sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sonhos Enjaulados

Viver intensamente um sonho
Sem enjaular sua essência.
Deixar o coração bombear o impulso
Sentir o grilhão da abstinência

Um vício de pensamentos errantes
Desde a aurora até os dias inacabados
Continuou com o som ofegante
Dos suspiros, dos sonhos enjaulados.

Pudera eu desatar este nó
Que aperta minha´alma
Até as lágrimas virarem pó.

Por que esse brilho me prende?
Teu sussurro – por dentro – me afaga
Por viver sonhos incessantemente

Autora:Lena Casas Novas

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sinfonia do medo



Quando aquele jovem casal mudou-se para o 209, as batidas e gritos viraram a trilha sonora da rotina

A entrada dos metais, graves, adicionou tensão

Por fim, ouviu-se apenas um sopro agudo, último suspiro

A platéia permaneceu estática, cada um em sua poltrona



terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lótus

Acordo no silêncio da noite
Com uma estaca cravada no peito.
Sufoca-me a garganta, o grito.
Imperfeição dos sentidos.
Borboleta aprisionada no casulo
Metamorfoseando-se em lagarta.
Afogando-se no sangue
Da carne putrefata.
Afasta-se da cartilagem
Do que fora cor e asas.
Corrompendo o próprio sonho
A rastejar sobre brasas.
Esperando que o coração apodreça
E refaça-se com calma,
Para que novo vôo floresça.
Iluminado e sem pressa.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Revoada

Tua boca já não comove ou remove minha decepção.
Renovo sentimentos contra teu sorriso impassível, engessado,
incrustado em minhas fantasias mais rubras. Teus olhos
negros
teimam brilhar
em meus dias de insanidade
que se repetem pontualmente às treze horas
na porta do inferno.
Inda não acabou. Mas já rasgo o ar
com minha palavra mais secreta de emudecer pintassilgos.
Estou abandonando o meu refúgio. Recrudesça-te
a tua condição do nada que já foste, pois eu irei,
novamente,
à procura do azul.

(Celso Mendes)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Romance Arriscado


Mesmo que estejamos fisicamente distantes estarei emocionalmente próximo,  sei que não sou o mais romântico dos seres e talvez eu não tenha as palavras certas para lhe cativar o entendimento de parte do que se passa em mim, não tenho domínio dessa empatia. Desejo-te pelos meus sentidos  e pensamentos que voam pelas doces e amargas nuvens que engulo durante minhas jornadas simultaneamente enquanto estou em sua presença. Fingiremos que o tempo parou, que não temos expectativas, que somos inocentes descobrindo o amor pela primeira vez, assim seguiremos, ignorando a inconveniente existência de obstáculos entre nós.

Nesse tempo que nos resta assistiremos o pôr do sol e dormiremos antes que ele se erga novamente, celebrando nossos momentos passageiros como se fossem os últimos. Num encontro entre o etéreo e o material negaremos a cobrança de certezas nessa vida tão incerta. Onde a efemeridade existencial que tanto nos fere ainda nos proporciona prazeres na persistência da convicção. Sejamos então corajosos para nos afundar nessa experiência na qual a virtualidade e realidade revelam nosso romance arriscado, que de tão incógnito nos fascina e envolve.


- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2010.


Foto:  Cena do filme "Asas do Desejo" (Wings of Desire) de 1987.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

POR FAVOR, COMAM MINHA MULHER.


