segunda-feira, 29 de abril de 2013

BdE na FLIPIRI

O Bar do Escritor estará na FLIPIRI (Festa Literária de Pirinópolis), de 27 de maio a 01 de junho, recepcionado pela Feira de Quintal. 

Participe!



domingo, 28 de abril de 2013

Por Ti!!

No meu peito caem as águas por ti oferecidas

No recanto milagreiro da minha existência.

Enquanto cristalinas, vão purificando os tormentos

Em terras perdidas de outrora.

 

Quero deixar tua frescura assediar minhas comportas

De uma presença inequívoca olhando a brandura

Que enlaças em mim a mais singela vontade de te amar.
 
 in    "Poesia aos Quatro Ventos"
Quito Arantes/Portugal

sábado, 27 de abril de 2013

Bentinho (nanoconto)

Sofria ao ver a esposa sofrer, ano após ano, a espera de um filho que nunca vinha.



Desesperado, procurou uma jovem garota de programa e lhe fez a proposta: através de inseminação artificial, ela engravidaria dele e, ao fim da gravidez, lhe entregaria a criança. Durante esse período, lhe garantiria alimentação, sustento, e pagaria os exames médicos.


O plano deu certo e a esposa não desconfiou. Ao fim de nove meses, uma criança abandonada na porta de casa.


A família tornou-se completa e a esposa, realizada. Mas Bentinho torcia quase em desespero: que o rebento jamais tivesse as suas feições.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

Ao teu lado



Isto poderia ser apenas mais uma palavra ao final de um entardecer, no entanto nada sustenta a insuficiência de um só beijo, longe da razão não teria sido ela desprezo traçando-me em companhia a nostalgia, me transtorna da forma mais compulsiva sobressaindo com seus ternos sorrisos resumindo todas as minhas visões em um só ponto de vista, cegando diante mais um adeus sem previsões, diziam-me (insista!).
No delírio que poderia ser apenas o imaginar no que seria a ultima coisa a acontecer, trocaria eu por qualquer lugar em sua volta para sentir de perto seu perfume na ausente nota, o tom de sua voz fragmentando meus ouvidos, sentindo indiretamente breves toques subentendidos, embora me parecendo pequeno em tais atitudes, alimentava em troca de curtas palavras a chegada do momento em virtude.  
Já estava notório e o discreto não participava mais das nossas conversas, deveria eu me importar? Talvez não, pois distintamente ela poderia ser inversa e eu distante de um par. Fugia o assunto sem saber onde pôr as mãos almejando algo a mais neste intervalo sem caber a intuição da qual me tornava dia pós dia impaciente em seu próprio espaço, o tempo já teria passado ou o apropriado acentuava ao lado do determinado.   
Por mais que eu redija o amanhã me tornando parte anterior, reescrevo de tal modo que provenham os beijos do seu interior, assegurando por meio das vírgulas sempre um trecho sentimental arquitetando através de risos um afeto indescritível e essencial. Em evidências sei que é Imprescindível confrontar contra os meus passos de encontro a ela, pois enquanto o seu lado estiver vazio eu estarei a par de uma mera conversa tentando lhe conquistar em denota.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Bar do Escritor na Flipiri

www.flipiri.com.br/

Criminoso


O mercado de trabalho continua executando crimes perfeitos. Sequestra as almas e pede em troca, como forma de resgate, as forças do corpo.

E as vítimas só percebem tarde que de nada vale uma alma torturada, repleta de medos, somada a um corpo calejado, exausto.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

...


(Imagem: Google).


...



Tua boca em poça
ou o meu desejo em lago?
Indiferente das comparações
façamos-nos mar.

Eliane Alcântara.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Assim acordarei dançando



quando eu morrer

não quero moeda
para o barqueiro no olho
nem bandeira dessa pátria
que tanto maltrata
meu povo nordestino;

quando eu morrer
e se assim a Morte
permitir

 - se não explodirem
meus miolos
ou meu corpo
não figurar na estatística
dos não encontrados -

eis meu último pedido:

quando eu morrer
que me enterrem ao menos
de fone de ouvido!

