terça-feira, 28 de julho de 2009
A rua
Para as pessoas que passavam por entre os postes daquela rua
A brisa do ar não era nada mais que algo obrigatório
As calçadas sujas e esquecidas pela pressa
Nem mesmo se notava um buraco novo
Às vezes quando um pé descalço passava
Admirado com a riqueza do cimento milenar
Pedia licença para as pegadas feitas por sapatos granfinos
As mãozinhas das crianças
Eram as únicas a encostarem-se ao chão das grandes calçadas
As mães rogavam pragas a cada toque
Ávido por um passeio até a boca
E as ciganas das ruas diziam
Só mesmo uma criança para saber o verdadeiro gosto da cidade
Os mendigos que xeretavam
Cada lixo
Cada canto
Procurando como grandes caçadores de tesouros
Encontravam na bendita rua
Sua cama
Sua família
E suas carências com ela compartilhavam
Ontem passei pela rua
Por entre os postes altos como antigas árvores
A cada passo me encontrava mais próxima de um universo egoísta
Passei por entre multidões sem rostos
Por animais e lojas sem nomes
Mas quando vi seus olhos
Ofuscados pelo forte sol em meu rosto
Quase me perco na rua conhecida
Fui embora com a lembrança de sua boca
Dona da praça daquela rua popular
Que de lá sei que só sai disfarçada
Pra me encontrar na lambida de um sorve
Da sorveteria da rua
De grandes postes
De mendigos putrefatos
De crianças remelentas
De ciganas salafrárias
De pessoas mascaradas
Do amor da lúgubre visão
De mim
Em você
Audrey Carvalho
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Fim de Noite
Ele liga a TV, começa a zapear pelos trocentos mil canais em busca de algo que mate a insônia, de preferência, ou, se não der, pelo menos mate o sono. Ela liga o computador, lê emails, abre o Orkut, entra invisível no MSN para ver se tem alguém com quem valha a pena conversar sobre o que quer que seja. Mas é claro que às cinco da matina só estão online os losers completos. “Eu inclusive”, pensa.
“Droga de festa. Gente mais chata”, diz ele para os botões do controle remoto. “Festa mais chata. Droga de DJ”, ela pensa. Morto de tédio, mas ainda sem conseguir dormir, ele resmunga, “Que se dane” e serve-se de um uísque. Ela desliga o computador, pega a Veja de duas semanas atrás, vai para o quarto e acende um cigarro que fuma enquanto lê o Mainardi pela décima vez. Agora é ele quem liga o computador, abre um arquivo de trabalho e tenta dar uma adiantada nas coisas da semana que vem. Claro que morto de cansado – e não exatamente sóbrio – tudo o que fizer vai ter que fazer de novo outro dia. Mas pelo menos ocupa o tempo. Ela joga a revista no chão, liga a TV do quarto e assiste a um capítulo de Allie McBeal que já viu tantas vezes que sabe os diálogos de cor. Mas ocupa o tempo, pelo menos. E preenche o silêncio.
Ele desiste de estragar trabalho, fecha o Word e abre o Orkut, lê emails. Vai ter outra festa amanhã. As mesmas pessoas, o mesmo tipo de lugar. Gosta das pessoas e gosta do lugar. Mas já está meio saturado tanto de umas quanto do outro. Melhor ficar em casa, ler alguma coisa. Mas, no fim, provavelmente vai acabar indo, sim. E morrendo de tédio. Ela, que já sabia da festa, tenta resolver se está ou não com vontade de ir. Passam os créditos finais de Miss McBeal e ela dorme embalada pelo sotaque horrendo do Dr. Phil. A essas alturas o sol já ameaça raiar e ele desiste de dormir na hora em que o zelador arremessa delicadamente o jornal contra a porta do apartamento.
São perfeitos um para o outro. Pena que, mesmo morando na mesma cidade, no mesmo quarteirão, nunca vão se conhecer, nunca vão se apaixonar, nunca vão ter três filhos lindos e quatro netos. Não vão montar casa juntos, nem viajar juntos para Barcelona, nem ver juntos o pôr-do-sol em Santiago, nem envelhecer juntos, nem esquecer juntos das coisas que viram e fizeram juntos.
domingo, 26 de julho de 2009
Tempo Morto
teu corpo banquete em carne e fruta
tua gruta caldo de cultura
é pura mostra do prazer paraíso
te preciso não só pra vida
contida em massa e pensamento
teu canto sonata gemido
emitido do atrito de sensações
sem padrões surgidas do nada
e do tudo que é nós dois
depois e antes pura magia
tua ausência é tempo morto
caminho torto campo seco inerte
que verte vácuo inócuo
e me torna eterna espera
sexta-feira, 24 de julho de 2009
[imagem: autor desconhecido]
noite fria à beira-mar,
uma copa e uma cabana
quente pra declamar:
versos livres e soltos
assim como meus cabelos
encaracolados em teu corpo
coberto com seda vermelha,
que induz um toque baterista,
que não pára nem a peia
até se tornar tão intimista
e arrancar um beijo
do meu tinto anseio,
beber um gole de mim
pra descobrir meu segredo
Autor: Lena Casas Novas
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Silêncio de Alma...
O que ate então fora fogo e ímpeto se entrega agora a lividez e total
Não é dor ou nada que se possa traduzir alem de perplexidade absoluta.
O que era entendido e esperado como soma e conclusões compartilhadas
É algo perto do que sem entende por morte que chega sem doença,
Ela só vem no meio de um lindo entardecer e aborta a mais sonora gargalhada.
Percebe-se dessa forma: só no meio do vazio, como um grito que perdeu
Assim a alma que agitada brincava de bailar com a outra, agora posta num canto qualquer se amontoa sobre si mesma,
apenas se amontoa.
Porque toda vivacidade se foi se um momento para o outro,
em menos que um piscar de olhos.
O beijo que unificava bocas, agora sela o silêncio imposto.
Apenas interrompido pelo constante soluçar incontido.
Secam as lágrimas, já não há mais o que chorar nesse silencioso vazio de alma que abandonada assim perdida se deixa
Catiaho/Reflexo d ‘ Alma
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Dilúvio
terça-feira, 21 de julho de 2009
Poema só
Em que a luz da lua
Serpenteie a sua aura fria
No absinto azul
Marinho.
Fada verde
Tecendo mandalas enigmáticas
Perfumadas de ópio e alecrim.
Desejo esse poema só para mim.
Sem o sol causticante de amarelo rajado.
Na penumbra de um sono caiado
Me exorciza a lua negra.
domingo, 19 de julho de 2009
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Tez necessária
sobra o rímel escorrido na face
judia!
Envergo(nho)-me
pelas chibatadas
rumo ao campo
de concentração
E de novo tentar entender
é correr atrás da sombra
(vão)
Rosto borrado
atualmente antigo
A guerra nada mais é
que a menina que rouba risos
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Ode ao teu Olhar
(Sonia Cancine)
.
Em silêncio ouço fortes gemidos
Que rompem a sombra da noite
Repleta de estilhaços de dor.
Dos instantes em que te vejo
Guardo-te no olhar e contemplo.
Das serpentes dos teus olhos claros
A íris bucólica do teu olhar
Agoniza-me e me seduz.
Olhos que prometem me cegam
Como se fossem reflexos de espelho.
Colhem lírios e embriagam-se de absinto
Afastando-me do ninho das ninfas.
De súbito, enxergam ao longe uma flor
Jamais vista, a mais bela, e
Tua luz é brilhante (mente) intensa.
Do alto dos montes, delirantes súplicas
De espírito intranqüilo, de grata prece
Abro, então, uma cova no teu olhar
Rogo-te o calor
A incendiar-me as entranhas e
Sob a carne impenetrável
No pulsar do amor
Olhos que aos poucos fenecem
Causam-me - medo.
Êxtase
Quem me dera...
Ao menos, uma vez
O prazer de sentir
O estado latente, dos desejos
De sensações inexplicáveis
Vividas num momento
Único...
Sem limites impostos
Sem preocupações expostas
Transcendente,
O que chamamos razão
O surreal, a se tornar físico e
Em cada suspiro delirante
A realidade bem longe
Por breves e inesquecíveis
Instantes e
A imaginação
Transportada
Para planos
De puro sentir...
(Janderson Cunha e Ro Primo)
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Mercadores de Almas
Prisioneiros de suas crenças decadentes e vazias,
Acorrentados em dogmas e conceitos inferiorizantes,
São moralistas e contraditórios em negar sua realidade.
São picaretas e intolerantes, demonizadores de culturas,
Proselitistas religiosos, fundamentalistas arcaicos,
Pobres seres estagnados, mortificados em seu credo lixo,
Crentes no discurso apologético de um livro morto.