POR FAVOR
COMAM MINHA MULHER



Rua Dias Ferreira
Apartamento nos fundos
Morávamos
Minha mulher
Meu cachorro
Dois gatos
Uma tartaruga
Eu odeio tartarugas
Odeio gatos
Odeio cachorros
Odiava minha mulher
Sou da tribo dos maupacaraio
Nascido para odiar
Nefasto prazer sinistro sem culpa
Meu nome é Trator
Bebi umas cachaças no embalo
Embalo Bar, meu escritório no Lebronx.
Rapaziada da Chácara do Céu e do Vidigal
Negócios
Eu trabalho com vendas
Vendo aviões
Depois de três aviões pro Ferreira
Doutrinando Humberto de Campos
Garanti o faz me rir doutro dia e voltei pra casa
A safada de merda da minha namorada era uma cara de cavalo
Pistoleira
A puta sem valor cheirava minha cocaína
Muito
De novo
Outra vez
Abeça
Porra, ela cheirava o meu trabalho.
Meu trabalho!
Já andava cheio dessa piranha viciada
Ficou baranga de uns tempos pra cá
Não tinha mais aquele cuzão com cinturinha
Reclamava
Não cozinhava
Não faxinava
Não botava alimento em casa
A sanguessuga encostada não vai mais encher meu saco
Se ainda fizesse programa
Resolvi o problema
Sete tiros na cara de cavalo
Matei
Tem miolos pelo chão
Sangue por toda parte
A honra é o presente do homem
Vou fazer uma feijoada com os miolos dela
Quem não comeu em vida
Vai comer em morte
Ora viventes, alguém tinha de pagar a conta da esbórnia.
Muquirana da porra
Tá pago!
Agora vou comer vadias sem dinheiro
Sou o verdadeiro canalha
Tenho dois filhos com outra
Uma burguesinha do Jardim Pernambuco
João e Pedro são meus amores
Eles têm vergonha de mim
A mãe dos meus rebentos merece morrer
Vou dar tiros na cara da burguesinha
Ela não dá pra mim
Ela fala de mim
Traficantezinho viciado
Quando eu a matar, não vai falar.
Não reclamava quando era minha mulher
Adorava dar um tequinho
Gostava muito duma orgia com drogas
A Trilogia Lasciva
Casas de swing
Ecstasy
Belengo
Hedonista luxúria
Minha ex gostava de vez ou outra...
... Outras gritando em minha jeba
Amava-me comendo o seu rabo
O Raburguês de seda enfiada
Bons tempos
Botava amigas pra rolo
Rola
Eu, minha rola e elas.
Comi muito o fiofó das amigas
Da ingrata, mais ainda.
Na buça dessa filha da puta meti até gerar crias
Os gêmeos são a minha vida
Já disse isso
Agora eu não valho nada
Sou descartável
Foda-se
Eu tenho a pica dura
Sou El Comedor
Vai todo mundo pra casa do cacete
O profeta falou:
- Meu caralho voador invadirá as casas de todas as fêmeas habitantes no mundo.
Mulheres
Tudo a mesma bosta
A patricinha mãe dos meus filhos cheira muito
Quem é ela pra falar de mim
A filhinha da mamãelhonaria não me deixa em paz
Vou explodir o Jardim Pernambuco
Ela quer meu fim
Eu o dela
Quem mandou largar-me
Existem seres humanos talentosos em transformar ouro em merda
Encanta-me o oposto
Transformar merda em ouro
Impressionante a capacidade humana de fazer cagada
Ela saía com outros
A outra também, tá morta.
Tenho de limpar a sala
Salada
Comprar salada
Picar as cebolas e o alho
Refogar a couve e as folhas de louro
As carnes estão pelo chão
Miolo de burra ordinária
Maminha de puta fatiada
Costela de vadia safada
Lombo de pistoleira cozido
Filé de rabo de vagabunda
Língua de trambiqueira defumada
É só azeitar com feijão e degustar
Amanhã é domingo
Dia de feijoada com esquartejadinho à rameira
Aquilo tudo
Amigos reunidos
Jogo do Mengão
Minha vida é como ela é
Monogamia é conto de fadas
Depois dou um tempero de azeitonas na fuça da minha ex
Minha 9mm tá azeitadinha de agora a pouco
Quentinha
Amanhã vou servir feijoada
Feijoada de piranha xinxeira mal passada ao miolo pardo
Estão todos convidados
Por favor, comam minha mulher.

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
POR FAVOR COMAM MINHA MULHER de Pablo Treuffar é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at http://www.pablotreuffar.com/.
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

Entrevista de Pablo Treuffar pro BDE


O jornalista Guto Correia entrevista Pablo Treuffar pro BDE




COMO FOI CRESCER NO RIO, ESPECIALMENTE EM IPANEMA?

