estava com Laura
Sem Fred
Só alegria
Samba, suor e cerveja.
Num pagode, o cachorro me mordeu.
Eu nem sabia o nome do quadrúpede
Quando perguntava
Laura respondia: 

- Cachorrinho

Cachorrinho nada
Era um daqueles galgos enormes de Roma
Imenso
Mandamo-lo de volta pro sitio
Não queria ser abocanhado
A vida professou sem o cabeça-de-ferro
As rodas de samba eram habituais
Perguntavam por Fred
Laura brincando dizia: 

- Fiz macumba

Ela era mãe de santo
Tinha um terreiro em Jacarepaguá onde recebia entidades
Grandes merdas
Nunca acreditei em porra nenhuma
A vida não é tão boa
Dois anos foram-se
Descobri
Laura estava dando pra outro
Mulata escrota
Esperei a piranha chegar ao barracão
Parti pra cima xingando
Ela rindo falou: 

- Fica quietinho, gatinho. Não sou mulher pra você comer sozinho. Não gosto de cachorrão! Lembra-se do Fred? Então, você é o meu homem, para com isso ou arrumo mandraca pra você.

Meu sangue ferveu
Dei na cara dela
Mandei na lata: 

- Mané mandraca é o caralho! Outros de cu é rola! Puta de merda, pomba-gira, tô saindo fora. Coitado do Fred, meteu o pé. Eu vou meter também, e pensar no que fiz com ele...

Ela não reagiu
Fui apanhar a bicicleta no quartinho/despensa
Acendi a luz
Ouvi a porta bater e a chave girar
Tentei abrir e nada
Tentei arrombar e nada
Gritei e nada
Era um quarto sem janela, cavado num buraco, no alto da favela.
Eu não tinha muito o que fazer
Comecei a ouvir cantigas de macumba
Atalum!
Peguei no sono 
Quando acordei, tentei falar.
Não consegui
Meu som era outro
Agonia
Desespero
A terra girou
Fios saíram rompendo-me a pele
Muito estranho
Comecei a andar de quatro 
A lua encheu e minguou 
Tudo estava grande
Ante um espelho
Vi um gato branco
Não era possível
Olhei outra vez
Sim
Eu estava preso num corpo felino
Assombrado
Sobraram verbos
Dormir e acordar 
Comer e cagar
Beber e mijar
Andar e correr
Pular e rolar 
Miar
Essa era minha vida
Esse era meu mundo
Dentro de um quartinho/despensa
Na cava
Cheiros de ração, areia, mijo e merda.
Sobrou o nada
Resignado, eu jogava nas onze. 
Sonhando com uma bolinha de papel
Advieram meses sem ver Laura
Só restava miar alto
Insuportavelmente
A vadia teria de abrir a porta
Eu pularia na jugular
Meus dentes e unhas a fariam sangrar até a morte
Eu era um gatuno
O bichano mais ágil do mundo
A minijaguatirica assassina
Ela se arrependeria por ter-me jogado mandinga
Eu miava em estéreo
Calculando meu bote letal 
A porta abriu
O cachorro dela apareceu
O Mastim Napolitano entrou babando
Voltei à minha realidade insignificante
Gatinho doméstico
Corri e pulei
Não teve jeito
Perante o mastim pastor de leões
Uma única chance, morrer rápido.
Ouvi Laura gritar: 

- Pega Fred... ksksksks... mata o gatinho!

Pendurado em sua boca, triturado e chacoalhado, balançando de um lado pro outro, pensei: “Fred”.
Fui morrendo lentamente
Macumbeira feladaputa

Pablo Treuffar
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A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO