domingo, 30 de dezembro de 2012

Convidado Daniel de Mattos

A paixão não é o mundo.


A paixão não é o mundo. Conceber
Que da mulher e do homem a porfia
Seja (de quanto há) o que mais vale ao ser
É a mais inerte e vã filosofia.

Nela teus sonhos hão de perecer
Quais tuas reflexões, à revelia;
Morrem a sanidade, o afã, o querer,
E os amigos (se é que os tiveste um dia...).

Tu mesmo morres, por conta da face
Que crias para a tua sobrepor,
Permitindo a outrem que teu fado trace.

Mas eis que também és o matador,
Pois não evitas que o ardor teu embace
A imagem turva a quem prestas louvor.

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Daniel de Mattos
 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Esperança !!


A esperança é sempre um novo dia

 

Merecemos um novo dia, um novo ano de esperança em dias melhores. Afogamos rancores e desavenças para que o nosso dia-a-dia seja mais terno, onde a paz reine em nossas almas. Gostamos de fazer valer as nossas canseiras em tratos validados por gestos de solidariedade com o próximo.

Este novo ano que aqui começou, acarreta-nos maiores responsabilidades, numa vida global, onde muitas vezes o que é verdade hoje, amanhã de ser. Mas teremos que ser fieis às nossas convicções para assim lidarmos melhor com os imprevistos que a sociedade nos demanda.

Deixemos os males para trás, levemos este novo ano com esperança em dias melhores, porque eles ande vir, quando a alma não é pequena. Traremos o que é de mais belo em nosso berço de emoções, onde as águas dos nossos rios desaguaram nos corações de quem verdadeiramente merece a nossa estima. Resguardar um mundo melhor é o que nos reserva este ano novo, onde a paz, o amor e a solidariedade, pelos que estão em maiores dificuldades, deve estar sempre presente em nossos corações. Dar a mão, fazer feliz o nosso próximo não tem custos, é um sinal daquele abraço que tanta falta faz a quem por ordem do destino ficara para trás.

Respiremos um novo ar, com aquela esperança de um ano novo melhor, onde a tristeza e as injustiças sejam erradicadas do nosso meio. Vivamos com amor, e força para ajudar o próximo, trazendo para a nossa sociedade os excluídos e desprotegidos que a vida lhes foi madrasta.

Neste novo ano a esperança é sempre um novo dia, um dia de entrega ao nosso semelhante, um dia solidário pelos mais pobres, um dia de realização pessoal perante as dificuldades que daqui poderão advir. Ninguém nos disse que a vida ia ser fácil, mas nós poderemos torná-la menos difícil.

Neste novo ano, um novo dia começará para uma nova criança que venha ao mundo, que o seu futuro esteja salvaguardado pelos adultos, nós, que gerimos a sociedade muitas das vezes tão injusta. Temos a obrigação de deixar um mundo melhor para as gerações vindouras, onde haja oportunidades dos jovens serem felizes e constituírem família em paz e harmonia. Guardemos a esperança neste novo ano, para que um novo dia surja em fraternidade entra as pessoas.
Quito Arantes/Portugal

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Profecia maia












Não se preocupem



21 de dezembro não verá o fim do mundo



ao menos o fim do mundo como se imagina







O fim do mundo não é um planeta explodido,



um tsunami gigante,



um meteoro a la Holliwood







O fim do mundo acontece um pouco a cada dia



a cada morte violentada,



a cada acidente



a cada prisioneiro de guerra







A cada indivíduo que sofre, morre um pouco de seu mundo



Mas não imagine apenas os famintos, miseráveis, doentes



Ricos e saudáveis também sofrem



pois sua carne e sangue não são diferentes dos demais







Deixemos o calendário maia em paz



o fim do mundo de cada um não está próximo



mas impregnado em cada ser humano







E é um tigre faminto a um segundo do bote.









Fonte da foto: wikipédia

domingo, 23 de dezembro de 2012

Desassossego


A naturalidade transborda seus apegos:

   Embora transcrito num papel desamassado, desarticulado e mal estruturado vem de outrora por entre receios inacabados uma resenha sobre linhas tortas contando amarguras o arrojado. Saindo no meio as pressas o acomodado que se diz inundado de paixões, emerge-se a mim perante emoções o terminado que já não convém tentar reescrever parcelas do passado, isento de parábolas da qual sustentam o caso, disfarço quando presente te usando como roupa indecente em dias de sol, refaz o momento enquanto eu desatento mantenho a minha mão perspicaz em suas curvas, contemplando sozinho teu calor expresso por entre teus seios resplandecentes a ressaltar em horizontal, esbaldando e tendo por fim suas pernas que parecem me seviciar.
    No acabamento dos nossos deslizes a embaraçar a fragrância sobre a tua pele reluz tomando de inicio o reflexo do ilustre a partir da vossa inquietação mais intima, revivo a cada gota de prazer a percorrer teu corpo nu continuamente bailando por de baixo do cobertor que na tentativa de tentar lhe esconder apenas me excita afogando-nos em frenesi. Distante do despeito sobre algo, vejo com clareza as conseqüências do nosso apego abeirando a noite em que nos resumia apenas em caricias refletindo no agora da qual lhe ponho contra a janela demonstrando indiretamente aquele orgasmo, expelia palavras boas de ouvir, embaçando a vidraça, revelando conforme a brisa a marca almejante.
    Denegrido, me restara somente à culpa da tua satisfação, encorajado a me expressar dando continuação aquela vírgula indecisa e de trechos desarranjados teria você de se identificar com penhor após lhe recitar cláusulas sobre nossas imprecisões românticas? Comumente eu levaria uma bebida à boca, contudo saber que você está enfastiada após sussurros agora em sono profundo cantarolando acalma a minha alma, embebeda-te em minhas visões, tragando-lhe o perfume e a relevância que perfura a noite a madrugar fronte a luz colorida do Motel que escolhemos sem pensar.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Incógnita


Era viciada em reuniões de anônimos
Na esperança de ser notada, ia a todas. Dos narcóticos aos workaholics, passando por alcoolistas, comedores compulsivos e mulheres que amam demais.

Tudo que ela queria era deixar de ser anônima







texto do livro Colcha de Retalhos

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Lis


Tua imagem grudou na retina

Fez crisálida no cristalino



E morada de pássaro em minhas asas

Guarda no teu corpo minha dança



De desejos adormecidos

Valsa penetrante entre as entranhas



Embebida névoa do desconhecido

Mundo castanho que te aguarda



Fecunda no tempo o útero do sonho

Lascivo, úmido, cativo frenesi cerúleo



quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Convidado Sidney de Aguiar