Ipanema é um bairro de praia, cresci na praia, junto com tudo que ela oferece. Foi na praia de Ipanema que conheci a turma do morro, do subúrbio, da classe operária, da classe média, os traficantes, as putas, as sapatas, os viados, os artistas, os esportistas e a burguesia; enfim, a praia é um território democrático, todos os segmentos da sociedade estão lá.


VAMOS AO QUE INTERESSA. O QUE É ESCREVER PRA VOCÊ?

É um processo criativo no qual desejo irritar as pessoas perante suas próprias mazelas, suas inquietações. Quando escrevo, penso na reflexão, minha e do leitor. Escrever é passar minha alma a limpo, passar a humanidade a limpo. Gosto da ideia de Sócrates que o importante é a pergunta e não a resposta. Procuro o questionamento. Não há respostas.

EU LI SEUS TEXTOS E POSSO DIZER QUE TEM MUITO HUMOR NELES, VOCÊ CONCORDA QUE A IRONIA E O HUMOR SÃO FATORES MARCANTES NA SUA OBRA?


O humor é de cada um. Eu acho meus textos muito divertidos, outros também acham, mas os que acham são porque têm neles o senso de humor, outros leitores acham meus textos simplesmente ruins e ofensivos, um dedo na cara das mazelas que eles carregam e não querem assumir. Por isso eu incomodo. Conta uma piada pra um cara com dor de dente, ele não vai rir. Humor é mão dupla.


VOCÊ ENCONTRA DIFICULDADE AO ALTERNAR TEMAS POLÊMICOS E SÉRIOS COM A COMÉDIA?

Não há dificuldade alguma, a alternância entre rir e chorar se faz na consciência do leitor, não é lido o escrito, é lido o entendimento escrito, o entendimento é de cada um, uma vez escrito, sendo tudo verdade, escrito não é verdade, ou seja, o mesmo texto é cômico pra uns e sério pra outros.


COMO COMEÇOU A ESCREVER?

Quando criança, eu tinha meu diário, escrevia nos meus cadernos durante as aulas, no primário, no ginásio e daí pra sempre segui registrando alguns pensamentos. Devo ter quase mil textos inacabados. Escrevo muito, mas mostro quase nada. Se todas as pessoas escrevessem tudo o que vem à cabeça, qualquer pensamento, todos seríamos gênios. Comecei a escrever quando entendi que eu escolho meus pensamentos. Concordo com o Waly Salomão “A memória é uma ilha de edição”.


QUANDO DECIDIU TORNAR-SE ESCRITOR?

Acho que sempre fui escritor, mesmo quando não era, quando não escrevia, pensava. Estou sempre escrevendo mentalmente, sempre fiz isso, desde que me entendo por gente. Não paro um minuto. Minha mente é um caderno de redação. A única diferença é que hoje vocês podem ler alguns dos meus pensamentos.


QUANDO VOCÊ CRIOU SEU BLOG?

Meu blog é de outubro de 2006. Mas as pessoas começam a ter acesso aos meus escritos em meados de 2005, graças ao Bar do Escritor, de Giovani Iemini. Um dia, eu estava navegando no Orkut e achei esta comunidade, comecei a postar e fui achincalhado por muitos membros, vários comentários sucederam em todos os meus textos, muitos de cunho pessoal, daí percebi que eu incomodava e não parei mais. Com o tempo, os desafetos começaram a entender o meu não estilo. Ainda tenho muitos inimigos no Bar do Escritor. Adoro incomodar. Vou citar uma frase do escritor Alex Wildner que cabe muito bem agora: “Se tiverem a oportunidade de escolher como serão reconhecidos, optem por ser o incômodo. O Gênio. O Sábio. O Belo. O Astuto. O Achaque. A Doença. O Mal. O Incômodo. Todo Incômodo tem seu Talento.”


QUEM É ALEX WILDNER?

Um blogueiro da nova safra de bastardos da literatura, assim como eu, um escritor amador em busca de dois leitores.


COMO FOI PUBLICAR SEU PRIMEIRO TEXTO?