André Espínola

terça-feira, 16 de abril de 2013

Infinidade desejada

Deixo de lado qualquer coisa a toa. 
Abro a janela na manhã nublada, agradecendo pela vida que Deus me deu. 
Faço uma promessa.
Alucino um desejo. 
Me jogo sem pensar no jogo.
Deixo aquele medo de lado, e penso nos bons momentos que a vida pode causar.
Folheio os livros, e escolho os melhores trechos para que caibam direitinho dentro da minha mente praticamente insana, da vida.
Crio sonho em cima de possibilidades.
Escuto as vozes de conforto. E aquelas que fazem alucinar, delirar, e realizar.
Um café preto, para completar.

domingo, 14 de abril de 2013

BdE na FLIDF

O stand do BAR DO ESCRITOR aparece em reportagem do DFTV da Rede Globo, por ocasião da participação da FLIDF - Feira Literária do Distrito Federal.
A última entrevistada estava comprando as antologias do BdE no momento da entrevista.
Assista.
E visite a feira.

sábado, 13 de abril de 2013

Vida Dura(Mole)


.:: A vida dura ::.

Levanta
Escova
Engole
Corre
.
Trabalha
.
Engole
.
Trabalha
.
Corre
Engole
Assiste
Arruma
Deita

.:: A vida dura-mole ::.

Levanta – Sorri e diz bom dia
Escova – Sorri e confere
Engole – Devagar e aprecia
Corre – Devagar e aprecia
.
Trabalha – Sorri e aprende
.
Engole – Devagar e aprecia
.
Trabalha – Sorri e aprende
.
Corre – Devagar e aprecia
Engole – Devagar e aprecia
Assiste – E leia
Arruma – Cuida
Deita – Reza e diz boa noite


A árvore


Metáforas elaboradas não explicam sentimentos complexos, pensava.
Era quente. O dia estava claro e o sol rebatia nos carros parados na rua, entrando pela janela entreaberta, causando um leve desconforto nos olhos. Era novidade. Quente, claro, sol e desconforto sucediam a queda. Antes, ainda que fosse quente e claro, havia uma sombra delicada e o sol que rebatia nos carros na rua era barrado, entrando pela janela um balançar cadenciado.
Havia, em frente a janela, uma árvore. Com o tempo aprendera que era um flamboyant. Não que isso interessasse. Era uma árvore, isso bastava. Se era um ipê ou uma macieira era irrelevante. Sempre fora sua árvore.
Sempre esteve ali, oferecendo sombra como em um poema escrito sobre infância e nostalgia. Não que gostasse de sentar aos pés da árvore, recostar em seu tronco e receber a brisa suave no rosto, olhando pro céu entre a copa do flamboyant. Isso era poesia. Gostava de estar na sala e não ter os olhos desconfortáveis enquanto lia Tchecov no sofá.
Não ser poesia não significou, em nenhum momento, desamor. Vivia uma intensa relação amorosa com aquele flamboyant. Todos os dias, chegava da rua e, ao entrar em casa, olhava pro alto, em direção a copa da árvore. Quando era criança, carregava alguns galhos. De manhãzinha, juntava os bonecos e construía fortes e trincheiras nas raízes, que levantavam um pouco a calçada. Mais tarde, pegava algumas sementes pelo chão e juntava em uma caixa, sem muito sentido. Achava engraçada a sujeira que a árvore fazia e podia ver o céu entre as folhas. É, talvez de alguma maneira, fosse poesia.
De certa forma, aquela quase poesia era também um prenuncio de tragédia. As raízes fortes iam aos poucos estourando a calçada e os canos em busca de água. As sementes ficavam espalhadas pela rua, assim como as flores. As cigarras sumiram. Havia cupins.
Um dia chegou o botânico. Nunca havia visto um botânico e nunca viu um depois disso. Se fosse teatro, diria que era uma solução dramatúrgica fraca do autor, colocar um botânico ali para explicar o inexplicável, como a empregada doméstica da novela das oito que faz uma pergunta a patroa, protagonista da história, pra que ela possa fazer uma cena tocante, que sirva de gancho para o capítulo seguinte e mantenha a atenção do espectador. Não era preciso verbalizar a morte. Fez-se o silêncio.
Dias depois, acordou com a trilha sonora do corte. Foi até a janela e contemplou a coreografia. A luz do sol banhava o cenário e lá em baixo havia uma espécie de diretor. Não conseguiu pensar em nada.
Os dias seguiram angustiados. Era, sim, preciso verbalizar a morte, pensou. Pegou um caderninho que tinha guardado para essas ocasiões angustiadas. Começou a escrever, nada que achasse gostável. Mas não estava interessado em ser lido, mas em botar pra fora a angústia. Ele sabia, ou achava que sabia, que escrever era uma forma de superar.
O que ele não sabia era que nada que escrevesse seria capaz de cobrir aquele buraco aberto. Que nada voltaria, ainda que inconscientemente achasse possível que tudo voltasse, em breve, a ser como era antes. O que não sabia é que há coisas que não se superam. Há coisas que não voltam. Não pelo que foram, mas pelo que deixaram de ser. Brincar com seus bonecos na raiz aparente do flamboyant foi banal, mas foi. Não haveria mais aquela raiz para servir de trincheira na guerra imaginária. Não haveria sementes, galhos ou flores. Não haveria.
O acordar seria diferente, assim como a sesta. As tardes e os cafés-da-manhã também. Não haveria escaladas, podas, arte naturalista. Não poderia se casar embaixo da árvore. As folhas pequenas, não poderiam ser postas pra secar, trituradas, enroladas em um guardanapo de bar e posteriormente fumadas, em busca de algum estado alterado de consciência, numa tentativa juvenil de fazer haver alguma coisa. Não poderia construir uma casa na árvore, não naquela, pelo menos, e, se não naquela, em qual mais?, não importa, não poderia construir uma casa com a sua madeira nem tirar uma muda. Não seria possível, um dia, quando fosse avô, retirar um galho e fabricar uma espada de brinquedo para seus netos. Tampouco construir um arco e flecha. Não haveria a sombra e a poesia de olhar pro céu entre as folhas da árvore.
Os dias seriam claros e o sol rebateria nos carros parados na rua, entrando pela janela entreaberta, causando um leve desconforto nos olhos. Tchecov nunca mais seria o mesmo. Nem ele.
Metáforas simples também não explicam nada, pensou.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Aroma de Lar

 
 
O que mais gosto quando estou na casa dos meus pais é o aroma de lar

Os pomares nos convidam para fora
Um passeio à meia luz
O sol ainda preguiçoso resmunga para brilhar
Do seu sono mais profano a lua apressada o fez despertar

Agora fora...os pomares a conversar
Os pássaros cintilando...esfomeados a dançar
Gosto do bálsamo...o perfume a abrolhar
Das flores...cardumes coloridos reluzentes do pomar

A noite chega e com ela ruídos invisíveis
Incógnitas indecifráveis esculpidos em minha mente
Tento interpretar as balbúrdias intranscendentes
À noite...no pomar...qualquer bicho vira gente

Insetos afloram nas paredes lisas
Deslizam pelos fachos luzentes da sala de estar
Combinam entre si a dança festiva
Jantam uns aos outros na sala de jantar

No meio do nada
Meio sonho...meio desperto
Onde a escuridão
Vela o sono...vela o inquieto

Antes do mergulho e de sonhar o mais belo
Antes de adentrar no cômodo modesto
Sinto a fragrância e me sinto por inteiro
Estou em casa...pomares...insetos...mas já vem janeiro

Volto para “minha casa”...concreto estrangeiro
Mas com o aroma impregnado no travesseiro
Odor incólume...maestro da mais bela maestria
Até à vista...à próxima visita

O que mais gosto quando estou na casa dos meus pais é o aroma de lar

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Carta para Academia Brasileira de Letras

Amigos,
espero que a carta que enviei na sexta feira passada para a Academia Brasileira de Letras já deva estar chegando, por isso divulgo aqui seu conteúdo. É a recomendação para a eleição do nosso amigo e barnasiano Wilson R. Vejam-na, em imagem e na íntegra.





Brasília, 05 de abril de 2013

À Academia Brasileira de Letras                                                                             


O Bar do Escritor é um movimento literário que se reúne em comunidades virtuais na internet desde 2005, para conversar e debater a literatura e, também, em festas e feiras literárias desde 2007, quando aumentamos o congraçamento entre nossos escritores através da força do grupo e do desenvolvimento de diversos projetos na área das letras. Já publicamos três antologias nacionais, com a quarta prevista para maio de 2013, e fomos objeto de exposição em várias mídias. O BdE apoiou e ajudou a divulgar mais de 70 obras na áreas de contos, crônicas e poemas, além de romances, resenhas e artigos opinativos.
Estamos muito orgulhosos em contar com o barnasiano Wilson Roberto C. Almeida, o Mestre Wilson R., em nossa mesa de parceiros e principais incentivadores.
Gostaríamos imensamente de vê-lo integrando essa casa de cultura, a ABL, o maior e mais importante bastião do saber nacional.
Mestre Wilson reúne as qualidades necessárias para figurar entre as brilhantes mentes que compõem a academia, além de ser uma figura simpaticíssima, sensata e aberta às novas visões do mundo globalizado e conectado virtualmente.
Sabemos a honra e importância que é envergar a estola acadêmica, sabemos inclusive do altíssimo nível da concorrência a uma cadeira, contudo não podemos deixar de comunicar à essa prestimosa entidade que, caso ele seja o eleito, a Academia terá feito a melhor escolha, pois contará com um guerreiro da cultura, um escritor maravilhoso e uma pessoa digníssima.

Atencioso e satisfeito,

Giovani Iemini
Criador e Mentor do Bar do Escritor
Cadeira n° 05 da Academia de Letras de Brasília
Pai do João Carlos

terça-feira, 9 de abril de 2013

TELEVINÃO


A TV é um caixote quadrado que não paramos de olhar
Sentados
Deitados
Comendo
Fumando
Bebendo
Trepando
Sei lá
Fazemos muitas coisas diante do caixote imagético
A maior parte das pessoas não consegue parar de olhá-lo
Babacas mongóis
Isto mesmo
Esta é a palavra
Mongolóides
Somos tratados assim pela TV
Você já assistiu a uma novela
Claro que já
Um estupro à dramaturgia!
É o obvio ululante
Um monte de gostosas
O primo do irmão do vizinho que não conhece a mãe, que na verdade é a avó, que ele pensa que é a tia.
Enquanto isso se consome de tudo
Desde Banco Itacú
Até revendedora de carro
Musica, é claro, você tem de comprar as que tocam na novela.
Os CDs são vendidos na hora dos comerciais
Compre baton!
Compre baton!
Compre baton!
COMPRE PORRA!!!
Você tem de comprar
O pior é que as novelas vendem ideias, costumes e ilusões.
Não são um projeto que se esquece da pobreza, da periferia, não.
As novelas contemplam a pobreza
Essa é a jogada de mestre da manipulação popular pelas novelas
Contemplar maquiando a pobreza
Apontando uma perspectiva de ascensão pelo trabalho, pelo esforço.
Só rindo
Como se houvesse oportunidades pra todos no Brasil
As novelas fazem do Brasil uma farsa do sonho capitalista
Como se fôssemos o sucesso do capitalismo
As novelas alteram a consciência do povo sobre a sua condição miserável
Elas têm como meio o fim da inteligência critica
Condicionamento televisivo laboratorial
Somos cobaias do consumo estabelecido
Bonito ou feio
Certo ou errado
Caro ou barato
A verdadeira fórmula do menos com menos dá mais
Menos senso critico
Menos informação
Igual a mais domínio
A Rede Bobo, por exemplo, chega a 99,9% das televisões brasileiras
E o povo não lê
O povo vê TV
Os telejornais têm muita credibilidade 
Em principio, tudo o que a TV mostra é verdade.
A televisão é o maior meio de comunicação que existe
Nada é feito por acaso
Seus titulares e amigos
Os donos do dinheiro
Os filhos do dinheiro
Todos eles são coniventes na farsa midiática de controle de informações
Vale lembrar dois episódios clássicos que legitimam isso
O primeiro foi a Rede Bobo tentando ignorar o movimento das DIRETAS JÁ
Patético
Não deu, com meio milhão de pessoas nas ruas de São Paulo veio à pérola do JN dada por Sérgio Chapelin:

"Festa em São Paulo, a cidade comemorou seus 430 anos com mais de quinhentas solenidades, a maior foi um comício na Praça da Sé"

Sérgio Chapelin estava se referindo ao mega comício pelas DIRETAS JÁ
Versão muito tosca da verdade
O segundo episódio aconteceu logo depois
Foi à edição do debate entre Lula e Collor
A Rede Bobo fez uma peça publicitária e não um debate democrático
Fernando Collor venceu o debate
E por aí vai
A TV é feita para levar todos a pensarem de forma unificada
Formula muito boa para os 10% de detentores dos 75% da riqueza nacional
Eles continuam milionários e donos da situação
O povo é adestrado com novelas, samba e futebol.
Difícil saber a verdade por meios de comunicação de massa
A televisão é prolixa e nada idônea, ludibriando assim seus telespectadores.
Economia não é tão complicada como o telejornal faz parecer
Se o Brasil fosse bem administrado, ninguém morreria de fome.
Não há presidente neste país que me convença do contrário
Pode falar 879 línguas com sotaque perfeito de cada região
Pode ter estudado em Marte e feito Pós-Graduação em Plutão
Pode arrazoar todas as siglas que quiser
Pode falar
A mim não convencerá
Eu sei é que os 500 milhões de milionários do planeta representam só 7% da população mundial
Ao resto, os restos.
É preciso que nos rebelemos
Vamos quebrar as TVs
Jogá-las fora
Quando chegar a casa não ligue a TV
Leia um livro
Ouça música
Converse com seu filho
Coma sua mulher
Ou faça melhor
Vá até a mesa onde está a televisão, pegue-a com as duas mãos, levante-a, dirija-se até a janela e, como se nada estivesse acontecendo, solte-a das suas mãos.
Deixe que a TV caia para fora de sua vida
Mas torça
Torça muito
Porque a policia vem aí


MORAL DA HISTÓRIA
TELEVISÃO, ELES NÃO VÃO DEIXAR VOCÊ JOGAR FORA.

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at http://www.pablotreuffar.com/.
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

domingo, 7 de abril de 2013

Interrogatório sobre crime violento ocorrido no Condomínio dos Girassóis


HOMEM 1 - Você não tem nada a ver com o acontecido né?

EU - Eu? Como assim? O que querem dizer?

HOMEM 1 - Olha só, nós lhe investigamos esses últimos dias. Te seguimos, te gravamos, até vimos você cagar e a cor da tua bosta, então relaxa. Sei mais de você, nesse momento, do que tua mãe ou teu pai.

EU - Cara, do que você tá falando? Por que me seguiram, me gravaram?

HOMEM 1 - É nosso trabalho, meu jovem. E vou te dizer mais. Esse fato, esse caso que aconteceu, nós estamos muito empenhados em resolver.

EU - Mas que caso? Do que vocês estão falando?

HOMEM 2 - Deixa eu falar com esse porra. Escuta aqui mermão, vou ser direto contigo. Se mentir pra mim, uma vez só, te cubro de porrada, aliás se não responder direito o que queremos saber, o que te perguntarmos, vou te passar no “metal”. Tá entendendo?

EU - Sim.

HOMEM 2 - Ok?

EU - Sim.

HOMEM 2 - Bom, então responde ao que o meu amigo aqui te perguntar, sem dar meia volta, certo? Papo reto.

EU - Tudo bem.

HOMEM 1 - Obrigado pela interferência. Bem, nos lhe investigamos nos últimos dias, e ao que parece você, que era para nós um dos principais suspeitos de ser um cúmplice, não tem nada a ver com o fato. Você é só um cara comum. Você lê muito. Mora sozinho, sai pela manhã pro teu trabalho, lê deitado pelado de janela aberta o mesmo livro há dias, come mal e fuma muito cigarro.

EU - Sim, de certa forma esse sou eu. Ando fumando muito.

HOMEM 1 - E você tem umas passagens né? Por porte de drogas.

EU - Tenho, foi numa blitz que aconteceu. A polícia parou nosso carro e tava todo mundo doidão, revistaram e encontraram maconha.

HOMEM 1 - Era bastante maconha, por sinal.

EU - A gente fumava muito.

HOMEM 1 - Entendo.

EU - Mas isso faz tempo. Eu sou um cara do bem, policiais. Não estou entendendo nada até agora. Vocês vieram me abordar por causa dessa maconha, de anos atrás? Por que?

HOMEM 1 - Nada disso meu amigo, estamos interessados em saber da sua participação no que ocorreu no condomínio da Praça do Retorno. Entendeu?

EU - Caralho, mas eu não tenho nada a ver com o que aconteceu lá. Não tenho nada a ver. Eu fiquei muito chocado com tudo, também. Muito chocado. Foi terrível.

HOMEM 1 – É, foi terrível. Sabemos disso. E por isso é que estamos aqui pra resolver essa porra. E te digo, alguma coisa ou alguém, teremos de entregar pra o delegado, logo.

EU - Opa, mas espera aí. Calma lá. Vocês querem me pôr nessa história, sendo que eu não tenho nada a ver com isso?

HOMEM 1 - Não sei. Você não tem nada a ver? Você é a “cara” mais vista nos vídeos de segurança do prédio, nas câmaras de monitoramento. E teu comportamento foi suspeito, muito suspeito.

EU – Tá, mas e daí?

HOMEM 1 - E daí? E daí você que me diz. Você sempre ia no mesmo horário na praça, sentava no mesmo banco em frente ao condomínio e ficava observando os carros e os moradores entrando e saindo. Seus horários e os detalhes mais pontuais, as trocas de turno dos porteiros, as empregadas que chegavam com as compras, as babás trazendo as crianças da escola. Sempre entre 5h30 e 7h. Todos os dias, durante várias semanas, você repetiu esse comportamento. Ou estou mentindo?

EU - Não, não está. Mas não posso ser acusado de ser cúmplice só por estar na hora errada no lugar errado.

HOMEM 1 - Isso é você que está dizendo, meu jovem, você que está dizendo. A suspeita é de que você vigiava o lugar e repassava as informações e os roteiros para o resto da quadrilha. O crime ocorreu exatamente no mesmo horário de fim de tarde, em que você visitava o local.

EU – Puta que pariu, não tô acreditando nisso que tá acontecendo!

HOMEM 1 - Não? Certo. E como explica que depois que a tragédia aconteceu você sumiu? Não voltou mais lá, não se sentou mais nenhum dia no seu banco de praça preferido. Não havia mais necessidade depois que o crime foi cometido, não é?

EU - Mas claro que não voltei! Eu não quis ir mais lá, porras. Eu fiquei chocado com tudo que aconteceu. Foi muito triste, trágico e violento.

HOMEM 1 - É mesmo? Ficou abalado foi? Certo.

EU - Foi.

...

HOMEM 1 - Você realmente não tem nada a ver com o que aconteceu?

EU - Não, não tenho. Não sou assassino e nem criminoso.

...

HOMEM 1 - Me diz uma coisa, meu jovem. O que você ia fazer lá então? Todos os dias, nos fins de tarde até o pôr do sol, no mesmo horário, sentado no mesmo banco da praça, o exato banco em frente ao condomínio?

...

EU – Policial, eu ia somente pensar em minha namorada e olhar os girassóis.

...

EU - Eu gosto dela e ela gosta de girassóis.