O DIA EM QUE OS HOMENS NÃO VIRARAM CINZAS
 
Neste celebrado dia as pessoas acordaram cedo, partiram para os postos de trabalho com toda a convicção de construir um futuro coletivo e justo para toda a comunidade.
Ninguém foi ao trabalho de automóvel ou de metrô, todos almejavam contribuir com a diminuição da poluição em nosso planeta. Montados em bicicletas, pedalavam cantarolando músicas infantis. Os operários cruzaram os braços reivindicando mais um Carnaval fora de época. Os estivadores e os bancários fizeram coro pela mesma pauta. Os agricultores tomaram vinho com a certeza de colher uma safra de farturas.
As famílias tinham na mesa pães deliciosos para o desjejum, havia leite, frutas frescas e sorvete  de cupuaçu e todos estavam se amando verdadeiramente, sem mágoas no coração. Isentos de mágoas por  causa da última discussão entre maridos e esposas.  
Os estudantes corriam radiantes em direção às salas de aulas, se apressavam para abraçar com carinho e respeito seus professores na porta da escola. Nunca é tarde para aprender.
A cidade transpirava uma euforia tremenda, foi só os sabiás ensaiarem as primeiras notas do seu cantar, que surgiu descendo a ladeira a divertidíssima caravana do Circo, anunciado pela música divertida de uma fanfarra.
As crianças perseguiam os saltimbancos recém chegados.
Malabaristas, engolidores de espadas, domadores de leões, trapezistas, lindas dançarinas, a Mulher Barbada, Monga: a mulher - gorila, mágicos e suas cartolas fascinantes, elefantes africanos, camelos do Egito, focas, tigres brancos, macacos sulamericanos, cachorros adestrados da Rússia e é claro, os palhaços, estes artistas que fazem a alegria contagiante se tornar a marca registrada destas trupes circenses.
As flores, ah! As flores. As pétalas estavam mais viçosas e as cores perfeitas. A grama verde nas frentes das residências formavam mares esmeraldas. As árvores exibiam copas majestosas e carregadas de frutos maduros e comestíveis.  
Da orla podíamos contemplar os veleiros e as jangadas singrando o litoral. Estavam mais para barquinhos de papel ao sabor das ondas marítimas. As gaivotas sempre famintas por peixes, nesta data especial preferiram brincar de pega-pega pelos ares.
O vento litorâneo deixava o clima mais ameno.
No Boulevard, uma aposentada atriz de cinena dominicano ensinava os passos básicos do Zouk, ritmo contagiante do Caribe para os senhores e as senhoras da Terceira Idade.
Os casais enamorados amavam com mais paixão e os amantes saíram de suas casas carregando buquês de rosas, margaridas, crisântemos.
As poetisas eram pura inspiração, declamavam poemas em plena avenida e praças públicas. O tema principal era o amor. Ninguém tinha coragem de afirmar que o amor estava ultrapassado ou fora de moda.
Nesta ocasião única, houveram muitos enlaces matrimoniais. Dezenas de casais trocaram juras de amor eterno e as noites de núpcias foram muito mais intensas e inesquecíveis para os noivos.
Em tal amanhecer surpreendente, nasceram centenas de bebês. As mães se desmanchavam em lágrimas de tanta felicidade e os genitores comemoravam exaustivamente os novos rebentos.
Podia se ouvir melodias felizes em todas as casas. Os aniversariantes tiveram motivos em dobro para festejar tal momento. Aliás, receberam muitas mensagens de congratulações e presentes dados de coração, sem a intenção de receber algo em troca.
Foram horas de bençãos para todos os habitantes desta hospedeira cidade.
Na televisão os desenhos animados eram mais divertidos do que de costume. Ninguém queria perder os novos e os repetidos episódios.
No campo de várzea disputavam partidas de futebol com uma velha bola de borracha. Nas quadras comunitárias, os rapazes arremessavam na direção do aro, cada cesta era comemorada como um ponto decisivo em uma final de jogos olímpicos.
Nos períodicos matutinos não se anunciou um único crime sequer ou notícias de corrupção política. Nestas páginas estavam presentes apenas declarações apaixonadas, tiras de quadrinhos hilariantes e palavras cruzadas, daquelas de nível fácil que adoramos resolver.
As águas claras dos igarapés não tinham um único vestígio de contaminação. Estava ali, só precisava se agachar e recolher o líquido com a mão feita em concha e levar até a boca para saciar a sede.
O sentimento de inveja não tinha significado, a traição abolida dos dicionários, as mentiras não possuíam terrenos para serem semeadas e a palavra medo não era pronunciada.
Hoje é um dia especial, para ser lembrado por gerações inteiras. Os Historiadores escreverão relatos épicos sobre este período de paz e fraternidade mundial.
Nunca se experimentou tanta liberdade entre os homens.
Neste inefável dia, o Boi-bumbá saiu do curral com seu folguedo multicolorido, enchendo as ruas de toadas e lantejoulas.
Neste maravilhoso dia, o sol nascente surgiu com mais fôlego.
Neste inédito dia, o Enola Gay não levantou vôo e por isso, os Homens, as Mulheres e as Crianças não viraram cinzas. Cinzas que se desfazem com o sopro da brisa matinal...   

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Sidney de Aguiar

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Lua dos Poetas


não te olhei no céu
hoje a noite,
todos os outros
já o estavam fazendo.

que de tão desejada e bela
passaste de satélite
a pop star.

mas são somente
nas noites sem lua,
nas quais estás anônima
e quieta,

pálida,
solitária
e quiçá banhada
em lágrimas,

que és, de fato,
digna de poetas.

André Espínola

Pelo horário de Brasília






00:35
e o mundo continua seu percurso.

Nesse momento meu homem adormece,
minha filha ressona,
minha mãe entoa suas preces e pede ao salvador
para que me guarde:
- e para que proteja, não só a mim,
mas a todos da terra -
como lhe foi ensinado,

A poesia é a escolha das palavras
no melhor ângulo fotográfico.
é a amplitude de seus significados,
suas melhores poses,
seus aquedutos e pontes levadiças,
seus prazeres madrugáveis.

Poesia é o final dos tempos. Névoa.
Nasce em terreno baldio,
entre cacos de vidro
e lagartixas,
frascos secos de desencanto,
mulheres amanhecidas.

Poesia é bule. E gente passando pra lida.
é a maldição atordoada
que vem secando a boca
suturando a ferida.
Essa que não se aprende
em nenhuma sala de aula.

É a entrega do desassossego.
A poesia estava comigo
antes já do meu começo.



(Jessiely Soares)

domingo, 16 de dezembro de 2012

Abre os olhos

Abre os olhos
Menina, deixe de lado essa coisa. Segue teu rumo, que as respostas já foram dadas, as cartas colocadas. E o destino é certo, incerto?
Mesmo que aqueles velhos olhos te façam sentir alguns leves arrepios, isso agora não fa
z mais parte de sua vida. Abre teus horizontes, pequena. Feche teus olhos, para tudo aquilo que já não faz mais parte do teu presente, muito menos do teu futuro.
Avance entre as nuvens, e deixe as pequenas pedras fora do teu caminho. Olhe para o lado, e perceba que finalmente você pode ser livre, como há muito sonhou. Os desejos acabaram, e com eles alguns velhos sonhos.
Menina, deixe de lado essa coisa. Dê um novo sorriso. Porque as luzes alaranjadas, farão brilhar dentro do seu coração o que tem de mais importante nesse momento de sua vida.
Deixe que a alma fale mais alto, e se entregue, pequena. O caminho está bem ali, basta seguir. Falta-te coragem? Então segura nas mãos leves, suaves, verdadeiras. Escute o coração bater como música. Porque só perto do teu ele assim bate.
Olhe além dos mares, além do céu, além do que um dia já foi capaz de olhar. Sua hora chegou. E não existe mais um caminho de volta, a estrada de curvas está trancada para voltar ao começo. E a única alternativa, é o caminho das rosas.
Mesmo que com espinhos, essas serão teu caminho. E só, tão somente, dessa forma, menina, você será tão grande quanto desejar. Deixe, finalmente, que tudo fique leve como uma pluma, e doce como bala de goma. Bonito como as rosas vermelhas, suave quanto o vento, puro quanto a água. E colorido quanto o arco-íris. Deixe, menina, deixe de lado essa coisa...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Três crianças


Eram três crianças no elevador. Sete ou oito anos, no máximo.
Antes, no play, algumas crianças brincavam. Naquela correria toda, o menino chamou uma amiga.

MENINO: Queria te pedir uma coisa.

A amiga tremeu.
Era apaixonada por ele. Ele pediria um beijo?
Suava um pouco.

AMIGA: O quê?

Disse, tentando disfarçar o nervosismo.

MENINO: Mas você tem que prometer que vai guardar segredo.

Mais nervosa ainda.

AMIGA: Ai, tô curiosa!
MENINO: Promete?
AMIGA: Prometo. Fala o que é!

Silêncio.
O menino despejou.

MENINO: Sabe ela?

Apontou pra uma menina de sete ou oito anos em pé sobre um banco de madeira, com um laço rosa na cabeça.

MENINO: Gosto dela, mas não consigo falar. Você fala pra ela que eu quero casar com ela?

A menina ia embora no dia seguinte. As férias tinham acabado e o tempo na casa da avó também.
Era hora de partir e o menino de sete ou oito anos estava completamente apaixonado.
Sua pergunta tinha ficado sem resposta.
Insistiu.

MENINO: Fala?

O menino declarou seu amor pela menina de laço rosa, mas não percebeu que acabara de partir o coração de sua amiga de sete ou oito anos.
Ela não conseguia responder.
Tinha vontade de chorar. Achava que ia ser pedida em casamento, que ficaria junto com o menino para sempre, com um casal de filhos, uma casa na praia e um cocker spaniel feliz correndo no quintal de uma casa no subúrbio.

AMIGA: Falo.

Não chorou.
E respondeu.
Saiu rápido pra ele não perceber a lágrima brotando no olho. Foi em direção à menina de laço rosa e cochichou alguma coisa no ouvido dela. Nada sobre o menino.
Voltou.

AMIGA: Pronto.
MENINO: Ela disse o que?
AMIGA: Nada.
MENINO: Nada?
AMIGA: Nada.
MENINO: Mesmo?
AMIGA: Ela não disse nada, tá?

Ele estava frustrado.
Achou que faria um pedido de casamento naquele dia. Que ela não precisaria voltar pra casa e eles ficariam juntos para sempre, com uma família grande, muitos filhos, uma casa na praia e um basset feliz correndo no quintal.
Só o que houve foi a continuação da brincadeira e a gritaria no play. Até as seis e o toque do sino da igreja na esquina.
Eram, então, três crianças de sete ou oito anos no elevador.
Quarto andar.
Saiu a amiga com seu coração partido. Olhou para o menino no elevador, seu amigo, e acenou antes de correr pra que ninguém visse seu choro. Seu sofrimento.
Quinto, sexto e sétimo andares.
Silêncio total. O menino de cabeça baixa. A menina meio triste pelo fim das férias. Ele não disse nada. Nem ela.
Ela gostava dele. Mas não tinha coragem de contar. Achava que, naquele último dia de férias, ele ia pedir sua mão. Que ela não precisaria voltar e eles ficariam juntos para sempre. Teriam três filhos, um gato siamês, um sítio com piscina e churrasqueira e morariam num apartamento perto da praia.
Talvez fosse diferente se soubesse que ele gostava dela. Mas não sabia.
Oitavo andar.
Os dois saíram. A menina queria um beijo e um abraço de despedida. Ganhou dele um tchau rápido, numa tentativa de esconder o choro preso.
Triste, abriu a porta da casa da avó e foi lavar as mãos para o jantar. Quase não mexeu na comida.
No apartamento da frente, o menino olhava pela janela pras nuvens escuras no céu.
No quarto andar, a amiga dos dois chorava deitada nas almofadas de bichinhos de pelúcia.
Eram três crianças de sete ou oito anos. Sofrendo por amor.


Longe de casa....


Segunda-feira, 09:27 da manhã.... porta do hotel Mercure em BH..... Depois de um vôo de Brasília para Confins e então um ônibus e táxi para o hotel... viagem a trabalho....
Funcionário do hotel diz ao abrir a porta: “Bom dia, senhor Danilo!”
Pensei comigo: “Como é que ele sabe meu nome?” “Bom, vindo tanto para BH e ficando sempre nesse hotel, ele deve ter guardado...”
A semana seguiu como sempre, trabalho, relatórios, quarto do hotel, e-mails, nada mais....
A semana passou....

Sexta-feira, 8:13 da noite... chegando em casa depois de táxi, ônibus e avião vindo de BH para Brasília... Estaciono o carro do lado de fora do prédio... ando até a porta do prédio...
Tentei abrir o portão e estava trancado, olhei para a câmera da segurança para ver se o porteiro abria... nada.... toquei a campainha e disse: “É o Danilo!”
O porteiro respondeu: “O senhor Danilo quer que eu anuncie em qual apartamento?”
Eu disse: “Danilo, do 604!”
O porteiro: “O Danilo veio ver um Danilo do 604???”
Eu disse: “Não, eu moro aqui no prédio, no 604!”
O porteiro: “Ah, mas preciso verificar com o morador do 604 primeiro... um momento....”


A Dois Passos do Paraíso - Blitz
Longe de casa
Há mais de uma semana
Milhas e milhas distante
Do meu amor
Será que ela está me esperando
Eu fico aqui sonhando
Voando alto perto do céu
Eu saio de noite andando sozinho
Eu vou entrando em qualquer barra
Eu faço meu caminho
O rádio toca uma canção
Que me faz lembrar você, eu
Eu fico louco de emoção
E já não sei o que vou fazer...

Decidi voltar!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Computador...meu anexo abotoado


Quantas vezes já ouvimos “esse computador tem vontade própria, só funciona quando quer”
Será verdade ou azar trazido na maré?

Dizem “Desliga e liga de novo”
Hoooo Santo faça-o funcionar seja milagroso
Computador...mil vidas se passaram sem sua presença
Agora não conseguimos um dia estar na sua ausência

Datilografando digitais
Com tintas invisíveis
Mais do que mortais
Dizer que somos loucos funcionais é um crime

Napier logaritmizou nossas ideias e planeou ossadas multiplicativas
Entretanto, não previu a cela digital que seriam nossas vidas

Já Ediin, arquitetou SomBtrações e MultiDivisões...na mais bela hArMonIA
Porém, guerreando trinta anos, esvaecemos sua esplêndida maquinaria
Sendo assim, não rotulemos Pascal como vilão
Já que somente os Deuses sabiam a verdade desta verdadeira ilusão

Hollerith tabulou nossos sentimentos e revolucionou a evolução, se for possível
Impossivelmente pensável ainda conseguimos evolucionar o que estava pronto
Prontamente a frente de qualquer sociedade intergaláctica invisível
Somos os ETs nesse mundo de pedras, lixos, antros e sem tronco

Zuse relêdirecionou o que calculávamos há tanto tempo
Perfurou fitas, costumes e sinapses dos pensamentos
Pena Alemanha tão sem apresto
Guerrearam, guerrearam e deixaram o que era importante quedo
Agradecem os Estados Unidos
Sempre esperando uma fresta
Eles não quiseram
Agora nós faremos a festa

Mesmo com toda a história para ser descrita
Falada ou escrita
Ainda queremos evoluir além do que se tem, e além...além
Faremos invídia a nossos vizinhos lunares
Evoluímos multiplicadamente, mas degradamos nossos lares

Contudo, te ligo e desligo quanto for necessário
Até carinho faço em tu meu almejado maquinário
Pois não posso jazer sem ti...quero-o alastrado
Computador...meu anexo abotoado

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Convidado Roberto Prado


 
A GRATA SATISFAÇÃO QUE ANDAR DE ÔNIBUS NOS DÁ

Andar de ônibus!

Terrível, não é? A situação e o assunto.

Fazer o quê?

Essa semana, a pessoa que caridosamente me dá carona (até o meio do caminho, mas que me deixa um pouco mais perto de casa me deixa, isso lá é verdade) deixou-me na mão, obrigando-me a tomar o coletivo e me compor ao próximo, que, por causa da superlotação, fica cada dia mais próximo, próximo demais  para meu refinado gosto...

Entro, pago, e procuro desesperadamente (mas muito discretamente) um lugar no fundo do corredor, perto da porta. Lá aconchegado (riam, isso foi uma piada), ligo meu sonzinho, abro um livro e tento esquecer onde estou e de onde saí.

Mas...

Agora deu para isso, esse mas.

Mesmo ouvindo música bem alta, não posso me furtar a ver e ouvir o que acontece. Todos os dias, como num ritual, eles, os pedintes, entram no ônibus e começam (como só costuma acontecer com pedintes) a pedir dinheiro.

Senão, vejamos:
1.      Outro dia entrou um sujeito se dizendo de uma seita evangélica, que além de salvar almas, salvava jovens de ruas, que vivem na perdição das drogas e outras drogas. Vendia um chocolate (que a polícia deveria mandar investigar, de tão suspeito) pela módica quantia de um real. Se o passageiro não tivesse um real, que desse o que pudesse, qualquer quantia. Mas (agora é que dói), ameaçava o salvador de almas e homens, se você tiver dinheiro e não quiser colaborar, saiba que você (e apontava com o dedo em riste) vai se haver com o Senhor no Dia do Juízo!
É de enlouquecer, não é?

2.      Vamos à segunda. Essa é a pior, na minha opinião. Entra um sujeito de muletas, encosta na catraca, levanta a perna da calça e nos agracia com uma erisipela “daquelas”. Começa a chorar (choro mais falso que nota de três reais), e começa, entre pranto, a explicar como sente humilhado em ter que pedir dinheiro etc., etc., etc. Como não surte efeito, então ele começa a soluçar, não fosse eu esse homem sem coração (que dizem) que sou, já teria vendido minhas terras no sul da França e doado a ele. Feita a sua colheita, ou coleta, sei lá, ele desce, todo faceiro, e entra no ônibus que vem atrás do nosso.

3.  Mas ontem foi o fim da picada. A essa altura o caro leitor já percebeu que eu estou começando a “curtir” essas situações escabrosas. Lá estava esse pobre funcionário público, sentadinho lá atrás, lendo uma obra do Barão de Itararé (que recomendo fortemente), quando entra mais pedinte. Esse fugia um pouco ao fenótipo a que estou acostumado(!). Era jovem, todo tatuado, usando roupa de fanqueiro, bonezinho virado para trás. Entra pedindo desculpas, essa é a regra para você que nunca se aventurou num ônibus saber que vai ser extorquido de alguma forma. Explicou-nos que era ex-detento (imaginem o clima), que estava desempregado, com contas para pagar (só ele?) e que não podia levar comida para casa. Deixou claro que, ao pedir dinheiro aos passageiros, evitava  cometer crimes nas ruas... (juro que não senti nenhum alívio com aquilo). Enquanto ele desfiava seu rosário de desgraças e desventuras, eu abaixei ainda mais a cabeça (parecia que em vez de ler, estava procurando o livro debaixo dos bancos), aumentei o som e me “desliguei”.

4.     Já chegando em casa, entra um cego, daqueles de feira, feio, mal vestido, cheirando à pinga, acompanhado (eles nunca andam só) de menino negro, mas com um cabelo loiro como nunca vi antes em minha vida. O menino não falava nada, só andava com a mão estendida e nos olhando nos olhos algo entre ameaçador e digno da mais cristã das piedades. Vindo lá da frente, o cego vinha gritando (talvez achasse que houvesse algum surdo por lá) como era triste ser cego, que ele não desejava isso a ninguém, e para que isso não acontecesse a ninguém, ele pedia um dinheirinho. Não entendi. Será que dando o tal “dinheirinho” eu acordaria livre da cegueira, ou seria mais uma praga sub-reptícia?

Como era meu ponto, desci quando ele estava bem pertinho de mim. Desci e logo atravessei a rua e fui embora sem olhar para trás. Afinal há mais de dez anos fiz uma cirurgia de correção de miopia (quinze graus), e vai que a praga dele pegue...?


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Roberto Prado - Funcionário público estadual,Fumante e bebedor de Conhaque Napoleon.