Foi porrada, apanhei muito dos leitores. Apanho ainda nas comunidades de textos net adentro. Faz parte.


COMO VOCÊ ENCARA AS CRÍTICAS?

Adoro, é muito fácil ler alguma coisa e escrever “gostei”, mas pra criticar você tem de ter lido a fundo, formado opinião a respeito, prestado atenção. Realmente, uma crítica de várias linhas me envaidece muito mais que um simples “muito bom”. Não tenho problema com isso.


QUERIA QUE VOCÊ FALASSE DE COMO FOI ULTRAPASSAR A BARREIRA DO ANONIMATO?

Não ultrapassei, ainda sou anônimo, mas é muito gratificante ver que dois ou três malucos entendem o que escrevo.


SABERIA DIZER O NÚMERO DE ACESSOS DIÁRIOS DO SEU BLOG?

Muito pouco, uma média de 80 visitas novas por dia.


VOCÊ ACHA QUE COM ESSE FENÔMENO DE MILHÕES DE BLOGS INTERNET ADENTRO O BRASILEIRO ESTÁ LENDO MAIS?

Infelizmente não acredito, acho que os internautas ainda são um retrato da TV aberta, usam a internet basicamente pra Orkut, MSN, futebol e sítios de fofoca. Todo o resto são jogos e pornografia. Se o meu blog tivesse mulher pelada, eu teria 80.000 vistas dia e não míseras oitentinhas visitas dia.


VOCÊ DISSE QUE COMEÇOU A MOSTRAR SEUS TEXTOS NO ORKUT, ACHA O ORKUT UMA BOA FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO PRA NOVOS ESCRITORES?

O Orkut pra nós que queremos ser lidos é uma boa ferramenta de debate, mas, por exemplo, se você entrar na Comunidade do BDE vai ter por volta de 4.000 membros, dos quais, 200 no máximo publicam e comentam regularmente uns aos outros, já a comunidade EU SOU GOSTOSA tem 1.658.652 membros, mais ou menos, veja bem, o Orkut é usado pra ver fotografias, pra azaração, não estão lendo no Orkut.


QUAIS SÃO SEUS AUTORES PREFERIDOS?

Poderia citar os ditos clássicos: Machado de Assis, Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Mario Quintana, Clarisse Lispector, Isabel Allende, Garcia Marques e tantos outros que são tudo e mais alguma coisa de bom em matéria de narrativa e conteúdo, gosto muito, mas eu gosto mesmo é dos marginais. Rubem Fonseca pra mim é Deus, Nelson Rodrigues um monstro sagrado, esses dois são fontes inspirativas sempre. Não posso esquecer o João Ubaldo de jeito nenhum, adoro a Norma Lucia, um ídolo pra essa sociedade careta (Norma Lucia é personagem do livro “A casa dos Budas Ditosos”, de João Ubaldo Ribeiro). Dos gringos, gosto muito do Charles Bukowski, do John Fante, do Henry Miller, do Maiakovski, tô completamente apaixonado por um escritor cubano chamado Pedro Juan Gutiérrez. Se eu tivesse de falar só um escritor hoje pra você, seria sem sombra de dúvidas o Gutiérrez. Tô lendo agora Pornopopéia, do Reinaldo Moraes, e achando muito bom. Gosto da linguagem suja.


VOCÊ REALIZA ALGUMA ESPÉCIE DE RITUAL ANTES, DURANTE OU APÓS O ATO DE ESCREVER?

Não, mas se eu puder fumar unzinho eu gosto.


ONDE ESCREVE?

Em qualquer lugar, a qualquer hora, sou escatológico, eu vomito onde estiver. Se possível, como eu já disse, gosto de fumar unzinho pra escrever.


VOCÊ FALOU SOBRE A MACONHA EM DUAS RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS QUE EU TE FIZ, VOCÊ ACHA QUE A MACONHA AJUDA NO PROCESSO CRIATIVO?

Não é isso, sou um cara muito ansioso, minhas pernas não param de mexer um minuto, essa inquietude física, nada mais é que o reflexo da minha alma ansiosa, fumar unzinho me deixa menos apreensivo e fica mais fácil de terminar os meus escritos. Só isso.


SEUS TEXTOS SÃO BASTANTE POLÊMICOS, PRINCIPALMENTE QUANDO VOCÊ ABORDA TEMAS COMO SEXO, DROGAS E VIOLÊNCIA. QUAL É SUA RELAÇÃO COM ESSES TRÊS TEMAS RECORRENTES?

Intensa, é uma trilogia recorrente na humanidade, a pecaminosa trindade. Eu sou o pecado. Você também é. Todos são. Eu admito. Sou pessimista e acredito na maldade humana.


SEUS CONTOS SÃO INSPIRADOS NA SUA VIDA, NO SEU DIA A DIA?

Esse tema é legal, por eu escrever na primeira pessoa, as pessoas acham, na maioria das vezes, que estou escrevendo sobre a minha vida, não é verdade! Meus escritos são inspirados na sua vida, na minha vida, na vida de todo o mundo. Escrevo as muitas visões da vida.


COMO SURGE SUA POESIA, SEUS CONTOS?

Depende muito, uma frase, um olhar, um filme, um livro, uma conversa, tudo me inspira. Basicamente, meus escritos surgem da observação das fraquezas humanas.


ANOTA MUITO?

O tempo todo, guardanapos, extratos bancários, cartões, anoto em qualquer lugar. Se você abrir minha carteira, vai achar coisas escritas em toda parte.


O QUE O INSPIRA?

Essa é fácil, tudo!


COMO FOI SEU APRENDIZADO?

Não foi. Eu nunca aprendo. A ideia de ter aprendido alguma coisa assusta-me, saber algo é a possibilidade real da estagnação. Como eu já disse: interessam-me as perguntas, e o aprendizado são as respostas. Prefiro as perguntas.


LENDO COMENTÁRIOS NOS SEUS TEXTOS, NOTEI QUE HÁ UMA DÚVIDA RECORRENTE SOBRE O QUE VOCÊ ESCREVE, SEUS LEITORES CLASSIFICAM SEUS TEXTOS DE FORMAS DIFERENTES, ALGUNS COMO CONTO, OUTROS COMO CRÔNICA E OUTROS AINDA COMO POESIA, MUITAS VEZES NO MESMO TEXTO VOCÊ É CLASSIFICADO DAS TRÊS FORMAS, SEU ESTILO É BASTANTE PECULIAR, COMO O DESENVOLVEU, COMO VOCÊ CLASSIFICA A SUA ESCRITA?

Adoro isso. Não me preocupo com o que escrevo, é assim que se desenvolve minha escrita. Meu estilo é não ter estilo. Já discuti com vários leitores por causa disso, lembro de uma discussão que tive com o escritor Edson Bueno de Camargo sobre esse assunto. Prosa ou verso? Não dou à mínima. Odeio rótulos. Existem correntes que me mandam escrever prosa, outros dizem o contrário. Comentaristas brigam entre si pra definir a minha escrita. Sinceramente, eu escrevo textos, ou “coisas” como Giovani Iemini gosta de denominar meus escritos. Acredito em textos bons ou ruins, além disso... o nada. Sei que vou continuar sendo massacrado pelos catedráticos de plantão por essa minha postura com a literatura, mas pra mim existem dois tipos de literatura, a literatura boa e a ruim, e isso na visão do um. Não necessariamente o que você vai gostar eu vou também. Só isso.

QUAL A SUA MAIOR DIFICULDADE AO PRODUZIR UM TEXTO?

Não tenho dificuldades, talvez o processo de me convencer que o texto está pronto às vezes seja doloroso, outras vezes é muito fácil, mas, se tenho um momento de dúvida no processo, esse momento é terminar. Nada que um ponto final não resolva.


VOCÊ CITOU O NOME DE GIOVANI IEMINI ALGUMAS VEZES. QUEM É GIOVANI IEMINI PRA VOCÊ?