Grandes inimigos da razão e lógica, caçadores da perfeição,
São todos especistas, hipócritas, demagogos e machistas,
Cultistas fiéis do deus Dinheiro e seu poder distorcido,
Eis seu deus material e suas crias de almas viciadas e torpes.
Lânguidos são esses tristes fundamentalistas radicais,
Vestem seus símbolos de decência e abraçam seu diabo,
Travestem seu deus de esterco em mercadoria em templos,
Compram, vendem e alugam almas em prol de alienações.
Mercadores de Almas são os vermes consumidores viscerais da Humanidade.
- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2007.
-- Glossário --
Mercadores de Almas = nome pejorativo para líderes religiosos proselitistas, aplicado para definir clérigos católicos, pastores cristãos, aiatolás, gurus e assim por diante. Esse termo é associado a líderes religiosos manipuladores de massas de alienados, escravizados, manipulados e limitados pelo Sistema.
domingo, 12 de julho de 2009
na hora do pico
quinta-feira, 9 de julho de 2009
efígie
cansado de mundo
guerras e presságios
vem e conta sonhos
deixa essa efígie
que pressinto
nas tardes perdidas
em que divagas
ouço tua voz
vem do mar
num sussurro
não explico
só te escuto
num segundo
não discuto
miro teus olhos
incendiados de promessa
vazia e dolente
plantada no azulejo
dessas viagens viúvas
estranhas remessas
desejos e desvarios
que o vento sopra
beijo,teu cenho
de súbito, tristonho,
com temor, prevejo
com esse ato
que é hora de ir
♀
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Simplesmente Medo
Edson Rufo
Portas que se abrem
Sonhos que se confundem
Soluções que não se encontram
Portas que se batem
Olhos dispersos
Abraços trêmulos
Passos inseguros
Portas que não se fecham
Objetivos se concretizam
Sucesso que vibra
Conquistas, alegria, estima
Portas que se trancam
Definitivas
Simplesmente
Por medo de buscar, de abrir, de bater
BLOG DO ESCRITOR, PALESTRANTE E TERAPEUTA:
escritorpoeta.blogspot.com
domingo, 5 de julho de 2009
Lua Negra
A estrada atada à linha fugidia,
o topo surdo da montanha
ou um nicho no granito
não ratificam tanto o ser só
quanto gritar na multidão.
O grito é faísca
de massa cinzenta em combustão,
imperceptível na tensa claridade.
O grito é rito
de intriga e desintegração
a riscar e trincar o obscuro.
Se a poesia lambe a face iluminada
o grito tange a lua negra,
sem arrecadar simpatia.
Sabe a censura da razão
e a ovação da boemia etilizada.
Seu palco é a rua, o relento,
entre a bênção das estrelas
e o irromper dos ratos nos bueiros,
onde qualquer cadela vadia
cuida ensinar-me amar a lua
Iriene Borges
sábado, 4 de julho de 2009
Um corpo enforcado
Um arrepio com razão
pintura: Diva Benevides Pinho - Avenida Paulista em uma noite de inverno (2º da série 450 anos de São Paulo
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quinta-feira, 2 de julho de 2009
Flor de Cacto - Flá Perez
sobre o sulco da seca
a boca pálida e sem beijos
sôfrega espera.
Não choves
e o rio em meus olhos
torna em veios.
Banho-me
no cio que deixaste
em minhas veias.
Aguardo ao relento.
Intenso,
o Sol de amanhã
–que raiou ontem–
virá em contra-senso,
umedecer o pó
que tenho dentro.
Guardo que te esqueces...
E de manhã irá brotar
estranha flor
de gelo e fogo
que ainda
inteiramente desconheces.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
mojobooks
a proposta da mojo é editar livros baseados em discos. o meu tem o ídolo WANDER WILDNER como inspiração.
em breve...!
Viva!
Não posso mudar o mundo,
Nem colar o dedo que está faltando
Azar da vida, que estão roubando
Sem volta, nem troco, só cobrador...
Devolve a virgindade, sem dor
Dê-me a simplicidade e ingenuidade
Para não te ver chorar...
Deixe-me gozar, sou eu que quero
E quando o absurdo de teu membro
Cair prostrado ao passar dos anos
Dê o ânus, mas não desista do prazer...
Ou se enterre de vez.
A LeNdA Do cOrPo sEcO(๏̯͡๏)
1° Livro Impresso Da mE morTe - LaNçAmEnTo eM BreVe!!!(๏̯͡๏) /