Giovani Iemini é o responsável por vocês estarem me lendo. Foi na comunidade dele: O Bar do Escritor, que comecei a botar pra jogo meus escritos. Ele é autor do livro Mão Branca, entre outros projetos. Junto com Cristiano Deveras, são eles os idealizadores e escritores dos livros BAR DO ESCRITOR – Anarquia Brasileira de Letras e BAR DO ESCRITOR BRAND. Estes dois livros são coletâneas de vários autores independentes em formato pocket e de baixo valor de comercialização, com a finalidade de divulgar uma turma de escritores, que se não fosse por pessoas como eles, não seriam impressos tão cedo (Pablo Treuffar escreve nos dois livros). Outra coisa, com muita luta, eles conseguiram levar esses livros pra FLIP 2010 e pra Bienal de São Paulo 2010, ou seja, Giovani Iemini é um empreendedor, um amante da escrita. Pra mim, Giovani é o cara!


VOCÊ TEM CONTOS ESCRITOS NO FEMININO, COMO É PRA VOCÊ ESCREVER NA PRIMEIRA PESSOA UMA PERSONAGEM FEMININA?

Isso foi uma brincadeira, mulheres comentavam meus escritos e me chamavam de porco chauvinista pra baixo. Eu tenho um texto que se chama VADIAS MIMADAS, muitas que o leram vestiram a carapuça e me atacaram de todas as formas possíveis, resolvi criar uma personagem mulher que pisava nos homens e escrevi: MEU NOME É LUA. Deu certo. Elas adoraram. Gostei e escrevi mais dois. São três textos na verdade, PSICO-FOFO, MEU NOME É LUA e O PRAZER. Faço minhas as palavras de Gilberto Gil “Minha porção mulher que até então se resguardara, é a porção melhor que trago em mim agora”.


VOCÊ TEM UM CONTO SOBRE DEMETRIO TENÓRIO DE MELLO, QUE DE FATO EXISTIU. QUERIA QUE VOCÊ FALASSE COMO ERA SUA RELAÇÃO COM ELE?

Demetrio morou no meu prédio, em Ipanema, na década de 80. Era um cara enigmático, bonito, cheio de mulheres, dirigia carros importados e não trabalhava. Tráfico de influência era o seu ganha pão. Foi o ídolo da minha infância. Ele morreu assassinado, o caso nunca foi resolvido.


QUANTAS PUBLICAÇÕES IMPRESSAS VOCÊ TEM?

Além da minha participação nos dos dois livros do Bar do Escritor supracitados, tenho também um contrato assinado com a Editora Multifoco. Meu livro será lançado no dia 11 de janeiro de 2011.


PARA FINALIZAR. O QUE VOCÊ PODE ADIANTAR SOBRE O SEU LIVRO?

O nome é A DOENÇA É A DESCULPA DO CARÁTER. A editora é a MULTIFOCO. São 42 textos. A capa é do cartunista ANDRÉ DAHMER, pra mim o melhor cartunista da nova geração. O texto de apresentação do livro é do escritor TONINHO VAZ, autor das biografias de Torquato Neto, Paulo Leminski, Darci Ribeiro, entre outras. As orelhas são de GIOVANI IEMINI e GUTO CORREIA, que não por acaso é você que está me entrevistando. (gargalhadas)




Pablo Treuffar pode ser lido no blog:
http://www.pablotreuffar.com/



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

descrédito visionário
















antes fosse cego
penetrar além da visão
descaminhar pelos banheiros públicos
sentir-se a latrina descontaminada

ser aquele que perambula
de um pólo a outro
na cegueira por excesso
ou por falta de luz

ser aquele que desarma
a alegoria dos fatos
sem decifrar criptogramas
ou desnudar o dito perfeito

antes fosse ele mesmo
um desatrelado social
que se orgulhasse apenas
de sua tagarelice infeliz.


(imagem de Gilberto de Almeida Pinto, meu tio materno)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Vampira


Sedenta
provo com a língua
e gosto
do gosto
do teu beijo.

Tua desdita,
meu desejo.

Deixo-te vazio
e me afasto,
satisfeita.

Devoro a alma,
mas ponho
no pires do meu gato

o sangue
dos homens que mato.

(poema do meu livro LEOA OU GAZELA, TODO DIA É DIA DELA)